Conhecimento nuclear não exige explosões em testes

Em outubro de 1999, há quase doze anos, o Senado americano rejeitou o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CNBT, na sigla em inglês). Apenas 48 senadores apoiaram o tratado, que não obteve os 67 votos favoráveis necessários. Todos os 51 senadores republicanos se opuseram a ele. No debate, foram manifestadas sérias dúvidas quanto à capacidade de manter o arsenal nuclear americano em segurança e prontidão na ausência de testes com explosões atômicas.

Na época, seis ex-secretários de Defesa de governos republicanos escreveram uma carta dizendo que, se a proibição aos testes fosse ratificada, “nas décadas futuras, nossa confiança no estado de prontidão do nosso arsenal nuclear sofrerá um declínio inevitável, reduzindo, assim, nosso poder de dissuasão nuclear”.

Os seis ex-secretários também disseram que o programa Stockpile Stewardship, de gestão e manutenção do arsenal, iniciado no governo de Bill Clinton e, na época, nos seus primeiros estágios, “não atingirá a maturidade nos próximos dez anos, no mínimo”, podendo apenas atenuar, e não eliminar, a perda de confiança nas armas após uma proibição dos testes. Apesar da rejeição do tratado, os EUA seguiram respeitando a proibição aos testes.

Hoje, vemos que muitos dos temores expressados pelo Senado não se materializaram. Essa é a importante mensagem central de um significativo relatório publicado na semana passada pelos nove membros da comissão do Conselho Nacional de Pesquisa.

A comissão, que se concentrou nas questões técnicas do tratado, disse que o programa de gestão e manutenção do arsenal nuclear “obteve resultados melhores do que os esperados em 1999”. Eles concluíram que “os EUA são hoje mais capazes de sustentar um arsenal nuclear seguro e efetivo e de monitorar testes clandestinos com explosões nucleares com mais eficácia do que em qualquer momento”. Trata-se de um marco importante. Bruce T. Goodwin, diretor-assistente de programas de armamentos do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, também afirma que avançamos. “Temos hoje uma compreensão melhor dos fundamentos do funcionamento de tais armas, algo muito além do que imaginamos quando as estávamos explodindo”, disse.

O programa de gestão e manutenção do arsenal inclui elementos como a vigilância das armas, sua desmontagem e checagem periódica. Envolve experimentos não nucleares e programas de extensão da validade das armas existentes. Há também um poderoso programa de supercomputação que simula o funcionamento das armas atômicas, que avançou muito desde os anos 90.

Segundo o relatório da comissão, a capacidade de processamento a serviço dos projetistas de armas “foi ampliada em aproximadamente 100 mil vezes” desde 1996. Publiquei reportagem sobre isso no Washington Post em novembro.

Ao conversar com os cientistas de Livermore, descobri que estão usando alguns dos computadores mais potentes para criar modelos realistas daquilo que ocorre dentro de uma explosão nuclear, quando pressões e temperaturas tremendas afetam metais, como urânio e plutônio, detonando uma explosão atômica.

As simulações proporcionam uma janela virtual para o interior de uma explosão. “Trata-se de um nível de aproximação muito maior do que aquele que seria possível num teste nuclear”, disse Goodwin. “Tal processo jamais poderia ser analisado numa explosão de verdade.” Tal progresso depende, em parte, do uso de dados concretos obtidos nas explosões e em testes anteriores. Além disso, por mais impressionantes que sejam as simulações computadorizadas, elas precisam ser validadas por experimentos laboratoriais modernos.

Isso custa caro: supercomputadores de última geração, instalações avançadíssimas, infraestrutura de ponta e a necessidade de recrutar e de manter uma força de trabalho altamente qualificada. A comissão disse que é essencial financiar cada um destes elementos. No entanto, esse parece ser um preço relativamente pequeno a se pagar pelo fim das explosões nucleares americanas. De fato, avançamos muito desde 1999.

DAVID E. , HOFFMAN, FOREIGN POLICY, É GANHADOR DO PRÊMIO , PULITZER, CONTRIBUI COM A REVISTA FOREIGN POLICY

TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

 

Fonte: Estadão   

 

6 Comentários

  1. Tanto a França quanto a Inglaterra faz os seus testes nucleares usando super computadores.

    Todo o teste stresse é assim, inclusive as simulações de explosões.

  2. Se ñ precisa de explosões, basta cálculos teoricos e programas de computacionais , então, o BRASIL está bem,pois dominamos o ciclo nuclear, ou quase?!?!Espero q nenhum louco lesa patria assine o protocolo adicional do TNP…Sds.

  3. Diz a lenda que Israel tem mais de 100 ogivas nucleares, mas alguém se lembra de um teste nuclear dos Judeus ????
    Essa simulação já não é novidade e nós aqui temos pelo menos 2 Super computadores ( INPE e USP ) que poderiam desempenhar esse papel.
    Já temos a receita, os ingredientes e quase todo equip. necessário na cozinha para que possamos fazer o nosso bolo, só falta decisão de fazer.

  4. Jim disse: 08/04/2012 às 22:34
    Diz a lenda que Israel tem mais de 100 ogivas nucleares, mas alguém se lembra de um teste nuclear dos Judeus ????

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    – Incidente Vela –
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    Israel/África do Sul
    Naquele que é conhecido pelo Incidente Vela, Israel e/ou África do Sul poderão ter detonado um dispositivo nuclear a 22 de Setembro de 1979, no Oceano Índico, de acordo com dados de satélite. Não é claro se houve realmente um ensaio, e nem mesmo se sabe quem teria sido responsável por ele. Para mais informações, veja o artigo Incidente Vela.
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Teste_nuclear#Israel.2F.C3.81frica_do_Sul
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    Jim, os sionistas ganharam as bombas de presente do “papai noel” EUA na década de 60, mas não ficaram tranquilos de que funcionavam até testarem no mar em 79(com colaboração da África do Sul). Um único teste apenas foi suficiente para confirmar que os mísseis entregues pelos escravos eram funcionais e tranquilizou os vampiros. Saudações.

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