“GÁS NÃO CONVENCIONAL PODE SER USADO COMO RESERVA NO BRASIL”

xisto

Especialista diz que melhores perspectivas para o gás não convencional estão nas bacias de São Francisco, Parnaíba e Parecis 

Por Danielle Nogueira

RIO – O americano Robert Fryklund, estrategista-chefe de upstream (exploração e produção) da consultoria IHS, diz que o gás não convencional deve roubar espaço de outras fontes de energia fósseis, como carvão e petróleo, mais poluentes. As apostas recaem sobre o shale gas ou gás de folhelho (muitas vezes traduzido como gás de xisto), encontrado em rochas do subsolo. Fryklund fala nesta quinta-feira, 25/05/2013, sobre o tema, em evento na Firjan.

Por que o gás não convencional se desenvolveu nos EUA?

Nos EUA, qualquer cidadão pode ter direito sobre os minerais que estão no subsolo. Não é como no Brasil, que você é dono da terra, mas o que está abaixo da superfície pertence à União. Se você tem um rancho no Texas, pode alugar a propriedade para uma empresa e, se for encontrado petróleo ou gás, pode cobrar royalties dela. Tivemos uma legislação favorável ao desenvolvimento dessa indústria e já tínhamos uma infraestrutura de gasodutos bem consolidada no país.

Qual foi o gatilho para o início da produção nos EUA?

Foi o desenvolvimento de uma técnica chamada fratura hidráulica (na qual rochas no subsolo são fraturadas para liberar o gás armazenado, usando água bombeada com alta pressão e produtos químicos). A produção começou a crescer com força em 2006. Em Marsellus (reserva que cobre a área rurai de estados americanos), adicionamos em pouco menos de três anos 7,5 bilhões de pés cúbicos de gás por dia. É mais que a produção da Arábia Saudita. Hoje a produção nacional é de 70 bilhões de pés cúbicos por dia. Os preços altos do petróleo também contribuíram para estimular a produção.

Quais os efeitos disso no resto do mundo?

O gás natural está substituindo o carvão nos EUA como fonte de energia. Com isso, o preço do carvão baixou e está sendo exportado para a Europa. Lá, as empresas estão desligando as usinas a gás e usando o carvão. Os fornecedores de gás de Rússia e Norte da África não estão muito felizes.

Quais as perspectivas para o Brasil nessa área?

As melhores perspectivas estão nas bacias de São Francisco (MG), Parnaíba (MA-PI) e Parecis (AM). É possível que outras fontes de gás não convencional, diferentes do shale gas, sejam encontradas lá, com a nova rodada de licitações da ANP (Agência Nacional do Petróleo). Essa fonte de energia pode ser usada como reserva.

E os problemas ambientais?

Fala-se do risco de contaminação dos lençóis freáticos pelos produtos químicos. Mas 99% dos químicos são usados em produtos de limpeza. O que há é um impacto social grande. A exploração do gás atrai gente e aumenta o trânsito

Fonte: O Globo, Economia, Página 23, 5ª feira, 23/05/2013, 2ª Edição 

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Em novembro, a Agência Nacional de Petróleo pretende leiloar áreas em terra, com potencial para gás. Inclusive o gás de xisto, que ganhou uma importância enorme, nos últimos anos, principalmente nos Estados Unidos, apesar dos riscos envolvidos na exploração.

Em novembro, a Agência pretende leiloar áreas em terra, com potencial para gás. Inclusive o gás de xisto, que ganhou uma importância enorme, nos últimos anos, principalmente nos Estados Unidos, apesar dos riscos envolvidos na exploração.

De repente, uma área rural vira território de usinas de gás.

A produção na Pensilvânia é tão grande que o estado está sendo chamado de “Arábia Saudita do gás”.

A riqueza está a um quilômetro de profundidade, em rochas conhecidas como xisto.

O gás é extraído com uma técnica chamada de “fraturamento hidráulico”. Poços perfurados no solo injetam água, areia e produtos químicos em alta pressão. A mistura abre os poros da rocha e o gás que está lá dentro é liberado.

China, Estados Unidos e Argentina têm as maiores reservas de gás de xisto do mundo. O Brasil aparece em 10º lugar.

Mas é em território americano que a exploração está mais adiantada.

O gás de xisto é o motor da revolução energética dos Estados Unidos. Ele é mais barato do que o carvão e virou a aposta do país para reduzir a dependência de energia importada, que já provocou tantas guerras. Estudos oficiais apontam que se o petróleo for substituído pelo gás de xisto e por outras fontes, os Estados Unidos podem se tornar autossuficientes dentro de 20 anos.

“Estamos começando a ver indústrias voltando a produzir aqui, por causa do baixo custo da energia”, diz Dennis Iablonski, diretor de uma associação de empresários na Pensilvânia.

Mas o processo de extração do gás de xisto traz riscos, como poluição do ar e contaminação do solo e de lençóis freáticos.

Em uma reportagem para o Bom Dia Brasil, o correspondente Jorge Pontual visitou, em 2013, uma área de exploração. Quando se aproximou de uma fonte com uma chama, a água pegou fogo.

Na Alemanha, as cervejarias alertaram que a exploração pode ameaçar a qualidade da água, necessária para produção da cerveja.

Para estimular a economia, o Reino Unido quer incentivar a produção do gás de xisto, mas França, Holanda e Bulgária proibiram a exploração.

O estado de Nova York, que tem reservas grandes, prefere esperar o resultado de mais estudos para saber se os ganhos compensam os riscos da extração do gás.

Fonte: Jornal Nacional, Edição do dia 24/05/2013 

1 Comentário

  1. O poder geopolitico americano pode voltar a ser como antes se eles conseguirem a independencia energetica que tanto querem… ai acabou o sonho comunista brasileiro…

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