MÁ REDAÇÃO, DÚBIA INTERPRETAÇÃO

Sugestão: Cel. Paulo Ricardo Rocha Paiva

Aileda de Mattos Oliveira* (28/9/2011)

Se a clareza é necessária na elaboração de uma simples mensagem, imprescindível se torna, na produção de um documento oficial, tendo em vista os resultados que podem advir da interpretação de conceitos malformulados, de situações temporais maldefinidas e de períodos malconstruídos.
Dois casos, apenas, entre outros, são avaliados, como exemplos, e retirados do pobre manual estratégico jobiniano.
Não há como compreender o emprego do modo futuro, em certas partes da redação da END. É uma forma de postergar ações que devem ser imediatas, pois é um pensamento permanente a defesa da soberania nacional.
A escritura redigida no modo presente, em qualquer momento de sua leitura, mantém a sua vigência garantida, e imutável a posição política do país em relação à sua independência. Isto porque o chamado presente histórico, atemporal, efetiva, de maneira indefinida, a firme palavra decisória da nação sobre o seu território, ante os potenciais poderes usurpadores.
A par disso, o presente imprime, na voz da entidade que responde pela segurança nacional, o real espírito de que está imbuído o órgão, de mostrar-se dinâmico, relegando ao passado este burocrático amanhã, que será tarde demais. Não esperem uma guerra; a ocupação da Amazônia é silenciosa.
Dita o Decreto 6.703/8, na parte que se refere a O Exército Brasileiro: os imperativos de flexibilidade e de elasticidade, que “A defesa da região amazônica será encarada, na atual fase da História, como o foco de concentração das diretrizes resumidas sob o rótulo dos imperativos de monitoramente/controle e de mobilidade.
Há uma distância sideral e semântica entre “será encarada” e é encarada que tende a afetar, politicamente, um país malgovernado, como o Brasil. No primeiro caso, foram lançadas para um futuro incógnito, ações que serão inócuas, pela marcha acelerada dos acontecimentos. No segundo, as adequações estratégicas são imediatas e, portanto, sempre reavaliadas, de acordo, pois, com o ciclo das mutações das relações internacionais, tão transitórias, nos últimos tempos.
Sendo a fase histórica, atual, como diz o texto da END, a defesa da região amazônica tem, pela razão mesma da contemporaneidade da fase citada, que resultar de um planejamento dentro das circunstâncias do momento, e não de um projeto para um “será”, continuamente, futuro.
Contudo, não se limitam ao entrevero entre os tempos verbais as frestas por onde podem penetrar os tentáculos dos artifícios jurídicos manipulados, ardilosamente, pelos retóricos a serviço de quem quer que seja. As brechas surgem, também, nas frases intercaladas, à guisa de explicações, aparentemente, inúteis, ou matreiramente, capciosas.
Aliás, no mesmo trecho mencionado, desnecessária a inclusão de “na atual fase da História”, por estar a defesa da nação, sempre em primeiro plano, em qualquer tempo, em qualquer governo: [A defesa da região amazônica é encarada como o foco de concentração…]
Na parte referente a Priorizar a região amazônica, a afirmação de que o Brasil “Não permitirá [outra vez o futuro] que organizações ou indivíduos sirvam de instrumentos para interesses estrangeiros – políticos ou econômicos – que queiram enfraquecer a soberania brasileira. Quem cuida da Amazônia brasileira, a serviço da humanidade e de si mesmo, é o Brasil.”
Deixa-se de lado, agora, a aversão aos verbos, manifestada pelos redatores desta paralítica END. O que reverbera aos olhos do leitor atento é a frase final, afirmativa, de que o Brasil “cuida da Amazônia brasileira´, para si mesmo, o que deveria ser óbvio e que se deseja confirmada na concretude das atitudes governamentais. Porém,“a serviço da humanidade”, considera-se uma excrescência monumental. Peca, ainda, este período, pela primazia dada aos cuidados com a Amazônia “a serviço da humanidade” para, posteriormente, então, estar a serviço “de si mesmo”.
Os esclarecimentos se fazem necessários sobre a razão pela qual o Estado brasileiro “cuida” da mais rica região do mundo, primeiramente, “a serviço da humanidade”. Afinal, a Estratégia de Defesa é nacional e não transnacional. Coincidentemente, o verbo está no presente. Não acreditando em governos e em suas intenções, não considero coincidência, mas um propósito definido, a fim de responder aos interesses da farsa ecológico-ambiental, desde já sendo acatada.
A interpretação de um texto que visa à defesa do território nacional deve ser imediata, sem ambiguidades que venham a se tornar a chave para a obtenção do tesouro ambicionado por nações mal-intencionadas e, historicamente, dadas às invasões e às conquistas.
Sem nenhum interesse pelo trocadilho, a END é o fim, pela ausência de substância contextual, de autenticidade nas palavras e de credibilidade de propósitos.
(*Prof.ª Dr.ª em Língua Portuguesa. ADESG; ESG. Articulista do Jornal Inconfidência. Membro da Academia Brasileira de Defesa. A opinião expressa é particular da autora.)

