Ex-hacker brasileiro projeta miniaviões para encontrar carros roubados

O tempo não decide entre ensolarado, nublado e chuvoso na Ilha de Guaratiba — bairro do Rio de Janeiro a 45 km do centro. “É bom que a gente já vê se o aviãozinho se garante em qualquer clima”, diz o engenheiro Wanderley Abreu Júnior. É o primeiro teste oficial do seu Veículo Aéreo Não Tripulado (doravante, Vant). Quem olha não dá nada. O aeromodelo mede 1,60 m da ponta de uma asa à da outra e pesa 750 g, mas tem versões maiores — de 3,5 kg e de 20 kg. O design também não é o forte, mas isso não parece preocupar Abreu Júnior. Seu negócio não é fabricar as aeronaves, mas o sistema de câmeras e sensores infravermelhos que as transforma em robôs de vigilância e monitoramento de tráfego.

Os Vants desenvolvidos pelo brasileiro são bem diferentes daqueles que ficaram conhecidos por custarem milhões de dólares e participarem de ações militares como a Guerra do Afeganistão e a captura de Bin Laden. Fazem parte de uma nova leva de veículos mais baratos, com menos recursos e projetados para o uso civil. Abreu Júnior não está só. A polícia da Austrália já recomendou ao governo que adote esse tipo de equipamento na busca por automóveis roubados, e a Inglaterra planeja empregar Vants durante as Olimpíadas para patrulhar bancos, motoristas com “comportamento antissocial” e manifestantes. Esse tipo de Big Brother aéreo é também o objetivo do brasileiro. Seus aviões poderão monitorar o trânsito, auxiliar na busca de veículos suspeitos e no controle das fronteiras de propriedades rurais. O software do equipamento é preparado para, por exemplo, identificar a placa de um carro roubado e fornecer a sua localização à polícia.

Não é de hoje que Wanderley Abreu Júnior está envolvido com tecnologia de segurança. Ele ficou famoso no começo dos anos 2000 por ter ajudado a Procuradoria da República a desmontar redes de pedofilia. Filho de um engenheiro eletrônico em telecomunicações, começou a hackear ainda na infância, quando adotou o apelido “Storm”. Um dia mostrou para o pai um material que tinha encontrado no site da CIA, e ele ficou desesperado: “Devolve essa porcaria!”. Mas, em vez de ser preso, o garoto era convidado por instituições invadidas para que cooperasse com o sistema de segurança — foi assim que conheceu a Nasa. A habilidade virou trabalho, ele abriu a empresa Storm Security, e começou a ajudar a polícia a apontar os crimes virtuais. “Virei parte do negócio. Cheguei a pular o muro de uma casa com os policiais para pegar um pedófilo.”

Formado em Engenharia Mecatrônica na PUC-Rio (“a gente fazia muita guerra de robôs no laboratório”), e com pós no MIT (“colei demais de um chinês lá”), ele também trabalhou para a Agência Espacial Europeia em 2006, num projeto de criptografia para as redes da Otan. “Fazia gestão de falhas para sistemas que não podem parar e nem ser hackeados, como usinas nucleares.” Na Agência, os pesquisadores eram estimulados a desenvolver projetos. Foi aí que veio a ideia de projetar aviões não-tripulados de baixo custo, que decolou quando voltou ao Brasil, no final de 2007.

Durante os testes, Wanderley convidou o amigo Luciano Freitas de Agostinho para pilotar o avião. Além da pista de aeromodelos, Agostinho é dono da fábrica que havia produzido o aeromodelo de testes. “Eu não sou muito bom nisso, fico só com a tecnologia”, diz Abreu Júnior. Os dois bolaram um minissistema de aparelhos de navegação, com sensores de pressão, acelerômetro, GPS, um giroscópio (que ajuda na orientação do avião) e um tubo de pitot (instrumento para medir a velocidade do ar). Tudo colado artesanalmente com fita filamentosa.

O sistema é o mesmo nas versões maiores do Vant, a diferença fica no peso que os aviões podem sustentar, no tempo de voo e na decolagem — os menores não decolam sozinhos, precisam ser lançados. Ele explica que é possível controlar até 5 aviões de um computador e mostra vídeos de voos anteriores: numa tela, a imagem nítida captada pela câmera com zoom óptico de até 10 vezes; noutra, a rota especificada por pontos no GoogleMaps: tudo elaborado com softwares livres.

