Como os BRICS podem mudar geopolítica do mundo

Sugestão: Lucena

Um jovem pesquisador brasileiro sustenta: EUA e Europa querem minar a aliança das periferias, porque não aceitam dividir poder global

Por Gabriel Elizondo, correspondente da Al Jazeera no Brasil | Tradução: Daniela Frabasile

Oliver Stuenkel (na foto abaixo) fez parte da delegação brasileira para o fórum acadêmico Track II, em preparação para a Cúpula de Nova Délhi para líderes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS), que aconteceu na quinta feira.

Stuenkel é especializado nas relações do Brasil com a Índia, mas também foca mais amplamente suas pesquisas nos BRICS. Ele é atualmente professor de Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. Também coordena um blog chamado Post Western World, que olha como as potências emergentes estão mudando o mundo.

Abaixo, estão partes de minha entrevista com Stuenkel, na qual ele lança luz sobre o Brasil e as perspectivas e desafios que os BRICS enfrentam. Ele também contraria aqueles que dizem que os BRICS falharam.

Oliver Stuenkel

Oliver Stuenkel: Ser parte dos BRICS é muito importante por que o conceito tem implicações geopolíticas. O país é visto como uma ameaça potencial aos poderes estabelecidos. E o Brasil tradicionalmente tem estado distante das áreas e temas mais importantes do mundo. Nunca fora visto antes como uma ameaça potencial, ou um país poderoso, com impacto relevante na situação global. Mas ser parte dos BRICS muda esta percepção, em algum grau. A aliança faz do Brasil um ator muito mais importante, na perspectiva europeia e norte-americana.

Penso que há, no Brasil, uma grande consciência de que ser parte dessa aliança, ou grupo, pode permitir participar, por exemplo, no debate sobre a emergência da Ásia. Isso é importante porque, até a inclusão da África do Sul, os BRICS eram basicamente três países (China, Rússia e Índia) que fazem parte da massa territorial da Eurásia. O Brasil é muito distante deles, geograficamente. Combinado com o fato de que Rússia, Índia e China se conhecem há muito tempo, isso contribuiu para o fato que, até a África do Sul se juntar, o Brasil manter-se como um estranho. A inclusão dos sul-africanos ajudou os BRICS a assumirem dimensão global, capaz de representar mais continentes. Também fez com que o Brasil se sentisse menos excluído.

A China ultrapassou os Estados Unidos, como maior parceiro comercial do Brasil. A relação do Brasil com os BRICS tornou-se mais importante que a relação com os Estados Unidos, ou até mesmo o Mercosul?

Stuenkel: É difícil responder isso, mas o governo brasileiro continua a focar na sua própria região. Existe um forte reconhecimento, no Brasil, de que o país sempre será parte da América do Sul e de que os laços econômicos e políticos com essa região sempre serão uma prioridade. No que diz respeito aos Estados Unidos, acredito que há uma divisão na liderança brasileira. Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, a maioria dos políticos diriam que os EUA eram absolutamente uma prioridade. Mas agora, com os governos de Rousseff e Lula, existem pessoas tentando equilibrar as duas. Acredito que o Brasil nunca escolher entre os BRICS ou os Estados Unidos – sempre haverá um certo equilíbrio.

Você acredita que os Estados Unidos e a Europa prefeririam que os BRICS fracassassem?

Stuenkel: No lado norte-americano, acho que existe um interesse forte em reduzir os laços entre o Brasil e o resto dos BRICS. Acredito existir um entendimento claro de que o fortalecimento destas relações é problemático… Repare que há muito poucas alianças poderosas no mundo sem nenhuma participação europeia ou norte-americana. Os BRICS são a única. E esse não é o interesse dos Estados Unidos.

Você vê evidências de interesses poderosos tentando dividir os BRICS?

Stuenkel: Existem esforços, nos Estados Unidos, para enfraquecer as relações entre o Brasil e os outros países do BRICS. Vemos isso na mídia. É muito difícil encontrar hoje qualquer comentarista norte-americano ou europeu que fale que o BRICS pode ser algo bom, a ser apoiado. A visão dos comentaristas e acadêmicos norte-americanos e europeus sobre o BRICS é muito mais cética que a Índia, por exemplo — onde há um novo grupo de pensadores emergindo.

