Nomeado por presidente interino no sábado, líder da oposição não assume após resistência de ala conservadora.
Um novo impasse político emergiu no Egito neste sábado, envolvendo a nomeação do liberal Mohamed ElBaradei ao cargo de premiê interino do país.
Ao longo do dia, ElBaradei foi nomeado pelo presidente interino instalado pelas Forças Armadas – que, três dias atrás, depuseram o governo do presidente islamita Mohammed Morsi – como novo premiê, com apoio da maioria dos partidos. Mas a oficialização do cargo, esperada para a noite de sábado, não aconteceu.
Líder da oposição: ElBaradei é nomeado primeiro-ministro interino
Posteriormente, porta-vozes do governo interino disseram que o ocupante do cargo ainda não havia sido definido e que seria preciso levar em conta a oposição conservadora feita a ElBaradei.
Acredita-se que essa ala conservadora egípcia tenha impedido a nomeação de ElBaradei, que representa partidos liberais de esquerda e fez oposição tanto ao governo de Morsi quanto a seu antecessor, Hosni Mubarak , derrubado pela revolução de 2011.
O Egito vive dias de turbulência política que chegaram a seu pico na quarta-feira, quando Morsi – acuado por uma onda de protestos e uma grave crise de popularidade – foi deposto pelo Exército, o qual prometeu uma nova transição para um governo democraticamente eleito.
Badie: Líder supremo da Irmandade promete pôr fim a ‘regime militar’
Desde então, o país tem sido palco de protestos e violência. Só na sexta-feira,confrontos deixaram 36 mortos , muitos deles alvejados por militares que foram às ruas conter as multidões pró-Morsi.
Irmandade Muçulmana e divisões
O movimento político do presidente deposto, a Irmandade Muçulmana, uma das principais forças políticas do Egito, também vive momentos de incerteza.
Cerco: Exército reprime Irmandade Muçulmana após depor Morsi
Diversas figuras importantes do partido – incluindo o próprio Morsi – foram detidas pelas Forças Armadas. Neste sábado, Khairat el-Shater, vice-líder do grupo, foi preso em sua casa no Cairo por suspeita de incitamento à violência. Muitos integrantes do partido agora estão na clandestinidade.
O partido ainda conta com um grande número de partidários, que foram às ruas nos últimos dias para pedir o retorno de Morsi ao poder, mas o grupo também enfrenta forte oposição – o que evidencia a polarização e as profundas divisões internas do Egito pós-revolução.
EUA: Obama ordena revisão de auxílio ao Egito após deposição de Morsi
Para analistas, a retórica usada pela Irmandade Muçulmana durante seu período no poder preocupou muitos egípcios, incluindo alguns que votaram em Morsi nas eleições presidenciais. A Constituição aprovada no período foi considerada muito favorável aos muçulmanos, em detrimento do resto da população.
“O grupo não satisfez as expectativas da população e alienou muitos eleitores, com sua abordagem de se agarrar ao poder e fazer vista grossa à ascensão de (políticos) linha dura”, diz à BBC Hosameldin Elsayed, autor de diversos livros sobre o Islã político.
Golpe no Egito: Leia todas as notícias sobre a queda de Morsi
Para ele, a Irmandade cometeu diversos erros estratégicos que estimularam um levante público – apoiado pelos militares e que culminou com a derrubada de Morsi após apenas um ano de governo.
Apelo
Ainda neste sábado, a ONU e os EUA fizeram um apelo pelo fim da violência. O Departamento de Estado dos EUA conclamou os líderes egípcios a acabar com a violência, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu mais proteção aos manifestantes – em especial às mulheres.
“Conclamamos todos os líderes egípcios a condenar o uso da força e evitar mais violência entre seus simpatizantes”, disse, em um comunicado, o porta-voz da chancelaria americana, Jen Psaki.
5 Comments