Estatal aeroespacial russa busca cooperação com o Brasil

LunaGlobLanderAssociação de Pesquisa e Produção Lavochkin apresentou seus projetos na LAAD-2013

De 9 e 12 abril a cidade do Rio de Janeiro sedia a Feira Internacional de Defesa e Segurança Corporativa – LAAD 2013 –, a maior exposição da América Latina de avanços da indústria bélica e da estratégia militar, realizada com apoio institucional dos Ministérios da Defesa e da Justiça do Brasil, a cada dois anos, desde 1997.

Durante o evento, a Voz da Rússia conversou com Kharun Karchaev, vice-diretor da empresa estatal aeroespacial russa Associação de Pesquisa e Produção Lavochkin, que em seu stand no pavilhão russo apresentou uma grande quantidade de maquetes e material informativo sobre a sua história e os planos e perspectivas de seus futuros projetos. Vamos conferir!

Voz da Rússia – Senhor Kharun Karchaev, poderia explicar um pouco a história e as principais áreas de atuação da Associação de Pesquisa e Produção Lavochkin?

Kharun Karchaev – A empresa foi fundada inicialmente como uma organização que desenvolvia e produzia tecnologias aeroespaciais na União Soviética, e em 2013 completa 76 anos de atividades nessa e em outras áreas. É possível que vocês já tenham ouvido falar daqueles aviões que foram produzidos pelo Escritório de Pesquisa e Construção Lavochkin. Voltando um pouco à história, é preciso destacar que 30% dos aviões russos que participaram da Segunda Guerra Mundial foram desenvolvidos pelo Escritório de Pesquisa e Construção Lavochkin. Já nos anos 1940 e 1950 a base da aviação de caça soviética era formada por aviões produzidos por esta empresa. A barreira do som foi rompida pela primeira vez na União Soviética por um caça La-176, produzido justamente pelo Escritório de Lavochkin. Em seguida, a nossa empresa começou a desenvolver projetos de criação de tecnologias de foguetes. Os foguetes R-25, criados por nós, serviram às Forças Armadas soviéticas no âmbito da defesa antiaérea por mais de 30 anos. Na Associação de Pesquisa e Produção Lavochkin foi desenvolvido e produzido, em 1954, um míssil de cruzeiro intercontinental balístico que atingiu Mach 3,5 a uma altura de 25 mil quilômetros, um feito sem precedentes no mundo.

VR – E quando foi que a empresa se voltou para a área de exploração do espaço, para a criação de aparelhos espaciais?

KK – A nossa área de atuação se voltou para tecnologias e equipamentos espaciais automáticos não tripulados em 1965. Um ano após a nossa estreia no setor espacial, em 1966, nós lançamos com sucesso ao espaço seis aparelhos destinados exclusivamente ao estudo da Lua, que são os Luna-9, 10, 11, 12, 13 e 14. Já no nosso primeiro lançamento, do Luna-9, em 1966, nós realizamos pela primeira vez na história um pouso suave na superfície da Lua, e completamos ali, com sucesso, todos os objetivos colocados a nós pela Academia de Ciências da União Soviética. Naquele mesmo ano, com o Luna-10, nós atingimos a órbita do satélite da Terra e novamente completamos todos os objetivos a nós impostos. E assim por diante, com novos objetivos e devidas modernizações, fomos realizando com sucesso as demais missões Luna.

VR – E quais foram os projetos que se seguiram a essa primeira fase de exploração lunar?

KK – O nosso stand apresenta uma série de maquetes de aparelhos automáticos não tripulados, produzidos por nós e utilizados na exploração do espaço sideral. O primeiro aparelho desse gênero lançado por nós, nos tempo da União Soviética, em 1983, foi o Astron. No lugar dos três anos inicialmente programados, ele funcionou num total de seis anos, e descobriu e fez fotografias maravilhosas para a Academia de Ciências da União Soviética de mais de 200 objetos cósmicos. O Astron desvendou cerca de 70 objetos até então desconhecidos à nossa ciência. Foi um projeto interessantíssimo! O nosso próximo aparelho foi o Granat. Lançado em 1989, ele funcionou por nove anos, ao invés de cinco. Tais eram a força e o potencial dos nossos projetistas – e eu gostaria de destacar isso antes de tudo. Este aparelho revelou mais de sete dos chamados candidatos a buracos negros, que já eram levados em conta nos catálogos da comunidade internacional da exploração do espaço. Em meados de 2011, com o lançamento do aparelho RadioAstron, nós retornamos ao chamado clube dos detentores do estudo espacial com o uso de aparelhos de nova geração. O RadioAstron não possui análogos mundo afora. O diâmetro do seu espelho tem 10 metros, enquanto o diâmetro do seu espelho espacial, o chamado interferômetro, é de 354 mil quilômetros. Isso o torna único em seu gênero no mundo e nos possibilita alcançar novos níveis de exploração do espaço.

