Brasil cresce com uma política econômica menos sagrada

Anand Giridharadas
George El Khouri Andolfato
International Herald Tribune

“Agora é nossa vez.”

Essa frase saiu da boca dos jovens brasileiros repetidas vezes nesta semana. Atualmente o país deles pulsa. Escolha seu indicador: alto crescimento econômico. Boom na venda de iates, apartamentos de luxo e bolsas Louis Vuitton para os ricos. O fato de haver mais assinaturas de telefones celulares no Brasil do que o número de brasileiros. Os bilhões acumulados com a exportação de commodities para a China. Grandes reservas de petróleo.

E, talvez mais notável, uma redução na desigualdade de renda no país.

O sentimento de entusiasmo é capturado por uma propaganda local do uísque Johnnie Walker, que foi visto mais de 600 mil vezes no YouTube em seis semanas. Ela mostra as montanhas do Rio de Janeiro se transformando em um enorme colosso. “O gigante não está mais adormecido”, ele diz. “Keep walking, Brazil” (continue andando, Brasil).

Nem sempre foi assim. Até os anos 2000, o Brasil vivia sua própria versão da crise econômica que o Ocidente atualmente enfrenta: dívida, inflação descontrolada, desemprego crônico.

Naquela época, o Ocidente tinha muitos conselhos para o Brasil. Mas nesta semana, em tempos muito diferentes, eu perguntei aos brasileiros que conselhos teriam para as economias em dificuldades do Ocidente.

A resposta que surgiu é bastante simples de dizer e difícil de conseguir: para voltar a prosperar, o Brasil teve que despolitizar a busca por uma economia melhor. Os líderes tiveram que deixar de lado suas ideologias. Os fatos tiveram que se tornar mais importantes que os princípios. E um tipo de consenso pragmático entre direita e esquerda teve que surgir –o de que tanto um mercado aquecido quanto um governo ativo são essenciais para um crescimento econômico durável.

“Se transformou em uma espécie de pacto de que precisamos ser pragmáticos, ou voltaremos a uma época para a qual ninguém quer retornar”, disse Marcos Oliveira de Carvalho, fundador da Neoprospecta, uma nova empresa de biotecnologia brasileira.

Colocando de outra forma, o Brasil tornou a política econômica menos sagrada. É algo em que as economias mais duramente atingidas do Ocidente poderiam pensar.

Para os brasileiros, nada telegrafou mais claramente a nova política do que a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, que serviu de 2002 até o fim de seu mandato no ano passado. O presidente Lula, como todos o chamam aqui, foi um líder sindical que fez seu nome combatendo o livre mercado selvagem –até que, como presidente, fez uma meia-volta: dando continuidade ao legado de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, implantando políticas pró-negócios e uma agenda ambiciosa voltada para os pobres.

Como dizem muitos brasileiros, a transformação pessoal de Lula foi tanto um estímulo quanto uma metáfora para o abraçar do capitalismo pelo país. “Apenas um presidente que foi operário poderia trazer o mercado ao Brasil”, disse Marcelo Fernandes de Aquino, um padre jesuíta, acadêmico e reitor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, no Sul do Brasil.

Atualmente o Brasil está buscando simultaneamente o que poderia parecer ser revoluções contraditórias. Em um nível, ele está liberando o mercado e trabalhando para dar às empresas os incentivos que precisam para crescer, contratar e lucrar. Ao mesmo tempo, está enfrentando a pobreza diretamente, mantendo leis trabalhistas que são ineficientes, mas fornecem alguma proteção aos pobres, injetando dinheiro de bem-estar social nas regiões mais pobres. Os números contam a história: a economia cresceu mais de 7% no ano passado, mas, diferente de muitos de seus rivais de rápido crescimento, o Brasil está diminuindo sua famosamente grande (e violenta) desigualdade entre ricos e pobres.

Como o padre Aquino gosta de dizer, “o Brasil está construindo uma economia de mercado, orientada socialmente para o bem comum”.

João Carlos Ferraz, vice-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), disse em uma entrevista que os setores público e privado tiveram que chegar a uma espécie de consenso a respeito de um “triângulo” de progresso: “estabilidade, investimento e inclusão econômica”. O governo trabalha para tornar a vida das empresas mais fácil, ao manter a inflação baixa e reduzir a regulamentação. Por sua vez, as empresas investem pesadamente e se concentram na criação de empregos no Brasil, não na China ou na França. Há uma aceitação de que a visão do “cavaleiro solitário”, de prosperar em isolamento, é uma ilusão, ele acrescentou. “É preciso o engajamento de uma sociedade.”

