Porta-voz do presidente russo disse que país está aberto a um pedido de Edward Snowden, que até agora não teria sido feito; parlamentares pró-Kremlin defendem ideia
A Rússia pode considerar conceder asilo ao ex-funcionário terceirizado da CIA que expôs os programas secretos de monitoramento do governo dos EUA se ele solicitar, disse um porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin, nesta terça-feira (11).
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O porta-voz Dmitry Peskov não chegou a dizer que Moscou aceitaria Edward Snowden , mas disse que país está aberto, caso o americano faça algum pedido. Parlamentares pró-Kremlin manifestaram-se a favor da ideia, relembrando a rivalidade da Guerra Fria (1945 – 1990) com os EUA e uma veia do sentimento antiamericano que muitas vezes Putin incentiva.
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“Prometendo asilo a Snowden, Moscou toma para si a defesa de pessoas perseguidas por motivos políticos”, disse Alexei Pushkov, presidente da comissão de assuntos internacionais da câmara baixa do Parlamento, no Twitter. “Haverá histeria nos Estados Unidos. Eles reconhecem isso como um direito deles sozinhos.”
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Putin e outras autoridades russas frequentemente acusam os Estados Unidos de hipocrisia, dizendo que Washington tenta impor normas de direitos humanos, liberdade e democracia em outras nações, mas não cumpre com essas obrigações internamente.
Snowden, que forneceu as informações para jornais que revelaram um amplo esquema de monitoramento telefônico e da internet pelo governo dos EUA, fugiu para Hong Kong e disse que espera receber asilo da Islândia.
Não se tem conhecimento que ele tenha cogitado pedir asilo à Rússia, mas Peskov disse que o país está aberto a um pedido de Snowden, de acordo com o jornal russo Kommersant. Questionado pela Reuters se a Rússia estaria inclinada a conceder asilo, o porta-voz disse: “É impossível ( dizer ) agora. Ninguém pediu ainda. Se ele disser: “Eu peço ( asilo político ), então vamos considerar.”
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No domingo, Snowden saiu do anonimato e admitiu ter revelado atividades governamentais secretas aos jornais The Guardian e The Washington Post. Ele teve acesso às informações enquanto prestava serviços terceirizados à Agência Nacional de Segurança (NSA) no Havaí.
Snowden largou a escola no ensino médio, tentou ser reservista do Exército, mas abandonou o treinamento após quatro meses. Então, virou agente de segurança.
O debate entre os norte-americanos agora é se Snowden é um patriota que defende as liberdades civis, ou um traidor sem princípios. Ao se apresentar ao mundo, o rapaz disse que se sentiu na obrigação de denunciar, mesmo a um custo pessoal, os descomunais poderes de vigilância acumulados pelo governo dos EUA.
Ele acrescentou que poderia ter se mantido anônimo, mas que considerou que sua mensagem teria mais ressonância se viesse de uma fonte identificada.
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“O público precisa decidir se esses programas e políticas são certos ou errados”, disse Snowden ao The Guardian em um vídeo de 12 minutos divulgado no domingo pelo site do jornal londrino.
No mês passado, preparando a revelação, Snowden deixou o Havaí e se escondeu em Hong Kong. Ele disse ter medo de ser capturado pela CIA, por algum outro governo estrangeiro ou pelo crime organizado asiático. “Esse é um medo com o qual irei conviver pelo resto da minha vida, por mais longa que ela venha a ser”, afirmou o rapaz no vídeo.
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Ewen MacAskill, jornalista do Guardian que trabalhou nesse caso, descreveu Snowden como “muito inteligente, calmo, (mas) sempre com medo de que alguém fosse bater à sua porta e ele fosse levado embora”.
Snowden já manifestou interesse em solicitar asilo à Islândia. Na segunda-feira, ele deixou o hotel de luxo onde estava hospedado em Hong Kong, e seu paradeiro continua desconhecido.
Nada na infância de Snowden prenunciava que ele se tornaria um dos mais célebres “dedo-duros” na história dos EUA, ao lado de Daniel Ellsberg (que revelou os chamados Documentos do Pentágono, durante a Guerra do Vietnã) e Bradley Manning (ex-recruta que está sendo julgado por abastecer o site WikiLeaks com documentos sigilosos das Forças Armadas).
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Quando adolescente, ele vivia em Fort Meade, nos arredores de Washington, e frequentava o colégio Arundel High School. Mas, na metade do segundo ano do ensino médio, ele largou os estudos, segundo Bob Moiser, porta-voz da escola.
Os pais de Snowden se divorciaram quando ele tinha 18 anos, época em que a família morava em Crofton, Maryland, uma comunidade planejada onde residem muitos funcionários da NSA.
Snowden contou ao Guardian que entrou para as Forças Armadas com a ideia de auxiliar o esforço de guerra dos EUA no Iraque e “ajudar a libertar as pessoas da opressão”. Mas, quatro meses depois, quebrou as duas pernas em um treinamento. Registros do Pentágono mostram que ele havia se alistado em 2004 na Reserva do Exército, como recruta das forças especiais, e que saiu quatro meses depois, sem concluir o treinamento.
Mais tarde, segundo relatou, ele arrumou seu primeiro emprego, na Universidade de Maryland, trabalhando em uma unidade secreta da NSA perto do campus. Passou então para a CIA, no setor de segurança da tecnologia da informação, ascendendo rapidamente por causa dos seus conhecimentos sobre internet e programação de software, disse ele ao Guardian.
Em 2007, a CIA o deslocou sob fachada diplomática para Genebra, na Suíça, onde continuou trabalhando com segurança digital, sempre segundo seu relato no vídeo do Guardian.
Sua experiência nessa função e o trabalho ao lado de agentes da CIA gradualmente o levaram a questionar seu papel no governo. Com o tempo, afirmou, não conseguia mais viver “sem liberdade, mais confortavelmente” como um bem pago analista de infraestrutura da empresa Booz Allen Hamilton, contratada pela NSA para gerir seu sistema de vigilância.
Ele disse que estava disposto a “aceitar qualquer risco” ao revelar os segredos, e que por causa disso precisou deixar para trás também a namorada com a qual morava.
Os pais e irmãs de Snowden não responderam a telefonemas e emails. Também não houve manifestação por parte de Lindsey Mills, 28 anos, que vivia no mesmo endereço de Snowden tanto em Maryland quanto no Havaí.
“Quem me conhece sem minha capa de super-heroína provavelmente vai entender por que evitarei fazer postagens no blog durante algum tempo”, disse Mills, dançarina, em uma postagem na segunda-feira. “No momento, só posso me sentir sozinha. E pela primeira vez na minha vida eu me sinto forte suficiente para estar por conta própria.”
Com Reuters
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