Após descobertas, petrolíferas concentram ações nas Américas
De Norte a Sul do continente, empresas avançam em grandes descobertas, que podem garantir a auto-suficiência ao OcidenteSimon Romero, The New York Times
O Brasil começou a construir seu primeiro submarino nuclear para proteger suas vastas, novas descobertas de petróleo. A produção de petróleo da Colômbia está subindo tão rapidamente que já se aproxima da produção da Argélia e pode atingir os níveis pré-guerra da Líbia em poucos anos. A Exxon Mobil tem impressionantes novos negócios na Argentina, que recentemente anunciou sua maior descoberta de petróleo desde a década de 1980.
Nas Américas, de norte a sul, a história é semelhante: plataformas chinesas estão se preparando para perfurar em águas cubanas, um oficial canadense sugere que os americanos desempregados podem se mudar para o norte para ajudar a preencher as milhares de novas vagas no setor de petróleo do Canadá, e uma das iniciativas petrolíferas mais interessantes do hemisfério fica, na verdade, nos Estados Unidos, em uma formação de xisto na pradaria de Dakota do Norte que está produzindo 400 mil barris de petróleo por dia e faz parte de uma mudança mais ampla que poderia vir a aliviar a dependência americana no petróleo do Oriente Médio.
Pela primeira vez em décadas, o prêmio emergente da energia global pode ser a América, para onde as empresas petrolíferas ocidentais estão reorientando seu olhar em uma corrida para explorar cobiçados campos de petróleo.
“Esta é uma mudança histórica que está ocorrendo, recordando o tempo antes da Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos e seus vizinhos no hemisfério eram a principal fonte mundial de petróleo”, disse Daniel Yergin, historiador do petróleo americano. “Até certo ponto, vamos ver um novo equilíbrio, com o Hemisfério Ocidental mais voltado a sua auto-suficiência.”
O crescimento do petróleo no hemisfério é ainda mais notável dado que duas de suas potências de energia tradicionais, Venezuela e México, têm sido amplamente deixadas de fora, entrincheiradas pelo nacionalismo de recursos. Agora já se considera que a Venezuela tem reservas de petróleo maiores que as da Arábia Saudita, colocando o país no topo do ranking da OPEP. Caso se abrisse mais ao investimento estrangeiro, a Venezuela poderia inclinar a balança ainda mais a favor do hemisfério.
Exatamente como a “influência crescente do petróleo [nas Américas] pode reequilibrar a energia geopolítica continua a ser uma questão em aberto. O Oriente Médio ainda pode influenciar e muito os preços do petróleo, o desenvolvimento de seus campos é geralmente mais barato e alguns países da região são dotados de grandes reservas.
Questões ambientais
Além disso, as Américas ainda disputam investimentos com outras regiões ricas em petróleo, como a parte da Rússia do Oceano Ártico e as águas do oeste africano. Preocupações de segurança, como o sequestro de trabalhadores das empresas petrolíferas, poderiam, como fizeram no passado, impedir a Colômbia de continuar a elevar a sua produção. Questões ambientais e de financiamento representam desafios persistentes ao rápido crescimento da produção de petróleo do hemisfério.
Ainda assim, as novas façanhas petrolíferas das Américas sugerem que a tecnologia pode estar sobressaindo a geologia, especialmente nas duas maiores economias da região, os Estados Unidos e o Brasil. As formações rochosas no Texas e em Dakota do Norte eram supostamente infrutíferas até que métodos de exploração antes contenciosos – o jateamento de água, produtos químicos e areia através da rocha para soltar o petróleo preso em seu interior, conhecido como fracking – ganhassem espaço.
Embora a contaminação dos recursos hídricos pelo uso do método fracking seja uma questão de feroz debate ambiental, a tecnologia já está revertendo o longo declínio da produção de petróleo nos Estados Unidos, com a produção total de locais onde o petróleo está preso no xisto e em outras rochas projetado para exceder os 2 milhões de barris por dia até 2020, de acordo com algumas estimativas. Os Estados Unidos já produzem quase a metade de suas necessidades de petróleo, de modo que o aumento poderia ajudar o país a abandonar cada vez mais a sua dependência no petróleo estrangeiro.
