Presidentes latino-americanos criam novo bloco regional e deixam EUA de fora

Claudia Jardim

Presidentes e representantes dos 33 países da América Latina se reúnem nesta sexta-feira, em Caracas, para formalizar a criação da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac).

Será a primeira vez que os países do continente se articulam em uma mesma plataforma política – com a tarefa de tentar aprofundar a integração regional – sem a presença dos Estados Unidos e do Canadá.

Segundo analistas, a Celac nasce com o desafio de criar uma organização capaz de gerar consenso entre os países e cuja institucionalidade seja capaz de implementar políticas de integração autônomas em relação aos Estados Unidos.

Entre as contradições a serem enfrentadas pelo bloco está a de construir políticas comuns em uma região ainda marcada por diferentes níveis de desenvolvimento econômico, pobreza, crime organizado e, em especial, antagonismos no campo político-ideológico.

O presidente venezuelano Hugo Chávez, conhecido pelas críticas ao governo de Washington, e pelo discurso anti-imperialista em encontros regionais, adotou um tom moderado ao falar sobre a nova organização regional e reconheceu que ela deverá respeitar a heterogeneidade dos países e de seus projetos, estejam eles à esquerda ou à direita do campo político.

“Temos que ter muita paciência, muita sabedoria. Não podemos deixar-nos levar pelas ideologias governantes em um país ou outro”, disse Chávez na última quinta-feira, minutos antes de receber a presidente Dilma Roussef no Palácio de governo.

“Este processo tem que ser independente do socialismo cubano, do socialismo venezuelano, ou do sistema de governo e ideologia do governo do Brasil, da Colômbia (…) é a união política, geopolítica, e sobre esta união vamos construir um grande polo de poder do século 21.”

O primeiro debate do grupo, realizado na noite desta quinta-feira, já mostrou como deve ser difícil conseguir o consenso entre os países do novo bloco. Os países não chegaram a um acordo sobre como será o mecanismo para a tomada de decisões – por unanimidade ou por maioria qualificada. O debate deve ser retomado nesta sexta-feira.

Institucionalidade

O maior desafio para a Celac será “passar da afirmação de uma identidade e articulação política a uma institucionalidade que permita aos países tomar decisões”, disse à BBC Brasil Luis Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Unesp.

Uma das propostas do documento constitutivo da Celac é um protocolo de defesa da democracia e direitos humanos, aos moldes da cláusula anti-golpe de Estado estabelecida pela Unasul (União de Nações Sul-Americanas).

Entre as divergências iniciais está a posição do novo bloco a respeito do futuro da Organização de Estados Americanos (OEA), cujo papel passou a ser questionado durante a crise boliviana, em 2008 e depois do golpe de Estado em Honduras, em 2009.

Venezuela, Equador e Bolívia defendem que a OEA já teria cumprido seu papel histórico no hemisfério e deve ser substituída.

“Não é possível que os conflitos latino-americanos tenham que ser tratados em Washington”, defendeu o presidente equatoriano Rafael Correa, dias antes da Cúpula.

“(Espero) que mais cedo que tarde (a Celac) possa substituir a OEA, que historicamente tem tido grandes distorções”, acrescentou.

Esta posição, no entanto, ainda não é um consenso entre a maioria dos países da região, que até agora preferem defender a coexistência das duas instituições.

Para o analista internacional Edgardo Lander, professor da Universidade Central da Venezuela, a Celac tende a contribuir para o enfraquecimento da OEA, mas ainda é cedo para falar de sua extinção.

“A substituição da OEA pela Celac não será fruto de um decreto ou de declarações a favor ou contra, e sim pelas vias de fato”, disse à BBCBrasil.

Lander cita como exemplo a atuação da Unasul na resolução do conflito da Bolívia, em 2008, que ele considera ‘decisiva’. “Se a Celac mostrar que pode solucionar os conflitos regionais sem a intervenção dos Estados Unidos, o papel da OEA vai perder força naturalmente.”

Independência

Para o o economista americano Mark Weisbrot, co-diretor do Center for Economic and Policy Research, de Washington, a Celac é criada em um momento em que a América Latina se consolida como uma região “mais independente do que nunca”.

“Washington ainda é o principal problema no hemisfério, especialmente com respeito à democracia e à auto-determinação nacional”, disse Weisbrot à BBC Brasil.

O analista político venezuelano Carlos Romero, professor de estudos internacionais da Universidade Central da Venezuela, diz que a criação da Celac é um “passo positivo que marca um processo de maturidade política”da região.

No entanto, ele afirma que isso não necessariamente significará a existência um bloco antagônico a Washington. “Os EUA já não exercem a mesma tutela do passado”, diz.

A discussão do grupo ainda deve incluir a criação de um fundo de reserva para enfrentar a crise financeira internacional.

“Quanto mais nos integrarmos, mais estaremos preparados para enfrentar este furacão que a economia mundial está vivendo e a instabilidade do resto do planeta”, afirmou o presidente colombiano Juan Manuel Santos, principal aliado dos Estados Unidos na América do Sul.

