O que querem os generais do Egito?

Por Omar Ashour

“Não importa qual seja a maioria na Assembleia do Povo, eles são muito bem-vindos, porque não terão capacidade para impor nada que o povo não queira.” Assim declarou o general Mukhtar al-Mulla, membro do Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA).

O recado de al-Mulla deu a entender que a vitória dos islamitas nas recentes eleições egípcias não lhes confere nem o poder executivo nem o controle para elaborar uma nova constituição. O general Sami Anan, chefe de Estado-Maior e vice-diretor do CSFA, no entanto, procurou reagir rapidamente, afirmando que a declaração de al-Mullah não representa necessariamente a opinião oficial do CSFA.

Um ano depois da revolução que derrubou Hosni Mubarak, então, quem exatamente vai determinar a direção política do Egito?

O certo é que este ano não verá a volta a 2010. O Egito pode ver-se limitado a ficar na pista mais lenta rumo à democratização, mas não pegará o retorno. Os milhares de manifestantes que marcharam na Praça Tahrir no aniversário da revolução garantem.

A vitória eleitoral do braço político da Irmandade Muçulmana e dos partidos salafistas, que juntos ganharam mais de 70% dos assentos parlamentares, lhes dará forte influência no período de transição e na elaboração da constituição, mas eles não estão sozinhos. Além dos islamitas, dois outros participantes poderosos terão voz: os “tahriristas” e os generais.

O ativismo visto na Praça Tahrir não apenas trouxe mudanças sociais e políticas, mas também serviu como instrumento definitivo de pressão pró-democracia sobre os comandantes militares egípcios. De fato, enquanto o Exército, o mais poderoso entre as três partes, oficialmente ainda controla o país, há pouca confiança no compromisso dos generais com a democracia.

Se os generais não querem a democracia, também não querem um governo militar direto à Augusto Pinochet. Então, o que eles querem? Como opção ideal, eles gostariam de combinar o atual poder do Exército da Argélia com a legitimidade dos militares turcos. Isso pressupõe um Parlamento com poderes limitados, uma presidência fraca e subordinada aos militares e prerrogativas constitucionais que legitimem a intervenção do Exército na política.

O mínimo que eles insistem em ter está refletido nas afirmações dos generais al-Mulla, Mamdouh Shahim e Ismail Etman, entre outros. Isso significa ter poder de veto em altas questões políticas, independência para o orçamento e o vasto império econômico do Exército, imunidade jurídica em julgamentos por acusações de corrupção ou repressão e prerrogativas constitucionais que garantam essas disposições.

O novo Parlamento e a Assembleia Constitucional terão de encabeçar as negociações com o CSFA, mas tendo em vista que qualquer transição democrática para ser bem-sucedida precisa incluir um controle significativo dos civis sobre as Forças Armadas e o aparato de segurança, as reivindicações mínimas do CSFA poderiam tirar a significância do processo.

O poder de veto em altas questões políticas incluiria quaisquer assuntos ligados à segurança nacional ou a temas delicados de política externa, especialmente no que se refere à relação com Israel. Com a maioria islamita no Parlamento prometendo “revisar” o acordo de paz com Israel, é provável que aumentem as tensões em torno à política externa.

O império comercial-militar, que se beneficia de taxas de câmbio e impostos alfandegários preferenciais, isenção tributária, direitos a confisco de terras e um exército de trabalhadores quase gratuitos (recrutas), é outra questão espinhosa. Com a economia egípcia em dificuldades, os políticos eleitos podem buscar melhorar as condições agindo contra ativos civis dos militares – ou seja, revendo as taxas preferenciais e impondo alguma forma de tributação.

A imunidade em julgamentos não é menos importante. “O marechal deveria estar preso neste momento”, bradou o esquerdista Abu Ezz al-Hariri eleito parlamentar, no segundo dia de sessões do novo Parlamento. Quando Mahmoud Ghozlan, porta-voz da Irmandade Muçulmana, propôs imunidade (conhecida no Egito como a opção da “saída segura”), enfrentou uma onda de duras críticas.

Pressões dos Estados Unidos também influenciam as decisões do CSFA. “O establishment militar recebe US$ 1,3 bilhão dos EUA […] Eles são muito compreensivos aos pedidos dos EUA”, segundo Saad Eddin Ibrahim, que fez lobby no governo Obama para apoiar a revolução em janeiro de 2011.

A maioria das decisões pró-democracia do CSFA, no entanto, foi resultado das pressões populares na Praça Tahrir. Isso incluiu a derrubada de Mubarak, seu julgamento (e o de outros nomes do regime) e antecipação da eleição presidencial de 2013 para junho de 2012.

Dois outros fatores são igualmente, se não mais, influentes: o status quo herdado da era Mubarak e a coesão interna do Exército. Com poucas exceções, os membros do CSFA foram beneficiados substancialmente durante o regime de Mubarak. Eles tentarão preservar o máximo possível desses benefícios.