O Vant de Abreu Júnior é cria de um projeto militar da Companhia Europeia de Defesa Aeronáutica e Espacial com aplicações civis. A maior aeronave do projeto do ex-hacker tem autonomia de até 26 horas de voo e, além de monitorar carros e tráfego, pode levar cargas para dispersão química, em voos planejados para jogar agrotóxicos em uma fazenda. Outra aplicação prevista é disparar gás de pimenta sobre multidões descontroladas. Mas ele não quer vender o produto para militares: polícia sim, além de fazendeiros que desejem controlar as fronteiras de sua propriedade e companhias que gerenciam o trânsito.

O maior diferencial do projeto é o custo. A versão mais barata do aeromodelo será vendida por R$ 25 mil. Para o avião médio, o preço inicial será de R$ 100 mil (sem dispersão química nem câmeras com infravermelho) e o avião maior não sairá por menos que R$ 1,2 milhão. Ainda um preço ridiculamente baixo perto de versões militares como o caça Reaper, que custou US$ 10 milhões aos Estados Unidos.

Fonte: Revista Galileu

9 comentários em “Ex-hacker brasileiro projeta miniaviões para encontrar carros roubados

  1. Viram, Sempre confiei e confio no Brasil. É Só questão de tirar os políticos do caminho que a coisa vai. Tudo que passa pelo público custa o olho da cara. Lógico que se fosse feito para uso militar custaria mais, mas não tanto. Na ótica do público tudo custa dez vezes mas e isso não significa que seja melhor, na maioria das vezes é o contrário.



  2. não é questão de confiar… e sim de incentivar…

    não dou 03 anos para a China inundar o mercado com esse tipo de produto…

  3. dez vezes! tá brincando, vamos deixar por 100 ou muito mais,a muita exploração e comição para politicos e governo,sem falar em ospedagem em hoteis por conta do fabricante,toda a despesa paga,porconta do contribuinte na verdade,quanto os franceses,americanos,suécos,ja gastaram e só um pocivelmente levara,é tempo e muita grana no lob propaganda em varias revistas jornais,saits tv,é muita grana,mas quem mais leva são os politicos sem duvida,e quem perde é a população,que é roubada.

  4. xtreme disse:
    28/01/2012 às 12:46



    não é questão de confiar… e sim de incentivar…

    não dou 03 anos para a China inundar o mercado com esse tipo de produto…

    COMPLETAMENTE DE ACORDO CONTIGO CARA.

  5. StadeuR disse:
    28/01/2012 às 21:22
    Caro colega StadeuR ,gente como tu,só vai comprar de fora ,se dependese de vc,o Brasil vai de cú pro chão,é a intensão,e por outra parte,não é só camara,1º leia o texto pra logo falar.Se fosse os Americanos vc babaria pelo avião,creio que vc é um baba ovo de extrangeiros,então porque não inventa algo com pouco dinheiro e eu dou aplausos pra vc.

  6. Mas a pergunta não foi respondida : Quanto??
    Apesar dos EUA possuirem mais de 6.000 vants diversos em seus inventários,o programa global hawck americano foi cancelado, o motivo qual seria (?), eficiência ou PREÇO ?
    Todos os países estão cancelando aquisições ou diminuindo elas por contenção de despesas.
    Ora, o Brasil sequer fez suas aquisições e não podemos quebrar no meio desse processo; por isso a pergunta não cala : QUANTO???
    Sou contra materiais adquiridos prontos, devemos fabricá-los aqui após obtermos as tecnologias necessárias, por isso não gostei dos navios adquiridos do reino unido, mas entendi dada a urgência do pré sal e O PREÇO $$$$$$ proposto.
    E por falar em urgência, já abrimos as pernas pois as tais aquisições de OPORTUNIDADE começaram, e fazendo uma projeção e com os EUA fazendo contenções, devo prever, salvo grande engano, que deles virão muitas compras de OPORTUNIDADES USADAS.
    Sou contra.
    Nenhuma iniciativa tecnológica brasileira deve ser inibida, mas como eu disse o QUANTO (????????) tem muita importância, pois esse item é que vai nortear a quantidade e até a qualidade de produtos diversos.
    E nesse momento de fortalecimento de aquisições $$$$$$ até o bobinho do José Dirceu tem dado entrevista preocupado com a nossa defesa.
    E pelo que eu saiba, os blogs de defesa e seus blogueiros, apesar das divergências de opiniões, tem SIM que analisar todos ângulos de cada matéria colocada neles . Doa a quem doer.
    Nesse momento essa é nossa trincheira, MEU CAMARADA.
    ———–
    http://exame.abril.com.br/economia/politica/noticias/jose-dirceu-diz-lamentar-saida-de-jobim-da-defesa-2

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