Liderança brasileira

Os especialistas concordam que o Brasil tende a assumir um papel de “liderança natural” na Celac, protagonismo que antes era dividido com o México quando se tratava do hemisfério como um todo.

“O Brasil é uma potência regional, tem sido (protagonista) pró-democracia e em defesa independência regional na América Latina. Deve ajudar a desempenhar este papel dentro Celac”, disse Mark Weisbrot.

O governo brasileiro vê a Celac como o “terceiro anel” do processo de integração regional, seguido do Mercosul e da Unasul.

A reunião de Cúpula para a abertura da Celac havia sido marcada para 5 de julho, mas foi adiada imediatamente após o presidente venezuelano Hugo Chávez ser diagnosticado com câncer, no final de junho.

A Celac unificará as estruturas do Grupo do Rio, mecanismo de consulta internacional regional criado em 1986, e da Calc (Comunidade América Latina e Caribe) e deve trabalhar em cinco áreas: política, energia, desenvolvimento social, ambiente e economia.

Fonte: BBC Brasil

28 Comentários

  1. Qualquer iniciativa para eliminar/enfraquecer os tentáculos americanos é bem vinda á AL.

    Lembram da OEA mandando parar a construção da hidrelétrica de Belo Monte?

    A farra está acabando…

  2. e mais um pra fazer um comentário pessimista(nao vai dar em nada) tipico de um “vira-lata” que não acredita no proprio potencial….
    A direita sempre responde a essas iniciativas com a velha resposta: “vai virar tudo pizza”, “isso não vai pra frente”, “vamos fracassar”….
    Simplesmente esquecem de um fato: INICIATIVA
    isso, INICIATIVA, podemos não tirar tudo do papel como pretendemos, mas estamos começando a ter INICIATIVA, independentemente de ser efetiva ou não, é algo que até entao não tínhamos, pois sempre tinha alguem lá encima pra nos dizer o que fazer… era muito mais facil “crescer” antes sob as asas da águia careca…. o desenvolvimento independente e sustentável é mais dificil de se alcancar mas é o melhor caminho… e tenho certeza de que estamos nele…

  3. Se afastar dos EUA e da Uniao europeia e um erro. Nao sigam estes elementos que sao anti-americanos, sao apenas idiotas querendo fazer barulho. Desculpe o comentario, mas isso e ridiculo.

  4. A depender de uma minoria que comenta aqui, os verdadeiros braZileiros, o Brasil já teria a muito se tornado uma vassalo da ALCA!
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    É torcer para que isso dê certo, para que pessoas com a intenção de criar uma unidade para o bem do Caribe e Sul tomem vista desses projetos que nascem, pois fato é, os EUA já se movimentam para destruir com tudo isso!
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    Os EUA não querem sócios, querem clientes, não querem amigos, querem vassalos, não querem parceiros, querem escravos, eles não investem, eles roubam.

  5. voces q defendem os americanos q so dao problema, lembre-se q eles bicotaram nosso programa nuclear com a Alemanha e atrazaram nosso programa espacial .

  6. CELAC – Comunidade Estudantil De Lesos Apreciadores Do Comunismo… nada mais natural vindo de subdesenvolvidos que querem morder sem ter dentes… verdadeiros cães da pradaria querendo enfrentar chacais… rsrsrsr… vai ser uma humilhação atras da outra…

  7. Nao vejo da forma que colocaram aqui… Nao e possivel fazer a integracao sem o tom abti imperialista? Claro que sim. Na politica dos eua, cabe ao brasil asseguea a estabilidade da regiao sem ferir os interesses americanos do norte…

  8. A UNIÃO FAZ A FORÇA!
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    Se no grupo já tem umas malas sem alça,porque teria um imenso baú velho sem alças….!
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    Os países latino,através do embrião UNASUL,com certeza estão mais a vontade em buscar nós mesmo respostas aos nossos problemas interno sem os patéticos e funestos receituários de Washington.
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    Neste bloco só falta a assinatura do LULA,e tem gente que achava que tal brasileiro semi-analfabeto não entraria na história brasileira…..que pancada não?….Hehehe…..

  9. Acho muito positiva a criação desse organismo, mas sem revanchismo ou atitudes antiimperialistas, esse tempo passou. Devemos nos fortalecer como um bloco político, cultural, economico e militar, afinal, seremos quase 600 milhões de pessoas nessa nova organização!
    Uma coisa é certíssima, realmente não podemos pensar em soluções para os problemas latino americanos nos reunindo em Washington, ou alguém duvida disso?

  10. ” mulheres e crianças primeiro!! hehehe.
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    …É; tá todo mundo pulando fora antes que o barco (azul, branco e vermelho com estrelinhas) afunde!!! rsrsrsr…
    Primeiro foram os BRICS rejeitando os EUA nas reuniões, agora é a America Latina.
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    Os EUA estão em rápido processo de falência, não tem mais volta. A DÍVIDA É IMPAGÁVEL!!! E os Governos sabem muito bem disso; muito mais até do que as mídias e a imprensa.