Um empreendedor de 25 anos que dirige uma plataforma de vídeo online, a partir de uma base na cidade de Belo Horizonte, colocou a coisa de modo mais palpável. Enquanto a esquerda abraça o capitalismo, disse Rodrigo Paolucci, uma nova geração de empreendedores passou a aceitar que, “para crescer, nós precisamos resolver o problema da igualdade”.

Ele não tem bom coração. Ele é apenas prático. “Não é possível ser um grande país e uma grande economia tendo 20 milhões com empregos e o restante sendo sustentado pelos 20 milhões”, ele disse. E ele imagina que esses outros cerca de 170 milhões de brasileiros são um mercado potencial para seus vídeos online, e se eles forem bem-sucedidos, ele será bem-sucedido.

Nesse pragmatismo, o Brasil não está sozinho, é claro. A ascensão dos pragmáticos é o que está discretamente por trás da ascensão do Brasil Rússia, Índia e China, as chamadas economias Brics. Afinal, foi a China que permitiu a si mesma se transformar em uma história capitalista de sucesso, mantendo ao mesmo tempo muito do sistema comunista. Foi um economista indiano de óculos chamado Manmohan Singh, atualmente o primeiro-ministro, que trabalhou fielmente para o regime socialista de seu país até que novos fatos o tornaram um defensor das reformas de mercado.

Os países ocidentais poderiam aprender algo com essas recuperações inspiradas por crises. Quando a situação se tornou perigosa no Brasil, Índia e China, nem o mercado e nem o Estado foram tratados como um fim intocável em si mesmo. Cada um deles passou a ser visto como um meio para algo maior –para uma sociedade próspera.

Fonte: UOL

23 Comentários

  1. AQUILO QUE NÃO NOS MATA NOS FORTALECE “FATO”
    pragmatismo sem ideologias esse e o caminho, mas não podemos nos iludir, iniciamos o caminho, mas muito ainda há para percorrer, temos mazelas mil, basta ver as cenas tristes debaixo das pontes, em onibus lotados, e nas cracolandias da vida, e a boa vida dos marajás da politica e de PARTE do funcionalismo publico, mais importante que PIB e o IDH, não adiata sermos a6° e conomia do mundo e os serviços publicos, o custo de vida serem as porcarias que são hoje, mas nõa devemos desprezar nossas conquistas, que vieram com muito sacrificio de varias gerações, aprendamos com os erros das puuutencias e com a arrogancia europeia para não cairmos nas mesmas armadilhas que eles estão atolados hoje,nada de imperialismo barato, justiça social baseada na meritocracia e na oportundade para todos, para frente sempre, BRASIL ACIMA DE TUDO, ABAIXO SOMENTE DE DEUS !!

  2. O Brasil tem tudo para sobressair China e Índia! Dai alguém pode perguntar, como? A resposta é simples: O Brasil tem apenas 190 milhões de habitantes… Para um bom entendedor… Basta o país continuar nesse rítimo e investir pesado em educação entre outras coisas para mudar esse nosso IDH. Oque será difícil de acontecer com com esses dois países que tem 30% da população do planeta!

  3. Eu discordo do autor quando ele afirma que Lula continuou o legado de seu antecessor FHC,o ex presidente FHC não deixou legado algum para Lula, se Lula tivesse seguido seu exemplo estaríamos mergulhados nessa crise que ai está !
    E antes que falem do Plano Real,devo lembrar que o Real foi idealizado no governo Itamar, FHC era o ministro da economia mas o Presidente era Itamar Franco!

  4. Os comunistas chegaram a conclusão que seu verdadeiro deus não é a ideologia e sim o MERCADO… põe pragmatismo nisso… agora gritam: VIVA O CAPITALISMO, com nós na direção… gente de conceitos faceis…

  5. As palmas devem ir às equipes econômicas que desde o governo Itamar Franco controlaram a economia, não aos pavões que bradam seus méritos.

  6. Quanto puxassaquismo e babação explicita.
    Somente superada pela ignorância econômica e da situação brasileira.
    Artiginho dispensável

  7. Concordo com o texto é isso ai,más podia ter falado tbm de alguns problemas graves que afetam o país como a “corrupção” e sugerir como combate a pena de morte para politicos traidores que se apropriam do que não é seu de forma indevida!.

  8. Temos que aumentar a venda terciaria e diminuir a primaria desse jeito só esportando commodities nao vamos escapar da crise, a europa e EUA sao assim. eles nos dão computadores e tecnologia e nós-lhe entregamos banana e açai — Q LIXO. ainda bem que começou agora a istalar industria de tecnologia e informaçao.

