‘O Instituto de Pesquisas Espaciais está no fundo do poço’…E daí? Pelo menos o Maracanã já foi reinaugurado?

INPE no fundo do poço

‘O Instituto de Pesquisas Espaciais está no fundo do poço’

Criado em 1961, o órgão desenvolve pesquisas nas áreas de Ciências Espaciais e Atmosféricas, previsão do tempo e Engenharia Espacial e oferece cursos de mestrado e doutorado 03 de junho de 2013 | 2h 02

HERTON ESCOBAR – O Estado de S.Paulo

diretorINPEO Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) “está no fundo do poço”, segundo seu ex-diretor Gilberto Câmara, que pediu demissão do cargo há um ano. Não só o Inpe, diz, como vários outros institutos e
universidades federais que se esforçam para produzir ciência e tecnologia, mas não conseguem, por causa de uma legislação “arcaica”.
Indignado, Câmara escreveu um artigo para o Jornal da Ciência, publicado na edição online em 22 de maio. Na sequência, conversou com exclusividade com o Estado.

O que o senhor quer dizer com “fundo do poço”?
Gilberto Câmara – Que o Inpe perdeu a capacidade de cumprir suas missões porque os meios necessários são limitados pelo sistema de administração direta e pelo controle da Advocacia-Geral da União (AGU), Controladoria-Geral da União (CGU) e do Tribunal de Contas da União (TCU), em que predomina a regra do ‘não pode’ e funcionários são contratados para a vida eterna.

O Inpe opera nesse sistema há muito tempo. O que mudou?
Gilberto Câmara – O sistema ficou muito mais apertado. Até certo tempo atrás, havia certa tolerância, por exemplo, em relação à captação de recursos externos via fundações e ao uso da lei de licitações para compra de bens tecnológicos. Mas essa tolerância está cada vez menor.

Quando as dificuldades começaram?
Gilberto Câmara – De uns cinco anos para cá, quando a AGU passou a interpretar leis de forma mais estrita. A posição é que qualquer recurso que entre nas universidades tem de ir para o orçamento da União e ser gasto segundo a lei de licitações. Essa posição liquida as instituições, tirando delas o mínimo de autonomia que existia.

Como ser mais eficiente?
Gilberto Câmara – O certo seria cultivar um sistema de mérito, só que isso é impossível na administração direta. Há incompatibilidade entre cultura de mérito e sistema baseado no controle dos meios – por exemplo, com licitações baseadas em menor preço e contratação de funcionários vitalícios. Não dá para comprar satélite como se compra carro, comparando três modelos e escolhendo o mais barato. Quero contratar pessoas por tempo determinado, não funcionários para o resto da vida.

O que o senhor quer dizer com cultura de mérito?
Gilberto Câmara – Uma cultura de mérito pressupõe que quem recebe recurso recebe para produzir determinado resultado. O sistema atual é totalmente antagonista à cultura de mérito necessária à produção de conhecimento. A exceção é São Paulo, porque a Fapesp julga fins, não meios. AGU, CGU e TCU não estão nem aí para resultados.

Qual seria a solução?
Gilberto Câmara – Essencialmente, um novo regime administrativo para institutos e universidades – e o melhor regime para isso hoje é o de organização social (OS). Não é o melhor que poderíamos criar, mas é o melhor que temos.

Quais são os reflexos no Inpe?
Gilberto Câmara – Há paralisia total nas decisões. Todos os editais do CBERS (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), por exemplo, estão sendo feitos pela Agência Espacial Brasileira, porque a AGU disse que o Inpe não pode mais contratar para o programa CBERS.

Os serviços prestados pelo Inpe estão ameaçados?
Gilberto Câmara – O risco é mais sutil. Serviços continuarão a ser prestados, mas não serão melhorados. A previsão do tempo não deixará de ser feita, mas a capacidade do Inpe de melhorar essa previsão está comprometida. O mesmo vale para o monitoramento da Amazônia: não vai acabar, mas não vai melhorar. Em resumo, o sistema está bichado.

20 Comentários

  1. Sabem qual foi a renda do jogo de ontem na inauguração do Maraca??: R$ 8,6 milhões!

    Defendo que uma parte substancial da renda destes estádios deve ser direcionada a locais como o Inpe. Simples assim. Até que o valor investido no estádio fosse pago, após isto estaria livre deste tipo de taxação. Se algo assim já existe eu desconheço, mas se não.

    • Não sou ligado em futebol então não sei dizer ao certo, mas creio que o dinheiro dos jogos vá para os times, que gastam tanto na manutenção do próprio clube quanto do estádio. Creio que só vai pro estado o dinheiro arrecadado com o aluguel do estádio(se ele for público, claro).

