‘Brasil atrapalha a luta por democracia na Síria’, diz opositor

Burhan Ghalioun, presidente do Conselho Nacional de Transição da Síria

Para líder que se reuniu com Hillary esta semana, Brasília ‘está desinformada’ sobre a violência em seu país.

Jamil Chade

A diplomacia brasileira está “desinformada” sobre a repressão na Síria e cria “sérios obstáculos” ao insistir na necessidade de manter um canal de diálogo com o presidente da Síria, Bashar Assad, diz Burhan Ghalioun, presidente do Conselho Nacional de Transição da Síria – grupo que tenta reunir a oposição ao regime e começa a ser considerado o principal interlocutor de governos como o dos EUA ou da França.

Nesta semana, Ghalioun esteve reunido com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, em um encontro em Genebra. Acadêmico da Sorbonne, ele falou com exclusividade ao Estado após esse primeiro contato com Hillary e disse que a única solução que a oposição aceitaria seria agora a saída de Assad do poder. “Não aceitaremos nada menos que isso”, declarou. Ghalioun ainda defendeu a decisão de armar a oposição e apontou para uma “longa guerra civil” que só teria fim quando Assad deixar o país. A seguir, trechos da entrevista.

Estado: O que sr. espera do apoio americano na luta contra Assad?

Burhan Ghalioun: Nos encontros que tivemos com Hillary nesta semana, trabalhamos principalmente a transição para democracia. Estamos mostrando o cenário desastroso que vive a Síria por causa da política sanguinária de Assad. Os americanos nos entendem. Apresentamos nossos pedidos para ativar a diplomacia e garantir a proteção da população, alvo da repressão.

Estado: O governo americano é a principal aposta hoje da oposição síria para conseguir mobilizar a comunidade internacional?

Burhan Ghalioun: Não. Os países árabes hoje lideram os esforços. Foram eles que abriram o caminho para que pudéssemos ser ouvidos. A realidade é que a comunidade internacional deve ser posta diante de suas responsabilidades. O que o povo sírio enfrenta é uma tragédia e o mundo deve reagir.

Estado: Qual é o principal obstáculo nessa mobilização internacional contra Assad?

Burhan Ghalioun: Acho que a chave está no Conselho de Segurança e na resistência de China, Rússia e outros. De outro lado, temos o apoio dos governos dos EUA, da Europa e de países árabes. Pouco a pouco, o Conselho Nacional Sírio começa a ganhar reconhecimento político, além da legitimidade da causa síria pela liberdade.

Estado: O sr. inclui o Brasil entre os que apoiam ou criam obstáculos?

Burhan Ghalioun: Por enquanto está criando sérios obstáculos. Acho que nós da oposição não fizemos o suficiente para informar a diplomacia brasileira sobre o que está ocorrendo na Síria. Sentimos que estão desinformados. A situação se deteriora e vamos buscar uma aproximação com o Brasil para explicar o que está ocorrendo e mostrar os crimes diários cometidos por Assad.

Estado: O Brasil insiste que uma porta ainda deve ser deixada aberta para dar espaço ao diálogo com Assad. Ainda há como dialogar com Assad?

Burhan Ghalioun: De nenhuma forma. Os brasileiros estão atrasados e ficando para trás. Hoje, nenhum país pede um diálogo entre a oposição e Assad. O presidente é considerado um assassino pela maioria do povo sírio e toda a negociação para a transição rumo a uma democracia deve passar pela saída de Assad do poder. Mesmo a Liga Árabe defende isso.

Estado: A ONU já considera a situação na Síria uma guerra civil, enquanto o governo russo acusa a oposição de estar sendo armada por forças estrangeiras. A luta armada é a nova etapa da resistência?

Burhan Ghalioun: Se o regime se perpetuar e continuar a ter a possibilidade de matar e reprimir a população, entraremos em uma longa e horrível guerra civil. Mas isso só pode ser parado agora com a saída de Assad do poder e a transformação do sistema político num sistema democrático. A guerra civil é uma criação e um produto do atual regime, e não algo espontâneo. Mas, para ser freada, só há agora uma solução, sua renúncia.

Estado: Para vocês, então, só a saída de Assad seria a solução?

Burhan Ghalioun: Não aceitaremos nada menos que isso.

Estado: Na Tunísia e Egito, grupos islamistas venceram as primeiras eleições. O sr. não teme que isso ocorra também na Síria e, em razão dessa perspectiva, Europa e americanos hesitam em apoiar mais sua causa?

Burhan Ghalioun: Temos movimentos islamistas, mas muitos trabalham no Conselho Nacional. Todos aceitaram o nosso projeto de sociedade democrática, secular e moderno. Esses grupos falam da importância da união nacional. Não podemos comparar o Egito à Síria. Somos mais seculares, com valores diferentes. Não acredito no risco de deriva islâmica radical na Síria.

Estado: Há acusações de que seu Conselho Nacional não reúne de fato toda a oposição nem está de fato unido. Como o sr. reage a esses comentários?

