OS EUA ESTÃO PERDENDO SUA INFLUÊNCIA NA AMÉRICA LATINA?

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É fato que o interesse dos últimos governos de Washington pela região arrefeceu e é verdade, também, que os países latino-americanos empreenderam uma grande expansão de laços econômicos fora da influência dos americanos

SHLOMO BEN-AMI – PROJECT SYNDICATE – O Estado de S.Paulo

Este mantra vem sendo ouvido com crescente frequência por todo o mundo: o poder americano está em declínio. E em nenhum lugar isso parece mais verdadeiro do que na América Latina. A região já não é vista como “quintal” dos Estados Unidos; ao contrário, o continente possivelmente nunca esteve tão unido e independente. Mas essa visão não consegue captar a verdadeira natureza da influência americana.

É fato que o interesse do país pela América Latina arrefeceu. George W. Bush estava centrado em sua “guerra global ao terror”. Barack Obama até agora também pareceu dar pouca atenção à região.

Aliás, na Cúpula das Américas em Cartagena, em abril de 2012, líderes latino-americanos sentiram-se suficientemente confiantes e unidos para questionar prioridades americanas. Eles conclamaram os EUA a levantar o embargo a Cuba e a fazer mais para combater o uso de drogas no país, por meio de educação e trabalho social, em vez de fornecer armas para combater barões da droga na América Latina.

É verdade também que países latino-americanos empreenderam uma grande expansão de laços econômicos fora da influência dos EUA. Hoje, a China é a segunda maior parceira comercial da América Latina e está reduzindo rapidamente a distância dos EUA. A Índia está mostrando um forte interesse no setor de energia da região, e assinou acordos de exportação no setor de defesa. O Irã fortaleceu seus laços econômicos e militares com a Venezuela.

Em 2008, o então presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, identificou a guerra ao terror como uma oportunidade para criar parcerias estratégicas com potências em ascensão como o Brasil e a Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), um bloco de inspiração venezuelana contrário aos desígnios americanos na região. A gigante de energia Gazprom e as indústrias militares foram pontas de lança do Kremlin para demonstrar capacidade de influenciar a vizinhança dos EUA – uma resposta direta à percebida intromissão americana no “exterior próximo” da própria Rússia, particularmente Geórgia e Ucrânia.

Mas seria um erro entender a ampliação das relações internacionais da América Latina como um sinal do fim da preeminência americana.

A influência americana já não pode ser definida por sua capacidade de instalar e depor líderes a partir de uma embaixada. Não acreditar nisso é ignorar o quanto a política internacional mudou no último quarto de século.

Um continente que no passado foi afligido por golpes militares adotou, lenta, mas consistentemente, democracias estáveis. Gestão econômica, programas de redução da pobreza, reformas e abertura ao investimento estrangeiro ajudaram a produzir anos de crescimento com inflação baixa.

Os EUA não só encorajaram essas mudanças, como se beneficiaram delas. Mais de 40% das exportações do país vão hoje para o México e as Américas Central e do Sul. O México é o segundo maior mercado estrangeiro dos americanos (num valor aproximado de US$ 215 bilhões em 2012). As exportações americanas para a América Central cresceram 94% nos seis últimos anos; as importações aumentaram 87%. E os EUA ainda são o maior investidor estrangeiro no continente. Os interesses do país estão bem servidos por ter vizinhos democráticos, estáveis e cada vez mais prósperos.

Essa nova realidade requer um tipo diferente de diplomacia – uma que reconheça os diversos interesses do continente. Por exemplo, uma potência emergente como o Brasil quer mais respeito no cenário mundial.

Obama errou quando desprezou um acordo sobre o programa nuclear do Irã em 2010 mediado por Brasil e Turquia. Outros países poderiam se beneficiar de esforços para promover a democracia e laços socioeconômicos, como mostram as viagens de Obama ao México e à Costa Rica.

As relações comerciais oferecem outra alavanca. O presidente do Chile, Sebastián Piñera, visitou a Casa Branca para discutir, entre outras coisas, a Parceria Trans-Pacífico, um ambicioso acordo comercial que poderia abarcar Nova Zelândia, Cingapura, Austrália, México, Canadá e Japão.

Ollanta Humala, do Peru, deve ir à Casa Branca na nesta semana, enquanto o vice-presidente Joe Biden visitou vários países da América Latina recentemente.

Língua e cultura pesam, também. Dado o extraordinário crescimento da influência dos latinos nos Estados Unidos, é quase inconcebível que o país possa perder seu status único na região.

Hoje, uma potência mundial precisa combinar vigor econômico e cultura popular com alcance global. Os EUA estão mais bem posicionados do qualquer outra potência nesse sentido, particularmente quando se trata de relações com a sua vizinhança imediata. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

* É EX-CHANCELER DE ISRAEL 

Fonte: Portal Soma via Estadão 

12 Comentários

  1. A influência americana já não pode ser definida por sua capacidade de instalar e depor líderes a partir de uma embaixada. Não acreditar nisso é ignorar o quanto a política internacional mudou no último quarto de século.

    Colonias Bananeiras ai na America do Sul forao palco desse Show constante

  2. Eu discordo que os EUA estão perdendo influência na América Latina, basta sairmos as ruas que veremos como essa influência é marcante em nossa cultura é só ligar a tv e veremos que até os programas produzidos nas TVs brasileiras (que vivem apregoando possuir uma criatividade privilegiada) não passam de cópias de programas estrangeiros na maioria vindo dos EUA.
    E estejam certos se os EUA tiverem seus interesses prejudicados por algum governo latino americano não pensarão duas vezes em usar a força militar ou psicológica !