  2. O maraca custou cerca de 1,5 bilhões para o erário público, e depois da copa do esperto do Eike Batista; que pertence aquela nata de empresários que enriquecem as custa do BNDES, ficará com ele de graça, não é genial? Desse jeito até eu sou mega empresário. Investimento total na copa que iremos perder uns 20 bilhões ou mais, para as pesquisas que poderiam alavancar o desenvolvimento do País nada, e a satisfação da Dilma, do Lula, dos mensaleiros, não tem preço!

  3. Isso é a pura verdade, algo muito bem conhecida por qualquer um que ou tenha interesse na área, ou esteja dentro de uma federal como eu, ou que tenha colegas da física e da química principalmente. O problema hoje nem é tanto falta de bolsa, apesar dos valores serem patéticos, já tem muito mais ajuda hoje do que tinha antes, o que já é um avanço. O problema é que o governo achou que jogar um monte de garupas na cara dos cientistas ia resolver o problema. A situação de perda de pessoal tanto do ITA, quanto do DCTA, da AEB ou de qualquer órgão científico brasileiro é muito crítica. Não só os salários pagos são irrisórios quanto falta de tudo na infraestrutura. Perde-se muito pessoal que vão para fora, e os que ficam não tem condições de substituir os que estão aposentando. Sem contar a falta crônica de insumos pra pesquisa. Não produzimos quase nada na área, muita coisa é importada, principalmente da Europa, o problema é que o governo e a praga da alfandega criam um caos burocrático que torna praticamente impossível trazer qualquer coisa de fora pra pesquisa. E quando consegue trazer fica preso meses, ou anos na alfandega esperando os incompetentes liberarem a mercadoria. Tem se levado muito mais a sério do que o governo anterior, não há dúvidas, e acredite, a situação melhorou, só que muito pouco, quase nada. Para um país que se propaga como potência mundial é humilhante a situação. O que me faz imaginar, se chegamos até aqui com commodities, imagina onde chegaríamos exportando manufaturas?

  4. Em verdade, no passado vários institutos e fundações foram pegos gastando mais dinheiro em novas sedes, aumento de salários dos gestores e servidores diretos, do que na atividade fim de pesquisa. Razão pela qual foram enquadrados. Agora, o governo estuda uma fórmula de garantir agilidade sem perder o controle. Uma das opções fui eu mesmo que dei, a criação da empresa brasileira de pesquisa industrial, nos moldes da Embrapa.

  5. Em um ponto eu concordo com o entrevistado: é necessário uma revisão na forma de se fazer licitações no Brasil do critério predominante do menor preço para o de economicidade, pois quando o menor preço prevalece sempre o produto ou o serviço será o de pior qualidade. Mas esta questão de precarizar a mão de obra eu sou contra totalmente. Uma pessoa não vai ter motivação de investir na própria formação para depois ficar se submetendo a jornadas insanas e salários aviltantes. É necessário se valorizar as carreiras públicas.

  6. Verdade seja dita, também existe muita picuinha do INPE envolvido desde que o governo decidiu finalmente subordina-lo a AEB. A medida foi importante para aumentar a importância e escopo da AEB que até agora tava meio perdida sem saber pra onde ir. Ainda continua cambaleando tentando se manter em pé, mas já tem alguma coisa pra ir trabalhando junto no processo. Infelizmente na ciência brasileira existe muita briguinha infantil e rivalidades imbecis entre cientistas de institutos diferentes. Agora quanto a Embrapii, tecnicamente ela já foi criada, mas até agora nada ainda, deve estar na incubadora de empresas do governo, preparando para ter sua estrutura definida e finalmente passar a existir de fato. Mas vai levar um bom tempo até se tornar um Embrapa da ciência e tecnologia.

  7. O quê o Maracanã tem haver com a matéria?
    Por quê o Blog Plano Brasil está seguindo o costume estúpido da nossa mídia, de lançar manchetes sem nexo algum com a matéria, apenas para posar com viés oposicionista ao atual governo de turno?

