Laço argentino com Moscou pôs Brasil em alerta durante Guerra das Malvinas

Soldados argentinos descansam em Stanley - Arquivo/AEMarcelo de Moraes, de Brasília

BRASÍLIA – Trinta anos depois da Guerra das Malvinas, documentos secretos mostram que o governo militar brasileiro temia que o conflito entre Argentina e Grã-Bretanha abrisse as portas do continente para a influência comunista da União Soviética e até mesmo acelerasse o programa nuclear argentino.

Arquivo/AE
Soldados argentinos descansam em Stanley

Papéis confidenciais guardados no Arquivo Nacional, em Brasília, aos quais o Estado teve acesso, revelam que o Brasil monitorou diariamente o andamento da crise entre os dois países. Os militares brasileiros, porém, tiveram especial preocupação com a ajuda que a então União Soviética poderia prestar aos argentinos como contraponto à aliança da Grã-Bretanha com os EUA.

O documento de número 350, produzido pelo Centro de Informações da Marinha (Cenimar), de 19 de abril de 1982 e classificado como secreto, revela que a inteligência brasileira soube que os soviéticos teriam se comprometido a repassar uma carga de 100 quilos de urânio enriquecido aos argentinos. O relatório não informa o grau de enriquecimento do material. “Obteve-se informe de que, em cumprimento a negociações secretas anteriores, a União Soviética comprometeu-se a entregar à Argentina 100 quilos de urânio enriquecido para seu programa nuclear, tendo sido assinado em Buenos Aires um convênio entre a Comissão Nacional de Energia Atômica e a Teschmabexport (entidade soviética de comércio exterior).”

Segundo o mesmo documento, os soviéticos teriam elaborado uma espécie de operação com outros países de seu grupo de influência, como Cuba, Angola e Líbia, para poder repassar armas aos argentinos de forma indireta, sem chamar a atenção da comunidade internacional.

O avião que levava o embaixador de Cuba em Buenos Aires chegou a ser interceptado quando sobrevoou o espaço aéreo brasileiro. O documento do Cenimar faz referência ao episódio citando ainda a participação do líder cubano Fidel Castro e de seu colega líbio Muamar Kadafi na suposta operação de ajuda militar para a Argentina.

“Há indícios de que militares soviéticos se encontram em Buenos Aires auxiliando a Marinha argentina a levantar dados sobre a força-tarefa britânica que foi deslocada para a área das Malvinas. Os soviéticos solicitaram a Kadafi que a Líbia fornecesse à Argentina aviões e mísseis de procedência russa para que a URSS não aparecesse sozinha como responsável pelo fornecimento de armas”, diz o documento.

“O embaixador cubano em Buenos Aires, cujo avião foi interceptado no espaço aéreo brasileiro, foi portador de uma mensagem de Fidel Castro aos argentinos em que, em nome do governo de Angola, oferece as bases aéreas angolanas como escala operacional para manter uma ponte aérea entre a Líbia e a Argentina”, acrescenta o relatório.

Acompanhamento. Durante o conflito, o governo brasileiro manteve uma espécie de diário de acompanhamento da Guerra das Malvinas. São pouco mais de 50 informes, que monitoram a evolução do conflito. Mal abastecido de informações, os oficiais brasileiros tinham dificuldade em receber dados precisos e atualizados, mas o temor de que a URSS se aproveitasse da guerra para aumentar a influência sobre os argentinos volta a ser registrado abertamente.

“A União Soviética, dentro de sua estratégia expansionista, procurará tirar os maiores proveitos da atual disputa anglo-argentina. Assim, o divulgado oferecimento de ajuda à Argentina, por parte da URSS, poderia ter como objetivo criar dificuldades para uma solução que mantenha a unidade do bloco ocidental”, cita o Sumário Diário de Informações número 04, produzido pelo Estado-Maior do Exército em 7 de abril de 1982 e classificado como confidencial.

Em 12 de abril, outro relatório aponta essa preocupação. “Em virtude da posição adotada pelos países da Comunidade Europeia, bem como a dos países da América Latina, a Argentina, sentindo-se isolada no contexto internacional, poderá buscar uma maior aproximação com os países do bloco comunista, em particular com União Soviética e Cuba. Este fato causa preocupação a setores militares argentinos, que lamentam a posição que vem sendo assumida pelos EUA”, diz o documento, também classificado como secreto.

A preocupação chega ao seu auge em 16 de abril, quando o relatório dos militares brasileiros diz que “as declarações do presidente Leopoldo Galtieri de que a Argentina irá até as últimas consequências podem significar a disposição de aceitar a ajuda soviética, no caso de não chegar a uma solução por via diplomática”.

