Defesa & Geopolítica

OS BÁRBAROS SÃO OS OUTROS

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Para o filósofo Sartre, “O Inferno são os Outros”.

São idéias cognatas: “O Inferno são os Outros”, no caso psicológico,  ou “Os Demônios são os Outros, no caso das religiões, ou, ainda, “Os Bárbaros são os Outros”, no caso geopolítico das migrações, forçadas ou não, de pessoas, ou populações para uma terra distante. 

Os Demônios são os Outros

Leandro Altheman (*)

O filósofo Jean Paul Sartre tinha uma frase que se tornou célebre: “ O Inferno são os Outros”. Segundo ele, são os “outros” quem afinal, nos trazem a maior parte dos desgostos e dissabores na vida.

Apesar de discordar deste ponto de vista, por acreditar que também são os “outros” que muitas às vezes nos trazem alegrias e momentos de felicidade, concordo que em toda a história da humanidade, pintar o “outro”, como o inimigo a ser erradicado, é a tônica do discurso.

Tornou-se lugar comum, ao longo da história o processo de “satanizar” aquilo que é diferente e muitas vezes incompreensível. Mesmo nas escrituras são fartos os exemplos em que divindades de outros povos são tratados como “coisa do demônio”. Aliás a própria palavra “demônio” foi deturpada ao longo do tempo. Inicialmente seu sentido original eram apenas “gênios” protetores de fontes, bosques e montanhas. As palavras daemondinn,demônio e gênio são cognatas. Nada tinha a ver com o conceito maniqueísta de “mal absoluto”. Um jeito simples e eficiente de manter o povo na linha, livre das perigosas influências estrangeiras.

Depois o mundo greco-romano tratou de pintar aquilo que estava fora de suas fronteiras como “bárbaro”. A palavra “bárbaro” inicialmente significa “aquele que fala uma língua irreconhecível, ou simplesmente: “balbuciante””. Depois tornou-se sinônimo de violência, o oposto de civilização. Os exemplos são tantos na história que seria tedioso aqui descrevê-los todos, mas o que mais impressiona é que o expediente da “satanizar” aquilo que é desconhecido e diferente, continua sendo utilizado com praticamente a mesma eficácia. Mesmo gente culta e estudada se rende ao apelo fácil do medo que pinta no diferente, o oposto a ser evitado, combatido, destruído.

O recurso, ainda que utilize preceitos da lógica, é muito mais um apelo emocional que encontra eco na caverna de nossos medos mais profundos, enraizados na escuridão deste desconhecido que cada um é para si mesmo.

(*) Leandro Altheman Lopes, é jornalista

Fonte: Terra Náuas 

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