Teorias do Heartland e do Rimland

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Sugestão: Gérsio Mutti
Renato Cancian*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

A geopolítica é uma ciência que se desenvolveu a partir do estudo das influências dos fatores geográficos nas decisões políticas dos Estados soberanos; decisões que objetivam salvaguardar ou ampliar o poder de determinado Estado no sistema internacional.

No que se refere à ciência geopolítica, surgiram várias escolas e correntes de pensamento que desenvolveram teorias distintas. Entre elas, a teoria da geoestratégia, que fornece recomendações políticas precisas para o governo de um Estado com base em sua situação geográfica.

Mackinder e a teoria do Heartland

O pai da teoria da geoestratégia é o geógrafo inglês Halford J. Mackinder, que desenvolveu a teoria do Heartland. Heartland significa, literalmente, Coração da Terra. Mackinder situou o Heartland na zona territorial que abrange os continentes europeu e asiático, e que recebe a denominação de Eurásia ou Ilha Mundial.

A partir da teoria do Heartland, Mackinder pronunciou, em 1904, uma conferência na Real Sociedade Geográfica de Londres, quando defendeu a tese de que o controle dos mares não mais representava a chave do poderio das nações marítimas.

Na avaliação de Mackinder, a supremacia do poder naval havia chegado ao fim. Durante séculos, países que, devido às suas contingências geográficas, desenvolveram o meio de transporte marítimo, tanto para fins comerciais como para fins de segurança, obtiveram a supremacia nas relações de força no mundo.

No caso específico da Europa, por exemplo, o domínio europeu em relação ao mundo deveu-se ao desenvolvimento tecnológico naval – e seu poderio dependeu de forças militares marítimas. O controle dos mares havia proporcionado indiscutível prosperidade e segurança.

Porém, na opinião de Mackinder, as mudanças tecnológicas provenientes do desenvolvimento do motor à combustão e das grandes ferrovias transcontinentais, que se fizeram presentes no final do século 19 e início do século 20, propiciaram a mobilidade terrestre dentro de grandes massas territoriais – e esse fator começaria a alterar, a partir de 1904, as dimensões dos conflitos armados.

A Aliança Rússia-Alemanha

Com base na teoria do Heartland, a grande preocupação geopolítica e estratégica do inglês Halford J. Mackinder era uma provável aliança militar entre a Rússia e a Alemanha.

Segundo Mackinder, uma entente (acordo ou entendimento internacional) entre Rússia e Alemanha tornaria esses Estados aptos a ameaçar o equilíbrio de forças no continente eurasiático, o que provocaria uma transformação das relações de poder no mundo.

A preocupação do geógrafo inglês se baseava no fato de que a Rússia, considerada o pivô geográfico, se situa no Heartland e possui uma massa terrestre contínua, que se estende da Europa Oriental ao Extremo Oriente, território riquíssimo em minerais estratégicos e energia que, articulados às potencialidades industriais da Alemanha, tornaria possível a exploração desses recursos em benefício do desenvolvimento e da manutenção do poder militar estratégico.

Mackinder conclui que, dessa forma, o poder naval começaria a ser ameaçado pela emergência do poder terrestre. O Heartland, a massa terrestre representada pela Rússia, era, geograficamente, um território invulnerável ao alcance das potências marítimas. Uma aliança entre Rússia e Alemanha seria, portanto, do ponto de vista estratégico, a articulação entre recursos industriais e recursos naturais e demográficos.

Em última instância, essa aliança representaria o domínio do território eurasiático e, segundo o geógrafo inglês, dominar essa região significaria dominar o mundo. Mackinder sintetizou seu pensamento do seguinte modo: “Quem controla a Europa Oriental, domina a Terra Central; quem controla a Terra Central, domina a Ilha Mundial; e quem controla a Ilha Mundial, domina o Mundo”.

A Guerra Fria e a teoria do Rimland

A conferência de Mackinder teve grande repercussão política, principalmente para o governo da Grã-Bretanha. Nos anos seguintes, o governo britânico buscou a manutenção do equilíbrio de poder no continente por meio da aplicação de uma estratégia política fundamentada no isolamento entre a Alemanha e a Rússia.

As teorias de Mackinder também influenciaram gerações de estrategistas e estudiosos da geopolítica moderna e contemporânea. Foi com base na teoria do Heartland que o estrategista americano Nicholas J. Spykman (1893-1943) desenvoleu a teoria do Rimland, também denominada de Estratégia da Contenção, que serviu de base para o desenvolvimento da doutrina de segurança dos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial.

