Enquanto EUA refletem se terão maior envolvimento no conflito, regime diz ser parceiro do Ocidente contra o terror, afirmando que a Síria ‘é o último Estado secular do mundo árabe’
NYT
À medida que cada vez mais islâmicos passam a integrar o contingente de rebeldes sírios, o presidente Bashar al-Assad empreende uma campanha para convencer os EUA de que estão do lado errado da guerra civil que assola o país há mais de dois anos. Alguns defensores do governo e autoridades locais acreditam que já estão persuadindo – ou pelo menos chegando perto de persuadir – o Ocidente a dar menos apoio à oposição.
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Confiantes de que podem vender sua mensagem para o Ocidente, autoridades do governo estão menos relutantes em permitir a entrada de jornalistas estrangeiros na Síria e também desfilaram prisioneiros que descreveram como combatentes extremistas capturados no campo de batalha e contaram extraoficialmente com o auxílio de um empresário sírio-americano para ajudar a tocar nos medos americanos em relação a grupos como a Al-Qaeda.
“Somos parceiros na luta contra o terrorismo”, disse o primeiro-ministro da Síria, Wael al-Halqi. Omran al-Zoubi, o ministro da Informação, disse: “É uma guerra de civilização, identidade e cultura. A Síria é o último Estado secular que restou no mundo árabe.”
Apesar das esperanças em Damasco, o presidente Barack Obama não retirou sua exigência de que Assad renuncie. O governo americano também continuou exercendo pressão econômica sobre Damasco e aumentou a ajuda não letal à oposição ao mesmo tempo em que solicitou uma solução negociada para o conflito.
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Mas os EUA já indicaram desconforto com a crescente influência de radicais islâmicos no campo de batalha e ainda têm dúvidas se armarão os rebeldes ou se terão um papel maior no conflito enquanto ainda não há provas conclusivas de que o governo sírio utilizou armas químicas , como afirmaram autoridades israelenses .
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É difícil enxergar por trás da propaganda de ambos os lados, pois as autoridades do governo ou os rebeldes – dependendo do território – controlam o acesso. A informação é uma arma estratégica no conflito, já que ambos os lados buscam apoio dos sírios e dos países estrangeiros.
A nova estratégia do governo foi exibida durante uma visita de duas semanas a Damasco por jornalistas do The New York Times. A primeira evidência disso foi a presença de um grupo de prisioneiros vendados que estavam em um pátio fracamente iluminado numa noite recente, cada um segurando a camisa do indivíduo em sua frente. Autoridades de segurança os classificaram como extremistas islâmicos vindos de diferentes partes do mundo para travar a jihad (guerra santa) na Síria.
Os homens eram cinco sírios, um palestino e um iraquiano, e descreveram uma série de objetivos, desde domínio islâmico até um democracia representativa.
Em Damasco, autoridades e simpatizantes abordaram vários temas: eles acreditam conseguir vencer a guerra e não veem necessidade de moderar a repressão militar. Eles esperam que Assad concorra à reeleição no próximo ano, e alguns disseram que ele conseguiria vencer, não esclarecendo dúvidas sobre como funcionaria uma votação em um país onde quase metade da população foi forçada a deixar suas casas .
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Acima de tudo, a guerra parece ter inspirado alguns dos partidários de Assad. Alguns sírios proeminentes, antes muito frustrados com a corrupção e o favoritismo, agora disseram possuir uma razão convincente para preferir o governo.
Agora, afirmaram, estão lutando por um ideal: a preservação das religiões e culturas da Síria. E veem a si mesmos, com seus estilos de vida seculares e cosmopolitas, como idealmente equipados para falar com o Ocidente.
As autoridades do governo disseram que os EUA e seus aliados orquestraram a revolta para punir a Síria por se opor a Israel. Eles também falaram de interesses comuns. A Síria, argumentou o primeiro-ministro, está defendendo o Islã moderado contra “o Islã obscuro”.
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Opositores disseram que o próprio governo tem alimentado o sectarismo, primeiramente ao favorecer a seita alauíta de Assad e agora usando palavras em código como “Wahhabis” e “Al-Qaeda” para culpar a maioria muçulmana sunita pela violência.
Autoridades argumentaram que, se Assad cair, a Europa enfrentaria um arco de Estados de liderança islâmica entre a Turquia e a Líbia. Eles pediram aos EUA para investigar se a Turquia estava enviando jihadistas à Síria em violação à resolução do Conselho de Segurança da ONU 1.373, que determina a cooperação internacional contra o terrorismo.
Para autoridades sírias, a conclusão é óbvia. Al-Zoubi, o ministro da Informação, perguntou se Washington “realmente acredita que” os rebeldes são “revolucionários” e não “terroristas”. “Se eles realmente acreditam que são revolucionários, então temos um desastre em nossas mãos”, disse. “Se sabem que não são revolucionários e conscientemente apoiam a Al-Qaeda, isso é pior ainda.”
Por Anne Barnard
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