  3. Olha só “Obama errou quando desprezou um acordo sobre o programa nuclear do Irã em 2010 mediado por Brasil e Turquia.” assim disse EX-CHANCELER DE ISRAEL outro “bolivariano” né?

  4. Lógico que EUA não perde influência em lugar nenhum, eles tem dinheiro, empresas e investem no mundo todo, o Brasil já declarou guerra contra os países do eixo e nem por isso Itália , Japão e Alemanha deixam de ter influência aqui.

    Mas… veja essa frase :

    “O BID tem feito o nosso Exército e apêndices policiais interesses americanos” e serviu apenas “para treinar as pessoas para nos ver e nos controlar”, disse Patino.”

    http://www.cubadebate.cu/noticias/2013/06/07/el-alba-anuncia-salida-de-la-junta-interamericana-de-defensa-de-la-oea/

    Os países membros da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA) anunciou quinta-feira a sua retirada da Junta Interamericana de Defesa (JID), da OEA, argumentando que “não faz sentido” para continuar a fazer parte dela.

    O anúncio foi feito pelos representantes da Nicarágua, Venezuela, Bolívia e Equador, em uma conferência de imprensa no âmbito da 43 ª Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), realizada na cidade guatemalteca de Antigua.

    Ministro das Relações Exteriores da Bolívia, David Choquehuanca, disse que a retirada dos países da ALBA da JID foi analisado por vários meses e que se tornará oficial após a cimeira extraordinária de Chefes de Estado da aliança a ser realizada no dia 13 de de julho, em Guayaquil (Equador).

    Enquanto isso, o chanceler equatoriano Ricardo Patiño, disse que os países da ALBA “não faz sentido” para continuar a pertencer ao BID, porque não foi capaz de responder às necessidades dos países latino-americanos.

    “O BID tem feito o nosso Exército e apêndices policiais interesses americanos” e serviu apenas “para treinar as pessoas para nos ver e nos controlar”, disse Patino.

    Em vez disso, disse ele, a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), constituem uma escola “real” de defesa regional para defender os interesses norte-americanos.

    O BID é o órgão responsável por assessorar os países membros da OEA na defesa e de segurança e estratégias de projeto para lidar com ameaças continentais.

    A saída do BID ALBA, faz parte das políticas de reforma dos países em que esta associação promove o sistema de instituições inter-americanas, particularmente as relacionadas com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

    http://www.rbjid.com/

  5. O Problema ao meu ver não é so os USA perdem influencia, isso não me interessa, o importante pra mim é saber se o Brasil está crescendo sua influencia, isso sim me importa!!

    Se os USA perdem e nós ganhamos pra mim tudo bem, é assim mesmo que deve ser!!

    Valeu!!

  6. Na verdade acredito que estamos passando por um momento de readequação da política americana para a AL, a região é relativamente estável, vem apresentando ao longo dos anos crescimento econômico constante e nunca questionaram abertamente (salvo algumas bolivarianas exceções) a hegemonia do síndico do norte. A influência dos EUA é cada vez mais exercida na base do softpower não existe a necessidade de gastar recursos (cada vez mais escassos) com isso. A religião não é problema, a cultura também não, a sociedade é simpática ao modo de vida americano, enfim, não vejo um diminuição da influencia dos EUA na região e sim uma revisão de seu modus operandi, e vamos deixar de papo que eu tô atrasado para pegar meu vôo para Miami…

  7. A verdade é que esse declínio esta a cada dia mais patente, e só não vê quem não quer enxergar, a importância que eles deram para a Europa e para Oriente Médio, fez eles perderem o seu terreiro, os mimos que eles estão dispostos a oferecer ao Brasil é exatamente para tentar a bocanhar novamente esta região, mas isso não vai acontecer mais, eles vão ser sempre olhados com desconfiança pelos Sul-americanos. O desprezo deles pelos latino-americanos floriu e não tem como reverter esta situação.

  8. “Os EUA perderam a influencia que tinham na AL”… rsrsrsrrsrsrrsrs… basta ver que “Two And A Half Man” tem mais espectadores que muita novelinha da rede bobo… rsrsrsrsrs… e olha que passa de madrugada e não tem mais o Charlie Sheen… rsrsrsrsrsrs… isso na cultura… e na economia???… nunca antes na historia desse pais (rsrsrsrsrsrsr) tivemos tantos apartamentos em Miami e Boston sem contar os milhares de Camaros amarelos…

    • Blue Eyes, Na Resistência… rsrsrs…
      Podemos gostar da Coca Cola, e não achar graça naquele que a inventou, podemos gostar dos Camaros amarelo e dos apartamentos de Boston ou de Miami, sem gostar dos americanos, consegue entender? Aqueles que são militares conseguem entender mais facilmente o que estou falando, depois de muita frustrações com os mui amigos americanos.

  9. nao é apenas somente a américa latina ,mas no mundo interio ,nem em israel eles tem mais tanta influencia ,israel que influencia eles

  10. Quem disse
    ” nao ha McDonald sem McDonnell Douglas?” Fico imaginando como seria a situacao se eles ainda tinha influencia!

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