Há 50 anos, Berlim era cenário de confronto no Checkpoint Charlie

No dia 27 de outubro de 1961, o mundo inteiro voltou os olhos para Berlim: tanques de guerra norte-americanos e soviéticos posicionaram-se na rua Friedrichstrasse, frente a frente – ambos a postos, prontos para atirar.

O secretário-geral do Partido Comunista da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, Nikita Krushov, havia negociado meses a fio, sem sucesso, com o então novo presidente norte-americano, John F. Kennedy. Krushov queria que Berlim se tornasse uma “cidade livre”, fora da responsabilidade das potências aliadas vencedoras da Segunda Guerra Mundial. Aos poucos – assim era o plano – os setores ocidentais da metrópole dividida deveriam então ser “integrados” à Alemanha Oriental.

Agosto de 1961: construção do Muro

Kennedy rejeitou a ideia, e Krushov deu então às lideranças da RDA (República Democrática Alemã, de regime comunista) o sinal verde para a construção do Muro de Berlim. Na manhã do dia 13 de agosto de 1961, os operários alemães orientais começaram as obras, que deveriam marcar os limites da “capital da RDA”, como dizia a cúpula do partido único SED, da parte ocidental da cidade.

Khrushchev (URSS) e Kennedy (EUA) negociações em 1961 .

A Guerra Fria chegava a um novo ápice, e as reações do Ocidente não ficaram apenas na esfera da indignação diplomática. Uma semana mais tarde, o vice-presidente norte-americano Lyndon B. Johnson visitava Berlim e prometia aos alemães ocidentais que os EUA garantiriam sua liberdade. Mas com o Muro eles teriam que conviver, acrescentou ele.

Ao mesmo tempo, os comandantes aliados marcavam as fronteiras da cidade, nas quais os militares ocidentais e diplomatas estrangeiros poderiam passar pelos postos de controle sem serem detidos, a fim de chegar à Alemanha Ocidental ou à parte oriental da cidade. Um destes postos foi colocado no cruzamento das ruas Friedrichstrasse com Zimmerstrasse. Poucos dias mais tarde, os norte-americanos começaram a construir uma pequena casinha de madeira, para controle da fronteira, bem no meio da Friedrichstrasse.

Checkpoint Charlie

Por ali, militares e diplomatas podiam continuar cruzando as fronteiras entres os setores ocidental e soviético da cidade, sem terem que se submeter ao controle militar e do serviço secreto da Alemanha Oriental. O significado desse “Checkpoint Charlie”, como o posto de transição ficou conhecido, cresceu depois que o ministro do Interior da RDA impôs aos aliados ocidentais que os diplomatas estrangeiros e os militares só poderiam cruzar a fronteira usando aquele ponto quando quisessem passar do Ocidente para a Alemanha Oriental sem serem controlados.

Checkpoint Charlie, Berlim – 2004

O próximo passo que levou a uma escalada do conflito aconteceu algumas semanas depois: a liderança da RDA quis que também no Checkpoint Charlie fossem realizados controles de fronteira. Quando um oficial norte-americano quis passar para o outro lado da cidade para ir ao teatro, foi detido por seguranças da Alemanha Oriental. Eles queriam dar o exemplo e, ao mesmo tempo, testar a reação do Ocidente. A resposta veio de imediato: uma escolta armada apareceu na hora e forçou a passagem do oficial norte-americano.

Tanques de guerra dos dois lados

O assessor pessoal do presidente norte-americano, general Lucius Clay, ordenou que, dado o acirramento da situação, tanques de guerra fossem estacionados na parte ocidental do Checkpoint Charlie. Os sinais para a União Soviética foram claros: até ali e não mais, pois a liberdade de Berlim Ocidental seria garantida.

Diante desta “provocação imperialista” – como Krushov, líder do Kremlin, via a questão – tanques de guerra foram também enviados ao Checkpoint do lado oriental, fazendo com que, naquele momento, mais de 30 tanques cheios de munição ficassem estacionados frente à frente, no meio de Berlim, protagonizando um dos principais atos da Guerra Fria. As tropas estavam a ponto de disparar suas armas, como os soldados envolvidos viriam a declarar mais tarde.

