Liderança alemã na crise do euro ressuscita fantasmas de guerra na França

O sol se põe ao lado da Quadriga no topo do Portão de Brandemburgo, em Berlim.

Sarkozy é acusado por oposicionistas de ‘capitular’ diante de Merkel, ‘comparada’ até a Hitler.

A liderança da Alemanha na dobradinha Merkel-Sarkozy para salvar o euro da crise desencadeou na França uma polêmica sobre uma suposto sentimento de “germanofobia” no país. Membros da oposição citam embates dos tempos das guerras para acusar o presidente francês de “capitular” nas negociações com a chanceler alemã.

Sarkozy, por sua vez, defende a aliança França-Alemanha para salvar o euro. Os dois países são considerados o eixo da integração europeia e da moeda comum.

Membros do partido socialista afirmam que Sarkozy estaria deixando de lado os interesses da França e abdicando da soberania do país ao se submeter às exigências da Alemanha, que tentaria impor uma nova ordem econômica à Europa, com maior disciplina e controles orçamentários.

Nesta segunda-feira, Sakozy e Merkel defenderam que os tratados europeus sejam revisados para prever sanções automáticas aos países que não respeitarem regras de déficit público, de até 3% do PIB.

O deputado socialista Arnaud Montebourg (pré-candidato nas primárias para as eleições presidenciais de 2012) associa a política de Merkel à conduzida pelo ex-chanceler Otto von Bismarck, que liderou a unificação alemã em 1870 em meio a uma guerra com a França.

“Bismarck fez a escolha política de reunificar os principados alemães, buscando dominar os países europeus, em particular a França. Com uma semelhança evidente, Merkel tenta resolver seus problemas internos impondo medidas dos conservadores alemães ao resto da Europa”, disse Montebourg.

Para o deputado socialista, a antiga política de expansão territorial da Alemanha, que chegou a seu ápice na Segunda Guerra (1939-1945), quando a maior parte da França foi ocupada por tropas alemãs, estaria agora voltada “para o campo do domínio econômico”.

‘Expansão alemã’

O também socialista Jean-Marie Le Guen comparou Sarkozy ao político francês Édouard Daladier.

O diplomata assinou os acordos de Munique de 1938 (entre França, Reino Unido, Itália e a Alemanha de Hitler), que permitiram à Alemanha anexar parte do território da antiga Tchecoslováquia, sem contrapartidas aos demais países signatários.

Le Guen associou a reunião entre Sarkozy, Merkel e o novo premiê italiano, Mario Monti, em Estrasburgo, no final de novembro, aos Acordos de Munique.

O pacto, firmado em 1938 por franceses, italianos e britânicos, permitiu à Alemanha nazista a anexar parte da então Tchecoeslováquia. A referência de Le Guen foi vista como uma comparação entre Merkel e Hitler.

O socialista Julien Dray lembrou que Toulou, onde Sarkozy fez um discurso especial defendendo o euro, na última semana, é o local onde a Marinha francesa decidiu afundar voluntariamente sua frota, em 1942, para escapar do Exército alemão e impedir que os nazistas tomassem os navios atracados na costa do Mediterrâneo.

“Há coincidências na História que são surpreendentes. O discurso de Toulon marca uma reviravolta na direita francesa, a do abandono do princípio da independência nacional”, afirmou Dray, referindo-se às declarações de Sarkozy sobre a união entre a França e a Alemanha para assegurar a estabilidade da zona do euro.

‘Velhos demônios’

O governo reagiu às críticas da oposição afirmando que os socialistas, por razões eleitorais, “estão assumindo os riscos de ressuscitar os velhos demônios da germanofobia” na França, disse o ministro das Relações Exteriores, Alain Juppé.

Sarkozy declarou nesta segunda-feira, após se reunir com Merkel em Paris, “desejar, qualquer que seja o calendário eleitoral, que cada um (dos partidos) saiba corresponder (o papel político que lhes deve), à altura de suas responsabilidades, e que não brinquem com a história dos dois países, que foi muito dramática”.

O presidente disse ainda que “Merkel e nossos amigos alemães sabem que esses comentários não são feitos por pessoas responsáveis”.

A chanceler alemã também reagiu as críticas feitas ao seu país.

“Os que dizem isso estão na oposição. Fiquemos contentes de estarmos no comando”, disse Merkel.

‘Germanofobia’

Pascal Perrineau, diretor do centro de Pesquisas Políticas do instituto Sciences-Po de Paris, diz que a “germanofobia é uma marca profunda” da cultura política francesa desde o século 19.

“Claro… a percepção em relação à Alemanha melhorou muito nas últimas décadas. Mas os esteriótipos só estão adormecidos. Eles podem acordar em um contexto onde a Alemanha pode ser acusada de não agir coletivamente e de ser muito rígida”, diz o especialista.

Sarkozy defendia a ideia de que o Banco Central Europeu (BCE) pudesse comprar títulos da dívida dos países em crise para acalmar os mercados, uma antecipação do plano de emissão de eurobônus (títulos comuns de todos países da zona do euro), defendido por alguns analistas.

Diante da insistência de Merkel de que o BCE é independente, o presidente francês também passou a ressaltar a independência do banco.

O governo francês espera que o BCE continue comprando, como já fez, de maneira discreta, papéis de países da zona do euro, mas não conseguiu que isso fosse incluído no acordo com a Alemanha.