Burhan Ghalioun: Em nenhum país a oposição é unificada. Não podemos pensar numa oposição que esquece suas diferentes posições. Mas o que temos de fazer é unificar o programa da oposição para poder lutar juntos contra o regime e construir um Estado secular e democrático. Há uma semana estamos discutindo detalhadamente o projeto e, em alguns dias, o apresentaremos oficialmente à Liga Árabe.

Fonte: Estadão

20 Comentários

  1. “…os americanos nos entendem…”, esse Burhan Ghalioun está parecendo um belo fantoche dos americanos. Quer derrubar Assad para entregar a Síria para EUA e cia. e ferrar a Rússia.

  2. “Para líder que se reuniu com Hillary esta semana”
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    Sou preconceituoso sim, é meu defeito(muito comum em profissionais da comunicação ) estereotipar as coisas… primeiro que uma entrevista idônea a respeito do assunto deveria tratar-se de síria(oque que tem de botar o nome da Hilary logo no início?)… essa pequena citação já desqualifica qualquer informação que “teóricamente” deveria ser de um cidadão sírio independente…. Que ao meu ver é só uma forma de respaldar a e qualificar esse cara como um informante confiável(a hilary não recebe crápulas em seu escritorio rsrsrs).
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    Alguém já viu alguma declaração do assad? algum de seus argumentos?
    Eu, através da mídia ocidental, NAO. Mas por outras fontes fiquei sabendo de ações e declarações de assad se comprometendo a iniciar em 2012 uma reforma democrática no país… Mas para a nossa mídia ele parece não se manifestar ou articular uma mudança, parece que ele é um rélez assassino de manifestantes…
    E você pode ter certeza de que ele está agindo sim pra amenizar a situação, ele é um cara culto, não é burro.
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    MAS PARECE QUE PARA TER SUA NOTICIA DIVULGADA NA MIDIA OCIDENTAL PRIMEIRO DEVE TER A TUTELA DA HILLARY CLINTON PARA CONSEGUIR O SEU ESPAÇO E A SUA “CREDIBILIDADE” de “cidadão sírio independente”
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    Calma gente, exagerei mas falei algo que ninguém até agora questionou…

  3. Acorda Dona Dilma precisamos de ICBMs e Submarinos armados com misseis e S300 E Caças Russos …vms fazer parceria com os Russos e os Chinas e fortalecer a UNASUL , Logo o Brasil sera o Proximo da lista …
    ”DIVIDIR E REINAR ” a Politica americana como nosso amigo Osório falou …

  4. Realmente ocultaram um trecho:
    “os americanos nos entendem ( já prometemos bons negócios e muito dinheiro a eles)”
    “Todos aceitaram uma democracia secular e moderna” (pelo menos ate tirarem Assad e começarem a brigar pelo poder). Aí teremos mais um pais islâmico regido pela Sharia. uma “democracia” onde todos tem o mesmo direito de Nao reclamarem do proximo ditador…
    “conselho nacional de transição” (CNT). Por que esse nome Nao me soa estranho? Parece que ate já vi esse filme antes….

  5. Vamos la outra vez. Antiamericanos rezam que o Assad e anjo e a Siria “pertence” a Russia. esta ai a contradicao. Os Russos assistem de bracos cruzados o genocidio sendo cometido por Assad. Consequentemente seus apaziguadores apoiam o genocidio.Conversa? Pelo amor de deus que falta de espinha dorsal desse Itamaraty.Casa de Rio Branco esta fraquinho das pernas.
    Gentlemen do blog.. podem meter o pau nos EUA mas gostariam os senhores de “pertencerem” a Russia ou EUA se vivian na Siria.
    O Brasil insiste em uma porta de dialogo com Assad porque estas prestes a levar outro banho da diplomacia ocidental;EUA,Inglaterra e Franca.Aconteceu na Libia e vai ocorrer na Siria. Que argumento tem o Brasil que nao seja o Manager Do Muro Das Incertezas e Pro Ditadores.Que situacao ruin nao acham. Uma Presidente presa por ditadores e hoje nao consegue decidir quem e matador e quem nao e.Triste..mas tipico…e ainda querem o Conselho Permanente. Para que.. vetar a retiradas de ditadores mundo afora e ser apadrinhado de uma Russia da vida ou a mer..a maior ainda..a China.

  6. Este indivíduo dá aula na Universidade de Paris. Se vira aí, sírio de alma francesa! É apenas um pseudo intelectual servindo de bucha de canhão. Certamente foi bem pago pelas putências…

  7. ‘Brasil atrapalha a luta por democracia na Síria’
    Em momento algum eu vi o Sr.Burhan Ghalioun fazer tal afirmação ele nem falaria do BRASIL,se o jornalista não lhe perguntasse !

