Defesa & Geopolítica

Impressões de West Point

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Por Guy Sorman

Os cadetes de West Point constituem, depois da origem dos Estados Unidos, a elite do exército americano: é preciso conhecer esses jovens, homens e mulheres que amanhã vão lutar pela América e, certamente, além de suas fronteiras.

Os cadetes são sérios, disciplinados, estudiosos, muito mais que os estudantes de mesma idade das universidades civis. O nível intelectual é elevado, a capacidade de se expressar é impressionante. Eles falam (nesse caso, sobre a China), tomam nota e elaboram boas perguntas. Eles não são representativos da sociedade americana: quase todos são dos Estados do Sul e todos parecem muito religiosos. A Bíblia e a Pátria são facilmente confundidos, ao que parece. Assim como misturar a defesa dos valores americanos com os do mundo livre. Para isso, deve-se conhecer o inimigo.

Seria de se esperar que fosse mencionado o Islã, o Irã. Mas o Oriente Médio parece para essa geração como um combate do passado, sendo concluído, ainda que de forma anedótica. A nação que no horizonte poderia ofuscar o soldado americano seria somente a China. Por isso, fui convidado a falar sobre o assunto.
A China é ainda um anão militar e econômico se comparado à capacidade de inovação dos Estados Unidos e ao poder de fogo americano. Mas os cadetes, que têm 20 anos, raciocinam a longo prazo. O que também convida os seus professores a refletirem.
O chefe de estudos, o Coronel Meese – que também é autoridade na luta contra o terrorismo – acredita identificar, nas iniciativas chinesas, uma vasta ambição geopolítica. Os investimentos chineses na África (Sudão) e na América Latina (Argentina) podem parecer decorrentes da necessidade de abastecimento de matéria-prima, mas há a constituição de uma rede de aliados futuros, com regimes políticos pouco afeitos à democracia.
Como no jogo de tabuleiro “Go”, em todo o planeta, todo mundo está trabalhando para cercar, contornar o outro. Os americanos criaram em torno da China um “cordão sanitário” que passa pela Índia, Vietnã, Japão, Filipinas e Coreia do Sul. Os chineses escapam da rede marcando território fora desse cordão.
O que é paranoia e o que não é? Em princípio, ao ouvir seus dirigentes e consultar as estatísticas, a China precisa de 30 anos de estabilidade antes de se tornar uma potência média, totalmente desenvolvida. Mas os caminhos chineses são insondáveis, os processos de seleção de líderes e suas verdadeiras intenções são obscuros.

A China em si não é um inimigo, mas o Partido Comunista e o Exército Chinês poderiam se tornar. Como foi declarado pelo Coronel Meese, os americanos não estão preparando uma guerra contra a China, mas eles “gerenciam” (controlam) a ascensão de sua influência. Sem dúvida, em todo caso, os cadetes de West Point não recuarão quando ganharem seus títulos de oficiais, pois eles perpetuam a tradição marcial dos Estados Unidos. A guerra para os americanos é sempre uma opção tanto quanto a negociação e pode ser até superior a ela: na visão de West Point, a guerra é uma maneira aceitável e eficaz de gerir os negócios do mundo. Tradução: Maria Júlia Ferraz

Fonte:  MidiaaMais

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