O dilema do Kremlin: pacote de bondades ou prova de força?

Primeiro ministro Vladimir Putin

Análise: Timothy Heritage / Reuters

Eleitores russos enviaram ao primeiro-ministro Vladimir Putin – que deve voltar ao Kremlin, em 2012 – uma mensagem clara: ele precisa fazer mais para mantê-los contentes se pretende ampliar seu domínio sobre a Rússia por mais 12 anos.

Após ver o seu partido, o Rússia Unida, perder a confortável maioria no Congresso, Putin vê-se diante de um dilema. Pode gastar mais para superar o problema, ou então endurecer o discurso para mostrar que continua no comando. É provável que ele opte pelo primeiro rumo, tratando dos problemas econômicos que encabeçam a lista de queixas de muitos russos, enquanto prepara seu retorno à presidência nas eleições marcadas para março.

“Tudo indica que ele deve gastar mais. Foi o que Putin fez como premiê. Ele já aumentou os salários do Exército e a pensão dos aposentados e está prestes a dar um aumento aos professores”, disse Boris Makarenko, do Centro de Tecnologias Políticas de Moscou. “A pior opção seria apertar ainda mais os parafusos. Não funcionaria, e não é isso que desejam os eleitores que o abandonaram.”

Uma guinada à esquerda na composição da Câmara Baixa (Duma), na qual os comunistas obtiveram ganhos expressivos, poderia dar a Putin novos motivos para usar o poder do governo para distribuir benefícios e acomodar a oposição. Mas o ex-espião da KGB, que construiu para si a imagem de sujeito durão participando de fanfarronadas na TV – como um episódio em que foi mostrado cavalgando sem camisa – pode achar difícil resistir à pressão, vinda até de seu partido, no sentido de recorrer ao estilo mais enérgico e autoritário que marcou sua presidência, de 2000 a 2008.

Tropeços. “(Os membros do partido) querem que Putin volte à presidência da Federação Russa (…) e querem o estilo político do seu primeiro mandato”, disse Sergei Markov, presidente do Instituto de Pesquisa Política e membro do Rússia Unida. Ele disse que a primeira tarefa de Putin seria “limpar o partido dos elementos corruptos”.

Aos 59 anos, Putin deve se manter calmo antes de revelar seu jogo. Por enquanto, apenas reforça a necessidade de continuidade no governo e de um estímulo à economia. Mas é provável que a eleição de domingo tenha dado início a furiosos debates nos bastidores envolvendo a escolha da estratégia para recuperar a confiança do eleitorado.

O Rússia Unida vem sofrendo reveses desde 24 de setembro, dia em que Putin chocou até seu partido com o anúncio de sua intenção de retornar à presidência. O momento que deveria marcar o início do avanço do partido rumo a uma esmagadora vitória na eleição parlamentar revelou-se um divisor de águas por outros motivos. Os políticos leais ao partido observaram pasmos enquanto Putin anunciava ao Parlamento lotado que entregaria o cargo de primeiro-ministro ao presidente Dmitri Medvedev no ano que vem, e seu protegido lideraria o Rússia Unida nas futuras eleições.

Os funcionários do partido tiveram de trabalhar rápido para mudar cartazes feitos para uma campanha cujo foco deveria ser Putin, ainda o político mais popular da Rússia. Mas, liderada por Medvedev, a campanha nunca decolou. Ele e Putin rejeitaram participar dos debates na TV, e as atividades de Medvedev na campanha resumiram-se principalmente a tirar a gravata para se reunir com eleitores e explicar em detalhes suas propostas.

TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Fonte: Estadão

9 Comentários

  1. Enquanto uns são reféns de ditadores e mafiosos..
    Outros são reféns de bancos e de grandes congloomerados da industria bélica e de infra-estrutura

  2. A Rússia não é uma ditadura, Berlusconi foi primeiro-ministro por quase 18 anos. Tatcher outros tantos, e por ai vai, porque quando um lider volta ao poder em um país fora do grupelho passa a ser tachado de ditador.

Comentários não permitidos.