Análise: FFX um novo conceito de fragatas para a Coreia do Sul

Concepção Artística do projeto FFX
Concepção Artística do projeto FFX

E.M.Pinto

Plano Brasil

Prefácio

Após o lançamento dos requisitos da sua nova fragata no nomeado programa FXX, a Republic of Korean Navy ROKN  têm sido alvo de muitas críticas, para muitos a fragata de nova geração é pouco dimensionada e inadequada para a função que almeja exercer. Algumas fontes a classificam como Corveta e outras ainda como patrulheiro oceânico, porém,   a  controvérsia carece de maiores entendimentos, antes da crítica, faz necessário compreender o teatro de operações para o qual estes navios foram projetados, ademais, antes da crítica, é necessário fazer uma revisão criteriosa dos navios aos quais a FXX irá substituir na altura em que forem incorporadas.

ROKN hoje

Fragata  ROKS Ulsan
Fragata ROKS Ulsan

Atualmente a ROKN opera nove pequenas fragatas da classe Ulsan de  2200 – 2.300 toneladas de deslocamento que foram construídas na Coreia do Sul e encomendadas entre 1981-1993. Estes navios não foram projetados para operar independentemente em teatros de operações de média e alta intensidade e ameaças. Não são capazes de oferecer defesa à frota em mar aberto. Pelo contrário, estas fragatas foram dimensionadas para servir como navios de patrulha costeira, equipados com mísseis anti-aéreos, RIM-7 Sea Sparrow , anti-navio, RGM-84 Harpoon, e possuírem ligeira capacidade anti-submarino. Com uma tripulação de 150 homens, As Ulsan, podem ser consideradas, fragatas leves porém, dado a natureza de suas operações, podem ser classificadas como Super Patrulheiros dependendo do seu ponto de vista.

Corveta Classe Pohang
Corveta Classe Pohang

Além das Ulsan, a ROKN encomendou nada menos que vinte e quatro corvetas da classe  Pohang, da qual uma delas  a ROKS Cheonan, foi afundada por um torpedo norte-coreano em março de 2010. As Pohang são navios de 1220 toneladas de deslocamento e foram encomendadas entre 1984-1993.
As Pohang não possuem capacidade de defesa anti-aérea. São armadas com um 76mm e canhões de 40mm, e 30mm, Tal como os navios da Classe Ulsan, as Pohang são divididas em quatro navios com capacidade anti-superfície equipadas com mísseis MBDA Exocet, mas não possuem sonar ou torpedos, as vinte restantes, possuem capacidade anti-submarino equipadas com sonar e torpedos, mas não possuem mísseis superfície-superfície.  A tripulação das Pohang é de cerca de 96 homens.

Patrulheiro classe Dong Hae
Patrulheiro classe Dong Hae

Completando a força de  navios leves a ROKN opera outros quatro corvetas da classe Dong Hae de mil toneladas deslocamento. São de fato  corvetas de patrulha e foram encomendadas entre 1982-1983. O armamento destes navios é composto por um canhão, sonar e torpedos, é destinado a guerra antissubmarino e pode também transportar uma tripulação de 95 integrantes.

Panorama Atual

As corvetas  Dong Hae estão envelhecendo fora da água, no dique seco. A Classe Pohang têm se  mostrado incapazes de lidar no ambiente antissubmarino, prova disso a perda da Cheonan no recente conflito com o submarino Norte Coreano, por não possuírem capacidade antiaérea são alvos fáceis aos helicópteros de ataque.  Por sua vez, a  Classe Ulsan apesar de limitada se considerada uma “fragata”  pode ainda servir por um bom tempo, se mantida em funções específicas e claro, após a atualização do seus sistemas e armas.

É neste cenário que surge o programa que visa substituir os três tipos de navios atualmente dedicados a defesa litorânea e costeira da ROKN. Os desafios a ameaças estão pressionando o ROKN em direção a uma  corveta / fragata costeira capaz de operar armas e sensores muitas vezes superiores aos empregues atualmente.

Errôneamente as FFX são consideradas, fragatas Down grade das KDX II. o termo não se aplica uma vez que são navios destinados a funções totalmente diferentes.
Erroneamente as FFX são consideradas, fragatas Down grade das KDX II. o termo não se aplica uma vez que são navios destinados a funções totalmente diferentes.

