Recuperação dos EUA não se sustenta no longo prazo, diz economista americano

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PATRÍCIA CAMPOS MELLO

A economia americana está melhorando, mas a recuperação é morna e não vai se sustentar no longo prazo, por causa do alto endividamento do país.

Essa é a opinião de Glenn Hubbard, diretor da Graduate School of Business da Universidade Columbia e um dos mais proeminentes economistas conservadores dos Estados Unidos.

Em uma época em que as políticas de austeridade são alvo de críticas na Europa e nos EUA, Hubbard, que trabalhou nos governos Bush pai e Bush filho, mantém o mantra republicano de menos gastos e menos impostos. Mas, para ele, a política de austeridade adotada hoje em dia é equivocada.

“Tanto os Estados Unidos quanto a Europa estão usando instrumentos errados de austeridade. Em vez de cortar os gastos obrigatórios sociais e de saúde, eles estão fazendo cortes de curto prazo nas despesas”, diz.

Abaixo, trechos da entrevista concedida à Folha por Hubbard, que acaba de lançar o livro “Balance: The Economics of Great Powers from Ancient Rome to Modern America” (Equilíbrio: A economia das grandes potências da Roma Antiga até a América Moderna, ed. Simon & Schuster).

Declínio das potências

Grandes potências tropeçam não porque elas se expandem demais, mas porque os políticos não acompanham as mudanças econômicas. Em comum, todas as potências que entram em declínio negam que seus problemas são internos, têm o poder centralizado demais e gastam muito hoje, deixando pouco para o futuro. O império romano deixou de olhar para fora e tinha um governo excessivamente centralizado; a China imperial paralisou suas esquadras mercantes e reforçou a hostilidade ao comércio exterior. Nos EUA, hoje, os grandes problemas são o crescimento do endividamento e a polarização política, que impede uma resolução.

Gastos sociais

O Estado dos “gastos sociais e de saúde” está por trás do declínio dos EUA. Os gastos crescentes com serviços de saúde públicos (Medicare e Medicaid) e seguridade social são insustentáveis. O país prometeu demais a si mesmo. Em 1971, Medicare e Medicaid consumiam 1% do PIB. Em 2010, já eram 5,5% do PIB. Se somarmos seguridade social, vai para 10%.

A solução é reduzir os benefícios para americanos de classe média, transformando o Medicare e a seguridade social em programas menores, que são realmente uma “rede de segurança” só para os mais pobres. Com isso, o governo consegue evitar aumentos nos impostos e reduz o endividamento. Mas esse tipo de reforma é difícil, porque se trata de uma doença lenta, mais parecida com câncer do que um ataque cardíaco.

Austeridade

Tanto os EUA quanto a Europa estão usando instrumentos errados de austeridade. Em vez de cortar os gastos obrigatórios sociais de saúde, eles estão fazendo cortes de curto prazo nas despesas. Nisso eu concordo com Paul Krugman: esse tipo de austeridade não funciona e não resolve o problema. Mas os governos fazem isso porque, politicamente, é muito difícil implementar as reformas que são realmente necessárias.

Fiasco Reinhart-Rogoff

Nós não nos apoiamos na tese de Carmen Reinhart e Ken Rogoff de que existe um limite de 90% do PIB de endividamento, a partir do qual as economias entram em declínio. Não faz diferença que o estudo tenha sido questionado. Muitos outros estudos, inclusive do FMI, preveem uma ligação entre altos níveis de endividamento e crescimento menor. Alto nível de endividamento exige grandes aumentos de impostos futuros e cortes em outras despesas do governo que podem ser negativas para o crescimento. Não se necessita de austeridade hoje, mas é preciso traçar um caminho para reduzir gastos no futuro. Nosso sistema político disfuncional só nos proporciona soluções de curto prazo para o orçamento, em vez de uma política responsável de longo prazo.

A economia dos EUA hoje

A economia americana está melhorando, mas a recuperação é morna, considerando padrões históricos. A alta taxa de desemprego –particularmente desemprego de longo prazo– não é aceitável. Estamos sendo complacentes. Políticas melhores teriam resultado em uma recuperação mais vigorosa. Um crescimento do PIB estabilizando em 2,5% não seria ruim em uma situação normal, mas estamos saindo de uma crise, o crescimento deveria ser muito maior. Eu não acredito que o Fed vá elevar as taxas de juros antes do fim de 2014, deve apenas mudar sua comunicação ou calibrar outros instrumentos de política monetária, como a compra de títulos. E o alto endividamento ameaça essa recuperação.

Alarmante

O nível de endividamento dos EUA (cerca de 75% do PIB) está em níveis alarmantes porque a relação dívida-PIB está chegando ao mesmo patamar da segunda Guerra Mundial, em tempos de paz, e temos dívidas crescentes de seguridade social e de saúde que ainda nem estão no orçamento. Sem mudar essa trajetória, serão necessários grandes elevações de impostos e cortes de gastos do governo (em, por exemplo, educação, defesa e pesquisa).

Efeitos da recuperação dos EUA no Brasil

Eu acho que os efeitos da possível recuperação dos EUA sobre os fluxos de capitais para emergentes são importantes. Mas mais significativa é a situação na China. A desaceleração no crescimento chinês pode realmente prejudicar países como o Brasil, que se beneficiaram do ciclo de alta nas commodities.

Fonte: Folha

2 Comentários

  1. isso explica porque os imóveis de Miami estão sendo vendidos a metragem mais barata que em São Paulo ,para atrair o din din dos latinos ,fora que eles querem dar o visto em três dias visite e compre muambas fala mal dos brasileiros que vao comprar muamba no Paraguai e agora essa elitinha faz a mesma coisa que feio !!!!! ,nosso dinheiro eles nunca discriminam ,mas os boicotes no nosso programa aeroespacial continua.

  2. Devemos estar atento a essa fala de Glenn Hubbard !
    ”A desaceleração no crescimento chinês pode realmente prejudicar países como o Brasil, que se beneficiaram do ciclo de alta nas commodities.”
    O Brasil não pode basear sua economia em commodities,todos sabemos disso !

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