Nicholas J. Spykman era um ferrenho defensor de uma política intervencionista norte-americana tanto na Europa quanto na Ásia. Contrariando os argumentos dos estrategistas que defendiam a hegemonia dos Estados Unidos apenas no âmbito do continente americano e o isolacionismo em relação ao equilíbrio de poder na Europa e na Ásia, Spykman dizia claramente que a América seria vulnerável às invasões provenientes tanto do Hemisfério Ocidental (Europa) quanto do Hemisfério Oriental (Ásia).

Heartland versus Rimland

Na avaliação de Spykman, embora os Estados Unidos gozassem de uma posição geográfica privilegiada – com dois oceanos, que o separam dos continentes asiático e europeu – e de uma posição estratégica favorável no continente americano – enquanto poder hegemônico -, a tridimensionalidade dos conflitos armados (devido ao desenvolvimento dos poderes terrestre, naval e aéreo) ameaçaria inevitavelmente a segurança da nação.

Conforme argumentou Spykman, o imperativo estratégico americano deveria ser voltado para uma política externa intervencionista. A macroestratégia americana seria baseada na teoria do Rimland, ou poder periférico, tendo como resultado o desenvolvimento do poder aéreo naval e a supremacia nos mares e oceanos.

Levando-se em consideração o princípio de que as condições geográficas de um país determinam sua estratégia de segurança, era indispensável à segurança dos Estados Unidos ultrapassar os limites de suas fronteiras geográficas.

Essa macroestratégia teria como conseqüência a criação de várias linhas de defesa, baseadas em bases navais situadas no Hemisfério Norte, região do globo terrestre que concentra os principais centros do poder mundial.

A primeira linha de defesa, contudo, deveria estar situada na orla eurasiática, ou seja, em países fronteiriços com o Heartland. Desse modo, pretendia-se conter a expansão soviética para a periferia do continente eurasiático.

O controle político e militar do Heartland, por parte da União Soviética, representaria o domínio dos recursos demográficos e naturais da eurásia e, por conseguinte, a chance de controlar o mundo. Conclui-se, portanto, que a política intervencionista que os Estados Unidos deveriam pôr em prática seria concebida como uma defesa de sua soberania e de sua segurança estratégica. O que, efetivamente, os Estados Unidos fizeram e continuam a fazer.

*Renato Cancian é cientista social, mestre em sociologia-política e doutorando em ciências sociais. É autor do livro Comissão Justiça e Paz de São Paulo: Gênese e Atuação Política -1972-1985 (Edufscar).

9 Comentários

  1. Hoje em dia, todas essas teorias antigas são uma idiotice. Um país quando se sente ameaçado, se une com os seus vizinhos, ou com outras nações que possuem laços históricos.

  2. Rsrs enquanto estiver-mos atrelados a tudo por Geografia apenas carregaremos nas costas o peso dos outros subjugados por um patrão.Porque o ser humano busca respostas em padrões teoricos dos outros rsrs e é incapaz de criar proprio padrão e de seguir enfrente rsrs Sera incapacidade de pensar ou preguiça de fazer.Uma coisa é certa apenas adimite a si mesmo incapacidade e dependencia.Uma Nação soberana e independente se faz com homens de coragem que com ousadia conquistão.Apostar sem medo de perder e levantar quantas vezes for preciso a cada tropeço traz a determição de ser vencedor e atingir o objetivo.O seculo 21 é o seculo da sobrevivencia onde os fortes viverão e os fracos sucumbirão.

  3. O REAL MOTIVO DAS GUERRAS ATUAIS
    A GANANCIA DOS IMPÉRIOS
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    Eis o verdadeiro pano de fundo,o substancial de toda a luta do império americano;aquele papo das causas ideológicas que imperava na “guerra-fria” e de hoje,os terroristas;os muçulmanos,…é tudo cortina de fumaça,estorinha para pegá parvos(incauto).
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    Depois vem com a balela,-“sem o império americano comandando,o mundo ficará pior;não haverá liberdade,não haverá esperança,não haverá coca-cola,batatas-frita,…,etc.
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    Todo império necessita de riqueza para sobreviver e para isso,subjuga nações e povos(coleiras nestes);as propagandas de politicagem ideologias,são faxadas(rótulos e as falsas bandeiras).
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    Elas são cortinas de fumaça para ludibriar os subjugados,o ouro dos tolos;que ás vezes alguns por aqui adoram usar em sua coleiras enfitadas como ornamento,um verdadeiro troféu a tolice.
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    Toda guerra travada nos século passado e as guerras atuais,são brigas para a autoafirmação dos impérios ocidentais;desde as cruzadas na era medieval(alguns vivem ainda naquele tempo);passando pelas duas guerras mundiais, a guerra-fria e a atual(contra terrorismo) e já chegaremos a III GM.
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    E falando da III GM,como seria essa guerra?
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    “(…)No Verão de 2010, as tensões militares entre os Estados Unidos e a China começaram a aumentar no Pacífico ocidental, outrora considerado um ‘lago’ americano. Ainda um ano antes ninguém teria previsto uma evolução destas. Tal como Washington se aproveitou da sua aliança com Londres para se apropriar de grande parte do poder global da Grã-Bretanha depois da II Guerra Mundial, também a China está a utilizar agora os proveitos do seu comércio de exportações para os Estados Unidos para financiar o que parece vir a ser um desafio militar ao domínio americano nas águas da Ásia e do Pacífico.(…)”
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    *****(fonte:dinâmicaglobal)
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    http://dinamicaglobal.blogspot.com/2010/12/cenario-de-uma-iii-guerra-mundial.html