Influência. No Sumário Diário número 04, a inteligência do Exército avalia a tentativa de soviéticos e americanos de influenciar o conflito. “O controle do Atlântico Sul é de fundamental importância, tanto para os países do bloco ocidental como para os soviéticos e seus aliados. Por essa razão, as duas superpotências não poderiam estar ausentes dos acontecimentos que envolvem Argentina e Grã-Bretanha”, afirmam os militares brasileiros.

Fonte: Estadão

As Malvinas, os mísseis Exocet e o metrô de Buenos Aires

Sugestão: Lucena

Passados 36 anos do golpe de 1976 e 30 da Guerra das Malvinas, subsistem pontos obscuros que requerem maior investigação. Um deles é o papel da loja maçônica P-2, dos irmãos Franco e Tonino Macrì, da FIAT e da Techint em uma negociação para comprar mísseis Exocet em troca de contratos de obras públicas para as empresas italianas, incluindo a ampliação da rede de metrô de Buenos Aires. O artigo é de Horacio Verbitsky.

Horacio Verbitsky – Página/12

Roma – Decorridos trinta anos da invasão às ilhas Malvinas determinada pela Junta Militar e a guerra por meio da qual a Grã Bretanha recuperou sua posse, permanecem existindo aspectos obscuros que não se conhecem ou que foram esclarecidos de forma parcial. Um deles é a intervenção da Loja P-2, dos irmãos Franco e Tonino Macrì, da FIAT e da Techint para a obtenção de armamentos de última geração em que pese o bloqueio britânico e as condições econômicas desse apoio, que incluíram a concessão do metrô portenho às empresas italianas. Franco e Tonino são os respectivos pais dos atuais chefes de governo da Cidade Autônoma de Buenos Aires e de Vicente López, Maurizio e Jorge Macrì. Esta é, assim, a pré-história de um assunto de estrita atualidade quando se comemoram três décadas daquele conflito. A nova geração dos Macrì encabeça a principal alternativa ao kirchnerismo, enquanto a FIAT e a Techint resistem como podem à política econômica que, ainda assim, lhes permitiu obter ganhos extraordinários.

Cristiano Rattazzi Agnelli parou várias vezes a produção da FIAT alegando falta de peças importadas. Paolo Rocca pressionou de forma escancarada por uma desvalorização do peso e resistiu tudo o que pôde ao reinvestimento de lucros no país, no que foi um testemunho sobre a vontade política do governo de disciplinar as maiores empresas.

Os Exocet
Um dos momentos críticos da guerra foi o afundamento do destróier britânico HMS Sheffield com um míssil francês Exocet lançado de um avião naval Super Etendart. Como reflexo da improvisação com que se decidiu ocupar as ilhas, a Argentina não tinha uma provisão suficiente dessas armas letais e, quando ficou evidente o dano que podiam causar à frota real, o governo de Margaret Thatcher pressionou o da França para que não entregasse novas unidades à Argentina. Começaram então diversas gestões para conseguir novos Exocet no mercado negro. Algumas são conhecidas, mas outras permanecem nas sombras.

A história da conexão italiana foi descoberta por pura casualidade pelo juiz de Trento, Carlo Palermo. Durante o cumprimento de um mandato de busca e apreensão em sua investigação sobre tráfico de armas e drogas por parte da P-2, Palermo encontrou documentos sobre um acordo entre a Itália e a Argentina: se a ditadura pudesse comprar os mísseis haveria bons negócios para as empresas italianas em Buenos Aires. Segundo a documentação, intervieram nesse acordo o secretário geral do Partido Socialista italiano Bettino Craxi, o grande mestre da P-2 Licio Gelli, o banqueiro do Vaticano e da máfia Roberto Calvi, os empresários ítalo-argentinos Franco e Tonino Macrì e Gaio Gradenigo, um torturador das milícias fascistas da República de Saló, foragido na Argentina para driblar uma condenação dos aliados.

Uma carta, enviada pelo representante na Argentina de Craxi, dizia que os irmãos Macrì “representam aqui os interesses da FIAT”. A Loja P-2, fundada por Gelli, teve entre seus integrantes altos funcionários dos governos de Juan Perón, Raúl Lastiri e Isabel Martínez, como José López Rega, e vários altos chefes da ditadura militar que os tirou do poder, como os generais Carlos Suárez Mason e Luis Alberto Betti, os almirantes Emilio Eduardo Massera e Juan Questa e o capitão de Navio Carlos Alberto Corti. Em 1973, um colaborador de Gelli na P-2, Giancarlo Elia Valori, colocou Massera em contato com Juan Perón, que lhe ofereceu ser comandante geral da Marinha. Menos conhecido é que foi o vice-presidente da direção do jornal Clarín, Horacio Rioja, quem apresentou Valori a Massera.

