Uma Rússia que encolhe e olha para dentro

Depois de séculos de expansão imperial, a Rússia é um país que encolhe, e rápido. No cenário mundial, a ex-superpotência luta para falar de igual para igual com os EUA, a Europa e a nova China. Dentro das suas fronteiras, vê a sua população diminuir em quase um milhão de pessoas por ano.

Na área militar, não consegue impedir que os EUA criem bases militares onde até 1991 era território soviético na Ásia Central. Na economia, o sucateamento da indústria deixa o país à mercê das flutuações do petróleo.

Esse panorama difícil é descrito no livro “Post-Imperium: a Dinâmica da Antiga Eurásia Soviética”, de Dmitri Trenin. Ex-oficial do Exército vermelho, ele dirige hoje o Centro Carnegie de Moscou, um dos mais importantes think tanks do país.

Trenin afirma que, para sobreviver no longo prazo, a Rússia precisa se modernizar. Para isso, argumenta, será necessário aproximar-se de países tecnologicamente avançados, como Estados Unidos, e priorizar o leste do país, fronteiriço com o dinâmico Leste Asiático.

O analista diz que a Rússia não tem forças próprias para se reerguer. Entre outros motivos, cita o desencanto da população com o Estado russo, assolado pela corrupção e excessivamente centralizado.

“Os russos aprenderam a priorizar suas vidas privadas e não se preocupar demasiado com temas como a cor da bandeira nacional, a delimitação de fronteiras ou a composição do governo”, escreve Trenin. “Como num típico bloco de apartamentos, as casas são remobiliadas e estão bem conservadas; em contraste, a escada está suja e o elevador, defeituoso, e ninguém parece se importar”.

A seguir, trechos da entrevista cedida à Folha:

Folha – Por que não há interesse em celebrar os 20 anos do fim da URSS?

Dmitri Trenin – É estranho celebrar a morte do seu país. Para muitas pessoas fora da URSS, tratava-se de um império, de um superpoder, um país que dominava outros países. E há outros que pensavam que a URSS era uma aliada, amiga que perderam. Portanto, há diferentes reações sobre o seu fim.

Muitos no mundo árabe viam a URSS como um amigo e até mesmo aliado contra Israel, alguém que podia enfrentar os EUA. Dentro da Rússia, pode-se dizer que este é o fim da União Soviética e também que é o começo de uma nova Rússia. Essa é a maneira mais positiva de ver isso.

Vinte anos depois, como estão as diferentes regiões que um dia integraram a URSS?

Antes de mais nada, são realmente regiões diferentes. Para a geração do meu filho, é difícil entender como nações tão diferentes como, digamos, Estônia e Turcomenistão poderiam pertencer a um Estado soviético unificado.

Para Letônia, Lituânia e Estônia, este é o renascimento de sua independência. Na Ucrânia, mais pessoas comemoraram do que ficaram decepcionadas com o fim da URSS.

Para algumas pessoas, a URSS significava um Estado de bem-estar social, e isso acabou. Para outras, era uma comunidade de nações que não existe mais.

Para muitos no Ocidente, se tratava de um superpoder militar de ideologia comunista. Isso não é necessariamente o que a maioria das pessoas dentro da URSS pensava.

Está claro que a Rússia não caminha rumo a uma democracia ao estilo Ocidental, como muitos esperavam. Qual é a sua avaliação do atual momento político do país?

Em primeiro lugar, democracia é democracia, tanto faz se for ou não do estilo Ocidental. Não acredito que a Rússia tenha democracia hoje. Acho que é moderadamente autoritário. Acho que se tornará uma democracia, mas uma democracia russa, de outra forma.

Acho que uma hora as pessoas eventualmente precisarão de democracia. Democracia não é algo dado de cima pra baixo, é algo de que você precisa na sua vida diária. Para muitos russos, isso ainda não é do que eles precisam, infelizmente.

A Rússia acaba de concluir as negociações para a OMC. Qual é a importância do seu ingresso?

Acho que é imensamente importante. Não será imediato, porém acelerará e aprofundará as mudanças. A Rússia terá de cumprir regras e regulamentações na esfera comercial, e isso é bom.

