TSUNAMI, por Antonio Delfim Netto

“É decepcionante e assustador assistir a alguns economistas bem apetrechados com rica formação e títulos de PhD nas mais renomadas instituições continuarem a afirmar que as intervenções cambiais executadas em legítima defesa pelas autoridades produzem “distorções”, como se um câmbio extremamente valorizado não as produzisse ainda em maior dimensão.

Mas contra que modelos eles aferem tais “distorções”? Não importa a sofisticação, a complexidade ou a distância desses modelos da realidade. É axiomático que extrair deles recomendações normativas é um salto que não encontra justificativa lógica e, muito menos, empírica.

Em 29 de fevereiro, Jonathan Ostry, a estrela emergente dos economistas do FMI, afirmou, sem nenhum remorso, que:

1º) os altos e baixos da taxa cambial podem ser menos benignos para as economias emergentes do que são para as desenvolvidas;
2º) quando a taxa cambial se valoriza e os setores de bens e serviços perdem competitividade, ela pode ter efeitos sobre a economia, mesmo se, depois, voltar ao seu nível inicial.

Há poucos meses, o FMI era o templo da ortodoxia que condenava qualquer intervenção no mercado de câmbio flexível, regime ao qual ele chegou empurrado pelos fatos: o abandono da relação fixa entre o dólar e o ouro.

Por que aconteceu? Porque o regime de Bretton Woods, com taxas de câmbio fixas e reajustáveis sob a supervisão do FMI, não funcionou por muitos motivos, entre os quais a assimetria do “excessivo privilégio” que beneficia o emissor da moeda reserva.

Nada de novo. Basta lembrar Keynes e Triffin! A conclusão é a de que nem o regime de câmbio fixo nem o de câmbio flexível entregam, no longo prazo, o que prometem. Quem decide o “melhor” para cada momento é a história e suas “circunstâncias”, e não a “ciência” econômica.

O velho e sábio Bismarck dizia que não se deve acreditar em alguma coisa enquanto o governo não desmenti-la. É o caso. Só os inocentes não reconhecem o fato, negado tanto pelos EUA quanto pela “Eurolândia”, de que eles têm como objetivo desvalorizar suas moedas, transferindo parte dos seus ajustes para os ingênuos que acreditam na OMC. A China é a exceção: surfa no “dollar standard” e não lhes dá a menor confiança.

Não é por outra razão que a chanceler alemã Angela Merkel prometeu à presidente Dilma que a “farra” acabou. Infelizmente, o “tsunami” está nas ruas e suas consequências não podem ser recolhidas.

Dilma tem razão: a gentileza conforta, mas é irrelevante. Vamos nos defender com toda nossa disposição, inteligência e coragem, a despeito do que pensam saber os missionários do equilíbrio geral…”

Fonte: folha de s.paulo via democraciapolitica

9 Comentários

  1. Esses PhDs de economias e todo os tipos auto-intitulados economistas nunca trabalharam em um chão de fábrica, jamais tivaram de comer angú, arroz e feijão nas duas refeições diárias, o que normalmente seria apenas uma diária, jamais pegaram em uma enxada e viraram massa e ou pediram e venderam chicletes e balas no trem ou sinaleros.
    Esses economistas mundiais foram criados com chocolatinho, vitamina de leite com pêra.
    Assim jamais acreditarei em assuntos de univesidades de economias pois eles jamais viveram no chamado MUNDO REAL.

  2. Dessa vez o Delfim Netto acertou, a Alemanha só faz isso assim como os EUA para ver todos os outros combalidos enquanto se recompõem e catam os pedaços das economias que vão ficando pelo caminho.

  3. Tipo,se conselho fosse bom não se dava, vendia, ainda mais com crise.E mais, salve-se quem puder e dane-se o resto.
    Isso não é selvagem, é capitalismo selvagem.
    Mas o que está valendo hoje e o que vai valer lá na frente são as commodities meu amigo, a Revolução da Matéria Prima está com tudo, ela é concreta, real , não é um número digital no computador.
    Adaptem-se todos.
    ——-
    http://www.monitormercantil.com.br/mostranoticia.php?id=109526

  4. A nossa Presidenta Dilma não está para brincadeira, se eu fosse ela, adotaria por hora o modelo chinês e acabaria de enterrar esses espertalhões !!!

  5. Como disse o amigo StadeuR, a verdade é essa, salve-se quem puder. Em vez de ficar reclamando dos ricos, que estão se lixando para nós, nossos governantes deveriam é tomar providências sérias para proteger a nossa economia, minimizando ao máximo os efeitos dessa crise por aqui.

  6. quem diria em 1989 quando o capitalisno venceu a união sovietica comunista de gorbachov com sua glasnost e perestroika, que num futuro proximo o mundo olharia perplexo e admirado vendo o capitalismo americano patinando e com ele a rica, prospera, civilizada europa a tira-colo, e admirado e invejado vendo a comunista, colossau e super-populoza CHINA como exemplo e modelo a ser seguido carregando o mundo em suas costas, que volta o mundo dá. um abraço amigos

  7. Kiko disse:
    10/03/2012 às 01:21

    Como disse o amigo StadeuR, a verdade é essa, salve-se quem puder. Em vez de ficar reclamando dos ricos, que estão se lixando para nós, nossos governantes deveriam é tomar providências sérias para proteger a nossa economia, minimizando ao máximo os efeitos dessa crise por aqui.=====================Investir forte no mercado interno, reforçando o poder de compra da classe “D” na qual eu me enquadro…essa existe? Sds.

  8. O problema não são os Ph.D.s. por si mesmos. O problema é que o Brasil engole tudo o que os americanos e europeus falam: somos Ph.D.s em sermos papagaios deles, falta até pros Ph.D.s uma educação melhor.

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