Qual o maior desafio que o BRICS enfrenta?

Stuenkel: Articular uma visão comum, para mostrar ao resto do mundo que é uma aliança poderosa, que pode construir uma visão clara do que quer… Também acho que os BRICS precisam ser mais inovadores, porque agora estão sendo comparados a experiências passadas como o G7 e mesmo a União Europeia e OTAN. Muitas pessoas dizem “os BRICS não se parecem com a UE ou com a OTAN – por isso, vão falhar”. Acredito que o verdadeiro desafio para é pensar fora do padrão, considerar novas ideias, criar algo que nem existe ainda e não entrará em xeque quando algum problema bilateral entre seus membros aparecer.

Se forem capazes de fazer isso, quais serão os resultados?

Stuenkel: Se os BRICS forem capazes de falar com uma só voz em qualquer situação que envolva assuntos globais, vão se converter imediatamente em construtores de agenda e numa voz muito poderosa, que nem os Estados Unidos, nem a União Europeia poderão ignorar. Seria a primeira vez que teríamos uma alternativa séria à narrativa das potências estabelecidas sobre como ver o mundo. O controle do discurso global pelos norte-americanos ainda é bastante forte, porque os países emergentes não são capazes de articular uma visão alternativa nesse ponto. Os BRICS podem mudar isso.

Algumas pessoas dizem que os BRICS já falharam, por não terem estabelecido narrativa e visão unificadas. Você concorda?

Stuenkel: Não. Acho que existe, nos Estados Unidos e na Europa, interesse em assegurar que os BRICS não estabeleçam uma narrativa. Muitas análises que procuram criar uma imagem de que o BRICS são incapazes de encontrar essa visão comum. É bastante natural que países que começaram a se reunir formalmente há apenas quatro anos ainda tenham problemas a resolver. Nunca chegará o dia em que concordem em tudo, assim como a União Europeia e a OTAN não concordam em tudo.

Por que alguém que vive fora dos países do BRICS deveria se importar com eles, ou com o fato de se encontrarem anualmente como um grupo?

Stuenkel: Porque os BRICS têm o potencial de se tornarem uma voz muito importante. Não é possível resolver as mudanças climáticas, nem lidar efetivamente com a instabilidade financeira global, sem eles. Se estes cinco países disserem: “temos uma posição comum quanto às mudanças climáticas”, isso será de importância crucial para a próxima cúpula sobre o tema, e para o próprio debate global.

Onde você vê os BRICS em 2030?

Stuenkel: Em 2030, das quatro maiores economias do mundo, três serão países do BRICS. Eu acho que isso irá mudar fundamentalmente o mundo.

Fonte: Outras Palavras

11 Comentários

  1. Eu disse em um comentário aqui no PB que os avanços militares atuais no OM é na verdade uma tentativa de levar o BRICS à crise junto aos EUA e Europa, e para o Brasil ou qualquer outro do BRICS ficar de pé, terá que haver união, senão eles irão nos consumir feito fogo, nesse momento, por exemplo, comprar caças da França, é de uma burrice sem igual, só valeria para conhecer a tecnologia deles e proteger-se no futuro, a agenda que EUA/Europa estão instaurando é de ficar com eles e ser engolido ou fechar com o BRICS e engolir.

  2. O PORQUÊ A FRANÇA E NÃO A RUSSIA OU CHINA</B
    .

    Se caso a escolha do Brasil recair sobre os franceses,atende a estratégia política brasileira de não alinhamento,pois assim o Brasil busca no contesto internacional,seguir os mesmo passo dos indianos e franceses,pois estes na guerra fria fizeram parte do grupo dos não-alinhado.

    Os franceses sempre buscaram não entrar no jogo que fora no passado na guerra fria(EUA Vs URSS),isso explica o porque da França não ser membro da OTAN.

    hoje,essa “guerra fria” mais uma vez,materializa com os americanos de novo com o sue mais recente eleito inimigo,ou seja,EUA Vs China.