  11. Não estamos nos afastando dos EUA lucas, somente de sua influência, economia é uma coisa, politica é outra. Não vamos deixar de vender para os EUA nem eles deixar de vender pra nós. O Brasil também não têm se afastado da UE, muito pelo contrário, tanto que estamos prestes a entrar para ESO, so faltando a ratificação do congresso Brasileiro.

  12. São iniciativas de autoafirmação, são válidas qdo dão resultados positivos naquilo que se espera dessas siglas, eu sempre achei que o Mercosul e Unasul tinha esse propósito, ou seja, integração dos interesses latino americanos!Vamos torcer pra que esse cachorro morda alguém algum dia!

  13. Lucas, foi você que fez aquele comentário “quero que todos aqueles palestinos morram”?
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    Ta certo, você não é mais um desses IDIOTAS QUERENDO FAZER BARULHO…
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    ou como disse nosos amigo de olhos azuis, que não é subdesenvolvido e que tem dentes(claro, ele tem olhos azuis, não é um macaco sulamericano).. vai ser uma humilhação atras da outra…

  14. Rorcharch disse:
    03/12/2011 às 10:09
    Não estamos nos afastando dos EUA lucas, somente de sua influência, economia é uma coisa, politica é outra. Não vamos deixar de vender para os EUA nem eles deixar de vender pra nós. O Brasil também não têm se afastado da UE, muito pelo contrário, tanto que estamos prestes a entrar para ESO, so faltando a ratificação do congresso Brasileiro.
    ————–
    “A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, também se referiu a Bolívar como uma inspiração, mas não classificou Washington como um vizinho não desejado.”
    ————-
    Isolamento de forma alguma, apenas soberania nas decisões.

  15. Vcs querem ironia de verdade, querem rir até doer o estômago…
    Vamos convidar então os canadenses, como sócio honorário, para a tal CELAC. E fazermos então todos uma rodinha de biquinhos para o titio Sam excluido.
    #
    CELAC… agora a coisa vai.
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  16. Gustavo, o macaco sulamericano fica por sua conta… se é assim que se sente… mas subdesenvolvido, ah, isso tu é… não haveria motivo para questionar essa união de comadres se, e somente se, nós e los hermanos tivessemos REALMENTE capacidade humana (leia-se IDH) e material para se contrapor aos yankes… não que seja impossivel… vai depender da elite politica atual investir em seu povo… coisa que duvido que queiram… como diria o Leo Jaime: NADA MUDOU… depois de 25 anos de esquerdalhas…

  17. que bom que nao colocaram os gringos pois esses so fazem nascer a desuniao entre nos latinos quanto menos esses perrecos tiverem influencia aqui melhor para nos.

  18. Eu sei que você nao pensa isso, claro, porque imagino que você seja brasileiro….
    Mas estamos tendo a oportunidade de ampliar nosso quintal… mesmo que falte algo no final e o quintal não fique assim com aquela graminha verdinha e homogenea, já é um terreno bacana para se pisar e plantar algumas coisas…

  19. Pra comecar existem 3 elementos na Uniao que a torna fajuta antes mesmo de nascer completamente; Venezuela, Ecuador e Bolivia. A Venezuela hoje e uma nacao anti democratica. Aos barbudinhos de plantao nao interessa se existe ou nao existe EUA no meio da questao. Juntar-nos a um grupo de ditadores democraticos e perder tempo. A unica agenda dos 3 mosqueteiros citados acima e meter o pau nos EUA. Venezuela a faz com orgulho mas ao mesmo tempo as politicas do Chavez estao arruinando o pais; agricultura nao produz nada, inflacao esta alta, a intervencao de Cuba em todos os setores da Venezuela. Imaginem, senhores, um estado falido como Cuba dando conselhos economicos a Venezuela. Fazemos uma caridade a Venezuela comprando o petroleo pesado deles que ninguen pode refinar a nao ser aqui nos EUA. Vendem pra China venden..nao podem, nao querem os Chineses. Ele e de baixa viscosidade.
    Dilma, abraca esses retrogados comunistas, sorria, mas avisa Washington na surdina que aquilo ai e muita idiotice. Nao queremos nada com o Cabeca de Porco Venezuelano. O Lula fez o mesmo, abarcou, beijou mas na hora H o deixou sozinho falando com ninguen.

  20. O Brasil não precisa ser anti A,B ou C! O Brasil deve ser pragmático! O Brasil precisa aproveitar as oportunidades, não interessa de onde elas sejam. Essa de anti alguma coisa só atrapalha o país.

  21. Pelo que ja ouvi e notei e senti, posso afirmar que tem muito jovem, americano treinado na lingua portuquesa comentando aqui, se é algum araponga não sei mas… um comentario para esses jovens ou velhos senhores …. o paiz de vocês esta fadado ao desastre, logo não tem mais quem queira apoiar voces, o exemplo de voces é guerra, e dominio, e o final ja sabemos, a maxima é grande e antiga é biblica, quem vive pela espada morre por ela, ou no muito vai usar essa espada para cortar lenha.

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