“A Sérvia foi um polígono de ensaios das estratégias da OTAN”

belgrad

Defesa Aerea em Belgrado – Abril de 1999

Konstantin Katchalin

Depois de Dragan Matic e os seus camaradas terem abatido o F-117A, a Casa Branca e o Pentágono pediram ao governo da República da Iugoslávia para que devolvesse os destroços e tudo o que tivesse sobrado do avião para os Estados Unidos. Mas Belgrado recusou, evidentemente. Agora, o “stealth abatido” está exposto no Museu da aviação. Foi aqui que continuámos a nossa conversa com Dragan Matic.

A vossa bateria funcionou de uma forma precisa e coesa. Como foi possível que os norte-americanos, com os AWACS e eletrónica avançada, deixaram passar o míssil soviético e permitiram que o avião furtivo tivesse sido atingido?

– Nós estávamos a defender a nossa pátria e a cumprir o nosso dever. Nós também eramos um alvo, também eramos seguidos pelos satélites estadunidenses e detectados pelos AWACS. Por isso, nós tentávamos não permitir a emissão de quaisquer sinais para o ar. Se você ficar no ar ou num radar inimigo mais de 20 segundos, pode se considerar morto. Espera ser atingido por “Tomahawks”, mísseis de cruzeiro ou uma bomba potente.

Esta é a minha opinião sobre os aviões furtivos: eles iniciaram o seu fabrico para vendê-los aos seus aliados por todo o mundo. Esse avião é extraordinariamente caro, cada aparelho custa mais de 50 milhões. Muito foi falado sobre esses aviões furtivos, mas tudo isso não passava de publicidade do Pentágono. Ele não tinha uma grande velocidade de voo, não tinha uma boa proteção e só transportava duas bombas. Outro defeito desse “pássaro” era ele ter que se aproximar muito do alvo. Só depois é que ele podia desferir um golpe mortal.

– Quais foram os outros aviões que a vossa equipe conseguiu atingir?

– Nos primeiros dias da agressão contra a Iugoslávia, a força aérea da OTAN começava os seus raids depois das 20h00. Todos os aviões seguiam sempre pelo mesmo percurso e pelo mesmo caminho regressavam às suas bases. Nós percebemos rapidamente essa particularidade. A maioria dos aviões era por nós fixada como alvos a 40-50 quilômetros de distância das nossas posições. Os pilotos norte-americanos e os seus colegas da OTAN cumprem sempre as regras e executam as ordens com precisão. Eles têm um percurso, têm uma missão, e não vão se afastar nem um milímetro das suas instruções. Nós liamos os seus planos nas entrelinhas e isso salvava-nos a nós e e à nossa defesa antiaérea.

A nossa bateria atingiu, além do primeiro F-117, mais um aparelho. Nós atingimo-lo de raspão, mas ele conseguiu chegar até à Croácia e aterrissar. Porém, não existe uma confirmação oficial. Isso foi publicado nos jornais e existe uma fotografia. Isso aconteceu a 30 de maio. Anteriormente, tínhamos abatido um F-16. O piloto era o comandante de uma esquadrilha que destruía especificamente sistemas de defesa antiaérea. Eles enviaram um grupo especial em helicópteros para salvar um homem tão importante: 4 helicópteros e 10 aviões prestavam apoio ao comando que desembarcou. Esse piloto tinha participado na operação “Tempestade no Deserto” e bombardeou sérvios na Bósnia-Herzegovi na. Se tratava de um aviador muito experiente e muito seguro como piloto, mas nós conseguimos atingir o seu lendário avião.

A nossa equipe também tem um B-2 na sua folha de serviços. Desta vez também não existem provas, mas as nossas escutas de radiocomunicaçõe s registaram a conversa entre o piloto e um AWACS. O piloto gritava: “Fui atingido por um míssil, preciso que me salvem”. Ele conseguiu chegar até à Hungria. Nós combatíamos e abatíamos o inimigo. Nós temos equipamento antigo, eles têm o armamento mais moderno, mas nós fomos mais espertos e mostrámos que sabíamos ripostar.

– Na sua opinião, porque acha que os países da OTAN iniciaram a guerra contra a Iugoslávia?

– Em primeiro lugar, para nos castigar pelo Kosovo. Em segundo lugar, para testar novos armamentos em condições reais de combate. Entretanto, também aproveitar para se desfazerem dos arsenais antigos e receber novos. Mais tarde, o complexo militar-industri al dos EUA recebeu centenas de bilhões de dólares. O Pentágono pedia fundos e o governo atribuía. No território da Iugoslávia foi testada pela primeira vez a bomba de 2,5 toneladas.

A Iugoslávia se desmembrou em 1991-92. Nós, os sérvios, estorvávamos o Ocidente e tínhamos de ser quebrados. Eles não fizeram a guerra contra Milosevic, isso foi só um pretexto. Eles tinham de quebrar o povo, destruir o país e colocá-lo sob o seu controle. Atingiram-nos com tudo: urânio empobrecido, bombas de fragmentação. A nossa terra se tornou num polígono de ensaios, no qual os estrategas da OTAN faziam os seus experimentos.

Fonte: Voz da Rússia

12 Comentários

  1. Capacidade Stealth até onde ela é garantia de sucesso? Vale todo o seu alto custo? Tanto para aviões como para navios etc?

    Passados vários anos da derrubada do F-117, várias contramedidas… desde capacidades técnicas como de novas doutrinas de combate vem sendo desenvolvidas, porém a propaganda a seu favor é bem forte, e até tanques, e quem sabe roupas, com essa custosa tecnologia stealth são desenvolvidos. A indústria bélica com seus gordos financiamentos agradece.