A Marinha peruana apareceria como o comprador dos Exocets, que depois seriam entregues para a Argentina. O pagamento seria feito com uma carta de crédito do Banco Central do Peru. Mas a inteligência britânica detectou que a garantia era um depósito de duzentos milhões de dólares do Banco Andino de Lima, subsidiário e de propriedade total do Banco Ambrosiano, no qual Roberto Calvi administrava recursos do Vaticano. O capital do Andino havia sido bancado pela Ambrosiano Holdings e a maior parte de seus serviços se dirigia às empresas fantasmas controladas por Licio Gelli, que havia fugido ao Uruguai e à Argentina depois da condenação em suspenso de Calvi por este tipo de operações.

O Ambrosiano só não entrou em colapso imediato porque o Instituto para as Obras Religiosas, conhecido pela sigla IOR e caracterizado como o Banco do Vaticano se comprometeu em apoiá-lo. Entre os materiais que o juiz confiscou havia um contrato para a provisão de 52 Exocet a um custo de 985 mil dólares cada, na operação denominada Pampa, a cargo do capitão de navio Carlos Alberto Corti, um dos argentinos membros da P-2. A investigação do juiz Palermo terminou com a carreira política de Craxi, que morreu refugiado na África para evitar o processo.

Ordem de captura
Palermo também ordenou a captura dos irmãos Macrì. Uma carta remetida de Buenos Aires pelo representante de Craxi, contava que, em fevereiro de 1982, “Macrì ofereceu genericamente ao governo argentino a total disponibilidade das empresas italianas para colaborar com a provisão para a guerra das Malvinas, incluindo helicópteros. Em troca deste apoio político o governo argentino – Gen. Galtieri – se compromete a dar a Macrì e ao grupo que representa – e continua representando – a concessão para ampliar e explorar por vinte anos a rede subterrânea de trens, levando-a ao dobro da sua extensão”.

O autor da carta, que o juiz Palermo encontrou em um mandato, era Gradenigo. Havia integrado a milícia fascista Guarda Republicana Nacional, na qual se destacou como torturador. Condenado a dezoito anos de prisão ao terminar a guerra, nunca foi preso e, em 1946, fugiu para a Argentina, onde se converteu em um dos grandes personagens da coletividade. Ele dirigia o periódico quinzenal Risorgimento e integrava o neofascista Movimento Social Italiano, ao qual enviava ajuda econômica da Argentina.

Corti era representante de Gelli na Argentina e havia se casado com uma sobrinha do Grande Mestre. O juiz Palermo constatou que Macrì havia adquirido as operações da FIAT na Argentina “com fundos de procedência duvidosa”, que, em conjunto com funcionários italianos, estava interessado na concessão do metrô de Buenos Aires, e que presidia a Comissão Argentina por uma Paz Justa, que tramitou na Itália a revogação das sanções econômicas, motivo pelo qual se reuniu, entre outros, com Craxi. O próprio Gradenigo confirmou as tratativas para a provisão de armas e até o uso de documentos falsos. A investigação também confirmou que em 1980 havia se formado a UTE Metrobaires que, segundo a carta, ganharia a licitação do metrô em troca dos armamentos que a Junta Militar necessitava para a guerra do Atlântico Sul.

Palermo cotejou estes dados com documentos oficiais segundo os quais o governo italiano garantia os trabalhos por um bilhão e setecentos milhões de dólares e, caso fosse contemplada, a Metrobaires passaria parte das obras para a FIAT Argentina. Entre as empresas italianas que integravam a UTE estava a Techint Argentina. Outro membro da P-2, Arrigo Molinari, declarou diante do juiz Palermo que Roberto Calvi havia financiado todo o esforço bélico argentino nas Malvinas. No dia 10 de maio, Gelli voltou de forma clandestina de Buenos Aires à Itália, para exigir de Calvi os oitenta milhões de dólares que os traficantes de armas pediam pelos Exocets para a Marinha argentina.

