O milionário Horacio Cartes, um novato no mundo da política, é o novo presidente do Paraguai, após uma eleição que marcou o retorno ao poder do hegemônico Partido Colorado, que havia sido derrotado em 2008 pelo esquerdista Fernando Lugo após seis décadas no comando do país.
Cartes, um empresário do setor de tabaco e dirigente esportivo de 56 anos, recebeu 45,91% dos votos, anunciou o Tribunal Superior de Justiça Eleitoral (TSJE), superando o principal rival, o senador governista Efraín Alegre, que ficou com 36,84% e reconheceu a derrota.
No discurso da vitória, no centro de Assunção, Cartes renovou a promessa de campanha de dar um novo rumo ao país.
“Na campanha eleitoral, falávamos que, ouvindo as pessoas, queríamos dar um novo rumo ao Paraguai. Quero reafirmar o compromisso assumido e ratificar agora ao Partido Colorado e a todos os outros partidos, e àqueles que não são de nenhum partido, que venceu o Paraguai, e o compromisso é com todos os paraguaios da república”, assinalou.
O empresário prometeu “trabalhar para todos os paraguaios”, principalmente para os mais necessitados, idosos, jovens e mulheres.
“Sinto que posso trabalhar para os mais de 6 milhões de paraguaios do meu país”, assinalou, diante de militantes.
Um pouco antes, Alegre do governista Partido Liberal, admitiu a derrota.
“Procuramos obter a vitória, não foi possível. O povo paraguaio se pronunciou, e nós respeitamos. A cidadania resolveu através de sua participação, de sua decisão, de forma transparente, em um processo que consideramos adequado, um processo que garante o resultado”, declarou Alegre.
Em entrevista coletiva, Alegre destacou a participação dos cidadãos, e agradeceu aos que o acompanharam em seu movimento, Paraguai Alegre.
O centro de Assunção foi tomado por simpatizantes de Cartes. Fogos de artifício foram utilizados para comemorar a vitória do Partido Colorado.
Nos locais de votação, durante todo domingo, os colorados já celebravam a vitória.
O novo presidente assumirá o poder em 15 de agosto, em substituição a Federico Franco, que completou o mandato iniciado em 2008 pelo ex-bispo católico Fernando Lugo, destituído pelo Congresso em 22 de junho de 2012, acusado de “mau desempenho das funções”.
As eleições permitirão superar a crise política que provocou a suspensão do Paraguai dos fóruns regionais, Mercosul e Unasul. A saída de Lugo foi considerada um “golpe parlamentar” pelo ex-presidente e seus aliados políticos da região.
Os presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, e do Uruguai, José Mujica, felicitaram Cartes pela vitória e convidaram o Paraguai a retornar ao Mercosul.
Mais de 300 observadores estrangeiros e 1.200 nacionais trabalharam nas eleições, nas quais 3,5 milhões de paraguaios estavam registrados para votar.
AFP
Vitória de Cartes marca retorno de colorados no Paraguai
Houve uma época em que para ganhar as eleições no Paraguai os candidatos precisavam preencher um pré-requisito essencial: ser filiado ao partido colorado.
“Se essa garrafa d’água fosse o candidato colorado, seria eleita”, chegou a declarar, em 2003, o então candidato do partido e futuro presidente paraguaio, Nicanor Duarte, em entrevista a um jornal brasileiro.
Quando o candidato de centro-esquerda Fernando Lugo venceu as eleições presidenciais, em abril de 2008, sua vitória foi celebrada pela oposição paraguaia como o fim dos 61 anos dessa hegemonia colorada.
Anos depois, porém, o impeachment de Lugo seguido da recente eleição de Horácio Cartes à presidência mostram que os colorados continuam no centro da política do país.
Criado em 1887 pelo ex-presidente e herói da Guerra do Paraguai Bernardino Caballero, o Partido Colorado governou o Paraguai de forma ininterrupta de 1947 a 2008, período que inclui a ditadura de Alfredo Stroessner (1954 a 1989), responsável pelo desaparecimento de milhares de dissidentes.
Em algumas eleições, esse foi o único partido autorizado a concorrer. Em outras, seu pesado maquinário eleitoral se encarregou de assegurar a vitória.
Estratégias
Para garantir seu domínio sobre a sociedade e a política do país, o Partido Colorado lançava mão de farta distribuição de cargos públicos e benesses para a população rural, além do cerceamento de opositores e dissidentes.
“Um colorado vota em um colorado, mesmo que seja o Pato Donald”, declarou em 1998 Luis María Argaña, importante líder político do partido que se tornaria vice-presidente.
Na época, o general Lino Oviedo, candidato do partido à Presidência, fora impedido pela Justiça de participar das eleições por ter promovido um golpe anos antes.
Raúl Cubas, o novo candidato, teve apenas 20 dias para fazer campanha – e ainda assim levou a Presidência.
A verdade, porém, é que desde 1993, com a eleição do primeiro presidente civil depois da ditadura – Juan Carlos Wasmosy – os colorados haviam começado a perder eleitores.
Em 2003, por exemplo, Duarte venceu com apenas 37% dos votos e o partido conseguiu só 37 das 80 cadeiras da Câmara dos Deputados e 16 dos 45 assentos do Senado.
Foi nesse contexto que a vitória de Lugo foi interpretada como a consolidação do “declínio colorado”.
Mas a vitória de Cartes com 45,91% dos votos, frente aos 36,84% conquistados pelo adversário Efraín Alegre, do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), de centro-direita, parece ser uma prova de que o partido ainda tem fôlego para se reerguer.
BBC BRASIL