9 Comentários

  1. O pior nem é o que esse tal de END deixa entrever nas entrelinhas…

    Mas tudo o que ele deixa dito claramente a qualquer leitor que se prestar a lê-lo…

    Entre outras coisas…
    *** Especifica que até o ano de 2015 nossa força aérea tem meios para atuar.
    *** Faz a absurda sugestão 1- aquisição de tecnologia sensível estrangeira – qual nação importante entrega de mão beijada seus segredos (conhecimentos) estratégicos?? rsrsrs!!
    *** Faz a absurda sugestão 2- de uso de força guerrilheira – ou seja, já alavanca a certeza de fracasso em nossos futuros meios de defesa simétricos.
    *** Deixa a absurda conclusão de que nossa defesa tem que ser planejada e montada não para o inimigo maior, mas para aqueles que sabidamente não estão no nosso patamar econômico.
    *** Deixa claro que se trata apenas de material produzido para dar certo trabalho para os funcionários do MD.

    Porém o pior é que ainda, depois desse manual pardo, vem aí os livros laranjas, rosas, verdes, brancos, cinzas etc.

    Que cabide interessante esse MD, qual será seu orçamento só para a folha de pagamento??

  2. Sempre achei esse END um trocadilho de mau gosto feito pelo fanfarão do “Joban”.Quem eme sã consciência cria um plano com esse nome,podem me chamar de paranoico e teórico da conspiração mais isso é mensagem subliminar para avisar os senhores do norte que as porteiras estão abertas e esse tal END é o tiro de misericórdia em nossas combalidas forças armadas.
    Nossa forças armas são a instituição em que o povo brasileiro mais confia,na frente até da igreja,nós não podemos deixar que esses vassalos e vendilhões destruam essas respeitáveis instituições.

  3. São poucos os indivíduos capaz de entender os caminhos desenhados nos mapas das entrelinhas, neles estão contidos as emoções, intenções e várias outros sentimentos; Portanto, o vale tudo, não cabe no julgamento. Semântica, realmente afeta o sentimento do leitor, leva ao abismo, afeta a decisão de muitos…, mesmo as pessoas mais esclarecidas são levadas a caminhos
    escuros…, Estamos sendo atacados, simplesmente não estamos vendo, só sentimos os efeitos. Acredite, explosões em caixas eletrônicos não são simples arrombamento por dinheiro, pode ser TERRORISMO?

  4. O Joban é um especialista em semantica traiçoeira… vide a constituição patria… esse END esta eivado de contraditorios e articulismos com intuitos inconfessáveis… continuamos o pais do futuro do subjuntivo… pena que a população mal sabe ler e escrever no preterito perfeito, imagine no imperfeito, se é que me entendem…

  5. Pressupõem-se que profissioasi de defesa tem sempre que preparar-se para a pior das situações.
    No Brasil eles esperam que os inimigos serão fracos, quando so pelo tamanho do Brasil, é necessario um grande poder para tentar alguma coisa.
    Tudo isso é medo de que o fortalecimento atrairá atenção.

  6. Um texto é facilmente mudado…Antes fosse esse o maior problema…
    Difícil mesmo é mudar a mentalidade (e mais ainda a atitude efetiva) de dirigentes e ‘formadores de opinião’ que parecem sentirem-se a vontade somente quando para atender o ‘politicamente correto’ do ponto de vista das potências hegemônicas do planeta.
    Nossa ‘elite’ intelectual, em quase sua totalidade, abomina a ideia de que DEVEMOS ser fortes militarmente, como se progresso social (que acho no momento prioritário, mas não exclusivo) e fortalecimento militar (defensivo, mas intimidatório) fossem coisas excludentes.
    Além daquele discurso do ‘país pacífico’ ( o que é verdadeiro, felizmente) acabar sempre desaguando em ‘país sem defesa’, numa lógica perversa para nossos interesses nacionais.

  7. Completamente EQUIVOCADA esta POSTAGEM. Temos que DEFENDER a AMAZÔNIA VERDE à partir da AMAZÔNIA AZUL. Proteger a AMAZÔNIA AZUL é PRIORIDADE, o INIMIGO vem do MAR, para entrar na AMAZÔNIA VERDE terão que VIR do MAR.

    Agora, RETIRAR a ONGs CANALHAS da AMAZÔNIA VERDE é FUNDAMENTAL. Transformar a AMAZÔNIA VERDE em uma ZONA MILITAR é o IDEAL.

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