BBC Brasil

Fonte: Estadão

10 Comentários

  1. Ai está o problema da Europa, xenofobia, isso que atrapalha a possibilidade salvação do euro. A crise européia é mais política que econômica, o problema é que ninguém quer assumir sua parcela de culpa, os alemães falam que os gregos são preguiçosos e que não devem pagar uma divida que não é deles, mas esquecem que quem mais ganhou com a criação da zona do euro foi à Alemanha, ao conseguir abrir maios os mercados de outros países europeus para seus produtos.
    O euro é um projeto político e não econômico, mas pode se tornar, só que os países terão de se desfazer ao menos de parte de suas soberanias. Será que eles estão dispostos?

  2. nao adianta a frança vai acabar sendo uma “subordinada” dos alemaes, daqui a alguns anos a europa inteira pode estar nas maos dos alemaes(parabens a eles), eles merecem, o que a alemanha e a frança devem fazer é isolar o reino unido que mais se mostra favoravel(pau mandado) aos americanos, do que aos europeus.

  3. Não entendendo que frescura é essa?? A Alemanha é quem está sustentando esse bando de falido!!! Ahhh..os alemães é que tem motivo pra sair de perto desses traíras, depois de serem massacrados em duas guerras ainda tentam sustentar esses parasitas. Tão com medinho dos alemães? Blz, a porta da rua é serventia da casa…mas só sai se pagar a conta! Caso contrário é bala na cara!!

  4. Sabem por que isto esta a acontecer??? É que esses países “ricos” simplesmente se negam a emprestar dinheiro via FMI, o que deveria ser feito e evitaria aprofundar a receção e os seus efeitos colaterais. Pois emprestar dinheiro via FMI financiado por Brasil, China, Russia, India, Africa do Sul e outros mais. Seria o que eles mais temem: UMA COLONIZAÇÃO AS AVERSAS. Assim eles terão de escolher entrar de volta naquelas guerras Franco-Germanicas ou ser colonizados por seus antigos colonos.

  5. Isso apenas demonstra a inabilidade da burguesia europeia criar uma Europa unificada. Tentaram mas falharam! O x da materia e que os bancos franceses estao correndo o risco de ir a falencia, dado a virtual falencia da Grecia, Italia e Espanha. Franca espera que Alemnha venha salva-los, mas esta nao esta em condicao de faze-lo sem ir ela propria em bancarrota. Tudo isso deve ser visto dentro do contexto da crise economica, que repito, nao comecou ontem, nem nos anos 2007/2008, mas foi precipitado em Agosto de 1971, quando o presidente Nixon decretou o fim do acordo de Bretton Wood. E que levou Nixon assinar esse decreto foi o fim da expansao economica que foi possivel apos as destruicoes massiva de capital e do massacre de mais de 100 milhoes de pessoas durante a a segunda guerra mundial. Desde 1971, o sistema capitalista vem capengando, fez tudo possivel para evitar nova confrontacao com o proletariado e guerras no ocidente, mas os resultados tem sido uma recuperacao economica superficial, de pouca duracao. E agora o sistema despencou. Repito, Guerras, Revolucoes e contra revolucoes estao de volta na ordem do dia. Socialismo ou Barbarismo e a questao.

  6. A Alemanha merece!!
    Incrível se pensar que esse país até “ontem não passava de escombros, não se você pensar que os alemães foram responsáveis por nos ter levado a lua, dentre outras pesquisas na área nuclear, química e biológica…..

  7. Os esnobes franceses, estão tentando patrulhar os GRANDES FRANCESES, Sarkozy esta longe de ser um grande Francês é verdade, mas, nesse caso, ele fez a escolha correta, e a escolha correta, gostem ou não os esbanjadores e fora da realidade, É APOIAR A ALEMANHA.
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    Nas vacas gordas os Alemães fizeram acordos com sindicatos, de empregados e empregadores, pouparam horas-extras, pouparam recursos e evitaram gastanças desmedidas, ainda assim, ficaram abaixo do que eles próprios tinham traçado como metas, mas isso foi suficiente para fazer a economia alemã a tábua de salvação que a CEE se apoia hoje.
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    Alguns sofistas tolos, em alguns países (como a França) querem fazer parecer o estado social alemão de hoje, como o estado imperialista de Bismarck, o que é uma grande tolice, uma retórica estúpida para militantes de faculdades.
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    Ao invés de parar de financiar o ócio, alguns estados Europeus, deveriam descer do salto alto em que se meteram, pegar uma enxada, plantar alguma coisa em suas terras com o dinheiro dos subsídios agrícolas, ao invés de deixar as terras abandonadas como em Portugal, ou a Grécia por exemplo, poderia parar de empregar uma tripulação de destroyer para operar uma simples balsa.
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    Uma coisa eu tenho certeza, o estado alemão, bem como os fundos privados e públicos alemães preferiam investir no que sempre investiram, TECNOLOGIA DE PONTO PARA SEU PARQUE INDUSTRIAL CONTINUAR CADA VEZ MAIS COMPETITIVO, MESMO LUTANDO CONTRA CHINA, JAPÃO, CORÉIA, ETC; ao invés de emprestar dinheiro praticamente a fundo perdido para perdulários BABACAS com manias de grandeza, perdidos no sonho de se acharem novos ricos.

  8. Parabéns a Alemanha!Que pena que eles tem que sustentar esse bando de babacas,aliás,não dou muito tempo pro Reino Unido se render aos germânicos,os EUA estão falindo,a doença chamada “Crise Econômica” está corroendo os EUA por dentro,em pouco tempo eles não vão mais dá conta de sustentar certas nações,o Reino Unido na minha opinião vai ser um tipo de Coréia do Norte sendo que capitalista,quando a “mesadinha” deles acabar vão se lascar mais do que estão agora,vão ter que recorrer aos Alemães,os que saem da Zona do Euro é falência imediata,é obedecer aqueles que mandam,como diz o velho ditado “Manda quem pode,Obedece quem é esperto.”

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