OTAN sai da Líbia deixando para trás um cenário político instável

Facções lutam pelo poder acumulado por Kadafi em 42 anos de ditadura

POR ANDREI NETTO, ENVIADO ESPECIAL  A  TRÍPOLI

Na véspera da captura e da morte de Muamar Kadafi em Sirte, o primeiro-ministro rebelde, Mohamed Jibril, convocou a imprensa líbia e estrangeira para uma reunião no Qaat Alshaab, o Congresso do Povo, em Trípoli. Em um discurso franco, criticou as lutas internas pelo poder no Conselho Nacional de Transição, advertiu para a ameaça de caos pós-revolucionário no país e anunciou – mais uma vez – seu afastamento da vida política tão logo a Líbia fosse liberada.

Quatro dias depois, Jibril nem mesmo participaria da festa da vitória, em Benghazi, revelando as divisões no Conselho Nacional de Transição (CNT) às vésperas do fim do mandato da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) no país, amanhã.

Com sua ausência, o chefe de governo e da diplomacia do CNT durante os oito meses da revolução desejava enviar um sinal: preferia deixar de lado qualquer ambição por poder e mudar-se para o Catar a ter de enfrentar as duras negociações internas por cargos no conselho. Esse é o cenário político na Líbia do pós-revolução: um emaranhado de grupos locais, representantes de cidades e tribos que enaltecem suas vitórias na guerra, assim como suas perdas, para obter mais espaço no governo interino que será formado até as eleições gerais, em oito meses.

Ao longo de duas semanas o Estado conversou com líderes locais e nacionais, intelectuais e com a população. Duas conclusões sobressaem: a primeira indica que a sociedade civil está desconectada das negociações, e mal conhece os nomes dos novos líderes políticos do país; a segunda é que, a despeito da indiferença pública, briga-se muito pelo poder em um momento delicado, em que o Conselho de Segurança das Nações Unidas revoga o mandato da Otan no país.

Na prática, o CNT perde seu “anjo da guarda”, a máquina de guerra que permitiu que vencesse a revolução contra as tropas de Kadafi. Além disso, os rebeldes perdem – ao menos oficialmente – grande parte da capacidade de inteligência para perseguir os líderes do regime deposto em fuga pelo país, como Saif al-Islam Kadafi, filho e herdeiro político do ditador, e Abdullah al-Senoussi, ex-chefe do poderoso serviço de espionagem da Líbia.

Disputas

Em meio a esse cenário político ainda instável, as disputas internas mostram-se cada vez mais presentes, com sobe e desce de nomes. Mohamed Jibril, o premiê do CNT, deixa o cargo sem dar maiores explicações, desgastado com o jogo político que diz não gostar. Mustafa Abdel Jalil, presidente do conselho, não apenas se mantém no cargo, como gesticula em favor de uma aproximação com as correntes mais conservadoras do Islã na Líbia. Daí seu discurso, há uma semana, defendendo que a nova Constituição do país tenha inspiração na lei islâmica, a sharia.

Mesmo dentro da corrente mais radical, as divergências mostram-se cada vez mais visíveis. Antes poderoso no comando militar dos rebeldes, Abdelhakim Belhadj – muito questionado por seus antigos vínculos com a Al-Qaeda no Afeganistão – saiu de cena e, segundo o Estado apurou, deve deixar nos próximos dias o CNT. Belhadj, ex-líder de um grupo de combatentes islâmicos proscrito após os atentados do 11 de Setembro – tinha emergido como líder durante a operação para tomar Trípoli.

Em seu lugar uma autoridade ascendente é Ramadan Zarmouh, chefe militar do CNT em Misrata. Fortalecido por três vitórias na guerra contra Kadafi – o cerco de Misrata, a participação na tomada de Trípoli e a tomada de Sirte, seguida da captura do ditador – Zarmouh estaria pressionando por mais espaço no comando do governo interino.