  8. O Brasil atrapalha a ambicao e Roubo dos Yankes,
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    .pobre e inludido quem pensa que e pela Democaracia,
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    so pateta mesmo la na Disney da Inlusao
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  9. O Brasil não tem que ser papagaio de pirata das naçoes estabelecidas, o que importa é salvaguardar nossos interesses economicos na região, toda vez que os americanos inflamam um país pra guerra perdemos em negócios, razão disso vide o iraque a libia, o irã e por aí vai!Então chega de dizer amém pra europeus e americanos!Qto a Siria, esse lider deles sempre foi um ditador, nunca incomodou a sociedade siria, agora querem nosso apoio pra derrubá-lo como se fossemos nós que o colocou lá!Um povo que não luta por sua liberdade merece ficar cativo!Mirem-se no exemplo da libia, matem o ditador!

  10. Nelore eu acho que se realmente esse cara está realizando um genocídio lá ele deve ser muito além de deposto, deve ser executado..
    Nao precisa ser anti americano pra questionar o modo como nós ocidentais olhamos para essa questão..
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    Aonde estão as provas materiais desse genocídio todo? esse “De acordo com Estimativas da ONU” pra mim não representa nada… a mesma ONU falou que existiam armas de destruição em massa no iraque..
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    Alguém acredita que em plena era da informação, se houvesse esse mesmo tanta violência assim, alguém já não teriam colocado imagens mais contundentes dos confrontos? A síria é um país moderno, rico e multicultural muitos lá tem mais acesso a educação e tecnologia que aqui no nosso brasil. E você acha que mesmo diante de tudo isso nenhuma imagem ou informação mais tátil desse genocidio nao iria cair nas maos de alguém de fora da siria e chegaria a todos os jornais?
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    Bom o que eu vejo é raríssimas imagens trêmulas de gente correndo em meio a damasco, alguns tanques andando pelas ruas da cidade e MAIS NADA. Basear o meu julgamento a respeito da cituacão de um país que está do outro lado do mundo somente através de discursos repetitivos, infundados e inflamados de membros da “aliança ocidental” e através dessas “ESTIMATIVAS DA ONU” é no mínimo uma ingênuidade…
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    Eu vi vários vídeos de gente tomando tiro no bahrem e o yemem…. mas não os vi sendo repetidos sistematicamente na mídia… Eles não chegaram a ter a mesma repercursão que essas “estimativas da ONU” ou daqueles vídeos tremidos de gente “supostamente” fugindo de um tiroteio.

  11. só pela cara do fulano já da para ver que é maior prego servindo a interesses americanos .O que acontece ao mun do arabe é uma operaçao condor, que visa colocar um governo de amebas como fizeram aqui na america latina.Dessa forma atrazando o desenvolvimento desses paises como naçao.fazendo o povo a viver como novos escravos dos anglos saxiao governados por sionistas.

  12. Os artigos desse blog até que são interessantes… Mas os comentário,cheios de erros de português e repletos de “achismos”,são completamente dispensáveis…Não passam de uma coleção de preconceitos políticos,de racismo e opiniões baseadas em pesquisas superficiais no Google.Vou me limitar a ler os artigos para manter a minha sanidade…

  13. Clóvis como participante ativo nos comentários desse(ou deste?) forum eu me senti um poco(ou pouco?) ofendido quando você diz que são dispensáveis… pelo contrário aprende-se muito mais discutindo os vários aspectos da noticia( ou é notícia?) do que se a lermos pronta, como vemos na globo e na folha de são paulo, esse é o grande diferencial da internet… Cidadão comuns também podem contribuir com a notícia…
    você(início de frase é com letra maiúscula né?) não deve ser um usuario(ops esqueci o acento de novo) relativamente novo de internet…
    essa vaidade ortográfica é uma coisa que muitos usuários de fóruns online já perderam(em detrimento do dinamismo típico dos chats, alguns paradigmas se tornam irrelevantes), afinal ninguém aqui é jornalista ou professor de português… e eu não me detenho a ficar observando a concordância, coesão e ortografia nos comentários dessa “comunidade”, eu analiso sim a propriedade e a substância do comentário e procuro aprender com os diferentes pontos de vista apresentados aqui…
    .
    Mas agradeço a sua preocupação em dedicar um tópico exclusivamente para pregar esse conceito Acadêmico de discussão. Aliás, você demorou quanto tempo pra escreveu teu comentário(entre a elaboração do texto e a revisão ortográfica)? tendo em vista a sua indignação, não com a notícia, mas com a propriedade dos comentários, imagino que você deve ser um escritor formidável.

  14. Como defensor da livre expressão,(embora nem sempre concorde com tudo que se diz),quero me irmanar com a opinião do Sr.Gustavo G (disse:
    10/12/2011 às 00:06)que em uma pequena frase definiu o conceito máximo da democracia!
    ” Cidadão comuns também podem contribuir com a notícia…”
    Conceito esse que alguns nunca entenderam,ou insistem em não aceitar !Parabéns continuem dialogando é assim que se evitam as guerras e tantas mazelas mais!

  15. a cara desse homem dá medo. Parece o diabo olhando fixamente para a siria e o poder. Realmente, esse é um diabo que irá ferrar o povo sirio e o pior, colocará o seu propio pais nas mãos do imperio do mal (EUA). Porra! E ninguem tem coragem de fazer nda contra? Quem salvará a Siria e o mundo das maos desse poder inescrupuloso (EUA-EUROPA)

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