    O Brasil,comercialmente falando,a China é o seu principal parceiro na pauta de exportação que no passado fora os EUA,não é a toa que o Brasil(BRICS) não sofre com as penúria e as algúrias que sofrem os EUA e a Europa,haja vista que os cocacolas,pelo seus desejos a submissão aos ianque,adorariam que o Brasil estivesse na mesma pindaíba que os seus semi-deuses.Rsrs…

    Caso o Brasil opte pelo Rafale(os franceses),de uma certa forma não entra no jogo que a eterna crise existencial dos americanos fabrica(inimigos),quando toda vezes que aparece um novo garoto no bairro e demostra mais capacidade que eles,os americanos.

    E foi assim,sem demostrar muita atenção a paranoia americana,que os franceses e os indianos construíram o seu poderio bélico de hoje.

    No caso específico indiano,pela aproximação com a Russia e a histórica beligerância dos chineses com os russos e eles, os indianos;estes se aproximaram aos russos;pura geopolítica e que seria o mesmo caso para nós,os brasileiros.

    Afinal,o império do mal e os franceses estão bem ai próximo de nós.

  3. O PORQUÊ A FRANÇA E NÃO A RUSSIA OU CHINA
    .CORRIGINDO

    Se caso a escolha do Brasil recair sobre os franceses,atende a estratégia política brasileira de não alinhamento,pois assim o Brasil busca no contesto internacional,seguir os mesmo passo dos indianos e franceses,pois estes na guerra fria fizeram parte do grupo dos não-alinhado.

    Os franceses sempre buscaram não entrar no jogo que fora no passado na guerra fria(EUA Vs URSS),isso explica o porque da França não ser membro da OTAN.

    hoje,essa “guerra fria” mais uma vez,materializa com os americanos de novo com o sue mais recente eleito inimigo,ou seja,EUA Vs China.

    O Brasil,comercialmente falando,a China é o seu principal parceiro na pauta de exportação que no passado fora os EUA,não é a toa que o Brasil(BRICS) não sofre com as penúria e as algúrias que sofrem os EUA e a Europa,haja vista que os cocacolas,pelo seus desejos a submissão aos ianque,adorariam que o Brasil estivesse na mesma pindaíba que os seus semi-deuses.Rsrs…

    Caso o Brasil opte pelo Rafale(os franceses),de uma certa forma não entra no jogo que a eterna crise existencial dos americanos fabrica(inimigos),quando toda vezes que aparece um novo garoto no bairro e demostra mais capacidade que eles,os americanos.

    E foi assim,sem demostrar muita atenção a paranoia americana,que os franceses e os indianos construíram o seu poderio bélico de hoje.

    No caso específico indiano,pela aproximação com a Russia e a histórica beligerância dos chineses com os russos e eles, os indianos;estes se aproximaram aos russos;pura geopolítica e que seria o mesmo caso para nós,os brasileiros.

    Afinal,o império do mal e os franceses estão bem ai próximo de nós.

  4. lucena

    A França faz parte da OTAN. Eles foram os primeiros a começar a atacar a Líbia e mandar soldados disfaçados de rebeldes para a Siria.

  5. Espero que jovens como esse continuem contruindo nosso país. Que os velhos, que forjaram o espirito nacional da dependência, não deixem herdeiros intelectuais e passem logo para o outro plano. Não gostaria de ver meu povo mais alguns anos tendo que tirar sapatos em aeroportos internacionais nem lá fora, muito menos aqui dentro.

  6. Eu até acho q china,Rússia, A.do sul e Índia até possam + o BRASIL? Eu tenho minhas dúvidas, até pq nem FAs temos c equipamentos novos e modernos p dar motivação a essa vontade…sds.

  7. A França faz parte da OTAN. Eles foram os primeiros a começar a atacar a Líbia e mandar soldados disfaçados de rebeldes para a Siria.

    Por Junior Almeida

    Disse bem,eu que não estava bem atualizado com os assuntos da OTAN,obrigado pela correção.