Uma mensagem na geladeira
Na geladeira de seu hotel em Buenos Aires, o juiz Palermo encontrou um recadinho que o ameaçava fazê-lo cair. Depois de um atentado ao qual sobreviveu, Palermo se afastou da magistratura e a causa minguou. Em sua autobiografia, Franco Macrì qualifica o episódio de “ridículo e falso”, embora admita a gestão pela paz e sustente que a licitação “já havia acontecido e a única empresa que havia apresentado oferta havia sido a Techint”, o que se distancia de ser um desmentido. No dia 10 de agosto de 1983, Licio Gelli fugiu da cadeia suíça na qual estava detido. Versões da imprensa europeia indicaram que um comando militar argentino esteve envolvido nesta fuga.

Tradução: Libório Junior

Fonte: Carta Maior


8 Comentários

  1. Nada como um dia depois do outro. Espero que nesse caminhar a humanidade prevaleça sobre o animal que nos habita.

  2. Julio Brasileiro disse:
    01/04/2012 às 18:07

    Nada como um dia depois do outro. Espero que nesse caminhar a humanidade prevaleça sobre o animal que nos habita.===== Eu tenho + medo dos argentinos, pois são mt traíras, eastão acabando c o MercoSul e depois será a UnaSul…p ajudar à quem?Sds.

  3. Carlos Argus, quem tem medo não sai de casa e perde oportunidade de conhecer as pessoas e o mundo.

  4. Gostei da atuação dos Serviços de Informações Brasileiros, espero que o Brasil esteja investindo firme nessa área, materiais, tecnologia de campo, atuação dos agentes, coleta e ANÁLISE de informações com analistas bem treinados e longe de interesses ideológicos, espero mesmo.

  5. Julio Brasileiro disse:
    01/04/2012 às 19:51

    Carlos Argus, quem tem medo não sai de casa e perde oportunidade de conhecer as pessoas e o mundo.=== eu falo do medo natural e sau´davel , o medo q te leva a adotar medidas de cautelas contr essa pseudo amigo, manter ele sobre as sua visão, bem próximo de nós, p nós podermos pegar eles , se necessário.O BRASIL tem de olhar os argentino como ele nós olham,e ter + cuidados c os mesmos. Desde o MercoSul à UnaSul q estão tentando explodir e suas picuinhas contra o n país…Sds amigo.

  6. Querer incluir a Russia numa conspiração Portenha para obtenção de tecnologia nuclear e ainda por o continente em perigo É O CUMULO DA IDIOTIA que em tudo embute a xenofobia-ideologica e a intolerancia para levar o Brasil no cabresto.Notem como o Irmão Caim do Norte outra vez ficou bonzinho e outra vez esta interessado em nós e fingira lamber nossos óvos para abocanharem as tetas da Dilma em Washington.O unico envolvimento Russo no episodio MALVINAS foi como o Americano INDIRETO ou seja os Estados Unidos davam assessoria aeroespacial aos Ingleses e os Russos deram assessoria aeroespacial a Argentina possibilitando-a conhecer a posição da Marinha Britanica e poder lhe causar danos.Tudo o mais alem disso É FANTASIA DE MANIPULEIROS QUE QUEREM ETERNIZAREM O BRASIL CONDICIONANDO-NOS A VIVERMOS MAMANDO OS BAGOS DE YANKEES.Houve sim uma intenção antes do conflito da ditadura Argentina desviar as atenções do povo deles e ainda mexendo com seus brios e patriotismos.Eles cogitaram atacarem de surpresa o Brasil e isso é de conhecimento de nosso serviço de informações mas acharam melhor mexer com a Inglaterra.A guerra das Malvinas pôs nossos militares de orelha em pé pois não tinhamos conhecimento do poderio belico aeronautico que a Argentina dispunha no momento.Depois disso fizemos simulação usando nosso primeiro super-computador onde foi constatado que eles se nos atacassem teriam nos causado pessados danos do sul a região sudeste e que levariamos uns 14 dias para rspondermos com uma retaliação em massa que deixaria a Argentina arrasada para sempre ate mesmo com uma provavel abertura total das comportas de Itaipu o que arrasaria de Itaipu ate a parte sul da Provincia de Buenos Aires.Isso ninguem fala ai acham melhor ficarem criando fanrtasias recheadas de mentiras manipuladores…..Senhores Déspotas desistam.A sociedade Brasileira não aceita mais essas coisas e vossas tentativas golpistas apenas terão um unico resultado A CADEIA OU A VALA…Ja que querem citar alguma coisa falemos então a verdade ao invez da mentira.

  7. De quem o CENIMAR se alimentava de informações?De seus super agentes? rsrs rsrs O Cenimar se alimentava de informações ANGLAS e os Anglos manipulavam o Cenimar.É notoria a subserviencia da MB a UK é historica assim como a FAB é subserviente a USAF.

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