As causas da crise industrial brasileira

PRESIDENTE DO INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL – IEDI – O Estado de S.Paulo


Análise: Pedro Luiz Barreiros Passos.

O mundo pós-crise de 2008 descortinou o que já era uma realidade para quem acompanha a evolução industrial: o Brasil perdeu competitividade porque se transformou em um país caro demais. A tributação tornou-se muito alta, assim como os custos da energia, da logística, dos encargos trabalhistas e do investimento.


Nos últimos anos, os salários vêm se tornando outro fator de pressão. Os setores de serviços e a agropecuária, por não sofrerem a concorrência do produto importado ou por usufruírem de elevados preços internacionais, puderam absorver os maiores custos, o que não foi o caso da indústria.


Com exceção da reforma tributária e do inexplicável custo da energia elétrica, que ainda esperam por iniciativas mais efetivas, as questões acima vêm sendo alvo de atenção do governo. Ainda que de forma tímida, se procurou baratear os encargos da previdência e desonerar as exportações e as inversões. Também foram acionados mecanismos para acelerar os investimentos na infraestrutura por meio da parceria com o setor privado em aeroportos.


Mas o ponto é que os efeitos que se pode esperar dessas medidas são de longo prazo, enquanto os impasses se apresentam de forma aguda devido a uma hiperconcorrência internacional pelos poucos mercados dinâmicos existentes no mundo, dentre eles o Brasil.


Por outro lado, há evidências de que a economia brasileira vem acumulando um atraso significativo em sua produtividade com relação a outras economias. Na indústria, a produtividade do trabalho, que crescera 3,6% em termos médios anuais entre 2004/2007, evoluiu somente 1,2% nos últimos quatro anos, enquanto o custo real do trabalho tinha elevação de 2,2%.


Portanto, diante de custos crescentes, a indústria precisa de uma mais rápida evolução da produtividade. O Plano Brasil Maior elegeu como objetivo principal de suas ações o impulso à inovação, o que vai ajudar a competitividade da indústria. Contudo, há uma lacuna a ser explorada no que diz respeito à prioridade à produtividade, o que envolve o tema da inovação, porém vai além.


A associação entre altos custos e baixos padrões de produtividade só poderia ser compensada a curto prazo pela taxa de câmbio. Não tem sido esse o caso, pelo contrário, já que a valorização do real aumenta adicionalmente os custos em dólar de se produzir no País.


O Brasil não deve almejar nem o câmbio subvalorizado que alguns países seguem, nem o câmbio valorizado como prevaleceu nos últimos anos e voltou a se apresentar nos primeiros meses deste ano. Nesse tema, deveria ser perseguido com tenacidade um câmbio competitivo que neutralize minimamente os efeitos dos problemas apontados, cuja solução virá somente em um prazo maior.


A combinação das três facetas – relativas a custos, produtividade e câmbio – associadas ao quadro internacional vigente está na base da virtual estagnação da indústria manufatureira do País no ano passado e neste início de 2012. Não há como não ficar apreensivo sobre a evolução futura da indústria, a menos que ocorram mudanças relevantes em todas as questões acima. Contudo, ao longo do ano entrarão em cena alguns fatores de estímulo que poderão melhorar o desempenho industrial, como a redução da taxa básica de juros e a elevação do salário mínimo, que ampliarão o consumo de setores empregadores e de baixa penetração das importações, como alimentos e bebidas.


Caso esse cenário se concretize, devemos ter muita cautela para que as questões determinantes da regressão manufatureira não sejam colocadas em segundo plano por uma falsa interpretação de que não há uma crise industrial no País. A gravidade da situação atual da indústria brasileira não deve ser ignorada.
Na política industrial, contribuiria muito para o reerguimento da indústria se aos setores produtores de insumos de utilização generalizada fosse atribuída uma maior prioridade. Uma política com a firme intenção de reduzir os custos nas etapas iniciais das mais complexas cadeias industriais, a começar pelo custo de energia, é um caminho que, embora de alta complexidade, mais dividendos trará a longo prazo para toda indústria, inclusive para os setores de bens de consumo que dessa forma poderiam reduzir seus custos de produção.

