Com abstenções no Conselho de Segurança, Brasil tenta agradar a todos

O Brasil busca há anos ocupar uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, mas se abstém em votações cruciais, como nos casos da Síria e da Líbia. Afinal, quais são as ambições da política externa brasileira?

A diplomacia brasileira intriga a comunidade internacional. O país ganha importância no cenário econômico global e se afirma como potência emergente disposta a reequilibrar as forças da política mundial. Nesse sentido, pleiteia há anos um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Mas quando chega a hora de votar resoluções de primeira importância, como as sanções contra o regime sírio, no início de outubro, ou a intervenção militar na Líbia, em março, a resposta é a mesma: abstenção.

Por trás da aparente falta de decisão, no entanto, está uma posição muito clara, analisa o sociólogo Thomas Fatheuer, ex-diretor da fundação alemã Heinrich Böll no Rio de Janeiro. “A mensagem do Brasil é: ‘nós não temos nenhum inimigo'”. A estratégia da diplomacia brasileira, segundo ele, é assumir a posição de intermediador para encontrar soluções negociadas e, com isso, também proteger-se de todos os lados.

“O Brasil é muito cauteloso quando se trata de condenar outros países, principalmente do [hemisfério] sul. Os brasileiros sempre acusaram os Estados Unidos de terem uma política externa ambígua, por condenar alguns países e outros não”, argumenta Fatheuer.

O zelo vale especialmente para o mundo árabe, onde a diplomacia brasileira cuida para não construir uma imagem de inimigo. “O Brasil se mostra conciliador e com isso também envia aos povos árabes um sinal de que tem uma posição independente e não quer ficar à sombra dos Estados Unidos”, diz Fatheuer.

As boas relações diplomáticas garantem também bons negócios: em 2010 as exportações brasileiras para o Oriente Médio cresceram quase 40%, somando mais de 10,5 bilhões de dólares, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

Aliada à política de cultivo de amizades está a tradição brasileira de rejeitar instrumentos de intervenção, baseada no próprio passado do país. “O histórico de intervenções militares na América Latina é muito negativo, então o Brasil se recusa a ir por esse caminho por acreditar que isso vá agravar ainda mais os conflitos”, diz Amâncio Jorge de Oliveira, presidente da comissão de pesquisa do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP).

Mais pelos direitos humanos

O papel de mediador moderado desaponta, porém, aqueles que esperavam uma postura mais ativa em relação à defesa dos direitos humanos durante o governo da presidente Dilma Rousseff. Para Oliveira, a abstenção do Brasil no caso da Síria foi uma reação errada e tardia.

“Foi um erro estratégico do Brasil nesse momento. Não só pela questão de se posicionar a favor do respeito aos direitos humanos, mas também por uma questão tática, de mostrar ao mundo que, em situações como essa, o Brasil consegue tomar decisões rápidas e na direção certa”, avalia o pesquisador.

As expectativas de que o governo Dilma Rousseff atuaria de forma mais firme na defesa dos direitos humanos aumentaram quando, em março, o Brasil votou a favor da investigação da situação dos direitos humanos no Irã. A decisão marcou uma ruptura com a política externa do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, no qual o Brasil se abstivera, por exemplo, de votar uma proposta que condenava violações de direitos humanos no Irã, poucos meses antes.

Mas com as novas abstenções nos casos da Líbia e da Síria, a diplomacia brasileira deu sinais de voltar à linha branda seguida durante a era Lula. Na perspectiva do governo, entretanto, abstenção não significa indecisão. Para o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Tovar Nunes, ela significa uma posição clara de descontentamento com a proposta apresentada, mas, diferentemente do voto contra, permite que o tema continue em discussão.

“Nós entendemos que, em relação à Síria, por se tratar de um país estratégico, onde a escalada da violência ou a instabilidade podem se alastrar para outros países da região, a cautela tem que ser maior. Nosso desejo era ter um pouco mais de tempo no Conselho de Segurança para extrair uma manifestação consensual”, explica Nunes.

O Brasil tinha reservas especialmente em relação ao artigo 41 da resolução sobre a Síria, que previa a imposição de medidas não militares contra o país árabe, como sanções econômicas e diplomáticas. O artigo acabou levando ao veto da resolução por parte de China e Rússia no dia 4 de outubro.