Os desafios da nova exploração marítima no Brasil, em campos localizados abaixo de 6 mil pés de água e leitos de sal formados pela evaporação de oceanos antigos, são ainda maiores. A Petrobras, que tem ambições de ultrapassar a Exxon Mobil como a maior companhia petrolífera do mundo de capital aberto, está investindo mais de US$ 200 bilhões para cumprir suas metas.
“O Brasil vai se tornar uma potência petrolífera até o final da década, com uma produção comparável a do Irã”, disse Pedro Cordeiro, consultor de energia da Bain & Co., que vê a produção de petróleo do país subir para 5,5 milhões de barris por dia até 2020.
Atrasos de construção poderiam retardar a expansão marítima do Brasil. Mas as indústrias ressurgentes relacionadas com a expansão do petróleo, como a construção naval e os esforços estratégicos como a construção de submarinos nucleares para defender poços de petróleo, ressaltam o plano do Brasil de usar seus recursos energéticos para projetar o poder global deste hemisfério.
“Nenhum outro lugar do planeta está vendo esse tipo de investimento”, disse Marcio Mello, geólogo da Petrobras que agora é ex-presidente-executivo da HRT, uma nova companhia petrolífera local. “Esta década é a nossa chance de crescer.”
O otimismo é grande aqui – e até um pouco de arrogância pode surgir em meio a conversas. Ainda assim, analistas de petróleo dizem que o novo perfil de energia do hemisfério já está desafiando o domínio mantido por muito tempo pela OPEP.
O Canadá, por exemplo, já é o maior exportador de petróleo para os Estados Unidos, seguido pelo México.
Investidores de outras regiões, principalmente empresas petrolíferas chinesas, também estão investindo no petróleo do hemisfério, seja nos campos “pré-sal” do Brasil ou nas áreas de petróleo nos Estados Unidos. Eles estão em busca de garantir o abastecimento de petróleo ou de ganhar expertise que poderá ajudá-los a explorar formações rochosas semelhantes dentro de suas próprias fronteiras.
Os Estados Unidos e no Brasil não concordam sobre todas as questões envolvidas – o governo Obama ainda está hesitante em endossar a ambição do país por um assento permanente no Conselho de Segurança –, mas as duas maiores economias do hemisfério estão reforçando laços de energia e cimentando com isso um relacionamento econômico expansivo.
Conforme os Estados Unidos reduziram as importações da OPEP em mais de um milhão de barris por dia desde 2007, o Brasil e a Colômbia surgiram como principais fornecedores do mercado americano, superando o Kuwait.
O presidente Barack Obama visitou o Brasil em março, se recusando a adiar a viagem mesmo que a guerra na Líbia estivesse no auge, enfatizando enquanto aqui que quer que os Estados Unidos Sejam um “cliente importante” para o petróleo do Brasil quando a produção dos novos campos estiver em alta.
Autoridades americanas voltaram para negociações em agosto, com foco na exploração marítima e na cooperação na produção de biocombustíveis. Os Estados Unidos estão perto de ultrapassar o Brasil como exportador mundial de etanol, uma virada significativa, e os produtores americanos podem realmente aumentar as suas exportações de etanol de milho para o Brasil.
A mudança decorre de diversos fatores, incluindo as fracas safras de açúcar, que é usado no Brasil para a produção do etanol, e os custos crescentes de terra e mão de obra.
A capacidade do hemisfério para atender a demanda por combustíveis, seja de novas fontes petrolíferas ou da agricultura, é sem dúvida o que o torna competitivo com países como Iraque e Líbia, que tem abundantes reservas convencionais, mas diversos tipos de obstáculos.
“O tumulto no Oriente Médio é quase sempre ruim para a produção de petróleo”, disse Amy Myers Jaffe, diretora adjunta do Programa de Energia da Universidade Rice. “Isto deve deixar os fornecedores de petróleo do mundo muito nervosos, uma vez que o pêndulo já começou a se mover nessa direção.”
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