Fonte: Estadão Via CCOMSEX

11 Comentários

  1. O Brasileiro prefere importar um carro inteiro da China a que desenvolver e produzir um motor no Brasil. Isto não é só falta de competitividade. Isto é vida fácil. E todo mundo só quer vida fácil.
    Dane-se que amanhã estaremos todos no mesmo barco. Vamos ganhar tudo que pudermos hoje e amanhã a gente vive da especulação financeira.
    Essa é a realidade.
    Por isso defendo a mudança. Ao invés de investir no mesmo empresariado de sempre, está na hora de deixá-los por conta para fazerem o que querem e investir em pessoas empreendedoras.
    Pessoas que querem realmente se incomodar em criar algo novo ao invés de buscar o ganho fácil.

  2. As reformas que ajudariam a modernizar o estado e facilitar as coisas, tais como reforma tributária, trabalhista, previdenciaria etc., ninguém quer fazer. A anos estão nas gavetas empoeiradas do congresso. Enquanto isso devido a um monte de gargalos, o país não consegue embalar.

  3. disse:
    11/03/2012 às 14:01

    As reformas que ajudariam a modernizar o estado e facilitar as coisas, tais como reforma tributária, trabalhista, previdenciaria etc., ninguém quer fazer. A anos estão nas gavetas empoeiradas do congresso. Enquanto isso devido a um monte de gargalos, o país não consegue embalar.======Falou e disse , vai do industrial ao militar…Trágico.sds.

  4. Dependendo de como se faz a reforma é válido, pois um exemplo de um país rico que é superavitário é a Alemanha, mas como ela conseguiu isso?

    Ela conseguiu isso cortando os salários da grande maioria dos trabalhadores e quem não tinha emprego para ganhar a ajuda do Governo tinha que aceitar empregos de meio periodo ganhando uma merreca e assim ficou fácil para a Alemanha tomar o mercado Europeu de Assalto.

    Já no Brasil a questão nem é o salário vigente e sim a estrutura de impostos e burocracia.

  5. eu acho que o brasil virou um pais caro como ele sitou pois aqui em sao paulo alem dos seis meses trabalhando so para pagar imposto esta instalada aqui uma industria de multas, uma controlar que alem do licenciamento voce tem que passar por uma inspeçao de veiculo bitributaria e um custo de vida mais alto do pais por isso o custo de vida estrapolou em sampa.

  6. NENHUM SISTEMA CAPITALISTA FUNCIONA SE A MAO DE OBRA BASICA FOR CARA
    .
    A mão de obra no brasil está ficando cara… E uma das necessidades do capitalismo se manter firme é a oferta de mão de obra barata e se possivel a existencia de um grande exedente de mão de obra, o que torna a mão de obra mais barata ainda….
    Se ninguem perder, o capitalismo não rende…
    Pra alguem lucrar, alguém tem que perder… parem de sonhar… esperto é a china.
    Provém todos os serviços básicos de graça a sua população e não paga quase nada de salário..
    ao mesmo tempo que eles não ganham nada em seus empregos, o estado os oferece tudo o que eles precisam para sub-existir…
    essa é a sociedade, essa é a realidade… ;/

  7. Isso revolta tanto…é tão simples resolver isso que me da falta de ar só de pensar como este é um país entreguista, e até mesmo a CHINA já percebeu que o Brasil esta cegueta…e desistiu de esperar o Brasil fazer o dever de casa, e se juntou aos outros sangue-sugas para explorar nosso solo sem pudor…BRASIL quando vai virar nação? ainda somos uma CONFEDERAÇÃO!!!