Aliados do Sul

A tendência do Brasil de votar alinhado com seus parceiros no Brics ou no Ibas (Rússia, Índia, China e África do Sul) no âmbito das Nações Unidas leva a crer que o país busca aproximação com seus parceiros do Sul, ao mesmo tempo em que se afasta dos Estados Unidos e da União Europeia.

O governo brasileiro reconhece que busca parceiros junto à força alternativa representada pelos países emergentes, mas nega haver qualquer intenção de se afastar das potências tradicionais. “Nós temos, sim, procurado nos coordenar com Índia e África do Sul, primeiro por uma razão muito objetiva: são três democracias multiétnicas de três continentes diferentes e que não são membros permanentes do Conselho de Segurança. Então essas credenciais levam esses parceiros a procurar fórmulas consensuais que ofereçam soluções em situações de conflito”, diz Nunes.

O porta-voz destaca o peso dos parceiros europeus nos setores comercial e de defesa, como, por exemplo, a França, país com o qual o Brasil intensificou a cooperação no setor de defesa a partir de 2009. “Você não faz isso com um país de quem queira se afastar”, ponderou Nunes.

Líbia: sem arrependimentos

Outra controversa abstenção do Brasil no Conselho de Segurança da ONU foi na votação da Resolução 1973 sobre a intervenção militar na Líbia, em março. O Brasil se recusou a votar, conforme justificativa oficial, por entender que a força só deveria ser empregada em último caso. O país não se opôs à ação da Otan, mas “lavou as mãos”.

Hoje, mesmo com o ditador Muammar Kadafi deposto e o Conselho Nacional de Transição rebelde reconhecido em quase todo o mundo como autoridade legítima na Líbia, o Brasil não se arrepende da decisão. Segundo o embaixador, se houvesse nova votação hoje, o país se absteria novamente.

“A resolução 1973 não era para promover a queda de nenhum regime. O objetivo era a proteção de civis, e nós não estamos seguros de que a força tenha sido utilizada somente para isso. Acreditamos que o uso da força não é recomendável quando extrapola o mandato do Conselho de Segurança. Além disso, o uso da força para proteção de civis muitas vezes redunda em morte de civis. Os casos do Afeganistão e do Iraque são bastante eloquentes a esse respeito”, diz Nunes.

Por uma vaga permanente

O Brasil já foi eleito dez vezes para mandatos de dois anos como membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, e desde o governo Fernando Henrique Cardoso pleiteia assento permanente no fórum. Os membros permanentes são Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China, que têm direito de veto em qualquer medida votada pelo órgão.

Críticos no meio diplomático chegaram a sugerir que as abstenções brasileiras em votações para condenar violação de direitos humanos no Irã, Mianmar, Cuba, Líbia e, mais recentemente, Síria poderiam prejudicar as ambições do país.

Para Fatheuer, porém, a entrada do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança não pode ser uma “recompensa por bom comportamento” aos olhos de alguns países. “É preciso observar que houve um reequilíbrio nas forças internacionais. Os países do Sul, especialmente os países do Brics, têm hoje simplesmente uma grande influência na política internacional e isso precisa se refletir no Conselho de Segurança.”

O fato de o Brasil ter bom relacionamento com Estados Unidos e União Europeia, além de não ter inimigos em nenhuma parte do mundo, poderia dar ao país o papel low profile que ele tanto busca no cenário internacional: o de mediador para soluções negociadas em situações de conflito.

Autora: Francis França
Revisão: Alexandre Schossler

Fonte:  DW-WORLD.DE

15 Comentários

  1. Vai ai uma sugestão ao governo borra-botas que sempre tivemos, sugiro que distriibuam camisas da seleção brasileira autografadas, a todos os governantes de paises em conflito.paizinho vagabundo esse.