Nem o governo da então Alemanha Ocidental nem os líderes do partido único SED, na Berlim Oriental, participaram das decisões nas horas que se seguiram. Tudo ficou nas mãos das superpotências União Soviética e EUA. O então general soviético Anatoly Gribkov lembrou anos mais tarde, em entrevista a um documentário produzido pela emissora alemã ARD, que a situação do comando superior soviético era considerada de “perigo”. A instrução do Kremlin era de não “dar nenhum sinal de provocação”, recordou o general.

Recuo de dez metros

A solução para o conflito veio após um telefonema entre Krushov e Kennedy. Aquela era a primeira prova do chamado “telefone vermelho”, ou seja, de uma linha direta entre Moscou e Washington. Embora os dois políticos houvessem ordenado às suas tropas para reagir com violência, em caso de violência, nenhum dos dois tinha interesse em um confronto bélico aberto naquele momento.

Kennedy perguntou ao chefe do Kremlin, que mantinha uma linha de comunicação direta com o comando soviético em Berlim Oriental, se seus tanques de guerra poderiam recuar um pouco. Neste caso, os tanques americanos iriam também recuar. Krushov aceitou e imediatamente depois acontecia no Checkpoint Charlie uma cena fantasmagórica: como se estivessem sendo manipulados pela por uma mão do além, os tanques soviéticos recuaram primeiro e os americanos recuaram dez metros a seguir, onde ficaram estacionados. Embora as metralhadoras dos dois lados ainda estivessem empunhadas, o perigo de que alguém disparasse, de fato, havia sido afastado.

Autor: Matthias von Hellfeld (sv)
Revisão: Francis França

Fonte: DW-WORLD.DE

6 Comentários

  1. Muito feliz “a mão do além”, imagina se alguem erra uma marcha, não falo em tiros, mas uma simples mudança de marcha, invés de Ré, uma marcha adiante. Nem preciso dizer mais nada.

  2. Por motivos assim é que soldados são encinados orientados provados com treinamentos que os submetem a exaustão,para que tenham nervos de aço e psicologicamente estejam preparados,já imaginaram um maluco ou despreparado que não sabe cumprir ordens naquele meio,a terceira guerra mundial teria se iniciado.

  3. E ainda tem alguns modernistas que acham que no exercito é lugar de laser,de froxo que se exige demais, infelizmente tem alguns que não guentam o tranco,mas se não passarem por provas de fogo como se sabera que o cara vai suportar vai ser obediente na hora H.

  4. “(…)Kennedy perguntou ao chefe do Kremlin, que mantinha uma linha de comunicação direta com o comando soviético em Berlim Oriental, se seus tanques de guerra poderiam recuar um pouco. Neste caso, os tanques americanos iriam também recuar.(…)”

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    Encenação de um teatro de duas comadres durante o chá das cincos_Rsrsrs…
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    Ser fantoche é uma M3rd#

  5. Período histórico que trazia medo até para nós, pequenos.
    Na época, então com 10 anos, vivia morrendo de medo de que começasse uma guerra.
    Já lia muito sobre o assunto e sabia o que poderia ocorrer.
    Embora Nikita Kruschev tenha sido derrubado depois,em 1964, foi o líder que melhor se entendeu com os EUA, mesmo nas grandes crises em que se enfrentaram – Mísseis em Cuba, Baía dos Porcos, e Muro de Berlim. Não falo da invasão da Hungria porque foi de conteúdo exclusivamente europeu.
    Sabia os horrores da guerra, pois era o comissário político do Partido Comunista no cerco de Stalingrado.
    Foi realmente um período épico.

    A distância, pelo tempo, ainda sinto um calafrio de medo.
    Anos mais tarde, pude entender melhor ainda lendo o hoje clássico “Diplomacia Atomica”, do tcheco Gar Alperovitz.
    Na ocasião, a densamente militarizada Alemanha, tinha, em ambos os lados, bombas atomicas para destruir a Terra várias vezes.

  6. Ok! Mas pra quê esta bandeira americana tremulando em território alemão?.. É um local cultural que faz parte da história alemã ou uma Ode à vitória dos aliados?.. =0

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