Castells sugere o fim do euro


Indignado com atitude antidemocrática das elites e planos seguidos de salvamento dos banqueiros, ele afirma: outro sonho europeu é possível

Sugestão: Lucena

Por Manuel Castells | Tradução: Daniela Frabasile

Já não existem dúvidas quanto ao espírito antidemocrático da União Europeia. A proposta do ex-primeiro-ministro grego, que queria perguntar a seus concidadãos se aceitam viver em austeridade espartana para poder pagar a dívida desencadeou uma tempestade financeira e política – que, entre ameaças e xingamentos de Angela Merkel, Nicolas Sarkozy e David Cameron, provocou a crise do governo grego e deixou o país de pernas para o ar.

O que há de errado se as pessoas priorizarem sua saúde, sua educação e seu emprego? São temas muito complexos para a população? Não exagerem, que alguns de nós estudamos mais do que os governantes. Com alguns colegas, me comprometo a explicar claramente aos cidadãos o que vai acontecer com o euro, com a crise, com aqueles que se beneficiam e que se prejudicam, e quais são as diferentes opções possíveis, incluindo a repatriação do euro em Bruxelas. À condição, é claro, de ter a mesma informação que os banqueiros e governantes reservam para si.

O problema não é a complexidade, mas a democracia. O que os políticos mais temem nesses momentos é que os substituamos, que roubemos deles esse poder delegado que mantêm, por um mecanismo controlado de eleições entre opções enquadradas nos limites do sistema, e legitimadas pela mídia. Um referendo, mesmo que não seja uma forma perfeita de decisão popular, abre um leque de possibilidades. Mas persistem uma arrogância elitista e uma repulsa à vontade popular, por mais que seja dissimuladas. Porque ainda que cidadãos se equivocassem, teriam direito a este erro. Já passou o tempo dos que nos salvavam porque não sabíamos o que fazer.

Na realidade, não se trata de salvar o povo, mas de salvar o euro, como se fossem a mesma coisa. Por que tanto interesse? E de quem? Porque dez dos 27 membros da União Europeia vivem sem o euro e algumas de suas economias (Reino Unido, Suécia, Polônia) são muito mais sólidas que a média da União Europeia? Defender o euro até o último grego é a primeira linha de defesa para uma moeda que está condenada porque expressa economias divergentes e que não têm um estado que a respalde.

Com Portugal e Irlanda na UTI, a Espanha na corda bamba, e uma Itália em permanente crise política e endividada até o pescoço de seu ex-líder, a defesa franco-germânica do euro tem outras explicações. São muito diferentes da história de terror que nos contam, sobre a catástrofe financeira que implicaria, com efeitos devastadores em nosso cotidiano – como se a vida dependesse da bolsa de valores.

A primeira razão é obvia: salvar os bancos, principalmente os alemães e franceses, que emprestaram sem garantias para a Grécia e aos demais PIGS (Portugal, Itália, Grécia e Espanha) mediante a manipulação de contas praticada, pelo menos no caso da Grécia, pela consultoria da Goldman Sachs (certamente, deve ser sismples coincidência que Draghi, o novo presidente do Banco Central Europeu também foi empregado da Goldman Sachs).

De início, já aceitam que precisarão esquecer 50% da dívida da Grécia, ainda que não esteja claro quem acabará pagando. Mas os outros 50% têm que ser tirados do sangue, suor e lágrimas dos gregos, para que o não pagamento não acabe impune. Se a Grécia repudiasse a dívida – como fez a Islândia, que hoje vai tão bem, um dracma desvalorizado em 60% faria com que fosse impagável o resto da dívida. Mais ainda, o efeito do contágio em mercados financeiros levaria ao não-pagamento de grande parte da dívida soberana, levando à quebra dos bancos que se aproveitaram do euro para emprestar sem garantias.

Ou seja, trata-se de salvar alguns bancos concretos e, em termos mais amplos, evitar uma nova crise do sistema financeiro. Quebram os países para que os bancos não quebrem. Mas por que se faz isso? No fim, os Merkozy [referência a Ângela Merkel e Nicolas Sarkozi] não são funcionários dos bancos. Têm seus interesses políticos, nacionais e pessoais. A Alemanha necessita realmente que o euro seja a moeda europeia e que seus sócios não possam desvalorizá-la. Porque o modelo de crescimento alemão, é na realidade, o mesmo que o chinês: crescer por meio de exportações favorecidas por uma moeda subvalorizada; e reduzir salários (houve redução de 2% em termos reais, nos últimos cinco anos). Se houvesse um euro-marco forte, a Alemanha perderia mercados na Europa perderia competitividade em relação a exportações espanholas ou italianas.

Mas há outra dimensão político-pessoal. Tanto Merkel quanto Sarkozy precisam estabelecer sua liderança europeia por razões de política interna e por projeto de grandeza nacional que é preciso disfarçar, para não despertar velhos fantasmas. E as outras elites políticas europeias? O sentimento de serem europeus, em um mundo em mudanças desde a América do Norte até a Ásia, dá-lhes a impressão de ser algo mais que produtos aldeanos do aparato de partido que tanto desprezam.

