Desafio ao Ocidente

Yongbyon

RODRIGO CRAVEIRO

Complexo de polêmicas

 Principal instalação nuclear norte-coreana, o complexo de Yongbyon teria produzido urânio para os testes com a bomba atômica feitos em 2006 e em 2009. O reator foi desativado em julho de 2007, e a torre de resfriado acabou implodida no ano seguinte. Os especialistas temem que a unidade possa fabricar 7kg de plutônio por ano, o suficiente para a construção da bomba atômica. A Coreia do Norte insiste que Yongbyon esteja voltada a produzir eletricidade.

A resposta da Coreia do Norte às manobras militares do Sul e dos Estados Unidos afastou ainda mais a possibilidade de retomada do diálogo para o fim do programa nuclear. Pyongyang começou ontem a colocar em prática a ameaça de ampliar o arsenal atômico, ao anunciar a reativação do reator de 5 megawatts do complexo de Yongbyon, 90km a norte da capital. Além de significar um retorno ao status quo anterior a 2007, quando o reator foi desligado, a decisão reforça as suspeitas de que o regime comunista estaria interessado em ter nas mãos uma arma de dissuasão, em um momento de tensão crescente na Península Coreana.

“Todas as instalações nucleares em Yongbyon, incluindo a usina de enriquecimento de urânio e o reator, serão reformadas, como parte da continuação das operações”, disse um porta-voz do Departamento Geral de Energia Atômica citado pela agência de notícias KCNA. Segundo ele, o fortalecimento da indústria nuclear resolverá o problema da eletricidade no país e permitirá o uso da capacidade de produção de armas atômicas como forma de “desempenhar um papel nos esforços globais pela desnuclearização”.

Ban Ki-moon, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), considerou que a crise já foi “longe demais”. “É meu dever impedir a guerra e buscar a paz. As coisas têm que começar a se acalmar, não há necessidade de a Coreia do Norte estar em uma rota de tensão com a comunidade internacional. Ameaças nucleares não são um jogo”, declarou Ban. Por meio de um comunicado oficial, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) considerou “profundamente lamentável” a intenção do regime do ditador norte-coreano, Kim Jong-un, de alimentar o programa nuclear e defendeu a aplicação “completa” de “todas as resoluções” do Conselho de Segurança da ONU e da Junta de Diretores da AIEA.

Yongbyon-nuclear-plant

Após um encontro com o chanceler sul-coreano, Yun Byung-se, em Washington, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, destacou o compromisso com a segurança de Seul. “Os EUA não aceitarão que a Coreia do Norte seja uma potência nuclear e, repito, os EUA farão todo o possível para se defender e defender seus aliados Coreia do Sul e Japão. (…) Estamos totalmente prontos para fazer isso e somos capazes de fazê-lo. E acredito que a Coreia do Norte sabe disso”, declarou. Kerry também alertou Pyongyang de que a retomada das atividades em Yongbyon será interpretada como uma violação das obrigações internacionais. O chefe da diplomacia americana denunciou “a retórica inaceitável desenvolvida pelo governo norte-coreano nos últimos dias”.

Além de enviar o destróier USS Fitzgerald e um radar de detecção de mísseis à costa da Península Coreana, a Casa Branca também direcionou o navio de guerra USS Decatur para a região. A Coreia do Sul, por sua vez, prosseguiu ontem com seus testes militares — uma mensagem a Kim de que Seul se prepara ante uma possível guerra. Soldados com máscaras de gás e obuseiros K-55 fizeram manobras em um campo de treinamentos da cidade de Paju, próxima à fronteira com a Coreia do Norte. “Esta é uma crise grave e ampla”, reconhece o norte-americano Jeffrey Lewis, diretor do Programa de Não Proliferação do Leste da Ásia do Instituto Monterey de Estudos Internacionais (Califórnia), em entrevista ao Correio, por e-mail. “Eu permaneço preocupado com o fato de que a Coreia do Norte empurrará o Sul para mais adiante, com outra preocupação. E Seul poderá surpreender Pyongyang com uma resposta bastante contundente, agravando a situação”, afirma.

 Hiroshima

Lewis acredita que os cientistas de Kim fabricaram uma arma nuclear miniaturizada, ainda que seja incerto o uso de plutônio, de urânio ou de ambos. “Essa ogiva poderia ter o potencial destrutivo de uma bomba de Hiroshima ou de Nagasaki”, comentou o especialista. Apesar de reconhecer um esforço dos EUA e da Coreia do Sul por uma saída diplomática, Lewis não alimenta falsas expectativas em relação ao programa nuclear norte-coreano. “Precisamos ser realistas com o fato de que Pyongyang não abandonará seus programas nuclear e de mísseis balísticos, a curto prazo”, disse. De acordo com ele, a comunidade internacional precisa focar a atenção no gerenciamento de crise e na redução das tensões.

 Eu acho…

“Os norte-coreanos têm dado vários passos para indicar que expandirão e melhorarão suas capacidades nucleares, além de fazerem lançamentos de mísseis e testes nucleares. Não me surpreenderia que a Coreia do Norte ampliasse seu estoque de plutônio.”

» Jeffrey Lewis,

diretor do Programa de Não Proliferação do Leste da Ásia no Centro James Martin para Estudos de Não Proliferação do Instituto Monterey de Estudos Internacionais.

Fonte: Correio Braziliense via CCOMSEX

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