“A presença de oficiais uniformizados protestando na Praça Tahrir e falando à ’Al Jazeera’ preocupou realmente o marechal”, disse um ex-oficial. E uma forma de manter a coesão interna é criar “demônios” – uma lição aprendida nas “guerras sujas” da Argélia nos anos 90 e da Argentina nos anos 70 e 80.

Os manifestantes cópticos, em particular, são alvo fácil para congregar soldados e oficiais. Em outubro, em meio à escalada de violência sectária, a televisão estatal mostrou um soldado egípcio hospitalizado gritando: “Os cópticos mataram meu colega!”.

Apesar de tudo, o Egito democrático não é uma fantasia romântica. Há um ano, Saad al-Ketatni, líder da Irmandade Muçulmana, nunca teria sonhado em ser o presidente do Parlamento. O mesmo se aplica aos esquerdistas e liberais que agora têm 20% dos assentos parlamentares.

Se 2011 testemunhou o milagre da destituição de Mubarak, uma reafirmação institucional ousada por parte do Parlamento, aliada a pressões tahiriristas não institucionais, poderia forçar os generais a aceitar a transferência do poder para os civis (com alguns domínios reservados ao establishment do Exército) em 2012. O certo é que este ano não testemunhará um retorno às condições de 2010. O Egito pode ver-se limitado a ficar na pista mais lenta da estrada rumo à democratização, mas não pegará o retorno. As centenas de milhares de pessoas que marcharam na Praça Tahrir no aniversário da revolução vão garantir isso. (Tradução de Sabino Ahumada)

Omar Ashour é professor visitante do Brookings Doha Center e diretor do Programa de Estudos de Graduação sobre Oriente Médio, no Instituto de Estudos Árabes e Islâmicos da University of Exeter. É autor de “The De-Radicalization of Jihadists: Transforming Armed Islamist Movements” Copyright: Project Syndicate, 2012.

Fonte: Valor Econômico via PortoGente

13 Comentários

  1. Petrobras anuncia descoberta de petróleo e gás na Amazônia
    Reserva está localizada no município de Coari, a 25 km da petrolífera de Urucu (AM)

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    ….A Petrobras anunciou nesta sexta-feira a descoberta de uma nova acumulação de óleo e gás na Bacia do Solimões, no Amazonas.

    Em comunicado ao mercado, a companhia informou que a reserva, localizada no Município de Coari, a 25 km da província petrolífera de Urucu (AM), indicou capacidade de produção diária de 1.400 barris de óleo de boa qualidade (41º API) e 45 mil m3 de gás, na Formação Juruá.

    O poço foi perfurado a uma profundidade final de 3.295 metros. Em comunicado, a empresa afirma:

    – Este é o segundo sucesso exploratório no Bloco SOL-T-171, onde já está em andamento, desde 2010, o Plano de Avaliação da Descoberta do poço 1-BRSA-769-AM, informalmente conhecido como Igarapé Chibata”, afirmou a Petrobras.

    Segundo a companhia, confirmada a viabilidade econômica das descobertas, elas viabilizarão a criação de um novo polo produtor de petróleo e gás natural na Bacia do Solimões.

    A empresa detém 100% dos direitos de exploração e produção na concessão. A companhia produz diariamente no Amazonas 53 mil barris de óleo e 11 milhões de m3 de gás natural além de 1,3 mil toneladas de GLP.

  2. Europa e EUA sabem que só podem controlar o pais com um regime. Na mão do povo, não haverá preferencia ocidental. Logo a carapuça de uma revolução em prol da democracia cai por terra.
    O ocidente só quer derrubar os regimes para re-colonizar recursos e de quebra fazer propaganda de suas máquinas de guerra com bombas perto do prazo de vencimento.

  3. REPETINDO O PASSADO
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    A velha e antiga ditadura,um agente pró-ocidente que os americanos colocaram no Egito,como foram com Mubarak.
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    Os calhordas com muita certeza farão e seguirão os preceitos americanos e sionistas que há muito escravizam o povo egípcio.
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    Com uma ditadura militar,que nós brasileiros conhecemos o poder da letalidade que faz contra a democracia;os egípcios terão outra primavera árabe ou outro pau mandado americano para atrasar as suas vidas.

  4. O JOGO NO EGITO
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    Bem recente o mundo viu que a população egipcia não engoliu o sapo ianque que fora ali colocado para substituir o outro “faraó” abençoado pelo deusinho Tio Sam,que antes fora jogado ali pelas suas mãos e por 30 anos,chicoteava a população egipana.