Em contraste com as classes mais antigas descritas anteriormente, as novas fragatas do programa FFX seguirão o padrão moderno de modelos furtivos navios, com radares muito melhores, sonares, e equipamentos de comunicações em estado de arte.

As novas fragatas eram esperadas para começar o serviço já  em 2011, com os 6 primeiros navios construídos e entregues em 2015, mas essas datas têm prorrogadas em função dos constantes reavaliações de projeto. O Incheon, primeiro navio da classe foi lançado ao mar em abril de 2011, mas a entrega formal para o serviço na ROKN não aconteceu até o final de 2012. A Marinha  ainda pretende substituir todos os navios da classe Ulsan, Pohang, e  Dong Hae até  2020. Espera-se que os navios sejam construídos em pelo menos dois lotes diferentes e  eventualmente um terceiro lote pode surgir. O primeiro lote foi estreado pela entrega da  Incheon a qual será seguida por outros cinco navios

  A fragata costeira FFX classe Incheaon

Diferentemente dos navios mais pesados dos programas KDX II e KDX III noemadamente destroyers multipropósitos destinado a defesa oceânica em todos os espectros, submarino superfície e aéreo, a nova fragata destina-se tão somente a defesa costeira e litorânea, e ai reside as razões da s críticas, por vezes a FFX é categorizada como versão Down Grade das KDX II, nominação errônea, já que são navios destinados à funções totalmente dispares. O teatro planejado para as FFX é tão somente a linha costeira e litoral recortado das Coreias e mar do Japão.

Cerimônia de lançamento da prieira fragata FFX classe Incheaon
Cerimônia de lançamento da prieira fragata FFX classe Incheaon

Cada fragata custa em torno de US$ 250,000 milhões e a classe Incheon possui comprimento de 114m por 14m de largura, com um peso vazio de 2.300 toneladas e uma tripulação de 145-170 marinheiros. A Hyundai Heavy Industries declara que os navios possuem uma autonomia de cerca de 8.000 km, no entanto, sendo este um ponto de conflito, uma vez que após as provas de mar, ficou latente a incapacidade dos navios manterem este regime em velocidade de cruzeiro de 30 nós, para tanto os navios deveriam deslocar-se a uma velocidade inferior, razão de sucessivos ajustes e estudos que levaram aos atrasos no programa.

Modificações foram introduzidas nas fragatas do Lote I, estes navios possuem uma série de melhorias em comparação com as fragatas da Classe Ulsan atual, as quais deverão ser submetidas a um programa de atualização e padronização de sistemas com as FFX, entretanto as fragatas do Lote I ainda apresentam deficiências que foram corrigidas nos lotes subsequentes.

Após avaliações houve significativas modificações no projeto base, sendo que a s fragatas do segundo lote serão maiores e equipadas com silos de lançamento vertical para uma maior variedade de armas. Segundo a  ROKN serão encomendadas até nove fragatas do lote II, previstas para ser construído pela Daewoo Shipbuilding & Marine Engineering. As informações sobre estas fragatas são ainda escassas porém já é confirmado que serão equipadas com uma única  turbina MT30  capaz de gerar 36-40MW.

Sensores

O grande diferencial desta classe de fragatas reside na adoção de sensores modernos e poderosos, os navios foram projetados para suprir as deficiências operacionais das três classes de navios a que veio substituir. Para tanto a defesa aérea, ataque a superfície e guerra antissubmarina exigiram a  instalação de sistemas em estado de arte, modulares e dimensionados à navios pequenos como tais.

Sensores introduzidos nas fragatas do programa FFX

Os sonares foram desenvolvidos em parceria com a Thales / STX, este sistema tornou-se um foco especial de atenção, após o incidente com a corveta Cheonan. A reformulação do sistema e adoção do sistema Thales surgiu do questionamento da eficácia e adequação do sistema à guerra antissubmarinos. O sonar embutido eventualmente será complementado por um sonar rebocado, e o plano atual é produzir essa matriz rebocado na Coreia do Sul.

Outros sensores incluem um radar Thales Smart-S Mk2, e sensores  passivos de longo alcance “eletro-ópticos” e  câmeras de visão noturna. Um sistema de combate SamsungThales irá integrar os sensores e sistemas de armas dos Navios.

Sistemas de Armas

O  poder de fogo FFX será incrementado ao longo do desenvolvimento do programa. Os navios vão operara uma arma de cano de 5 polegadas / 127 milímetros, sistemas de mísseis RIM-116 RAM  de curto alcance para com capacidade de engajamento de alvos na superfície como lanchas rápidas e  aeronaves.