  2. Oque oque esse artigo fala tem fundamento.
    Mais o autor se resumiu a analisar os aspectos negativos da atitude de nossa diplomacia, não procurou sequer saber se por trás disso haviam outros interesses.
    Podemos ter ficados mal na fita com os yanks concerteza(ao que parece possui carisma com o autor da materia). Mas e ao restante do mundo em desenvolvimento? e a posicão da china da russia, da india, foi diferente? eu acho que nao…
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    No final o autor fala algo muito interessante…. low profile..
    pra que mete as caras? deixa eles se quebrarem e vamos tentando resolver as coisas na nossa labia, ce nao conseguirmos(o que para alguns é considerado como os fracassos de noss diplomacia) ainda assim teremos ganho de imagem nos paises estratégicos como os do BRICS, sem ir diretamente de encontro aos interesses yanks e europeus

  3. Embora parte da mídia queira crucificar o BRASIL,a nossa diplomacia só tem acertado,acertou no caso do Irã e depois foi boicotada pela ONU,acertou na Líbia (“A resolução 1973 não era para promover a queda de nenhum regime. O objetivo era a proteção de civis…”) .
    O BRASIL É SOBERANO VOTA COMO QUISER, NÃO PARA AGRADAR CERTAS NAÇÕES DA OTAN !

  4. O Brasil não tem nada haver com essa pouca vergonha do CS,alás o Brasil lá nem fede e nem cheira.
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    O papel ridículo do Brasil se deve os burocratas do Itamaraty,por uma questão de vaidade coloca o País em uma situação vexatória perante o mundo….não vale a penas o Brasil se envolver com esses mafiosos que servem ao Mal.
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    ISSO NÃO VALE A PENAS BRASIL,SAI DESTE GRUPO ORDINÁRIO!

  5. “Segundo o embaixador, se houvesse nova votação hoje, o país se absteria novamente.” em cima do muro e ninguen tasca.
    Os 5 no conselho permanente nao vao adimitir ninguen que nao tenha cojones e uma moderna forca militar, e ate mesmo umas bombas atomicas..o resto e conversa, e com conversa o Brasil nao chega la.

  6. O Brasil tá certo, vai dar a cara a tapa pelo cocô dos outros, porquê?Em cima do muro é menos arriscado, sem culpa ou escrupúlos, foram assim que os desenvolvidos escreveram sua história, agindo por conveniência!

  7. Se atentarmos objetivamente para o perfil e o exercício da política exterior do governo brasileiro com relação aos conflitos no Oriente Médio creio que não teremos qualquer surpresa com relação as suas práticas, pelo menos nas últimas três ou quatro décadas. Um fato novo e que poderia se constituir em ponto de desequilíbrio na sua postura tradicional a esse respeito, seria a sua luta pela pretensão de ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, mas como muitos atores já percebem, esse desafio, ao contrário do que muitos esperavam, tem de fato fortalecido a sua postura conservadora de buscar o entendimento até o último instante, sem que seja preciso tentar apagar o fogo colocando gasolina que é o que muitos estão sempre fazendo.

    É claro que essa postura sempre desagradou aos todo poderosos e agora mais ainda, pois foram eles quem levaram ou acirraram os conflitos naquela região e pelos motivos que todos já conhecem. A ganância, os lucros exorbitantes e a manutenção da satisfação no nível de qualidade de vida dos seus países. Hoje, o Brasil desponta no cenário geopolítico como um divisor de águas nessa situação política anacrônica e equivocada e como era de se esperar, a sua posição atual, contraria mais ainda os interesses dos dominantes, face as suas pretensões no CS, a seu status econômico mundial, ao seu poder de influenciar positivamente novos e velhos atores e sobretudo em razão das suas conquistas de mercado, etc.

    O que os USA, o Reino Unido, a França, a Itália e outros sangue-sungas estão esperando de nós? que nós lhes favoreçamos e autorizemos que saiam por aí invadindo, matando, destruindo e se apossando das riquezas e das soberanias alheias sob a alegação de estão defendendo direitos humanos? Ora, só nos fazendo rir. Por que não tentam invadir a China ou a Coréia do Norte? ah! é isso, a Coréia do Norte não tem petróleo, mas tem umas bombinhas que metem medo e a China? bem, aí bate o cagaço, a história é outra e os resultados podem ser catastróficos para os invasores. Portanto, não venham com esse falso argumento de defesa dos direitos humanos, ou que o Brasil lhes desaponta quanto as suas abstenções ou vetos, pois não cola.

