Presidente checheno diz que “raízes do mal” devem ser procuradas nos EUA, e Putin evita falar sobre origem de suspeitos
Sandro Fernandes
Especial para O GLOBO
MOSCOU e LONDRES Depois de a polícia americana divulgar que os dois suspeitos dos atentados a bomba durante a maratona de Boston, Tamerlan e Dzhokhar Tsarnaev, são de origem chechena e teriam passado parte da infância no Quirguistão, autoridades das duas repúblicas e da Rússia se apressaram a condenar os ataques e negar envolvimento com o ocorrido. Enquanto isso, especialistas em relações internacionais avaliaram que as ações atribuídas aos irmãos Tsarnaev não parecem ter ligação com grupos terroristas muçulmanos ou chechenos.
O presidente russo, Vladimir Putin, disse que “condena veemente este ato bárbaro” e afirmou que a Federação Russa está pronta para ajudar na investigação, caso necessário, mas não quis comentar sobre a o origem dos suspeitos. Mas seu porta-voz, Dmitri Peskov, afirmou que o presidente russo considera que “não se devem fazer distinções entre terroristas, nem negociar com alguns e condenar outros, todos merecem a mesma rejeição”.
O presidente da República da Chechênia, Razman Kadyrov, usou sua conta na rede social Instagram para lamentar os “trágicos eventos” em Boston e expressar condolências aos americanos. Mas criticou a ação da polícia americana que matou Tamerlan Tsarnaev. “Seria lógico que ele tivesse sido detido e que uma investigação fosse conduzida, mas os serviços especiais precisavam de um resultado a qualquer custo para acalmar a sociedade”, declarou o presidente.
Quirguistão: “eles saíram jovens”
Kadyrov disse, ainda, que qualquer tentativa de vincular os irmãos Tsarnaev à Chechênia seria em vão. “Eles cresceram nos Estados Unidos, suas ideias e crenças foram formadas lá. Temos que encontrar as raízes do mal nos Estados Unidos”. O líder checheno alertou que “o mundo inteiro precisa se unir para combater o terrorismo”.
O governo do Quirguistão, por sua vez, também se distanciou dos irmãos Tsarnaev.
– Como os suspeitos deixaram a república quando Dzhokhar Tsarnaev tinha 8 anos e Tamerlan Tsarnaev, 15, o Comitê de Segurança Nacional Quirguiz considera inapropriado ligá-los ao Quirguistão – disse um funcionário do governo quirguiz.
Analista: “Por que EUA e não Rússia?”
As origens chechenas dos suspeitos levantaram a possibilidade de uma ligação do atentado em Boston com o histórico de terrorismo daquela região. Combatentes chechenos realizaram uma série de atos terroristas na Rússia, principalmente nas décadas de 1990 e 2000, em resposta à repressão russa à tentativa de secessão da região. Os enfrentamentos, que começaram como um movimento nacionalista, absorveram elementos jihadistas e wahabitas, que não têm apoio da maioria da sociedade chechena.
– É verdade que os jihadistas do Norte do Cáucaso criaram relações com grupos terroristas internacionais, mas esta é a exceção, não a regra. Também é verdade que alguns combatentes chechenos foram ao Oriente Médio e à Ásia Central como jihadistas, mas nada disso explica as motivações dos dois irmãos de Boston. Eles são filhos de um estrangeiro e não se ajustaram à sociedade – disse ao GLOBO o analista Alexander Kliment, diretor de pesquisa do Eurasia Group.
O professor Anatol Lieven, do Departamento de Estudos de Guerra do King”s College, afirmou que ainda é cedo para saber exatamente o que está por trás dos ataques em Boston. No entanto, destaca que os atentados terroristas pelo mundo têm sido praticados por pessoas de diferentes partes.
– Sabemos que os ataques realizados por eles são ligados, em parte, com o movimento jihadista internacional. O que podemos dizer até agora é que é plausível que estes jovens estivessem ligados a esses grupos. Mas porque Estados Unidos e não Rússia? – questionou Lieven, lembrando, contudo, que sites extremistas deixam claro que os EUA também são um alvo.
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