Dentre a s armas operadas pelas FFX, o torpedo de fabricação Sul Coreana Blue Shark integra o sistema de armas
Dentre a s armas operadas pelas FFX, o torpedo de fabricação Sul Coreana, Blue Shark, integra o sistema de armas

Toodos os navios possuirão capacidade de operação de uma aeronave orgânica com capacidade de luta antissubmarina e de superfície. No princípio os navios foram projetados para operar o sistema CIWIS de 30 milímetros Thales Nederland “Goalkeeper”, Porém a reformulação do programa levoua  ROKN a decidir-se pela adoção do sistema Phalanx Block 1B de 20 milímetros, da Raytheon  o qual partilha características comuns aos sistema RIM-116 RAM.

Para ataque a superfície foi escolhido o Míssil antinavio Sul Coreano Sea Star
Para ataque a superfície foi escolhido o Míssil antinavio Sul Coreano Sea Star

Mísseis anti-navio e torpedos leves serão os mesmos que compõe os sistemas de armas das fragatas  Classe Ulsan atual, os torpedos serão o K745 Chung Sang Eo, (blue shark) e mísseis anti navio Haesung, Sea Star, ambos de fabricação Sul Coreana.

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AW159 Wildcat SCMR

O contrato assinado em janeiro de 2013 indica que as fragatas eventualmente poderão embarcar a próxima geração de helicópteros AW159 Wildcat SCMR variante naval, com plena capacidade antissubmarino e qeu inclui um sonar de imersão.

O míssil transportador de torpedo Red Shark , uma espécie de ASROC Sul Coreano,pode vir a ser uma das armas a compor o arsenal das FFX
O míssil transportador de torpedo Red Shark , uma espécie de ASROC Sul Coreano,pode vir a ser uma das armas a compor o arsenal das FFX

Uma vez que o navio integrará sistemas de lançamento vertical de mísseis, VLS, isto ampliará significativamente a gama de armas possíveis de ser operadas , alongando o seu alcance de operação e dando-lhe uma sensível flexibilidade. A simples  instalação de apenas 8 células permitiria às  fragatas operar mísseis de defesa aérea de longo alcance, como a RIM-162 Evolved Sea Sparrow ou VL-MICA. Permitiria também o lançamento vertical de mísseis antissubmarino, como Red Shark  Sul Coreano e até mesmo mísseis de cruzeiro Xuan Wu-3.

Conclusão

Ao que se pode concluir, o programa FFX procura substituir uma variada gama de navios por uma fragata multipropósito destinada a luta costeira e litorânea, o projeto original, não contemplava todas as funções e capacidades almejadas para o navio, entretanto, a incorporação constante de novas tecnologias e readequação do projeto, resultou no desenvolvimento de uma classe de navios fortemente armados e dotados de sistemas modulares de armas que o permitem cumprir as atribuições de navios de guerra de superfície, antissubmarina e e até de defesa antiaérea sendo esta última limitada basicamente a sua auto defesa.

A controvérsia sobre a a natureza de operação fica então esclarecida, não é correto dizer que os navios são pouco dimensionados e fracamente armados para luta antissubmarina em mar aberto, uma vez que se destinam a  luta costeira , pelo contrário, para estas funções os navios são adequadamente dimensionados com capacidades de ataque a superfície com mísseis de cruzeiro pretendidos para ser instalados a partir do segundo lote de navios, incrementando a  capacidade de ataque a alvos terrestres.

A operação de uma aeronave AW159 Wildcat SCMR, aumentará significativamente a capacidade de guerra de superfície e antissubmarina  hoje deficiente, das três classes de anvios que compõe atualmente a força de defesa costeira SUl Coreana, apenas as fragatas da classe Ulsan podem operar helicópteros, esta capacidade estará presente em todos os navios do projeto FFX inclusive as fragatas do primeiro lote.

O Calcanhar de aquiles das corvetas Pohang e mesmo das Fragatas Ulsan, residia na ineficiente capacidade de guerar antissubmarina, provada a duras penas com a perda da Cheonan, parece ter servido de alerta e lição para a ROKN , esta deficiência parece ter sido corrigida na nova Fragata cuja principal função será a de prover a capacidade de busca e destruição dos pequenos submarinos Norte Coreanos.