Paz difícil para a Síria

Syria

Visão do Correio

 Na Síria, a Primavera Árabe já é rigoroso inverno. Diferentemente do verificado em outros países da região arejados pelo movimento — quando ditaduras rapidamente foram abaixo —, o regime imposto pela família Al-Assad, há mais de quatro décadas no poder, resiste, enquanto os massacres se intensificam e o futuro vai ficando cada vez mais incerto. A guerra civil contabiliza pelo menos 70 mil mortos, além de centenas de milhares de refugiados.

Esta semana, o ataque a uma lanchonete da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Damasco, matando e ferindo dezenas de jovens, foi só mais um flagrante da carnificina. No cenário de batalha, em meio a corpos, poças de sangue, gente chorando e correndo desesperada, escombros e móveis quebrados, um morador da capital indagou à reportagem do Correio: “Você sabe o que a segurança significa? Este era o nome de meu país”.

Em parte, a indagação e a resposta dada a ela pelo próprio cidadão explicam o poder de resistência do presidente Bashar Al-Assad. Afinal, embora a ferro e fogo, o tirano mantinha a ordem pública sob controle. Mesmo a convivência entre as diversas etnias era preservada de forma pacífica. A ditadura também passava a sensação de estabilidade política, além de incentivar o nacionalismo. Ou seja, a esta altura dos acontecimentos, com bombardeios de lado a lado, os 42 anos de repressão parecem perder importância diante de uma população aterrorizada.

Certo é que a Síria não podia manter o status quo, como tampouco pode permitir a perpetuação do quadro de confronto generalizado. De uma parte, o Estado, que conta com apoio militar da Rússia e do Irã, abusa de armamentos pesados no enfrentamento aos rebeldes, culpando a oposição pelas baixas civis. De outra, a Coalizão Nacional Síria recebe ajuda da Arábia Saudita e do Catar, além de atrair a simpatia e a ação de extremistas islâmicos, inclusive de outros países, o que torna o quadro ainda mais explosivo.

Nesse aspecto, preocupam, sobretudo, as ligações entre os grupos Jabhat Al-Nusra (milícia síria de orientação sunita e jihadista) e Al-Qaeda, pela fronteira com o Iraque. O elo põe em risco a estratégia defendida por alguns países de fornecer armas aos rebeldes como forma de acelerar a queda do regime e pôr fim aos conflitos, pois significaria armar terroristas. Por sua vez, a hipótese de intervenção armada, com força internacional sob a bandeira da ONU, representa realidades tão desanimadoras quanto a iraquiana.

Melhor seria solução negociada, capaz de pacificar a Síria. Mas o presidente Bashar Al-Assad não manifesta disposição para tanto. Enquanto contar com algum apoio interno, em especial na conservadora classe média, vai preferir a violência, instrumento usado pela família para manter-se no poder desde 1971. Por sua vez, a oposição também tende a radicalizar-se. Pior para o povo sírio, cujo anseio por democracia perde-se na fumaça, enquanto a comunidade internacional bate cabeça, sem encontrar meio eficiente de impor um cessar-fogo e construir a estabilidade da nação.

Fonte:Correio Braziliense