ENTREVISTA COM EDMAR BACHA, UM DOS FORMULADORES DOS PLANOS CRUZADO E REAL

real‘Seleção de vencedores e perdedores não deve ser feita pelo BNDES’, diz Edmar Bacha

Economista propõe ‘Plano Real para indústria’, com abertura do mercado

 Um dos formuladores dos planos Cruzado e Real, Edmar Bacha, defende agora um pacote que permita retomar o crescimento da economia com baixa inflação, ainda que isso custe a sobrevivência da alguns segmentos

 Edmar Bacha diz que as atuais desonerações não são capazes de estimular a economia, pois o governo “não tem visão de futuro e está pregando prego no buraco”

Simone Marinho / Agência O Globo

Por Lucianne Carneiro

RIO – Defensor de um plano que inclui impostos de importação menores, o economista Edmar Bacha admite que alguns setores da indústria vão se adaptar à mudança e outros, não. Mas diz que “a seleção de vencedores ou perdedores não será feita pelo BNDES”. Bacha, que é filiado ao PSDB, afirma que o governo atual não tem estratégia para o futuro.

Como seria o “Plano Real para a indústria”, conforme publicou o jornal “Valor Econômico”?

Hoje temos Pibinho com inflação alta e desindustrialização. Proponho que a indústria se recupere. É focado na indústria, mas o objetivo é retomar o crescimento com baixa inflação.

Como seria a forma de atuação?

É uma proposta para ser implementada num período de oito anos. Primeiro, é preciso reduzir a carga tributária para a indústria.

Para que seja de forma efetiva, é necessário ajuste no orçamento do governo. De nada adianta desonerar com elevação de déficit fiscal. Isso só aumenta a dívida pública. Poderíamos ter um período até 2020 com o gasto público crescendo 2% ao ano, para uma expansão da economia de 4%.

O plano também prevê redução de tarifas de importação, não?

Proponho uma troca da proteção da indústria pelo câmbio. Temos tarifas elevadas de importação, exigência de conteúdo nacional alto e normas técnicas que dificultam a entrada de produtos estrangeiros. A norma da tomada de três pontos, por exemplo, é só do Brasil e só serve para dificultar a importação de eletrodomésticos. Isso deve aumentar importações, e o mercado vai vender real e comprar dólar, gerando desvalorização do real. Para isso, teremos um câmbio verdadeiramente flutuante.

Também é preciso avançar nas negociações comerciais?

Essa é a terceira área. O Brasil é uma economia ainda muito fechada. O que é fundamental é anunciar e explicar tudo antecipadamente. Na mesma linha do Plano Real: ‘Só vamos fazer o que anunciar e só vamos anunciar o que vamos fazer’.

A redução de impostos de importação não pode colocar em risco alguns setores da indústria?

Obviamente é preciso ter acompanhamento e políticas compensatórias para ajudar na transição. Globalmente, essas propostas preveem um crescimento maior. E vai ter mais dinheiro para compensações. Algumas indústrias vão se adaptar, outras, não. E terão que mudar de ramo.

Pode haver seleção de ganhadores e perdedores?

Será seleção de vencedores e perdedores, mas não mais pelo BNDES.

Por que as desonerações para a indústria não têm sido suficientes para estimular a economia?

Hoje não tem plano, não tem estratégia, não tem visão de futuro. Eles (o governo) estão pregando prego no buraco.

 

Fonte: O Globo, Economia, Página 26, 6ª feira, 03/05/2013

2 Comentários

  1. Essa historia de desonerar setores especifico da economia é balela, tem que desonerar geral, extinguir inumeros imposto que oneram toda a cadeia produtiva, tais como PIS, CONFINS e muito outros que só servem pra alimentar a paquiderme maquina publica estatal, que não aplica nenhum fundamento racional ou aceitavel de gestão, pois sempre conta com o povo para massacrar anualmente, povo que lhe dá a contra gosto sustento!É o velho dilema – Estado rico povo pobre!Se não se aplicar uma transformação na gestão da administraçao publica brasileira não há futuro possivel, pois é a má admisntraçao publica de municipio, estados e da união que é o nosso gde tropeço hoje, pois além de onerar o setor produtivo, drena quantia substancial de recursos fundamentais que serviriam para alimentar a economia, gerando produção, empregos e impostos de volta, e que no final são mal distribuido ou mal aplicados pelos setores publicos de todos os niveis!

    • Concordo plenamente e existe problema ainda maior, o que se faz é desonerar um setor e onerar outro. Isso cria uma confusão no mercado que não sabe mais aonde investir. Uma reforma e simplificação tributária e um bom controle dos gastos pode dar um gás a nossa indústria.

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