    Porém, corpos em relativa baixa velocidade, mesmo com assinatura radar muita pequena podem ser rapidamente identificados nos campos, meio da mata, desertos etc, usando não um emissor de ondas de radar (que poderiam ser refletidas ou absorvidas pelo formato reflexivo e materiais absorventes) mas por um simples e barato emissor de ultrassom (como os morcegos e golfinho fazem).
    Quanto a corpos em velocidades altas e acima da do som, redes de radares e antenas de radiofrequência posicionadas paralelamente, e não só perpendicularmente a possíveis rotas do inimigo, podem também driblar a capacidade stealth.

    Mas sou só um leigo e curioso do assunto. Certamente há muito mais detalhes sobre defesa e ataque nesse tipo de tecnologia que desconheço completamente.

    • ViventtBR,

      Excelente comentário.

      A tecnologia stealth não é infalível. Mesmo radares convencionais são capazes de localizar uma aeronave stealth. A questão principal que paira sobre o assunto é: a que distancia se daria a localização…? No caso do F-117, os próprios sérvios o localizaram a 50 km de sua bateria de defesa anti-aérea, com um ou mais radares que muito provavelmente cobrem distâncias maiores que essa. Se fosse uma aeronave Wild Weasel ( para ataques a rede de defesa ), poderia simplesmente não haver tempo para uma resposta, somando-se a isso o fato de que existem armamentos anti-radar que são capazes de cobrir essa distância…

      O propósito do stealth não é ser totalmente invisível ao radar… Foi feito apenas para permitir que a aeronave atacante se aproxime a distância de tiro sem ser detectada. E para isso, investe-se igualmente em armas capazes de percorrer grandes distâncias.

      O stealth é previsto para ser uma aeronave para um primeiro ataque. Após as defesas estarem escancaradas, aeronaves de geração 4.5 ( Rafale, F-18E e outros ) é que passarão a fazer o trabalho…

    • Tecnicamente, qualquer frequência de onda eletromagnética pode ser usada para detecção de aeronaves. A melhor analogia que eu posso imaginar é com uma rede de pesca. Umas tem espaçamente menor, outras maior. Portanto umas captura determinados objetos, porém o problema de usar outras frequências menores que a do Radar, é que elas possuem um alcançe muito menor. Já são usados sistemas para detectar emissão de infravermelho(calor) que é bem eficiente, mas o alcançe é muito curto, por isso ainda da preferência pelo radar. Mas a questão do stealth e a tecnologia de detecção é um jogo de presa e predator, ambos evoluem. Um avião sem sistemas stealth vai ser detectado a distância muito grande, e portanto, não vai ter qualquer chance de realizar sua missão. Já um avião stealth vai chegar mais perto, aliás o próprio termo é controverso pois ele não é invisivel aquela frequência, ele só é capaz de chegar mais perto sem ser detectado. E conforme as pinturas e formas geométricas dos aviões avançam para serem mais furtivos os raderes avançam igualmente, para detectar novas aeronaves cada vez mais longe, se tornando sempre mais sensives e eficientes. Ou seja, não há para onde correr, a tecnologia stealth é inevitável, mas jamais será aquilo que alguns pensavam que seria, algo invencível, indetectável.

    • Só para esclarecer eu não me referi aos Sérvios, e sim a OTAN e sua incrível capacidade de digitar cordenadas erradas em computadores…

  2. Essa foi só mais uma prova de que cerebro sempre bate musculos. Quem vence o combate é o mais inteligente, que usa as táticas mais apropriadas, e não o valentão que acha que vencer guerra é vencer batalhas.

  3. A MÁQUINA NUNCA SUPERARÁ O HOMEM
    .
    .
    Essa história me lembra de outras como as do vietcongues lutando contra a força de ocupação americana,as dos mujahedins (guerrilheiros) lutando contra a ocupação soviética no Afeganistão,em fim…. nada se compara com presteza,a criatividade no campo de batalha e a obstinação do homem aguerridos quando se trata em defender-se contra um inimigo tecnologicamente superior,eu falei tecnologicamente !

  4. “Nós estávamos a defender a nossa pátria e a cumprir o nosso dever. ”

    “Nós combatíamos e abatíamos o inimigo. Nós temos equipamento antigo,” eles têm o armamento mais moderno, mas nós fomos mais espertos e mostrámos que sabíamos ripostar.”
    —–
    Ganhando ou perdendo, este é o espírito correto!

    Numa situação como esta, em que os sérvios enfrentaram um inimigo muito mais forte militarmente, se renderiam, antes de sequer começar a lutar… alguns comentaristas que em blogs de defesa demonstrando todo o seu complexo de inferioridade, vulgo viralatismo…adoram darem uma de “espertos” chamando o Brasil de “banania”, reflexo daquilo que eles próprios são: Bananas!

  5. No último paragrafo, Dragan Matic explicita algumas das reais motivações do ataque da OTAN contra a Iugoslávia:

    “A Iugoslávia se desmembrou em 1991-92. Nós, os sérvios, estorvávamos o Ocidente e tínhamos de ser quebrados. Eles não fizeram a guerra contra Milosevic, isso foi só um pretexto. Eles tinham de quebrar o povo, destruir o país e colocá-lo sob o seu controle.”

  6. Foi só ter derrubado o F-117 para ele começar a contar lorota. Atingiu um B-2? fala sério! E coincidência ou não ele não tem provas….rs!

  7. boa materia melhor ainda quem leu ate o final entendeu que para uns comandarem outros tem que ficar de joelhos e essa otan apenas serve de pau mandado ,a geopolitica´nao difere em nada a geopolitica dos nazistas alias aprenderam com eles

Comentários não permitidos.