Milícias podem criar guerra civil, avisa líder líbio

Líder do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mustafa Abdul-Jalil

J. DAVID GOODMAN
DO “NEW YORK TIMES”

Depois dos enfrentamentos mortais ocorridos entre combatentes rivais na capital líbia esta semana, o governo de transição do país vem expressando receio crescente de o país mergulhar em uma guerra civil se suas milícias não forem controladas.

O líder do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mustafa Abdul-Jalil, avisou que o governo enfrenta “opções amargas” em seu esforço para controlar milhares de milicianos cujas unidades se formaram ao longo de meses de batalhas contra Muammar Gaddafi e que permanecem na capital, meses após a morte deste.

Desde a queda de Gaddafi a capital, Trípoli, vem sendo palco de trocas de tiros entre grupos rivais vindos de outras partes do país, que entraram na cidade quando ela caiu e em seguida delimitaram seus territórios próprios nela. O governo líbio esperava ter expulsado esses milicianos da cidade até 20 de dezembro.

Com grande número de combatentes ainda na cidade, Jalil descreveu o dilema com que o país se defronta em discurso feito na noite de terça-feira em Benghazi, no leste do país.

“Lidamos com essas violações com dureza e colocamos os líbios em um confronto militar, coisa que não aceitamos”, ele teria declarado, segundo a agência Reuters. “Ou então nos dividiremos e haverá uma guerra civil.”

Os líderes de transição líbios vêm procurando criar um exército nacional robusto, reunindo os resquícios das forças de Gaddafi com ex-combatentes rebeldes. Eles estão procurando convencer outros combatentes a retornarem à vida civil, criando empregos para aqueles que depõem suas armas.

Mas, segundo Jalil, os esforços não vêm dando resultado. “A resposta até agora tem sido fraca”, disse ele. “As pessoas não querem abrir mão de suas armas.”

No mês passado uma milícia poderosa da cidade de Zintan, no oeste do país, trocou tiros com soldados do Exército Nacional Líbio num checkpoint comandado pela milícia na estrada que leva ao aeroporto internacional de Trípoli. A milícia vem montando guarda sobre o aeroporto desde agosto.

Na terça-feira, numa das ruas mais movimentadas da capital, um tiroteio de uma hora opôs combatentes baseados em Trípoli a uma milícia fortemente armada de Misrata; dois combatentes morreram. De acordo com agências de notícias, os milicianos de Misrata tentavam libertar prisioneiros de um complexo controlado pelos combatentes locais.

Jalil avisou que enfrentamentos como esses colocam em perigo o progresso político da Líbia.

Presidente Nicolas Sarkozy da França, Mustafa Abdel-Jalil Lider do Conselho Nacional de Transição da Líbia, e o Primeiro-Ministro David Cameron da Grã-Bretanha – Comemorando a vitoria da OTAN sobre a Líbia de Muammar Muhammad Abu Minyar Gaddafi Foto: Philippe Wojazer

“Se não houver segurança, não haverá lei, desenvolvimento ou eleições”, disse ele. “As pessoas estão fazendo justiça com as próprias mãos.”

TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN

2 Comentários

  1. Opa, quem foi mesmo que armou as milícias?
    Isto que é proteger o povo Líbio de um ditador?
    Estamos perdendo a vergonha na cara. Só achamos ruim quando pisam no nosso calo, quando é no calo dos outros que os outros se explodam.

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