Transferência de tecnologia: sinônimo de desenvolvimento

Por Fernando Arbache – Presidente da Arbache Consultoria, Fernando é Doutor em Sistemas de Informação (COPPE/UFRJ), pesquisador em simulação, jogos de negócios e Inteligência de Mercado; responsável pelo desenvolvimento de sistemas de novas tecnologias em CRM, ERP, e-learning e Business Intelligence. Além disso, é autor do livro Logística empresarial, da editora Petrobras, e Gestão de Logística, Distribuição e Trade Marketing, da Editora FGV.

A capacidade de produzir e vender tecnologia confere a um país mais independência, diversidade no comércio exterior e sustentabilidade na economia. Porém, para avançar é necessário inovar, o que se faz com uma boa base tecnológica, ainda praticamente inexistente no Brasil. Para pensarmos em transferência de tecnologia, antes é necessário considerar que o Brasil tem uma natural inclinação para produção e exportação de commodities, entretanto a precária infraestrutura vem gerando diversos problemas como o aumento de custo na produção, ocasionado pela incapacidade de o país transportar produtos aos portos. Dificuldades semelhantes enfrentam nossas indústrias, pois as mesmas produzem bens e produtos que são pouco atrativos ao mercado internacional.

Situações diferentes vivem as indústrias de alta tecnologia que vem desempenhando um papel significativo na exportação. A Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica), por exemplo, anunciou vendas que alcançaram US$ 2,6 bilhões durante a feira de Aviação Paris Air Show, em Le Bourget. Outro setor que cresce independentemente das crises é o de defesa. O orçamento previsto para 2011, para Estados Unidos, França, Inglaterra, China, Japão, Arábia Saudita, Rússia, Coreia do Sul e Índia, ultrapassa US$ 1 trilhão. Ao pegar uma fatia deste mercado, o Brasil poderia ter benefícios incontestáveis como menor instabilidade na balança comercial, pois os contratos são, em geral, de longo prazo.

Este tipo de indústria traz desenvolvimento de tecnologia de ponta, empregos com alta remuneração, criação de centros de pesquisas, entre outras vantagens que poderiam dar suporte ao desenvolvimento do país. Para isso, o Brasil necessita, com urgência, de transferência de tecnologia e de parceria com países que se disponham a ajudar sem, no entanto, comprometer a indústria brasileira com regras e restrições de exportação. A ciência é desenvolvida através da busca contínua do conhecimento, exercida com a prática sistemática da investigação. As pesquisas são os meios de se obter os caminhos necessários para transformar ideias em verdades. Fazer ciência necessita de tempo, dedicação, recursos e esforço. Em muitos países, esse processo iniciou-se há décadas e, em outros, os centros de pesquisas estão começando as jornadas.

Ter pesquisas direcionadas ao mercado militar, de certa forma, traz vantagens aos países que investem neste segmento, pois os orçamentos militares são, em geral, maiores, frequentes, de longo prazo e pouco sujeitos a cortes. No Brasil, diversos institutos de pesquisas iniciaram as atividades para atender às forças armadas, como o CTA (Centro Tecnológico da Aeronáutica), o ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), entre outros. Estes centros produzem tecnologia de ponta e formam profissionais qualificados. Os pesquisadores egressos destas instituições são empregados em várias empresas civis brasileiras, melhorando intensivamente a qualidade delas, capacitando-as a concorrer em mercados maduros e evoluídos tecnologicamente.

A tecnologia é fruto de um processo colaborativo, pois é apenas com a associação de diversos olhares que se obtêm produtos e serviços que consigam aproximar-se da perfeição. A colaboração da ciência se faz por consórcios e contratos, em que ambas as partes estejam comprometidas a fornecer, sem restrição, todo conhecimento obtido por meio dos estudos. Alguns países, entretanto, como os Estados Unidos, por mais de uma vez, negaram ao Brasil a transferência de tecnologia para o desenvolvimento da indústria nacional bélica e civil. Segundo o Brigadeiro Engenheiro Venâncio Alvarenga Gomes, um exemplo se deu com o míssil para combate aéreo denominado MAA-1. Inicialmente, os sensores infravermelhos, cujo objetivo é detectar um avião inimigo, fornecidos pela empresa norte-americana Judson, mostraram-se, segundo o mesmo Brigadeiro, míopes e estrábicos, pois em vez de enxergar o avião inimigo, viam dois borrões.