Fonte: Estadão

8 Comentários

  1. A OTAN não sairá da Líbia,ela investiu muito dinheiro para derrubar o governo e precisa recuperar o investimento,além de obter os lucros desejados!
    Agora ela irá decidir qual líder servirá melhor aos seus interesses e bola pra frente!

  2. Votos adesão da Palestina na onu. (fonte: http://humanprovince.wordpress.com/2011/10/31/unesco-palestine/)

    (Novo Eixo)No: Australia, Canada, Czech Republic, Germany, Israel, Lithuania, the Netherlands, Palau, Panama, Samoa, Solomon Islands, Sweden, United States of America, Vanuatu.

    (Neutros)Abstentions: Albania, Andorra, Bahamas, Barbados, Bosnia and Herzegovina, Bulgaria, Burundi, Cameroon, Cape Verde, Colombia, Cook Islands, Côte d’Ivoire, Croatia, Denmark, Estonia, Fiji, Georgia, Haiti, Hungary, Italy, Jamaica, Japan, Kiribati, Latvia, Liberia, Mexico, Monaco, Montenegro, Nauru, New Zealand, Papua New Guinea, Poland, Portugal, Republic of Korea, Republic of Moldova, Romania, Rwanda, Saint Kitts and Nevis, San Marino, Singapore, Slovakia, Switzerland, Thailand, Macedonia, Togo, Tonga, Trinidad and Tobago, Tuvalu, Uganda, Ukraine, United Kingdom, Zambia.

    (Novos Aliados)Yes: Afghanistan, Algeria, Angola, Argentina, Armenia, Austria, Azerbaijan, Bahrain, Bangladesh, Belarus, Belgium, Belize, Benin, Bhutan, Bolivia, Botswana, Brazil, Brunei Darussalam, Burkina Faso, Cambodia, Chad, Chile, China, Congo, Costa Rica, Cuba, Cyprus, Democratic People’s Republic of Korea, Democratic Republic of Congo, Djibouti, Dominican Republic, Ecuador, Egypt, El Salvador, Equatorial Guinea, Finland, France, Gabon, Gambia, Ghana, Greece, Grenada, Guatemala, Guinea, Honduras, Iceland, India, Indonesia, Iran, Iraq, Ireland, Jordan, Kazakhstan, Kenya, Kuwait, Kyrgyzstan, Lao People’s Democratic Republic, Lebanon, Lesotho, Libya, Luxembourg, Malawi, Malaysia, Mali, Malta, Mauritania, Mauritius, Morocco, Mozambique, Myanmar, Namibia, Nepal, Nicaragua, Niger, Nigeria, Norway, Oman, Pakistan, Paraguay, Peru, Philippines, Qatar, Russian Federation, Sant Lucia, Saint Vincent and the Grenadines, Saudi Arabia, Senegal, Serbia, Seychelles, Slovenia, Somalia, South Africa, Spain, Sri Lanka, Sudan, Suriname, Syrian Arab Republic, Tunisia, Turkey, United Arab Emirates, United Republic of Tanzania, Uruguay, Uzbekistan, Venezuela, Viet Nam, Yemen, Zimbabwe.

    (Estados Indiferentes)Absent: Antigua and Barbuda, Central African Republic, Comoros, Dominica, Eritrea, Ethiopia, Guinea-Bissau, Guyana, Madagascar, Maldives, Marshall Islands, Confederated States of Micronesia, Mongolia, Niue, Sao Tome and Principe, Sierra Leone, South Sudan, Swaziland, Tajikistan, Timor-Leste, Turkmenistan.

  3. Estilo frances de ser,cai fora e´com eles mesmos,nao e´sem motivo que levaram surras humilhantes em varios confflitos mundiais,sao fregueses de carteirinha de alemaes ,saao o elo fraco daa europa.(teclado desgraçado)

  4. “Não pode ser. Não será. Não vai ficar assim, ya know, essa violência não pode ficar sem castigo, man.”

