ARGENTINA E VENEZUELA “QUEIMAM” IMAGEM DO BRASIL

 
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PARA O ECONOMISTA ARTURO PORZECANSKI, FOCO DO BRASIL NO MERCOSUL DIFICULTA O SEU DESENVOLVIMENTO DO COMERCIO EXTERIOR  E AFASTA INVESTIDORES

“Em tempos de mercados cada vez mais fechados e turbulências econômicas que não cessam, chegou a hora de o Brasil se afastar da Argentina e da Venezuela para evitar mais problemas, diz o economista e professor da American University (Washington, EUA), Arturo Porzecanski, que para explicar seu raciocínio, usa o ditado popular “Diga-me com quem andas que direi quem és”.

De acordo com o estudioso da economia da América Latina, os dois países não têm os mesmos valores democráticos que o Brasil e a insistência do governo na proximidade com ambos arranha a imagem do país na percepção dos investidores internacionais.”

Argentina e Venezuela “queimam” imagem do Brasil, diz professor

Para Arturo Porzecanski , da American University, foco do Brasil no Mercosul dificulta desenvolvimento do comércio exterior do país e afasta investidores

Por Talita Fernandes

Em tempos de mercados cada vez mais fechados e turbulências econômicas que não cessam, chegou a hora de o Brasil se afastar da Argentina e da Venezuela para evitar mais problemas, diz o economista e professor da American University (Washington, EUA), Arturo Porzecanski. De acordo com o estudioso da economia da América Latina, os dois países não têm os mesmos valores democráticos que o Brasil e a insistência do governo na proximidade com ambos arranha a imagem do país na percepção dos investidores internacionais. Para explicar seu raciocínio, o professor, que é uruguaio, mas radicado nos Estados Unidos, usa o ditado popular “Diga-me com quem andas que direi quem és”.

Em evento realizado nesta terça-feira em São Paulo, Porzecanski disse que, enquanto o Brasil resiste em participar de alianças de livre comércio, movimento que vem sendo adotado por outros países, e insiste no Mercosul – bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e, mais recentemente, pela Venezuela – ele passa uma imagem aos possíveis investidores de que compartilha do mesmo pensamento econômico desses países.

Argentina e Venezuela se destacam por políticas econômicas desastrosas. Os dois países têm forte controle cambial e maquiam dados sobre inflação, que atinge patamares muito elevados nos dois casos. Na Argentina, por exemplo, o dado oficial é de inflação na casa dos 10% ao ano, mas cálculos extraoficiais apontam para um patamar inflacionário entre 20% e 30%. Na Venezuela, a inflação ultrapassa a casa dos 20%, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O Mercosul foi criado em 1991, com o tratado de Assunção, com o objetivo de criar uma união tarifária, ou seja, a isenção de tarifas de importação entre os países membros e a uniformização das tarifas cobradas sobre produtos importados dos demais países. Mais de 20 anos se passaram e, até agora, o Mercosul está muito longe de ser um bloco livre de tarifas de importação. Brasil e Argentina, que são as maiores economias que compõem o bloco, têm cada vez mais dificuldades nas relações comerciais. O episódio mais recente foi a estatização de ferrovias que estavam sobre concessão da gigante brasileira América Latina Logística (ALL), decisão que pegou a empresa de surpresa.

Outros problemas envolvem duas importantes companhias brasileiras: Vale e Petrobras. Em março, o Conselho Administrativo da Vale decidiu suspender o projeto de potássio Rio Colorado, na Argentina. A suspensão originou uma série de embates e o país chegou a ameaçar a tirar a concessão da mineradora. A Casa Rosada considerou a medida como falta de apoio do Palácio do Planalto. A mesma avaliação foi feita em relação à decisão da Petrobras de não vender seus ativos no país. Há duas semanas, a Petrobras recuou de uma negociação com o grupo Indalo, de Cristóbal López.

Apesar do cenário, o ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria Gustavo Loyola afirmou, no mesmo evento, que o país não vai se afastar de seus vizinhos latino-americanos e que a relação econômica com eles é importante. Contudo, Loyola compartilha do pensamento de Porzecanski de que o Brasil não deve deixar o Mercosul restringir sua política de comércio exterior. Ele reforça que o cenário atual para as relações econômicas bilaterais entre Brasil e Argentina é negativo. “Mas isso não quer dizer que o Brasil tenha de desistir.”

O ex-dirigente do BC explica que o Mercosul passa por momentos difíceis – e que se pode falar até em crise. “Tem várias questões que pioraram o Mercosul nos últimos anos. Politicamente, o erro grosseiro foi a suspensão do Paraguai e o ingresso da Venezuela”, comenta. Para Loyola, o bloco não deveria fechar as portas a novos membros, mas acha crítico que os países tenham permitido o ingresso da Venezuela que, na prática, não é um país democrático, e “não tem economia de mercado”.

O Paraguai foi suspenso do bloco em junho do ano passado por questões políticas, quando o Congresso decidiu pelo impeachment do presidente Fernando Lugo. No momento da suspensão, os países membros usaram como justificativa a saída de Lugo e aproveitaram a oportunidade para chancelar a inclusão da Venezuela. O Paraguai era o único membro contrário à entrada do país então comandado por Hugo Chávez – e que hoje está sob o comando de seu sucessor, Nicolás Maduro. A decisão sobre a volta ou não do Paraguai ao Mercosul só será tomada após a posse do novo presidente eleito, Horacio Cartes, marcada para 15 de agosto.