Para que problemas semelhantes não ocorressem uma vez mais, a Embraer buscou suporte da empresa sueca Ericsson para fornecer o radar que iria embarcado no ERJ-145. A empresa além de fornecer PS-890 Erieye, que é uma antena plana de última geração, com varredura eletrônica ativa, repassou toda a tecnologia necessária para viabilização do projeto. Com a transferência da tecnologia, o Brasil deu mais um salto tecnológico. Esta aeronave já foi comercializada sem nenhum tipo de impedimento, pois com a política de neutralidade, a Suécia não impõe regras de vendas aos parceiros comerciais. A venda de uma aeronave deste porte equivale a um navio carregado com milhares de toneladas de minério.

Desse modo, as escolhas de parceiros comerciais e de desenvolvimentos, quando acertadas, permitem ao país dar saltos tecnológicos avançando na capacidade de inovar. O Brasil tem mais uma oportunidade de dar um salto tecnológico, ou não, com a compra dos caças para a FAB (Força Aérea Brasileira). A escolha correta permitirá ao país, não só receber as aeronaves, mas também tecnologia de última geração, que permitirá aprender para inovar e criar novos produtos, sejam para o mercado civil ou militar, capacitando o país a seguir na trilha rumo à transformação em potência econômica mundial.

Fonte: amazonasnotícias

8 Comentários

  1. Carlos eles estão na merda por pura ganância de governos e banqueiros que fazem uma lambança sem igual na economia de seus países…então os governos ao invés de serem facilitadores são como REIS com seus coletores de impostos…e nós os camponeses…NADA MUDOU do estilo FEUDAL para o CAPITALISMO, sendo que o que existe na maioria dos países é o CAPITALISMO COMUNISTA, explorador.

    Quanto ao post está certíssimo, precisamos de muiiiiiiiiiita transferência de tecnologias de pontas e procurar os parceiros certos para isso…por isso não devemos fechar com os americanos o FX….o Gripen é a melhor opção!! E só não damos um mega salto tecnológico no BRASIL pois o nosso GOVERNO CAPITALISTA COMUNISTA INTERVENCIONISTA ESCRAVIZADOR não permite!!!!

  2. Transferência de tecnologia é um desses grandes mitos que circulam pela terra brasilis. estamos há 12 anos estudando quais as tecnologias receberemos com uma concorrência como a do fx por exemplo.

    Se neste tempo o país realmente tivesse algum interesse em desenvolver a tecnologia já o teríamos feito aqui sem se preocupar se o caça adquirido para a defesa é sueco, estadunidense ou francês, o critério seria técnico qual o mais adequado a defesa e não político qual o pais que é nosso “amigo”.

    Nenhum pais vai nos dar o “pulo-do-gato” . Tecnologia não se compra se desenvolve. Não nego que podemos pular algumas etapas adquirindo de terceiros, mas ela SEMPRE custará mais caro e gerará menos frutos do que se for criada no país e o que é pior, será perdida caso não existam investimentos que mantenham o estudo e a pesquisa sobre o que foi adquirido. É absolutamente imprescindível esta continuidade. Caso contrário os técnicos irão embora para outros países e tudo se perderá.

  3. Caros Srs,

    Parcerias e compras de conhecimento é isso mesmo que está nos faltando, será??…

    Correção, o Brasil não está no rumo de se transformar numa potência econômica mundial, como o autor do artigo acima propõem. O Brasil já é uma das potências econômicas do mundo.

    O que ainda estamos longe de ser é potência política e militar.

    O problema da produção tecnológica brasileira não é de transferência de saber de algum país bonzinho para nós, mas de maiores investimentos em nossos projetos e cientistas.

    Haja visto que coisas boas já ocorreram aqui, exs: nossa Embrapa que produz tecnologia nacional a anos, e serviu de suporte para nosso campo ser cada vez mais produtivo; e nosso Pró-álcool também de tecnologia nacional (que hoje em dia é até invejado pelos USA); e a Embraer já citada pelo autor.