    As abstenções e os vetos fazem parte do jogo político do poder e o Brasil está empregando as regras do jogo, mesmo que alguns só gostem de jogar na vantagem ou com cartas marcadas. É sempre bom lembrar que no nosso país as colônias dos descendentes desses povos do oriente médio encontram de fato um lugar onde podem conviver em harmonia e sem a discriminação que lhes persegue por conta das suas práticas político-culturais. Não me surpreende o fato de o governo brasileiro levar em consideração esse aspecto de convivência sadia, pacífica e produtiva na hora de adotar e tomar as suas decisões de política-exterior.

    O necessário incômodo que o Brasil tem causado, assim como a China e a Rússia, estes últimos com assentos permanentes no CS, com certeza está levando os demais países a reverem as suas posturas servis e paradigmáticas no tocante as políticas para o fortalecimento das relações amistosas e o entendimento duradouro entre os países daquela região.

  8. Caim caim caim caim caim rsrs igual a cadelinha no cio que o primeiro que chega ela se atira no chão de barriga pra cima se urinando toda com a lingua de fora abanando o rabinho.Que bando de otario que é capaz de dar de bandeja a propria mãe achando que os usurpadores de riquesas alheias exterminadores de fracos vão abrir algo para os bastardos suplicantes rsrs Esse Brasil otario da QUADRILHA DOS IRMÃOS MANGUAÇAS não tem coragem e ousadia.Gozamos por enquanto de prestigio no resto do mundo e temos cacife para articularmos uma nova ordem mundial e seremos seguidos pela maioria das nações deixando os lobos isolados.So existira igualdade de direitos quando tivermos um conselho de nações com todas as nações com direito de voto e sem direito de veto onde a vontade da maioria prevalece.Se não for assim melhor não fazermos parte desse treatrinho de demagogos hipocritas onde rosnam e se lambem para dividirem despojos dos submissos.Brasil tenha vergonha na cara rompa com a ONU e forme uma nova ordem aproveite rasgue o TNP e o tratado de misseis.Uma nação soberana e independente se força com a coragem e a ousadia de homens abnegados e com amor patrio incondicional e não com postituida politica e ganaciosa iniciativa privada pitacando em assuntos sensiveis de estado.Pais de pontencial,povo sofrido trabalhador com potencial e criatividade mas governado gerido por bandidos e safados.

  9. De maneira alguma é possível concordar com o que está vigente no mundo, a era colonial passou sem deixar saudades e a evolução do pensamento humano não permite mais que se permaneça nesse estado, pelo menos não de forma aberta, pois o que vemos na prática é exatamente isso só que disfarçado de forma a passar quase desapercebido, até porque boa parte ainda não quer se preocupar.
    Não existe razões humanitárias por trás dessas ações, são demais as evidencias, chegam a ser escrachados mesmo os motivos reais o que na prática nos leva as velhas práticas já mencionadas de sempre.
    Precisamos mesmo manter uma posição diferente do que é nos levado a crer ser certo, pois não pode ser certo viver dessa maneira que infelizmente o EUA retratam tão bem.
    Acredito na condição “low profile” e acredito também que o Brasil é talvez o mais indicado pra isso ou pelo menos um dos poucos mais indicados, é claro que ao seu devido tempo.
    Temos que amadurecer muito e isso é papel de cada um individualmente.
    Boa sorte pra nós!
    abç

  10. POR ISSO NÃO DEVE FAZER PARTE DO CS, POIS É COMANDADO POR IDIOTAS Q NÃO SABEM TOMAR DECISSÕES, FICAM EM CIMA DO MURO VOTA CONTRA PORRAAAAAAAAAAAA.

  11. Brasil, deixa de ser trouxa e esquece essa palhaçada de CS!! Para de enrolar e desenvolve logo Armas Nucleares e vetores(ICBM) capazes de atingir todos os continentes..e pronto. Não precisa mais dessa panelinha idiota pra mais nada…Sem mais.

  12. UM acento no conselho de Segurança seria muito importante como forma de auto-defesa. Seriamos muito mais forte politicamente no cenario internacional, e poderiamos vetar qualquer tentativa através do CS de invasão ou divisão do nosso território.
    .
    Quanto a armamento nuclear, perdemos o bonde da história. Qualquer tentativa futura nesse sentido, sofreriamos tamanha pressão politica, economica e até mesmo militar, acima da nossa capacidade de resistência.

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