O senhor é bastante cético com relação aos Brics.

Eu me refiro à Rússia. Acho que, para a China, faz muito mais sentido. Todos esses países são parceiros econômicos da China, e é a China quem precisa se aliar com todos esses países. É importante para um país como o Brasil, que está alcançando o nível mundial, um processo difícil. A Rússia atingiu o nível global quando derrotou a Alemanha nazista e construiu bombas nucleares e forças estratégicas.

Para o Brasil, o Brics é um dos meios pelo qual pode atingir um nível global. Para ter poder global, é preciso ir além dos seus interesses nacionais. É preciso formar uma opinião e uma posição sobre temas globais, e isso é útil para o Brasil, para a África do Sul e para a Índia. A Rússia esteve nesse nível por várias décadas e, no contexto europeu, por séculos. Portanto, não é tão importante.

O Brics é algo que a Rússia pode agora mostrar ao Ocidente e dizer: “Estamos com vocês no G20, mas também somos Brics, temos várias opções”.

Fonte: Folha de S. Paulo

19 Comentários

  1. Acho que a Russia deveria fazer do Brasil seu parceiro estratégico, como a Inglaterra faz e fez dos EUA, teriamos muito a ganhar reciprocamente!E o bom disso tudo que não somos ameaça um ao outro no curto medio ou longo prazo, pode haver aí um complementariedade de interesses legítimos no mundo!Só falta dizer isso aos nossos lideres!

  2. O problema russo é a corrupção como foi dito,isto leva ao desmembramento do Estado e é certo que eles devem procurar outras opções senao caem no ostracismo.

  3. Esse problema, da diminuição da população, é o principal! A população jovem é o principal mercado consumidor que impulsiona o comércio e a indústria. A população na média mais velha é instável, menos jovens pagando a previdência, quem vai sustentar as aposentadorias? Menos jovens, quem vai servir ao exercito, quem vai sustentar o crescimento da economia? Estaguinação e decrescimento do crescimento da população é diretamente proporcional a estaguinação e decrescimento da economia, respectivamente. Políticas de incentivo a natalidade devem ser tomadas por eles ou perderão cada vez mais poder…

  4. A verdade doí , não é?
    quero ver o que os defensores do “grande urso”vão falar agora,tenho quase certeza que vão culpar a fonte da noticia

  5. É importante materias assim pois tem muitos aqui que inchergam a russia como um pais super tecnologico e que seus caças são superiores,olhai sempre disse que os produtos RUSSOS e assim deu para andar ta bom,é arebites resaltados,enfim produtos mal acabados tipo feito por um latoeiro.

  6. Mais um leitura tendenciosa de nossa mídia, a Rússia tem problemas, porém Europa e EUA tem mais problemas que ela, a diminuição demográfica da Rússia e sua diversidade são seus maiores desafios hoje, porque falar em industria sucateada, os EUA e a Zona do Euro sabem bem o que é isso. Mas como esses são os patrões da Folha, são tratados de forma diferente.

  7. Cara sou simpatizante da russia, mas concordo com o autor… realmente o país está com muitos problemas. Talvez o que esteja ocorrendo na rússia é uma crise previdenciária…. igual o lucena falou… onde quem não tem cirrose já ta velho… mas seus serviços publicos continuam a todo vapor… todos tem acesso a saúde, educação de altíssima qualidade de graça…. herança da união soviética…. e talvez essa máquina pública toda, que ainda existe, seja muito dificil de sustentar mesmo, tendo em vista essa crise que assola algumas potencias mundiais
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    Mas eu simpatizo com a russia principalmente por causa dos russos, sim o seu povo, conheci alguns poucos pois proxima á minha cidade tem uma comunidade fechada(vivem a mais de 20 anos em uma área de quase 100 mil hectares), de russos ortodoxos.
    São honestos, trabalhadores, xenófobos(não se misturam) mas principalmente: SAO MUITO LOUCOS E DETERMINADOS..
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    MUITO LOUCOS MESMO, TIPO PSICOPATAS….
    Trabalham muito e são muito ricos… e mesmo assim só vestem roupas tradicionais ( tipo aqueles menonitas mesmo), produzem a sua propria bebida típica(não é a vodka, é uma outra que esqueci o nome), bebem pra caralh0, muito mesmo, os jovens quando vão pra cidade aprontam muito, pois mesmo usando as roupas tradicionais, falando russo e não compartilhando sequer um copo de cerveja com um brasileiro, eles andam de moto KTM de Harley Davidson e carros muito potentes.
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    Nunca duvide de um russo….. nunca o menospreze… eles tem uma algo internamente que nós ocidentais não temos… eles são selvagens… DETERMINADOS…
    O grande erro da Alemanha na SGM foi menosprezar o poder de reação russo, ao trai-los depois de atacarem a polonia… por isso sim eu acho que tem alguém tentando tirar esse urso da hibernação… e vai ficar surpreso com o que vai ver quando ele realmente acordar.