E nós em tudo isso? Certamente, a bagunça financeira que o advento do euro-peseta ocasionará (não há erro no tempo do verbo) causará problemas de transição na economia e em nossos bolsos – a depender de como se realize a transição. Mas a soberania de política econômica seria recuperada, a realidade monetária e financeira se ajustaria à economia real, a competitividade aumentaria com a conquista de mercados externos e internos, haveria uma explosão de turismo, que seria uma pechincha. Seria possível reativar a economia emitindo moeda. Aumentaria, portanto, o emprego. Porque o essencial é crescer, não flagelar-se. Claro: haveria inflação. Mas é a melhor receita para reduzir a dívida, incluindo a das hipotecas.

E o sonho europeu? Ele pode ser construído com as pessoas, amando-nos uns aos outros, em vez de ver quem para a conta. Quando pensar em euro, pense fraude. Quando pensar em Europa, pense amigos.

Fonte: Outras Palavras

14 Comentários

  1. Muito bom esse artigo, vai direto na ferida, a usura dos banqueiros no sistema capitalista passa por cima de povos e nações, aqui na américa do sul tivemos o caso da Argentina que deu calote nesses banqueiros internacionais e hoje já está em um ritmo de recuperação e crescimento interessante, com seu povo em condição melhor, tanto que reelegeram a cristina para um novo mandato, tem inflação sim, mas pelo menos o povo tem emprego e a economia cresce, como estariam se seguissem a cartilha do FMI, uma grécia na américa do sul?

  2. Esse artigo e’ bom , Presidente da Italia trabalhou para :Goldeman Sachs, Primeiro ministrro grego trabalhou para: Goldeman Sachs, novo presidente do Banco Central europeu trabalhou para : Goldeman Sachs, Presidente do Federal Reserve trabalhou para: Goldeman Sachs..
    Nossa que coincidencia, ate parece que tem alguem que controla a economia mundial.kkkkk

  3. FIM DOS GRILHÕES DA DITADURA FINANCEIRA MUNDIAL,DO CAPITALISMO ESPECULATIVO SELVAGEM
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    Todo povo livre agora quer um novo sistema que o ser humano não seja um simples número ou um cliente consumidor,más sim que a sua dignidade humana seja levada em conta, acima de tudo.
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    Esse sistema que é o chão,o alicerce do decrepito sistema opressor internacional,ruiu e soçobraram toda a elite secular que mamam nesta vaca profana que é o capitalismo selvagem….o casino do sistema financeiro global.

  4. e o reinado do 4o reich, idealizado muito antes do inicio da 2a guerra mundial, o 4o reich viria como um poder financeiro em volto em multi-nacionais bancos agencia de risco e tudo o mais. Hoje vemos o 4o reich em pleno-vapor ou voçes acham que tudo isso e obra do acaso e sem direção, resposta: claro que não tudo isso e um processo executavel e dirigivel como principio, meio e fim e o resultado final os grandes arquitetos o tem: nom ou nwo
    aos amigos que deus ilumine e de inteligencia e paz, aos que não são que deus lhe de arrependimento e misericordia e renovação. um abraço a todos

  5. A Grécia e agr a alemanha poderão sair da zona do euro, q está uma zona.A Alemanha p ñ tirar de sua econômia p sustentar a de outros, ou a Grécia dentro de 1/2 anos por ñ poder cumprir as normas da “zona” do euro. Quem viver verá (espero estar errado )sds.

  6. a maioria dos europeus são orgulhosos e arrogantes por uma questão cultural, preferem perder os dedos mas não os aneis !!!

  7. ESTE NEGOCIO DE MOÉDA UNICA NÃO FUNCIONA,CADA PAIS TEM SEUS POBLEMAS E MANEIRAS DE RESOLVER,A MELHOR COISA QUE A EUROPA PODERIA FASER ÉRA BANIR O EURO,OU O EURO VAI BANIR A EUROPA,QUE CADA PAIS TENHA SUA MOÉDA,ANTES DO EURO A EUROPA ÉRA MAIS FELIZ E VIVIA MOMENTOS DE OURO,CADA PAIS TEM QUE TER SUA MOÉDA,E SUA ECONOMIA,ESTE NEGOCIO DE GLOBALIZAÇÃO NÃO FUNCIONA MESMO SE CADA UM TEM SUA MOÉDA A ECONOMIA DE UM NÃO ATINGE TANTO A DO OUTRO,MAS ECONOMIAS COMUNS FICA SUJEITA A O POBLEMA DOMINÓ SE UM CAIS TODOS PODEM CAIS OU SE ABALAR,SE ESTÃO VENDO QUE NÃO FUNCIONA PORQUE INSISTIR?