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    ***********(trechos do original)
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    As torcidas organizadas e a Revolução egípcia
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    As torcidas organizadas que surgiram na América Latina nos anos 70 apareceram recentemente no Egito.
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    Os primeiros grupos apareceram em 2005 e, quase imediatamente, entraram para a oposição ao regime do deposto Hosni Mubarak e aos membros de seu braço político, o Partido Nacional Democrático (PND).
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    Os torcedores radicais da equipe do Cairo, Ahly, e os do Zamalek foram os que mais se comprometeram no combate contra Mubarak.
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    Não parece ser um acaso que tenham sido agora objeto de uma vingança sangrenta ante à passividade cúmplice da polícia.

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    (*)Por:Eduardo Febbro.
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    (…)Autônomos nos planos político e material, já que não dependem dos clubes com os quais simpatizam, eles fizeram da guerrilha contra as forças da ordem um estilo de vida.
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    “Seu desenvolvimento foi tão rápido quanto sua capacidade de se organizar”.
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    Os analistas egípcios davam conta de que, depois da Irmandade Muçulmana, os clubes de torcedores que nasceram nos meados do ano 2000, eram as estruturas mais organizadas do país.
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    Duas torcidas se destacam entre todas : a White Knights, dos torcedores do clube Zamalek SC, e a dos torcedores do Al Ahly Sporting Club, um dos grupos envolvidos no massacre de Porto Said.(…)
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    (*)Fonte:cartamaior
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    http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19530

  5. MINEIRINHO meu caro todas as reservas petroliferas e de gaz na Amazonia são conhecidas mas mantidas em segredo desde a decada de 70.As reservas naturais e indigenas estão assentadas encima delas,isso foi uma extrategia de preserva-las.O alto Rio Negro ate a fronteira com a Venezuela É XISTO PURO…………………Os militares Egpicios estão é com um baita problemão e com certesa são precionados pelos EUA que é precionado por Israel.Querendo ou não,agradando ou não o Egito tera governo Islamico fundamentalista ou não e isso pode significar problemas fronteiriços para Israel…NESSE ANGU TEM CAROÇO E COMO TEM.

  6. Nao se pode descartar que havia elementos financiados por grupos com vinculo com o Departamento de Estado e Cia dos EUA. Pessoal treinado por grupos norte americanos usar o internet para atividades de subvercao contra o regime. A CIA, ciente da podridao do regime, e informada do odio que a populacao sente pelo regime sabia que o regime estava preste a implodir. Dai ela colocar gente sua em posicao de direcao no comando dos jovens que iniciaram essa rebeliao do povo egipicio contra o regime. Esse pessoal estao la para previnir que a rebeliao tome uma direcao que vai congtra os interesses dos imperialistas do ocidente e contra o sionismo israelita. O problema para as massas egipicia e que eles enfrentam um regime ditatorial que nao pode ser desvinculado do sistema capitalista internacional em crise. Nao ha saida democratica burguesa para essa crise. Mas as massas egipcias aparentemente ainda ve o mundo atraves de uma perspectivas nacionalistas religioss, a Irmandade Mulsumana. Esse grupo foi criado, com ajuda do servico secreto ingles, MI6, nos anos 1920/30. Sua ideologia foi inspiradas nos escritos de ideologos fascista europeu, como Spengler e Evora, etc. Nao oferece solucao para as massas egipicia. Se tomar o poder vao manter o sistema de exploracao capitalista, vao continuar por em pratica a politica economica exigida pelo FMI, fatores sao resposaveis pela imiseracao dessas massas. O que ocorre no Egito hoje faz lembrar-me o que ocorreu no Iram em 1978/79. O mesmo odio da massa contra um regime facista que devido a fraqueza ideologica das massas, isto e, devido a ausencia de uma alternativa proletaria revolucionaria independente, deixou as massas desarmadas e treladas aos mullah religiosos, que seguiam uma agenda propria, que nao oferecia ao povo iraniano, nada mais que mais sofrimento e miseria, agora sob a bandeira religiosa. Um regime fascista secular substituido por outro regime fascista so que teologico. Sou pessimista, quanto o que o futuro imediato reserva ao povo egipcio. O fascismo de Mubaraqui substuido pelo fascismo da Irmandande Mulsumana. Mas resumindo, posso dizer, que o problema da massaS arabe, gregas, italiana, espanhola e portuguesa e o problema da humanidade como um todo mais uma vez se resume ao problema de direcao do proletariado. Enquanto essa questao nao for resolvida, nao espero nada mais do mais guerras, crises e fascismo

  7. Se fosse uma teocracia como no Irã seria melhor… E vs viram que o Irã lançou seu terceiro satélite ao espaço essa semana?

  8. Se fosse uma teocracia como no Irã seria melhor… E vs viram que o Irã lançou seu terceiro satélite ao espaço essa semana?

  9. Os setores liberais fizeram as manifestações e derrubaram Mubarak, contudo os islâmicos usurparam para si a revolução tal como fizeram no Irã. COntudo, cabe ao exército zelar pelo Egito. No mais, achar que três satélites justificam um regime teocrático, medieval e totalitário é absolutamente lamentável

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