  8. Brasileiro é muito cômico, qualquer coisa que lê ele abraça, parece que não se preocupa em ler sobre o assunto de outras fontes, ACORDA BRASIL!

  9. Típico texto que pouco informa, e tudo deforma…
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    Vamos primeiro aos dados objetivos: A Rússia é uma nação superavitária. Os EUA sobrevivem pela chantagem global do dólar, e a Europa Unida, como sabemos, está em crise sistêmica com o EURO…
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    O encolhimento da população russa se deu devido aos tempos trágicos de Yeltsin. Poucos sabem, mas no período do demagogo bêbado no poder, houve a maior fome registrada na rússia, como um número absurdo de idosos morrendo de inanição e frio, bem como de crianças. Por isso a mulher russa tornou-se resistente a ter filhos.
    No entanto, essa tendência se reverteu nos últimos anos, devido a natureza (mulheres jovens querem procriar) e ao incentivo à natalidade, promovido pelo governo.
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    A indústria russa se moderniza. Todos aqui parecem se esquecer que o melhor radar AESA do mundo, IRBIS-E, é russo… Mas, é no campo de softwares, que eles estão crescendo…
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    Acontece que os russos mantiveram inalterado um grande fator de diferenciação: um sistema educacional que forma bons estudantes nas áreas de exatas. Com bom potencial humano, você recupera qualquer atraso…
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    Dia desses eu vi um modem 3G que não era fabricando na China; para o meu espanto, era russo! Nós fabricamos modem 3G?
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    Quanto as bases americanas, leia-se OTAN, em ex-repúblicas soviéticas, isso precisa ser visto sobre a luz da história. As repúblicas bálticas assim solicitaram, para se sentirem seguras contra uma nova incorporação forçada á Rússia, mas as bases da Ásia Central, foram cedidas no bojo da comoção mundial contra o ataque às Torres Gêmeas. Mas, tanto fez os americanos, que as repúblicas da Ásia Central rescindiram os contratos de uso (trabalho diplomático intenso da Rússia), precisando os agressores da OTAN de depender das rotas do Paquistão para suprir suas forças no Afeganistão. Com a crise entre a OTAN e o Paquistão, observa-se sem surpresa, a súplica dirigida à Rússia, para trânsito pela Ásia Central…
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    Como se vê, só os desinformados e tolos, bebem da fonte da Folha, O Globo, Estadão e Veja… É preciso ter um filtro bem calibrado para lidar com esses “órgãos de imprensa”.

    Eu não compro as previsões de decadência da Rússia.

  10. A Rússia é um lugar onde no inverno a temparatura atinge fácil -30º Celsius. Beber, portanto, é uma necessidade. Com trinta graus Celsius negativos, uma dose de Vodka cai muito bem, e te aquece com toda certeza.
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    Eu tenho idade suficiente para lembrar, dos artigos da “imprensa internacional”, que detratavam o Brasil como uma nação não funcional, que estaria relegada para sempre ao atraso. Nos anos oitenta e noventa, éramos retratados como incapazes, corruptos, preguiçosos e lenientes. Basicamente o mesmo teor do texto acima sobre a Rússia.
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    Por fim, não deixa de ser interessante que o texto indica que o “caminho” para os russos seria uma aproximação com a Europa Unida e os EUA. Ora, ora… Quem cai nessa?
    A Rússia procura aproximar-se com a China, Índia, Coréia do Sul e as ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central… Não são burros os russos.
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    Esse texto pode ser um release da CIA… Conquistar corações e mentes faz parte do jogo de inteligência. No caso, afastar os russos da Ásia Central e da China…
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    Decadência industrial nós também vivemos, e idem para a Europa Unida e EUA. Apontar isso apenas para os EUA é uma piada.
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    O que os EUA produzem, além de armas? O que a Europa produz, além dos aviões obsoletos mais caros do planeta?
    Acontece que em matéria de tecnologia militar, os russos rivalizam bem com eles, não?
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    Sucateamento industrial é um processo global, em vista da incapacidade sistêmica de se poder competir com as economias asiáticas… Devemos nos perguntar o que somos capazes de produzir, além de soja, café açúcar e álcool.
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    Abraços aos amigos.