    ***********************************************************

    Em 1966, no auge do Gaulismo, a França abandonou a estrutura militar da OTAN, permanecendo apenas em fóruns políticos.

    Após o fim da Guerra Fria, o país reaproximou-se da aliança, tendo reintegrado a estrutura militar da Organização em 1995, e o comando militar em 4 de Abril de 2009.

    ***********************************************************

    http://pt.wikipedia.org/wiki/OTAN

    Logo as minhas considerações sobre a não-aliamento francês na guerra fria acabou com o fim daquela guerra fria,hoje com o canastrão Sarkozy todo tipo de patifaria é pouco para aquele porco imundo.

    grato

  8. Brasil, Russia, Índia, China e África do Sul.

    Nada contra, mas eu vejo mais parceria e semelhanças no IBAS. China tem sua agenda própria, e a Russia tem sua antiga URSS como área de influência. Além de que esta está se aproximando da Europa ocidental, o que faz todo o sentido.

    Índia, Brasil e África do Sul poderiam realizar muita coisa juntos, especialmente na área técnico-científico e militar.

    []’s

  9. Nada mais nada menos do que o obvio do obvio meu caro Gabriel Elizondo ate o antigo persinagem de Chico Anisio o PAINHO preveria isso.A nos Brasileiros qual é a mais importante nação dentro de nosso contesto de estreitamento?A India.Mas a India vive pressionada por Anglos que sabem de sua importancia e tentam de todas as formas atrai-la ASSUSTANDO-A COM O VORAZ DRAGÃO CHINES.O mesmo tentam fazerem com a Russia.A India esta cada vez mais envolvida estrategicamente e militarmente com a Russia e mudar isso a eles é inviavel e seria uma idiotice.Lula pregava em sua campanha que buscaria uma aproximação mais intima com a India e a China,a meu ver ele errava apenas colocando a China nessa preferencia ao invez de colocar a Russia.Uma afinação e extreitamento dos IBIS se fortifica e se consolida mais a cada dia e deveriamos atrairmos paises como Turquia,Indonésia e México.Ate mesmonuma escolha do FX temos duas boas possibilidades de formação de consorcios com Brasil-India-França ou Brasil-Africa do Sul-Suécia,mas de que lado da vida estão a França e a Suécia?Não nos seria mais viavel do ponto de vista estrategico militar uma associação entre Brasil-India-Turquia?Pois de modo global sbemos que Brasil e India são apenas essenciais estrategicos a qualquer bloco econo-comercial ou politico-diplomatico.Eu ja cansei de dizer que o Brasil deveria aproveitar a boa imagem que ainda temos perante a comunidade de paises em desenvolvimento e paises pobres para promovermos um movimento global de pressão por uma reformulação na ONU,no CS e no FMI ou promovermos um racha nisso tudo.Hoje quem pode mais é quem tem consumo interno aquecido,materias e essenciais e grande produção agricola e agropecuaria.Em um aprofundamento sem precedentes na crise economica todos sentiram mas por incrivel que pareça muitos pequenos que se destaquem em suas produções de materias,essenciais e alimentos sentiram menos e os emergentes blindarão seus mercados priorizando o mercado interno e a consequencia sera uma profunda carencia de alimentos na Europa-Ocidental e em parte do Sudeste Asiatico.Brasil,India,Russia e China teem expressivas produçoes agricolas e agropecuarias alem de deteremimportantes reservas minerais e energeticas.Os Eua dentre o mundo Ocidental é o pais que menos sentira a carencia mas estara encarregado tambem de suprir sua maior aliada a UK.Tempos de perseverança ao invez de gastanças se fazem necessarios.E nós Patria abençoada por Deus em tudo o que é essencial ter como estaremos?Com o andar da carroagem alimentados por graficos ilusorios com um PIB de 45% carga tributaria e a euforia de mercado aquecido consumiremos ainda mais encantados pela baixa de juros e as armadilhas de creditos INDIVIDADOS ATE O TALO E INADIMPLENTES a chorarmos desgraça.

Comentários não permitidos.