Impasse político impede confirmação de ElBaradei como premiê interino no Egito

Líder da oposição Mohammed ElBaradei em foto de 24 de novembro de 2012
Líder da oposição Mohammed ElBaradei em foto de 24 de novembro de 2012

Nomeado por presidente interino no sábado, líder da oposição não assume após resistência de ala conservadora.

Um novo impasse político emergiu no Egito neste sábado, envolvendo a nomeação do liberal Mohamed ElBaradei ao cargo de premiê interino do país.

Ao longo do dia, ElBaradei foi nomeado pelo presidente interino instalado pelas Forças Armadas – que, três dias atrás, depuseram o governo do presidente islamita Mohammed Morsi – como novo premiê, com apoio da maioria dos partidos. Mas a oficialização do cargo, esperada para a noite de sábado, não aconteceu.

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Posteriormente, porta-vozes do governo interino disseram que o ocupante do cargo ainda não havia sido definido e que seria preciso levar em conta a oposição conservadora feita a ElBaradei.

Acredita-se que essa ala conservadora egípcia tenha impedido a nomeação de ElBaradei, que representa partidos liberais de esquerda e fez oposição tanto ao governo de Morsi quanto a seu antecessor, Hosni Mubarak , derrubado pela revolução de 2011.

O Egito vive dias de turbulência política que chegaram a seu pico na quarta-feira, quando Morsi – acuado por uma onda de protestos e uma grave crise de popularidade – foi deposto pelo Exército, o qual prometeu uma nova transição para um governo democraticamente eleito.

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Desde então, o país tem sido palco de protestos e violência. Só na sexta-feira,confrontos deixaram 36 mortos , muitos deles alvejados por militares que foram às ruas conter as multidões pró-Morsi.

Irmandade Muçulmana e divisões

O movimento político do presidente deposto, a Irmandade Muçulmana, uma das principais forças políticas do Egito, também vive momentos de incerteza.

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Diversas figuras importantes do partido – incluindo o próprio Morsi – foram detidas pelas Forças Armadas. Neste sábado, Khairat el-Shater, vice-líder do grupo, foi preso em sua casa no Cairo por suspeita de incitamento à violência. Muitos integrantes do partido agora estão na clandestinidade.

O partido ainda conta com um grande número de partidários, que foram às ruas nos últimos dias para pedir o retorno de Morsi ao poder, mas o grupo também enfrenta forte oposição – o que evidencia a polarização e as profundas divisões internas do Egito pós-revolução.

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Para analistas, a retórica usada pela Irmandade Muçulmana durante seu período no poder preocupou muitos egípcios, incluindo alguns que votaram em Morsi nas eleições presidenciais. A Constituição aprovada no período foi considerada muito favorável aos muçulmanos, em detrimento do resto da população.

“O grupo não satisfez as expectativas da população e alienou muitos eleitores, com sua abordagem de se agarrar ao poder e fazer vista grossa à ascensão de (políticos) linha dura”, diz à BBC Hosameldin Elsayed, autor de diversos livros sobre o Islã político.

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Para ele, a Irmandade cometeu diversos erros estratégicos que estimularam um levante público – apoiado pelos militares e que culminou com a derrubada de Morsi após apenas um ano de governo.

Apelo

Ainda neste sábado, a ONU e os EUA fizeram um apelo pelo fim da violência. O Departamento de Estado dos EUA conclamou os líderes egípcios a acabar com a violência, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu mais proteção aos manifestantes – em especial às mulheres.

“Conclamamos todos os líderes egípcios a condenar o uso da força e evitar mais violência entre seus simpatizantes”, disse, em um comunicado, o porta-voz da chancelaria americana, Jen Psaki.

Fonte: Último Segundo

5 Comentários

  1. El Baradei… Um homem sem voto, que voltou ao Egito como pretenso salvador, após sua passagem vassala pela Agência Internacional de Energia Atômica e que foi escanteado devido a sua nula representatividade eleitoral, mas que agora volta, como preferido dos militares e do ocidente…
    E isso em um clima onde antes faltava gasolina no Egito, gasolina esta que… Subitamente apareceu!
    Mas… Atenção, não é um golpe. Não é um golpe…

    Você acredita, se quiser…

    • El Baradei foi Vassalo na AIEA apenas por ter vigiado bem de perto o subterrâneo e clandestino programa nuclear iraniano e ter denunciado as tentativas do regime dos aiatolás em obter a bomba? É uma pena que ele não será mais primeiro ministro do Egito visto ser um moderado.

      Ademais, cabe ressaltar que a imensa maioria da população apóia a deposição de Mursi, que estava levando a cabo a islamização do Egito em um processo que fatalmente poderia levar o país a se tornar um novo Irã meu nobre Ilya

  2. Da Wikipedia:

    “ElBaradei licenciou-se em Direito pela Universidade do Cairo em 1962 e doutorou-se em Direito Internacional pela Universidade de Nova Iorque em 1974. Iniciou a sua carreira no Ministério dos Negócios Estrangeiros do Egipto em 1964, tendo exercido funções na missão permanente do Egipto na ONU em Nova Iorque e em Genebra.

    Entre1981 e 1987 foi professor de Direito Internacional na Universidade de Nova Iorque.

    Em 1984 ingressa na AIEA, onde desempenha vários cargos até se tornar Director-Geral em 1997. Foi reeleito para um terceiro mandato à frente daquele organismo a 13 de Junho de 2005, tendo contado com o apoio dos Estados Unidos, apesar das relações tensas entre a AIEA e Washington durante o processo que conduziu à Segunda Guerra do Iraque.

    É casado com Aida Elkachef, uma professora. O casal tem dois filhos, Laila e Mostafa, que vivem e trabalham em Londres.”
    ———————–

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