EUA encontram diário perdido de líder nazista Alfred Rosenberg
REUTERS, 10/06/2013
O governo norte-americano recuperou 400 páginas do diário desaparecido de Alfred Rosenberg, confidente de Adolf Hitler que desempenhou um papel central no extermínio de milhões de judeus e outros durante a Segunda Guerra Mundial.
Uma avaliação preliminar do governo norte-americano examinada pela Reuters garante que o diário pode oferecer uma nova visão sobre os encontros de Rosenberg com Hitler e com outros líderes nazistas, incluindo Heinrich Himmler e Herman Göring. Também inclui detalhes sobre a ocupação alemã da União Soviética, incluindo planos de assassinato em massa de judeus e outros europeus do Leste.
“A documentação é de importância considerável para o estudo da época nazista, inclusive para a história do Holocausto”, segundo a avaliação preparada pelo Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, em Washington.
“Uma análise apressada do conteúdo indica que o material lança nova luz sobre várias questões importantes relacionadas à política do Terceiro Reich. O diário será uma fonte importante de informação a historiadores que complementa, e em parte contradiz, documentação já conhecida.”
De que forma os escritos de Rosenberg, um ministro do Reich nazista que foi condenado em Nuremberg e enforcado em 1946, poderiam contradizer o que os historiadores acreditam ser verdade não está claro. Mais detalhes sobre o conteúdo do diário não estavam disponíveis, e uma autoridade do governo norte-americano insistiu que a análise do museu continua preliminar.
Mas o diário inclui detalhes sobre as tensões dentro do alto-comando alemão, em particular a crise provocada pelo voo de Rudolf Hess para a Grã-Bretanha em 1941, e o saque de obras de arte em toda a Europa, segundo a análise preliminar.
A recuperação deve ser anunciada nesta semana em uma coletiva de imprensa em Delaware, feita em conjunto por funcionários da Agência de Imigração e Alfândega, do Departamento de Justiça e do museu do Holocausto dos Estados Unidos.
O diário oferece uma coletânea das lembranças de Rosenberg da primavera de 1936 ao inverno de 1944, segundo a análise do museu. A maioria dos registros está escrita na letra cursiva espiralada de Rosenberg, alguns sobre papel arrancado de um livro de contabilidade e outros na parte de trás de um papel de carta oficial nazista, disse a análise.
Rosenberg foi um ideólogo nazista poderoso, principalmente nas questões raciais. Ele dirigia o departamento de questões estrangeiras do partido nazista e editava o jornal nazista. Vários de seus memorandos para Hitler foram citados como provas durante os julgamentos de Nuremberg, pós-guerra.
Rosenberg também dirigiu o sistemático saque nazista da propriedade artística, cultural e religiosa dos judeus por toda a Europa. A unidade nazista criada para tomar tais artefatos foi chamada de Força-Tarefa Reichsleiter Rosenberg.
DESAPARECIMENTO
Ele foi condenado por crimes contra a humanidade e foi um de uma dezena de oficiais sêniores nazistas executados em outubro de 1946. Seu diário, que estava nas mãos dos promotores de Nuremberg como prova, desapareceu depois do julgamento.
Autoridades norte-americanas suspeitavam que um promotor de Nuremberg, Robert Kempner, tivesse contrabandeado o diário para os Estados Unidos.
Nascido na Alemanha, Kempner fugiu para os Estados Unidos nos anos 1930 para escapar dos nazistas, só voltando para os julgamentos pós-guerra. Ele teria ajudado a revelar a existência do Protocolo de Wannsee, a conferência de 1942 durante a qual oficiais nazistas se encontraram para coordenar o genocídio contra os judeus, que denominaram de “A Solução Final”.
Kempner citou alguns trechos do diário de Rosenberg em sua memória, e em 1956 um historiador alemão publicou trechos de 1939 e 1940. Mas grande parte do diário nunca apareceu.
Quando Kempner morreu em 1993, aos 93 anos, disputas legais sobre seus documentos se estenderam por quase uma década entre seus filhos, seu ex-secretário, um empreiteiro local e o museu do Holocausto. Os filhos concordaram em dar os documentos do pai ao museu do Holocausto, mas quando os funcionários chegaram para retirá-los da casa dele em 1999, descobriram que milhares de páginas tinham sumido.
Depois do incidente de 1999, o FBI abriu uma investigação criminal sobre os documentos desaparecidos. Ninguém foi acusado no caso.
Mas o museu do Holocausto conseguiu recuperar mais de 150.000 documentos, inclusive uma coleção de objetos do ex-secretário de Kempner, que a essa altura tinha se mudado para a casa de um acadêmico de Nova York chamado Herbert Richardson.
O diário de Rosenberg, no entanto, continuava desaparecido.