  9. O mundo não está mudando; ele JÁ MUDOU!! Parabéns ao Brasil e os outros parceiros dos BRICS!! As notícias desesperançosas, apocalípticas, e os gritos de revolta, baderna e protesto vindos do tal ” primeiro mundo”. Nada mais são; do que os gemidos de agonia do fim de uma era. É o som pavoroso e arrepiante do dinheiro, poder e riqueza “trocando de dono”. O motor do século XXI vai ser os BRICS, e não estamos perguntando ou sugerindo mais. É aviso mesmo!! União Europeia e EUA afundam a olhos vistos, e não sabem nem o que começar a fazer para mudar isso… não tem mais volta.

  10. É interessante observar que vivemos desancando o SUS, enquanto que nas Américas o Brasil é a maior potência olímpica no Parapan. À luz de que modelo podemos explicar isto? Será que o serviço PÚBLICO de saúde nos outros países das américas é inferior ao nosso?
    A gente vive propagando bobagens “plantadas” por Deus sabe quem, sem pensar! Quem está lá fora e seu “coração” está isolado do ruído local, consegue ver coisas que muitos de nós não veem.

  11. Isso é mentira: “…dando continuidade ao legado de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, implantando políticas pró-negócios e uma agenda ambiciosa voltada para os pobres.” Desde quando o FHC e a tucanalhada se importaram com os pobres???? Nunca, uma crise destas que os EUA e Europa estão vivendo há mais de 3 anos a fio…o FHC e o restante da tucanalha corriam lá fora para trazer a crise para o Brasil, como sempre para infernizar à vida dos pobres brasileiros…nunca os ricos que a cada ano simplesmente ficavam mais ricos, aumentando a fatia dessa classe na distribuição de renda e riqueza no Brasil.
    O FHC sabe tanto de economia quanto eu, … é um sociólogo, não economista. Aliás o mentor do plano Real foi o ex-presidente Itamar Franco. Se alguém concebeu o plano Real foi o ex-presidente Itamar e sua equipe econômica da Unicamp. FHC já nem ministro era quando saiu o plano Real, como o conhecemos. Ademais, as gestões do Presidente Lula, não teve nada a ver com a de FHC, nada de continuidade,…não vou colocar os fatos agora…mas as gestões foram radicalmente diferentes, em todos os sentidos e por isso hoje estamos bem, financeira e economicamente!!!

  12. Quer dizeer que o Brasil foi descoberto em 2002?… faz-me rir… rsrsrsrsr… gente de conceitos faceis inescrupulosos… querem mandar até nos fatos historicos…

  13. Oh muleque rafael, vai aprender a limpar a bunda primeiro e depois essa sua boca imunda… dai poderemos continuar com o assunto em pauta… detesto pessoas cheirando a merda como vc… ja deram os 15 dias, em lucasu?… prometer e não cumprir não adianta nada…

  14. Nossos governantes tinham o péssimo hábito de, em chegando ao poder, ignorar tudo o que estava sendo feito ou vinha sendo feito, fazer uma razia geral, e começar do “zero”.
    O que aconteceu na passagem de governo Itamar / FHC / Lula foi a continuidade das políticas economicas e social.
    Foram mantidos os fundamentos economicos – Malan passou para Palocci – e sociais – FHC passou para Lula.
    Essa é a história contemporânea recente do Brasil.
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    Capa Preta, gostei do “pragmatismo sem ideologias”. Lembra o Deng Xiao Ping – “não importa a cor do gato, o que importa é que coma os ratos”. E olhe o que é a China hoje.
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    Mais leitura, menos ideologia.

  15. AJ, das dua uma: você é inescrupulosa e levianamente tendencioso ou então tremendamente ignorante. Antes de levar outros desinformados a estúpidas conclusões, veja os fatos, refrescando sua curta memória, no seguinte link:
    http://espacointeressenacional.blogspot.com/2010/06/governo-lula-x-governo-fhc-vamos.html
    Lembrando que não sou petista e não tenho um mínimo de simpatia à utópica e falaciosa ideologia comunista, mas pragmaticamente sei apreciar algo de bom que fazem à nação brasileira. Nem destro nem tampouco sinistro, simplesmente Brasileiro!!!

  16. Completando, na realidade, o que a tucanalhada quer é uma carona com o ex-presidente Lula. Isso torna-se evidente na frequente tentativa de colocarem o programa do Lula, como continuidade do FHC. Cara, as vúvas já não sabem mais o que fazer, querem ter o Lula como padrinho à todo custo, até que ponto chega a baixaria e incompetência comprovada tucana! Comparar as gestões FHC x Lula é como comparar banana com pêssego, simplesmente nada a ver. Basta ver a ênfase no desenvolvimento do bem sucedido comércio externo com os países ao sul do equador, contra ao estúpido vira-latismo e servilismo do FHC aos seus “amos” do norte.
    Sds.