  8. “capa preta disse:19/11/2011 às 18:41
    notem como os banqueiros causam as crises especulativas e lucram com a recuperação, dinamica interessante não?”… descobriu a pedra filosofal das mazelas mundiais… esse povo é quem manda realmente no mundo… usam as ideologias primarias esquerdistas e as ideologias revolucionarias para conquistar e dividir o mundo… esses querem tudo e mais 10%… e vão conseguir… muitos cooptados inocentes uteis fazem exatamente o que querem achando que estão combatendo os mesmos… vide Ocupe Wall Street… protestos contra o sistema finaceiro especulativo financiados por George Soros… MEGA capitalista… rsrsrsrsrsrs… esses lucenaticos se acham espertos… rsrsrsrsr… só para rir… INOCENTES UTEIS… vão beber em fonte limpa… essas que estão usando tão podres… e da-lhes inocencia…

  9. Capitalismo sem bancos, sem capital financeiro! Um Sonho de pequeno burgues mas nada mais que sonho. Hitler usou esse odio da pequena burguesia contra o capital financeiro como parte da propaganda nazista para atingir o poder. E o pessoal fascista moderno continua na mesma tecla. As vezes identificam esse capital financeiro com os judeus. Mas na verdade o crescimento do capital financeiro nao e independente da dinamica do capitalismo. Capitalismo necessita do servico de crediario e esse e inseparavel da existencia dos bancos. Em face da resistencia operaria a politica economica monetarista de Thatcher na Inglaterra e do presidente Reagan nos EUA houve uma politica de desindustrializacao nesses dois paises e a transferencia dessas industria para China e outros paises asiaticos. O que era produzido la la Asia era retornado para Europa e EUA em forma de produtos acabados. Mas dado o alto nivel de desemprego e uma desvalorizacao do salario no ocidente houve-se a necessidade de expandir o servico de crediario para que essas mercadorias pudessem ser vendidas. Dai a expansao do credito, o crescimento do capital financeiro e o alto nivel de especulacao pelas instituicao financeiras. Acrescenta ainda que esse capital industrial que foi investido na Asia foi feito por causa do baixo nivel de salario naqueles paises. Esses paises, e China em particular remete os dolares produzido pela exportacao ao Ocidente para os bancos do ocidente em particular os de Nova Iorque e Londres. O mesmo processo que se passa com os dolares derivados da exportacao do petroleo arabe. Esse enorme volume de dolares nao encontra forma de investimento lucrativo no ocidente, dai especulacao e emprestimos a pessoas que os bancos sabiam nao tinham condicao de paga-lo. Quando vivi na Europa tive conhecimento de esquemas que os bancos estavam usando para emprestar dinheiro de qualquer forma e para qualquer tipo de pessoas sem o minimo de garantia sem nenhum avalista. Era parte da especulacao. Hoje temos uma crise economica financeira para a qual nao ha solucao sem uma guerra mundial e reducao do padrao de vida da classe trabalhadores aos dos niveis vivido pela operariado ingles no seculo XVIII/XIX.

  10. Bobagens jojo… essa crise americana e europeia é mais de carater politico que qualquer coisa… é o ocidente se realinhando e se moldando a realidade… acompanhei hoje, uma feira de motocicleta… a italia por exemplo, os modelos esportivos mais caros são os que mais vendem… e eles compram motocicleta tanto qnto os brasileiros, um mercado em expansão… e não são titans ou ybr’s 125… são motocicletas de 20 a 50 mil reais (sem a roubalheira dos impostos nacionais, claro)… então pergunto… cade a crise… logo na italia, uma das mais individadas… isso serve para outros bens de consumo duraveis também…

  11. RSRSRSRSRSRSR…”Jojo disse: 20/11/2011 às 16:53
    Capitalismo sem bancos, sem capital financeiro! Um Sonho de pequeno burgues mas nada mais que sonho.”… ué jojo… eu sempre pensei que quem queria o fim do capitalismo fossem os comunistas com vc… e até onde eu sei, nazismo vem de social-nacionalismo… e até onde eu sei, não sou socialista… rsrsrsr…
    “O nazismo, conhecido oficialmente na Alemanha como nacional-socialismo(em alemão: Nationalsozialismus), é a ideologia praticada pelo Partido Nazista da Alemanha, formulada por Adolf Hitler, e adotada pelo governo da Alemanha de 1933 a 1945, e esse período ficou conhecido como Alemanha Nazista ou Terceiro Reich.”… fonte: Wikipedia…

  12. Caro Jojo, essa é a realidade mesmo, e é pior do que qualquer ficção que vemos nos filmes por aí kkkk … as instituições financeiras abraçaram o liberalismo para chegar aonde chegaram e na minha opinião será a ruina deles pois esta ideologia não prevê limites aos que dela se benficiam, contudo acredito que uma espécio de mão invisível apreogada pelos liberais há muito tempo atrás colocará uma certa ordem neste caos, e pessoalmente acho que essa mão será o Federal Reserve (o maior banco privado do mundo), que através do controle que tem dos EUA controla a economia mundial … eu sei, parece teoria de conspiração mas temo que seja a realidade e a maioria desconhece ou não quer ver …

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