História Contemporânea: Chefe de governo alemã tem raízes polonesas

AngelaMerkel

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, tem origem migratória. Seu avô, Ludwig Kazmierczak, nasceu na Polônia e lutou na Primeira Guerra Mundial contra os alemães. Os poloneses estão encantados com a notícia.

Os corações dos poloneses batem forte pela chefe de governo alemã, Angela Merkel. A razão é que o avô dela, Ludwig Kazmierczak, foi polonês e supostamente lutou como soldado contra os alemães, noticiou o Gazeta Wyborcza, maior jornal da Polônia. Na época da Primeira Guerra, a Polônia era dividida e não existia como Estado. O avô de Merkel lutou pela restauração de um Estado polonês.

Os poloneses são muito interessados na origem familiar de políticos. Mas nem sempre as descobertas são recebidas de forma tão positiva como no caso de Merkel. Há oito anos, a mídia polonesa descobriu que o avô do primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, servira na Wehrmacht, as Forças Armadas nazistas. Embora tenha se tratado de uma convocação obrigatória, a notícia trouxe manchetes negativas para Tusk.

Tusk perdeu a corrida para o cargo de presidente contra o adversário Lech Kaczynski. Os alemães, por sua vez, são mais relaxados quanto à origem dos políticos: a chanceler federal alemã perguntou em publico ao primeiro-ministro polonês como se pronuncia corretamente o sobrenome de seu avô.

História familiar esquecida

O avô de Merkel vem de Poznan. A mídia polonesa encontrou agora até mesmo um primo afastado da premiê: o aposentado Zygmunt Rychlicki. Ele sabia da existência de parentes distantes na Alemanha, mas não tinha a menor ideia de que entre eles estava a chanceler federal alemã. Somente em meados de março, quando a imprensa polonesa noticiou sobre as origens de Merkel, ele ouviu falar do sobrenome “Kasner” e juntou as peças do quebra-cabeça. Nesse meio-tempo, encontrou também uma carta do pai de Merkel e algumas fotos de família, onde aparece Ludwig Kazmierczak, avô da chefe de governo.

Essas imagens provocaram rebuliço na Polônia, pois mostram o avô da chanceler federal num elegante uniforme de cores claras. Para os historiadores poloneses, está claro que Kazmierczak foi soldado do Exército polonês, e lutou na Primeira Guerra Mundial ao lado da França, contra a Alemanha.

A foto deve ter sido feita no início de 1919 em Poznan, pouco depois de a Polônia ter recuperado sua soberania como Estado. Na época, Ludwig Kazmierczak voltou do norte da França, onde lutara contra as tropas alemãs na região de Champagne. Ele trouxe consigo para Poznan a noiva de origem germânica Margarethe. Mais tarde, os dois emigraram para Berlim e mudaram o polonês “Kazmierczak” para “Kasner”, sobrenome de solteira de Angela Merkel.

Aroma de pães com semente de papoula

O primo Rychlicki ainda se lembra muito bem, ainda hoje, do avô de Merkel. Pois mesmo depois da emigração, os Kasner mantiveram uma ligação com o ramo polonês da família. Na década de 1930, Ludwig visitou a família em Poznan com sua esposa alemã, e houve também visitas recíprocas a Berlim. Apesar da mudança de sobrenome, Kasner sempre assumiu a origem polonesa.

Zygmunt Rychlicki guarda uma memória muito viva relacionada ao ano de 1943. Sua mãe morrera e Ludwig veio a Poznan para o enterro. “Eu me lembro que Ludwig Kasner não veio de uniforme alemão, mas em trajes civis. Estávamos em guerra, mas ele se comportou como se fosse um de nós.”

Rychlicki, ainda criança na ocasião, lembra que o convidado foi primeiramente a uma padaria e comprou pãezinhos com sementes de papoula para todos. “Para nós poloneses, tais coisas eram inacessíveis”, mas Ludwig Kasner era alemão e podia comprá-las. Ainda hoje Rychlicki se recorda do aroma maravilhoso dos pãezinhos.

Parentes desconhecidos

Posteriormente houve troca de correspondência com Horst Kasner, filho de Ludwig e pai de Angela Merkel. “Ele nos escreveu de Templin e contou também sobre seus filhos”, conta o primo da premiê. Entre outras coisas, falou da filha Angela, que estudava Química. Mas somente depois das reportagens na mídia, Rychlicki compreendeu que se tratava “daquela” Angela, hoje considerada a mulher mais poderosa do mundo.

Não importa quão distantes estejam as relações familiares atualmente: Zygmunt Rychlicki e sua esposa Denise se sentem honrados pelo inesperado parentesco com a chanceler federal alemã.

No entanto, ele não pretende entrar em contato com a política, afinal de contas, ela está ocupada com muitas coisas importantes. Mas, se algum dia, Merkel ou o irmão dela quiserem fazer uma visita ao casal, eles serão muito bem-vindos, promete Rychlicki.

Fonte: DW.DE