VR – Um dos cartões postais da Associação de Pesquisa e Produção Lavochkin é o seu foguete de estágio Fregat. Poderia contar um pouco sobre esse projeto?

KK – Até 1990, nós usávamos o foguete de estágio L, que, após o fim da fase de propulsão pelo principal foguete transportador, era responsável por elevar os nossos aparelhos espaciais para as suas respectivas órbitas programadas. Mas, com o passar dos anos, a necessidade de atingir cada vez novas órbitas e maiores potências de propulsão fez com que a nossa empresa desenvolvesse e produzisse pela primeira vez em 1990 o foguete de estágio Fregat. Hoje, nós usamos os foguetes de estágio Fregat-SB para lançar nossos aparelhos espaciais automáticos não tripulados de três cosmódromos. São eles: Plesetsk, Baikonur e o Centro Espacial de Kourou, que é o centro de lançamentos da Agência Espacial Europeia, na Guiana Francesa. Até hoje nós já elevamos para órbitas programadas com a ajuda do Fregat-SB mais de 76 aparelhos espaciais, sem quaisquer falhas ou imprevistos. Portanto, esse foguete é certamente o orgulho da nossa empresa.

VR – O senhor poderia nos contar um pouco sobre os futuros projetos da Associação de Pesquisa e Produção Lavochkin?

KK – Primeiramente, vale destacar que estamos envolvidos no projeto de cooperação internacional Luna-Glob-1, que em 2015 deverá pousar no hemisfério sul da superfície da Lua. Aliás, eu gostaria de destacar que ultimamente todas as potências mundiais de liderança não trabalham separadamente, mas em cooperação internacional, já que a atividade espacial demanda sérios investimentos financeiros, e raramente os países conseguem aguentar o peso de realizar tais projetos de forma isolada. A atividade científica, assim como a música, tem um caráter internacional, e nós partilhamos as nossas realizações e avanços. A ciência não pode ter fronteiras. Pelo menos na nossa área de atuação, quaisquer fronteiras representam um freio ao desenvolvimento da exploração do espaço. Isso é um fato. Mas, voltando aos nossos futuros projetos, o nosso próximo aparelho está programado para ser lançado em 2014, igualmente no âmbito de um programa internacional. Em estrutura projetada e produzida pela Associação de Pesquisa e Produção Lavochkin, nós combinamos dois telescópios, um produzido pela Alemanha e outro por nós. Esse aparelho deverá completar os objetivos impostos a nós por acadêmicos da área de estudo em radiação gama do espaço sideral. Estamos desenvolvendo também um projeto único em espectroscopia ultravioleta, que deverá ser lançado ao espaço em 2016. Este aparelho é original pelo fato de que pela primeira vez estamos produzindo o espelho principal do seu telescópio espacial em tamanho de 1,7 metro. Por ora estamos realizando testes em terra, e vamos estudar o universo e os objetivos impostos a nós pela Academia de Ciências da Rússia no espectro ultravioleta. Além disso, nós também temos experiência de trabalho e estamos investindo em aparelhos espaciais de pequeno porte para o estudo da superfície da Terra, com vários desses aparelhos lançados no ano passado e atualmente em funcionamento. E é nessa área, aliás, que nós podemos encontrar pontos de convergência com os acadêmicos do Brasil.

VR – O senhor poderia falar sobre essa questão de cooperação com o Brasil? A Associação de Pesquisa e Produção Lavochkin já tem algum acordo nesse sentido?

KK – Essa questão, de interação com os especialistas da Agência Espacial Brasileira na área de criação conjunta de aparelhos espaciais, está sendo discutida justamente em conferências no âmbito da LAAD-2013. Isso porque a nossa empresa atua em muitas áreas. Como, por exemplo, na área de lançamento de grandes aparelhos espaciais com o uso do nosso foguete de estágio Fregat e o uso do nosso módulo de serviço por esses aparelhos. Infelizmente, até agora a nossa empresa não tem cooperação com especialistas brasileiros. Mas nós viemos especialmente ao Brasil com a esperança de encontrar pontos em comum, de discutir questões que forem do interesse dos nossos colegas brasileiros. E eu tenho a certeza de que nós podemos encontrar saída para alguns resultados concretos. Para que no futuro nós possamos desenvolver, produzir, lançar e controlar aparelhos espaciais em conjunto.

Fonte: Diário da Rússia