    Porém, reparem, que entre esses três grandes empreendimentos nacionais, bem sucedidos, existe um ponto em comum, que é justamente o que fez seus resultados positivos aparecerem: continuidade.

    O que falta para nossa produção de maior tecnologia é a continuidade dos projetos que surgem.

    Vejam nosso programa espacial… cheio de idas e vindas, cortes de verbas e trocas de cronogramas e responsáveis, a quantas ele anda nesse samba do crioulo doido? Puxa, nem mesmo um único satélite foi colocado em órbita. Será que o motivo desse fracasso foi só de problemas de transferência de tecnologia?

    O caso é que raros projetos em ciência no Brasil têm começo, meio e fim.
    A maioria absoluta só possuem começo, alguns poucos atingem o meio, e uns raros o fim.

    Claro que importar tecnologia é mais fácil e cômodo. E para muitos é o remédio que nosso atraso precisa. Mas, a meu ver, a nossa solução tecnológica é mais direta e local… é dar séria continuidade e cobrança às pesquisas nacionais existentes e a todas as que ainda vierem.

    PS: Fiquem atentos às pesquisas e projetos bancados pelo governo brasileiro… quando é declarado que vão levar um tempo X, a verdade é que seria X/2, porém o grande cabide de empregos formado precisa mamar na teta por muito tempo, bem além do estritamente necessário para a conclusão dos trabalhos.

  4. Carlos Argus: Não entendi seu comentário! Voce fala os países de 1o mundo? Se for, acredito que é porque eles também se desindustrializaram em favor da China e na esperança de que as commodities ficassem sempre em um patamar de preço “de banana”. Também, por supervalorizar ativos como imóveis, criaram bolhas financeiras. Muitos países vivem apenas de especulação e “gerenciamento” financeiro. Fora isso, nada têm. Ex.: Islândia. Como a Islândia é considerada 1o mundo e o Brasil não? Eles não têm nada! Só bancos. Daí veio o problema, acredito.

  5. Companheiros o Brasil encontra-se numa verdadeira corrida maluca contra o tempo. A angústia e o sofrimento de alguns patriotas, nacionalistas ou aficionados se assim preferem, chega a recrudescer na pele de outros nem tão comprometidos, face, algumas vezes, a impaciência, a desinformação, a imaturidade, a extrema ansiedade e/ou até mesmo a descrença total no sistema.

    Este é o nosso calvário e, ao que nos parece, não há como fugir disso. Quando analisamos o passado recente da nossa história e percebemos os erros de avaliação e decisão que foram praticados, as oportunidades que foram desperdiçadas e que nos colocaram na incômoda situação em que nos encontramos atualmente, resta-nos uma sensação de impotência, de insegurança, de raiva, de desamparo e revolta. Todavia somos humanos e racionais ou não? temos que raciocinar, lutar e seguir em frente.

    Nas minhas andanças pelo mundo sempre ouvi dizer que existe um tempo para tudo, será que estamos próximos do tempo Brasil? ou ainda falta algum “tempo” para o seu completo amadurecimento como nação desenvolvida, como potência mundial? Será que a tecnologia ou o conhecimento, em latu sensu, do qual trata o autor do texto já é disponível em todos as escolas, empresas, faculdades e estados deste país ou só alguns pouquíssimos doutores e estados privilegiados conseguem acessá-la e com limitações?

    Pelo visto não nos preparamos para essa realidade. Chega de tantas improvisações, não basta apenas alocar recursos em alguns mega projetos ou regionalizar discriminadamente os investimentos, pois o conhecimento deve ser disseminado por todo o país e em todas as universidades e centros de pesquisa e os nossos gênios começarão a sair das suas garrafas e a atender aos anseios da nação.

    E acredito que cometem um ledo engano os que acreditam que conhecimento não se transfere, transfere sim. O conhecimento é e sempre foi uma mercadoria valiosa, portanto quem pagar mais e melhor poderá adquiri-lo. A Suécia, a Índia, a França e outros, são bons exemplos a serem utilizados. Esses países tem doutores de sobra e em todos os campos do conhecimento, resta apenas criar as oportunidades e recuperar o tempo perdido.

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