    Muammar Abu Minyar al-Gaddafi

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    Tribo líbia dos warfala espera a hora da vingança

    BANI WALID, Líbia, 31 Out 2011 (AFP) – “Nós nos vingaremos, cedo ou tarde”, jura um homem da poderosa tribo dos warfala, leal ao antigo regime, enquanto mostra as casas incendiadas e destruídas por morteiros disparados pelas forças do CNT próximo ao centro da cidade de Bani Walid.

    Não quer que o filmem, nem dá seu nome. Suleimán, como disse se chamar, tem “medo” dos combatentes do novo regime que tomaram o controle da cidade há dez dias depois de mais de um mês de combates contra as forças leais ao ex-líder Muamar Kadhafi, morto em Sirte no dia 20 de outubro.

    “Deixamos de lutar porque não tínhamos mais munições. A maioria dos moradores escondeu suas armas e ficou em casa. Outros se misturaram aos grupos rebeldes”, admitiu.

    As forças do Conselho Nacional de Transição (CNT), que entraram na cidade em 17 de outubro, ficaram surpresas ao ver que os combatentes tinham sumido após semanas de duros combates.

    “Quando os thowars (revolucionários) não encontraram as brigadas de Kadhafi de quem falavam, ficaram furiosos. Atiraram nos cães, nas casas, saquearam e atearam fogo em casas e em prédios públicos”, acrescentou Suleimán.

    “Toda a cidade está tomada pela fúria. Os thowars castigaram todos, destruindo nossas casas, roubando nossos carros e matando nossos parentes. Não deixaremos isso assim”, assegura este homem, que diz estar entre a tristeza e o ódio.

    “Bani Walid é uma sociedade tribal. Não há estrangeiros. Aqui só estão os warfala e ninguém pode nos governar. Por isso não haverá Líbia sem os warfala. Nós vamos agir cedo ou tarde, aqui, em Trípoli ou em outras partes”, advertiu.

    Bani Walid, um vasto oásis de relevo escarpado 170 km a sudeste de Trípoli, é o feudo dos warfala que formam a principal tribo da Líbia, com um milhão de pessoas (de cerca de 6,3 milhões de habitantes). Seus membros estão divididos em dezenas de clãs que habitam também a parte setentrional do país, com um assentamento na Cirenaica (leste), região das cidades de Benghazi e de Derna.

    Embora os Warfalla de Bani Walid se mantenham leais ao regime derrocado, a oposição entre outros clãs, essencialmente os da Cirenaica, e o regime líbio se remonta aos anos 1990, quando dezenas de oficiais acusados de complô foram presos e alguns deles, executados.

    Apesar do panorama desolador de Bani Walid, alguns tentam reparar os danos e voltar à normalidade, “mas é muito difícil”, afirma Mohamed Ahmed, com as mãos manchadas de tinta diante de seu apartamento que tenta deixar “habitável”.

    Segundo ele, ainda são ouvidas trocas de tiros entre moradores e homens do CNT.

    Ao contrário de outras cidades do país, a bandeira vermelha, negra e verde da “Nova Líbia” está quase ausente de Bani Walid e a atividade é retomada muito lentamente.

    Um grupo de voluntários retira entulhos da praça central.

    Um jovem, que diz se chamar Al-Sahbi al-Werfelli, vende hortaliças em um pequeno mercado improvisado. Reconhece ter lutado ao lado das forças kadhafistas.

    “Sim, lutei contra estes ladrões. É uma revolução de ladrões. Eles destruíram tudo, roubaram tudo”, afirma.

    “Bani Walid paga o preço de seu apoio a Kadhafi. Mas nós a amamos”, disse. “Estamos à espera de um sinal para retomar as armas e nos vingarmos”, adverte.

    Seu primo concorda: “Defendemos nossas casas e nossa honra, e vingaremos cada morto, cada casa roubada”.

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