    Não somos os parvos leitores da Veja…

    Quanto a matéria do Estado de São Paulo, é bom dizer que o TCU é controlado pela direita política, e a AGU passou a agir de tal maneira devido aos desmandos do judiciário presidido pelo justiceiro… Querem flexibilidade? Criem uma empresa estatal… Mas, vou avisando a todos que logo irão aparecer as críticas oportunistas dizendo que é “mais um cabide de emprego e etc..”; oportunismo é uma arte dos traidores…

    • Resposta, para finalizar obras no Maraca, não precisa-se de licitação, para comprar satélite sim e se você entendeu a matéria o pau que ele mete é no TCU, não na sua presidente, e mais ainda, o Plano Brasil, continuará sim postando o que bem entender, até que alguém entenda que o que postamos não agrada ao partido ou ao curral eleitoral e faça como chavez, manda fechar…
      Obrigado
      Edilson Pinto

      • Muito bem colocado, Edilson!!!

        O viés do “pão e circo” tem sido mais importante do que a estratégia de longo prazo que uma política de Estado deveria preservar. Porém, todos os que tiveram no poder só rezaram na cartilha da política de Governo, ou seja, curto prazo (4 anos).

        O que mais gosto no Plano Brasil são os assuntos correlacionados com a defesa, mas que não parecem claramente ligados para algumas pessoas.

        Abs,

        Esdras Souza

      • E.M.Pinto, seu comentário foi completamente voltado a ideologia politica ao mencionar dessa forma o “Chaves” e ao usar o termo “não na sua presidente”, além do mais você foi bem “estupido” ao responder o Ilya Ehrenburg. Me desculpe se te faltei ao respeito, mas acredito que por ser um Editor de um site como Plano Brasil talvez o feedback fosse útil.

        Acredito que é necessário sim uma revisão na forma como o AGU, CGU e TCU enxergam os gastos do Inpe.

    • Seu ativismo pró partidão esta ficando ridiculo xará, ero só o que faltava, um cyber ativista partidario treinado, querendo pautar um blog de história como o PB, se não gosta, apresente argumentos, e não esta falacia de espantalho patetica.

  8. Misturar obras nos estádios com INPE não é só infantil, é má fé , coisa de panfletim, de quem joga pra torcida e não se importa com o seu time.

    De novo.

  9. É complicado, pelo que se percebe das afirmações do texto é que o Estado brasileiro cria um problema por não haver confiança nos administradores do dinheiro publico!Não há confiança porque sabemos se não vigiar o dinheiro toma outro destino!Entretanto, se tivéssemos leis penais eficiente que punisse e não ficasse perdido no sumidouro do judiciário submisso a recursos e punição de faz de conta, o agente publico pensaria duas vezes em desviar o dinheiro!O que que tá faltando, falta valores de ser honrado, fazer o que é certo aos olhos de todos, como ensino meus filhos a se conduzirem na vida!Vivemos uma crise de valores cujo baluarte é o próprio Estado brasileiro!Também sabemos que o Estado emprega, não oferece trabalho, e que todo mundo quer essa teta leitosa! Você não dope demitir o cara tem estabilidade pra vida toda e isso também é um direito adquirido, inclusive constitucionalmente!Como se resolve isso, reforma do Estado!Agora quem tá mamando não quer reformar, só preservar o statu quo, e assim caminhos nós de governo a governo, de eleição a eleição!Só fará a reforma quem está de fora dessa realidade, mas precisamos avisar o povo disso, sobretudo os milhões que hoje recebem bolsa família, e por aí vai!

  10. Eita ai fica difícil se bota matéria reclama se não bota reclama ta difícil a vida dos editores daqui.

  11. A prioridade do partidão chama-se, “Pão” ( bolsa esmola) e circo, e não desenvolvimento da nação, tão claro quanto um copo de agua.

  12. Um dos pontos principais do artigo é a camisa de força que engessa a pesquisa no Brasil, Existem tantos entraves à aquisição de bens e serviços para a pesquisa que o país está ficando cada vez mais atrasado. Parte-se do pressuposto que o pesquisador é sempre desonesto e está descumprindo ou infringindo algum detalhe da nossa legislação “labiríntica” e esdrúxula. Só pra se ter uma ideia da insensatez da nossa burocracia, vou citar exemplos reais, sem os detalhes:1) ao adquirir um equipamento cumprindo todas as legalidades, devido à demora na liberação dos recursos, acabou surgindo no mercado um modelo mais avançado do mesmo equipamento, mesma marca, pelo mesmo preço. Qualquer pessoa sensata optaria pelo novo modelo. Quem fizer isso será condenado a restituir, do próprio bolso, os recursos “desviados” para outra finalidade, 2) Um equipamento importado apresentou defeito. Enviado ao fabricante para os devidos reparos, este optou por enviar um outro aparelho, mais novo, sem nenhum custo. Problema!!! isso não é permitido, na nossa republiqueta de bananas! Parece absurdo, mas aconteceu, de verdade, e continua acontecendo.

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