Dez anos depois, Guerra do Iraque ainda assombra EUA

Quando derrubaram a estátua de Saddam, em 2003, americanos não imaginavam que conflito custaria mais de 2 trilhões de dólares, 4.500 vidas e arranharia a imagem do país com aliados europeus e, sobretudo, no mundo árabe.

Statue - Saddam Hussein

“Pela primeira vez, muitos iraquianos vivem a experiência de poder expressar livremente sua opinião, de poder se organizar politicamente sem obstáculos”, declarou o secretário de Estado americano, John Kerry, em recente visita ao Iraque. Porém, acrescentou, “seria falso esconder que ainda há muito a fazer.”

Dez anos após a queda do ditador Saddam Hussein, tanto a situação interna no Iraque quanto as relações com os Estados Unidos não estão como os arquitetos da guerra imaginaram em 2003: instituições fracas, violência, violações dos direitos humanos e um fortalecimento do grupo terrorista al-Qaeda caracterizam hoje um país sobre o qual os americanos quase não exercem mais influência.

Para os críticos, a culpa é do governo em Washington – o atual e o anterior. Segundo a ativista Erin Evers, da ONG Human Rights Watch, os americanos deram um mau exemplo em matéria de política de direitos humanos. Ela cita o tratamento degradante dado a presos iraquianos em Abu Ghraib como prova disso.

“Antes de 2002/2003 tínhamos alguma credibilidade no mundo em relação aos direitos humanos”, afirma Evers, que diz que agora a situação mudou – e dificulta o combate aos abusos dos direitos humanos pelo governo dos EUA. “Mesmo sob o governo Barack Obama não se viram melhoras. Em 2009, ele decidiu não responsabilizar nenhum dos oficiais superiores [por Abu Ghraib], foi um erro grave.”

Acordo fracassado

Oficialmente, 10.500 americanos se encontram em missão no Iraque, grande parte pessoal diplomático e funcionários de empresas particulares, que cuidam da segurança, alimentação e outros apoios administrativos. Até o fim do ano, esse número deve cair para 5.100, um quinto dos quais pertence ao corpo diplomático. Desde o final de 2011, soldados americanos responsáveis pela segurança não se encontram mais no país – as negociações sobre a retirada de tropas fracassaram na questão da imunidade para soldados americanos.

Para o professor de ciências políticas Peter Feaver, da Universidade Duke, a culpa é do governo Obama. “O primeiro-ministro Nouri al-Maliki estava disposto a garantir a imunidade, mas o procurador americano insistiu que ela fosse confirmada pelo Parlamento”, explica. Os iraquianos, porém, não acreditaram que seria possível impor a questão perante o Parlamento e, assim, as negociações fracassaram no final.

Iraq war

Situação de segurança no Iraque ainda continua incerta

Os americanos pagaram um preço alto pela invasão no Iraque. Primeiramente, há os enormes custos financeiros que, segundo um recente estudo da Universidade Brown, chegam a mais de 2,2 trilhões de dólares. “A imagem dos EUA no mundo árabe tem sofrido e a relação com os aliados na Europa foi desgastada”, diz Jim Phillips.

E, ao mesmo tempo, os americanos ficaram mais cuidadosos quanto a operações militares, como mostra a contenção atual em relação à Síria. Segundo Feaver, um veredicto final sobre a guerra ainda não pode ser dado. E também depende de como o Iraque vai se desenvolver. No entanto, Phillips afirma que uma lição já está clara: “Às vezes é mais difícil vencer a paz do que a guerra.”

Fonte: DW.DE