  17. Al Carvalho, com todo o respeito, mas FHC, lula, Dilma é tudo a mesma coisa… diferencia-los é como diferenciar irmãos da mesma familia… todos entreguistas… cada qual a sua maneira… inclua ai todos os de 1985 para cá… e não são só presidentes… 99% dos politicos nacionais… essa estória sua de que lula é o pai dos pobres é pura fantasia… bolsas isso e bolsas aquilo servem, em qualquer pais do mundo, somente como compra de votos… famoso curral eleitoral… lula, o novo caudilho… coronel, como é conhecido no nordeste… seguiu os passos de Getulio… o populista… agora, negue que seja verdade… os fatos são os fatos… saudações…

  18. Blue Eyes, Na Resistencia, voce tem todo o direito de dizer o que voce pensa e eu respeito isso, esse simplesmente reflete o que voce pensa e o inicio e fim da historia eh um ponto de vista seu e sem amparo historico. Agora o que eu estou afirmando eh uma coisa que todos os brasileiros viveram esses ultimos quarenta anos sao testemunhas vivas do que estou faland. Para a avassaladoura maioria do povo brasileiro, realmente a histõria comecou em 2003 Nao vou perder o meu tempo tentando explica-lhe os reais interesses na insistencia no aumento e ampliacao do programa bolsa familia. Simplisticamente, vc e muitos da oposicao cega, casuistica e ateh mesmo por ignorancia nao percebem o bem que ela faz. Atente para a teoria e pratica da hierarquia de necessidades do ser humano – vide Abraam Maslow – que um brasileiro nao aprende nada na escola se estiver com a barriga vazia. Nem sobre Deus e os ensinamentos de Cristo voce consegue ensinar-lhes. Se voce acha que isso rende votos, para a situacao, nem tanto, ateh certo ponto pode ser, mas o mais importante eh a conscientizacao de um estado de exploracao e subjugacao vergonhosa de um cruel sistema de classes a desgraca desse povo tambem usa esse artificio mas com . De modo algum critico um sistema de classes sociais, apenas e tao somente para as grandes injusticas sociais decorrentes de casuisticas, mercenãrias e auto-proclamadas elites .

  19. Desculpe a grafia e tambem por ter saido cortada, nao estou habituado a este computador. No final da minha penultima sentenca leia-se…usa esse artificio, mas com objetivos diferentes – perpetuar o vicio, o casuismo a inconsciencia e a dependencia dos miseraveis.
    Sds.

  20. Em relação a colocar FHC, Lula e Dilma, com todo o respeito acho demasiadamente simplista. São pessoas com convicções políticas muito distintas e com recursos próprios totalmente diferentes. Curiosamente, a Senhora Dilma é, de longe a mais corajosa e inteligente, seguida de perto por Lula. Quanto à lealdade e fidelidade à nação que representa a Presidenta Dilma também, seguida de perto por Lula tem inquestionável destaque. Por outro lado, o Toucan é o campeão da covardia e traição ao povo brasileiro. A únicas coisas em comum que vejo entre Dilma e Lula é estarem filiados ao mesmo partido e terem a maior preocupação com o trabalhador e empregos para o povo brasileiro. Dentre os três, de longe, Dilma com certeza é a mais nacionalista e em relação ao Lula, menos socialista. Lembrando que Dilma tem suas origens no PDT de Brisola que sempre teve dificuldade em lidar com o PT, justamente por questões ideológicas do nacionalismo pedetista do Ex-governador Leonel Brizola. Por fim, reitero a verdade do link acima que postei e te garanto que FHC, Lula e Dilma são pessoas completamente distintas em suas convicções políticas, recursos intelectuais, experiências e recursos carismáticos e não podem e nem deveriam ser colocados num mesmo balaio, com certeza.
    Sds.

  21. Al Carvalho, agradeço seus superlativos epítetos a mim dirigidos em seu post de 23-11-2011, às 11,27h, e os dispenso reiteradamente.
    Quando quiser discutir idéias, ver cronologia das coisas etc. estaremos às ordens. Será um prazer.
    *****
    Qual o programa social deixado por Fernando Henrique, que foi mudado o nome no Governo Lula?

    Qual cargo FHC ocupava no Governo Itamar, quando o Plano Real foi desenvolvido e depois aprovado?
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    Qual a política economica básica do Governo FHC, que foi adotada integralmente no Governo Lula?
    Resposta – Ortodoxia, responsabilidade fiscal, metas para inflação, independencia do Banco Central.
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    Al Carvalho, passar bem.

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