No início deste ano, o museu do Holocausto e um agente das Investigações de Segurança Interna tentaram localizar as páginas desaparecidas do diário. Eles rastrearam o diário e chegaram a Richardson, que vive perto de Buffalo.
Richardson não quis comentar. Um funcionário do governo disse que mais detalhes serão anunciados na coletiva de imprensa.
Livraria Folha/Sinopse: Em “O Preço da Destruição”, o historiador britânico analisa a trajetória do Terceiro Reich por meio de suas características econômicas. Ao mudar o foco tradicional de livros sobre a Segunda Guerra Mundial (1939-45), o autor apresenta uma característica pouco conhecida do período.
Apesar de os títulos sobre o conflito pontuarem questões da economia mundial, o volume relata as peculiaridades da Alemanha e de como a militarização, e seus consequentes combates, acabaram gradativamente com os recursos do país.
Em mais de 800 páginas, Tooze destrói a ideia de que a ascensão do nazismo foi promovida por recursos da industrialização. Para o autor, a Segunda Guerra tem suas origens nas fraquezas alemãs.
O confronto entre o Eixo –Alemanha, Itália e Japão– e os Aliados –liderados por Inglaterra, União Soviética e Estados Unidos– levou morte e destruição para quase todas as partes do planeta. Debater interesses econômicos, conflitos ideológicos e equilíbrio diplomático são fundamentais para compreender como eventos desse gênero acontecem.
O livro é um estudo que enriquece a reflexão sobre as guerras, as relações internacionais e o totalitarismo. Professor da Universidade de Cambridge, Tooze recebeu o Leverhulme Prize de história moderna em 2002.
“O Preço da Destruição”
Autor: Tooze Adam
Editora: Record
Páginas: 882
Quanto: R$ 74,90 (preço promocional*)
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha
DE SÃO PAULO
Em quase 900 páginas, incluindo apêndices e notas explicativas, Tooze analisa o cenário alemão após a Primeira Guerra, as disputas que permitiram a ascensão de Hitler ao poder e suas principais decisões para sustentar o esforço de guerra, que, para o autor, estava fadado ao fracasso se interpretado com auxílio da história econômica.
Na alentada introdução, ele explica que, com frequência, essa esfera econômica fica completamente isenta de escrutínio crítico.
“Muitas vezes, presume-se que o regime de Hitler somente enfrentou as verdadeiras escolhas estratégicas de política econômica, nas quais a ideologia nacional socialista era realmente influente, em 1936, quatro anos após a chegada ao poder”, observa, para logo em seguida desmontar essa tese.
Tooze também critica os historiadores do século 20 por assumirem em suas análises que a Alemanha era uma gigante econômico em potencial, afirmando que a história do período é marcada pelo fim da hegemonia de qualquer país europeu e pela ascensão de novas potências –especialmente os EUA.
Segundo o autor, Hitler percebeu com clareza, na década de 1920, a “ameaça de hegemonia global” representada pelo país, e pensava em como contrapor-se ao seu domínio econômico e militar, aparentemente inevitável.
O líder alemão, contudo, escolheu resposta explosiva: a anexação de território a leste para rivalizar com o território ocupado pelos EUA.
O rearmamento, portanto, é a “força absoluta e determinante que impulsionou, desde o início, a política econômica. Tudo o mais foi sacrificado em prol disso”.
Dessa forma, Tooze põe em xeque a visão que confere proeminência à questão da criação de postos de trabalho na agenda do regime nacional-socialista.
“As decisões de política econômica mais cruciais tomadas no período 1933-34 não se referiam ao desemprego, e sim às dívidas externas da Alemanha, à sua moeda e ao desarmamento, e, com relação a essas questões, não é possível fingir inocência política.”
Uma das principais revelações do livro é a de que, no verão de 1939, Hitler estava ciente de que seu esforço por um programa de longo prazo de preparação para a guerra havia fracassado.
O crescente rearmamento das potências ocidentais contra as quais pretendia investir, aliado à impossibilidade, por desequilíbrio no balanço de pagamentos, de incrementar sua produção bélica obrigou o regime a se lançar antecipadamente ao confronto, já que não ganharia mais nada ao postergá-lo –o país tinha tênue vantagem militar no início da guerra.
O componente ideológico do antissemitismo também foi fundamental na decisão de Hitler, que evitava o assunto nos discursos oficiais à liderança militar, mas acusava a comunidade judaica internacional de buscar a destruição do regime nazista.
Um dos méritos do autor é utilizar linguagem clara e relatos com riqueza de detalhes, embora a leitura do trabalho, por seu volume de informação, não seja fácil.
A edição brasileira poderia apenas ter tido o cuidado de atualizar currículo do autor.
Entre o lançamento no exterior, em 2008, e a publicação neste ano no país, Tooze trocou a britânica Universidade de Cambridge pela americana Universidade Yale, onde leciona história alemã moderna desde 2009.
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