  8. Senhores, conforme a matéria acima, no inicio da década de noventa , o seguimento de utilidade domestica contava com uma participação muito dos produtos asiático especialmente o produto chines.
    Ora, já no final de 2006,os produtos importados dominava praticamente 50% do faturamento das empresas do setor. Assim sendo, pelo incrível que parece os produtos importados nesse seguimento chega a proporcionar uma margem de lucro muito superior ao produto nacional .
    Portanto, muitas empresas nacionais que geravam centenas e milhares de empregos no brasil, faliram ou tiveram que transferir sua produção para a china.
    Quanto ao mercado eletro eletronico, em especial o eletro hoje as marcas mais conhecidas que temos nas lojas de departamento nas pequenas e micro empresas os motores são todos chines, aqui nos só montamos os produtos e o fabricante coloca no mercado , ora a exceção , mas a fatia cada vez diminui mais frente o produto importado; um exemplo é o ar condicionado , impossível o produtor nacional concorrer com os asiáticos.
    Quanto aos eletrônicos, os principais componentes são importados da china .
    Ora,lindando com o comercio varejista a mais de vinte anos os que proporciona uma margem de lucro muinto mais robusta são os importados, enquanto isso o produto nacional esta sumindo das prateleiras.
    Só para que os senhores tenham uma ideia, grande parte dos estofados pulverizados no mercado, as percintas silicone usados nos mesmos são asiáticos, isso mesmo o estofado em que vocês descasam todos os dias…. é uma dura verdade …

  9. O que mais me deixa chocado é que as nossas autoridades não esta nem ai, não existe comprometimento com nada a não ser com o grupo de aliados de plantão e o País fica a Deus dará.No entanto, é uma das razões que o brasil não é respeitado não existe politica de fato industrial , existe sim medidas esparsas ,que não resolve , e muito menos destrava o setor industrial e os demais setores a exemplo o setor da defesa que poderia empregar milhares e milhares de pessoas com mão de obra qualificada ….

  10. É isso ai, o governo ESTA ANDANDO E c. PARA NÓS, todos sabem que os altos impostos acabam com o país, todos ?, acho que nosso políticos não sabem ou são tão tapados de se preocupam em encher os bolsos, em quanto o país se a funda.
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    mas é claro eles já tomaram medidas cabíveis, chama as megas industrias estrangeiras e da incentivos para fabricarem produtos aqui, com apenas 15% de nacionalização, é claro que os 15%, também serão de empresas estrangeiras ou eles compram as poucas que temos.
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    O VERDADEIRO PLANO PARA RESGATA O BRASIL. forem investidos 100 bilhões por ano na criação e capacitação das empresas 100% nacionais que seja de brasileiros que até sua 4° geração tenham nascido aqui, e sob um regime de que as empresas mais importante para o país não poderiam ser vendidas para estrangeiros.
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    correlação os juros e ano que vem eles aumentaram de novo. é cômico não podemos crescer 8%por ano, pois o país não tem estrutura, mas podemos crescer 2% por ano. não é irracional isso ?

  11. A politica econômica brasileira é orientada para o mercado financeiro,excluindo a indústria.Veja a discrepância, enquanto que os bancos tem um retorno altíssimo em suas operações-faturamento liquido na casa dos bilhões de reais – a industria conforme o seguimento tem que fazer milagres para fechar no azul ou pelo menos empatar.
    As empresas para levantar credito na rede bancaria são esfoladas.Ora um simples adiantamento de boleto é cobrado aproximadamente 6% a 8% por operação, fora os empréstimos.
    Assim sendo, os consumidores por sua vez, em operações de credito são saqueados, ora as financeiras ganha mais do que a industria cobrando juros na casa de 5.9% a 7.9% ao mês ,isso significa que maioria da população enfrenta essas taxas de juros de alguma forma seja em empréstimos ou em compras efetuadas em carnes.
    Segundo a mídia especializada em economia as montadoras tem um retorno elevadíssimo vendendo veiculo financiado ao invés de vender direto para as concessionarias.

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