  11. Centro Carnegie de Moscou, id est um antro onde os agentes da CIA operando em Moscou confabulam e e planejam o enfraquecimento e virtual destruicao do que ainda existe do estado russo. Creio que em epocas passadas mas ainda na memoria de alguns russos, esse Dmitri Trenin teria sido despachado para secar neve com as unhas na estepes da Siberia. Mas os tempos sao outros ai estamos nos discutindo o merito ou nao merito de seu livro. Nao li seu livro mas espero faze-lo em breve.

  12. Sem preciosismo ,a Russia esta travando uma luta para estruturar o pais,os quase 80 anos de bolchevismo ferrou com eles,mas estao no caminho certo,devem evitar a loucura de rasgar dinheiro em uma corrida armamentista que foi a causa mor da falencia da ex URSS,combater o alcoolismo,incentivar bastante sexo para que novos eslavinhos venham ao mundo,estirpar os tentaculos da mafia,seria uma prova cabal de incopetencia, um pais com os recursos naturebas que eles possuem,passarem dificuldades.

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    Porém como força de referência cultural tanto Russia, como China, Africa do Sul e Índia perdem de lavada do Brasil, e não possuem condições de enfrentar o referencial cultural americano. Coisa que nós brasileiros temos condições de fazer. Haja visto a disseminação de nossas músicas e novelas a décadas no mundo inteiro. E quanto mais nos desenvolvermos mais nossa influência cultural e social vai aumentar.
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    O Sr Trenin pelo jeito não conhece quase nada sobre o Brasil – pois a inserção do Brasil no mundo já começou a muito tempo… desde a Bossa Nova só se faz aumentar – e dum jeito super refinado que é Arte – o suprasumo da produção mental e emotiva humana.
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    Para quem não sabe o que é verdadeiramente Bossa Nova e sua força… é musica cantada super suave… desde a década de 60 que ela é um importante referencial musical no mundo – Ex: até sua entrada nos USA, a música feita lá era essencialmente feita na base gutural e mesmo gritada (videm gospel e roque), desde então um novo horizonte musical se mostrou e abriu para eles. Parece ironia, mas nós bananeiros exercemos uma forte influência artistica no mundo e seu principal país.
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    Uma Superpotência não se faz só com armas e indústria (os produtos chineses estão por todo mundo e daí?). Só há um país com condições de acompanhar ou substituir os USA como superpotência, e esse país é o Brasil.
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    O poderio da antiga URSS não voltará nunca mais caro Sr Trenin. É melhor ir se acostumando.

  14. Rússia apontará seus mísseis aos sites de defesa de misseis dos EUA, se não houver acordo.
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    *********(trechos do texto principal)
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    A Rússia vai fazer o que for preciso para manter o seu potencial de defesa estratégica, disse o embaixador da Rússia na Otan, Dmitry Rogozin.
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    O interesse prioritário da Rússia é defender os seus cidadãos, disse o enviado à OTAN.
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    “Não podemos nos dar ao luxo de comercializar a segurança dos nossos cidadãos”, disse Rogozin.
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    (*)por: dinamicaglobal
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    http://dinamicaglobal.blogspot.com/2011/11/russia-vai-apontar-seus-misseis-aos.html

  15. Concordo com Ilya. E acrescento ainda q entre as mulheres Russas e as Americanas, prefiro as do Leste Europeu são mais bonitas!!! KKKK!!

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