Para os economistas, o cenário faz com que o empresariado tenha pouca confiança nos países do Mercosul e o sentimento de insegurança jurídica cresça. “Isso está provocando um distanciamento. Afasta o investimento e provoca o desinvestimento”, comenta Loyola.

Alianças — Em meio às críticas ao Mercosul, Porzecanski usa o exemplo que vem sendo adotado por outros países latino-americanos. Ele cita a Aliança do Pacífico, firmada no ano passado por México, Colômbia, Peru, Chile, que recentemente anunciaram a retirada de 90% das tarifas de importação. Devem aderir ao bloco também Costa Rica e Panamá. O professor destaca que esses países têm também firmado uma série de acordos com os Estados Unidos, União Europeia e com algumas economias asiáticas.

Outro exemplo é a Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), que envolve 11 países no total, entre eles Japão e Estados Unidos. Porzecanski diz que não vislumbra nenhum caminho para o Mercosul nesse cenário. “O Brasil corre o risco de ficar isolado”, comenta. “Não acho estratégia inteligente, pois esse foi o caminho seguido por países que viraram líderes”.

Multilateralismo falho – A estratégia de multilateralismo e poucos acordos bilaterais por parte do Brasil também é alvo de críticas. Segundo o professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), as alianças comerciais bilaterais de países latino-americanos ajudaram na expansão de suas economias, como o México, por exemplo. “Enquanto isso, o Brasil ficou só nos acordos multilaterais. Por isso nós ficamos com uma economia mais fechada.”

Nesta terça, a Câmara Internacional de Comércio (ICC, na sigla em inglês), divulgou um ranking feito com base no nível de abertura econômica dos países. O Brasil aparece na 67ª posição em uma lista de 75 economias. É o que ostenta a pior posição entre as 20 maiores economias mundiais, o G-20, e entre os Brics, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. “Com a perda da competitividade, sobretudo da indústria, nós ficamos apelando para coisas como a salvaguarda. Nesse ponto, há um risco muito grande para a competitividade no curto e no médio prazo. Mantemos um distanciamento dos polos mais avançados, onde são desenvolvidas as tecnologias mais de ponta e nós ficamos com as produções mais básicas apenas”, comenta Grisi.

Ele avalia que o país tem perdido a oportunidade de negociar alianças comerciais com a Europa, por exemplo, e lembra que os EUA e a zona do euro discutem acordos enquanto isso. “Precisamos fazer acordos e liberalizá-los. E, assim, buscar por ganhos de competitividade”, comenta.

Fonte: Veja 

6 Comentários

  1. O Mercosul é ótimo para o Brasil e as relações econômicas e políticas com a Argentina e Venezuela são de natureza estratégica. A expulsão do Paraguai foi muito oportuna e quebrou as pernas dos golpistas ianques e paraguaios, o tiro saiu pela culatra, resultando na entrada da Venezuela no Mercosul, país muito mais importante e com maior mercado, além de ser um dos países com as maiores reservas de petróleo do mundo!!! O Paraguai também é importante para o Brasil, mas a Venezuela muito mais. O ideal é termos uma grande espansão e fortalecimento do Mercosul e da UNASUL. O Brasil está mal acompanhado para o ianque, mas para o povo brasileiro NÃO, muito melhor para o Brasil o Mercosul do que a ALCA. Unidos e integrados os Sul-americanos são muito mais fortes, uma vez que a defesa de nossas riquezas ficam muito mais fortes, somos a região mais rica do globo, com certeza; a Argentina e Venezuelas são de crucial importancia para nós, no processo de integração sul-americana. Portanto a política do Brasil está certíssima em relação a esses países e devemos sim desenvolver e fortalecer cada vez mais a integração da América do Sul, para o nosso próprio bem!!! Os ianques estão loucos pra nos dispersar, a UNASUL e Mercosul vão contra os interesses DÊLES, não nossos!!!

    • O relógio está correndo. Novas tentativas de golpe correm pelo mundo todo. Os governos estão enfrentando questionamentos populares. Aqueles que conseguirem atender as reivindicações se fortalecerão na disputa pela hegemonia mundial. As próximas eleições nos EUA e no Brasil serão cruciais para definir se os dois países seguiram juntos ou se apartaram definitivamente. Por isso, a viagem da presidente brasileira ao território americano esse ano é crucial. Essa é a última chance dos EUA evitarem que o Brasil (consequentemente, toda a américa do sul) se bandeie definitivamente para o mundo dos BRIICS.

  2. Isso é besteira, queimam a imagem do Brasil!Não podemos nos separar desses países, são nosso vizinhos, representam mercado consumidor cativo para nossos interesses econômicos, embora estejamos enfrentando do lado argentino problemas com a “velha” lá, ela não vai governar pra sempre, eles também tem os interesses deles no Brasil!Então esse é o nosso passo, caminharmos juntos, embora eu também não goste, mas essa é a realidade! Capitalista visa lucro, e ele vai buscar onde obtiver, com imagem ou sem imagem! Se não os tivermos do nosso lado, digo os países vizinhos, certamente estarão conspirando contra nós, então é melhor sermos tolerantes que vacilões e não alimentarmos conflitos com eles!

  3. Ué! Mas, quem sempre queimou o filme do Brasil, está citado no pé da matéria…

    Essa revista ainda existe!?

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