Futuro da Venezuela depende da China

Venezuela-China

Em troca de petróleo, Pequim injetou US$ 36 bi na Venezuela desde 2008 e é hoje o maior credor do país latino

Preocupados com estagnação da produção petroleira, chineses estariam endurecendo condições para repasses

FLÁVIA MARREIRO DE SÃO PAULO

“A melhor homenagem que vamos fazer a nosso comandante Chávez é aprofundar as relações estratégicas com nossa amada China”, disse na TV o presidente interino da Venezuela, Nicolás Maduro, ao lado de uma delegação chinesa, horas depois do funeral do presidente esquerdista, em março.

O destino da Venezuela, independentemente de quem vença as eleições presidenciais do próximo domingo, está contratualmente amarrado à China, sua maior credora, pelo menos até 2020, pela assinatura de empréstimos em troca de petróleo.

Isso injetou na economia venezuelana ao menos US$ 36 bilhões (R$ 71 bilhões) entre 2008 e 2012, segundo o governo.

“É uma relação especial, com risco para os dois”, diz Kevin Gallagher, da Universidade de Boston (EUA).

Ele liderou um estudo que mostra que, nos últimos sete anos, a Venezuela recebeu mais empréstimos da China que todos os demais países latinos somados -US$ 46,5 bilhões de um total de US$ 86 bilhões para a região inteira.

“É o país onde os chineses mais decidiram investir dinheiro no mundo”, diz o consultor da área de petróleo Tom O’Donnell. “Mas agora eles estão mais realistas sobre como é fazer negócios na Venezuela. Se Maduro ganhar, vai ter que tomar medidas concretas para retomar a confiança dos chineses.”

DIFICULDADES

Semanas antes da morte de Chávez, reportagens repetiam que os chineses estariam exigindo condições mais duras para renovar parcelas dos empréstimos, o que poderia ter impacto central sobre o caixa do governo.

Um executivo do Banco de Desenvolvimento da China, a maior entidade credora, disse à Bloomberg que os chineses estavam avaliando riscos após a morte de Chávez.

Dias antes, a Reuters noticiou dificuldades do governo venezuelano para receber US$ 4 bilhões de um repasse pré-acordado.

A Venezuela negou problemas, mas a combinação de promessas de maior envio de petróleo à China com números estagnados de produção petroleira no país adicionam contradições ao panorama.

Em pouco mais de cinco anos, a Venezuela multiplicou os envios de petróleo à China, ainda que haja divergência sobre os números.

Pelo dados de 2012 da PDVSA, foram 359 mil barris por dia (12% da produção). O governo promete elevar essa quantia a um milhão em 2015.

Há dois problemas: quanto mais petróleo envia à China como parte do pagamento de empréstimos, menos a PDVSA recebe em dinheiro vivo, complicando o fluxo de caixa da empresa, que aumentou em 35% a dívida com fornecedores em 2012.

O segundo é que a PDVSA não cumpriu nenhuma meta de produção desde 2006. O crescimento em barris retirados entre 2011 e 2012 foi de apenas 1,4%, alcançando 3,03 milhões de barris/dia.

A China está diretamente envolvida neste ponto, com a exploração em conjunto com a PDVSA do petróleo ultrapesado da faixa do Orinoco, a maior reserva de petróleo comprovada do mundo.

Num outro sinal da interdependência de longo prazo, os países constroem na costa sul chinesa uma refinaria com investimento avaliado em US$ 9,8 bilhões.

“A Venezuela não está mandando ‘petróleo novo’ para a China. Está desviando do mercado americano para lá. Por isso Pequim está preocupada. Se a produção não decolar, vão ter perdido investimento não só na Venezuela como na preparação do setor doméstico chinês para receber o petróleo pesado venezuelano”, diz O’Donnell.

Fonte: FSP via CCOMSEX