  4. Após uma leitura acurada do texto, bem como a julgar pelos aspectos geopolíticos inseridos no atual cenário global depreende-se que ambas as teorias podem ser consideradas defasadas. Na primeira o postulante desconsiderava por completo o poder e a importância da América do Sul como um player, status que até bem recentemente carregávamos.
    Na segunda, o seu arquiteto não contava com que os céleres avanços tecnológicos pudessem diminuir o ímpeto da política intervencionista dos USA e seus aliados, nivelando ou equilibrando o jogo do poder no planeta.
    O domínio do átomo por mais de um dos players, a corrida pela informatização, os satélites, os ICBM, combates assimétricos, a revolta contra a imposição da miséria no mundo como forma de manutenção do poder de dominação, o narco-terrorismo, o crescimento da China, o terrorismo fundamentalista, as novas parcerias, etc, todos esses fatos novos devem ser considerados, avaliados e julgados e bem administrados, mas parece que não foram.
    O resultado disso: medo, insegurança, políticas equivocadas, desperdício de recursos humanos e financeiros e possibilidade de maiores conflitos.
    O bom de tudo isso foi que durante um bom tempo os países sul-americanos puderam aprender com os erros alheios e o Brasil, hoje, ostenta um lugar de destaque nesse cenário. É evidente que temos que tirar proveito das lições de estratégia empregadas ao longo dos anos e alterá-las ao nosso favor. Recentemente vimos a quarta frota americana circulando no Atlântico Sul, seria isso uma provocação, um aviso ou uma forma de intimidação velada? recentemente o secretário de defesa dos USA nos rotulou como perigosos para o planeta, assim como os demais membros dos BRICS e aí, o que está por vir? sempre ouvi dizer que um animal ferido e com fome é bem mais perigoso, portanto todo cuidado é pouco.
    Temos que correr contra o tempo, temos que estar preparados e prontos, pois existem vários animais nessa situação atualmente.
    A Estratégia Nacional de Defesa, sem contingenciamentos, é justamente o que precisamos para nos dar a garantia de que temos condições de reagir a tempo, ao menos de forma dissuasória.

  5. dandolo,em si não estácompletamente errado,mais sua teoria é ridicula,a teoria do heartland ainda é válida,se rússia e alemanha se unirem o negocio pega fogo pros EUA,porque a suécia pode e deve ser influenciada pela alemanha,ai uma invasão novamente dessa vez da rússia formando um tipo de nova URSS,pois se faria um tipo de muralha naval,aérea e terrestre entre heartland e a OTAN,ja que a alemanha fica bem no meio do continente europeu,outra coisa é,se a alemanha se unir a rússia que é aliada da índia a economia da alemanha estará segura enquanto os países do euro vão cair em depressão,vendo que a alemanha carrega a zona do euro nas costas,e todos esses países da zona do euro estão alejados,então basicamente,se a alemanha deixa de segurar eles,eles vão ter que tentar andar sem pernas,ai lá vem os EUA com moletas aí recomeça a guerra fria,mais diferentemente da ultima eu considero a alemanha e rússia como dois países irmãos,rússia é o irmão grande e forte mais “burro”,enquanto a alemanha é o irmão menor e forte mais não tanto quanto o irmão rússia,e o irmão alemanha é “inteligente”(com sempre boa economia),assim a rússia e seu poder militar com a economia alemã ajudada pelos recursos indianos e russos,não duvidaria que o heartland se tornasse mais forte economicamente e milirtamente que os americanos.

  6. A estrutura de um Estado pode sobreviver e ser preservada sem seu territorio… Um exemplo classico e a da vinda da Corte Real portuguesa para o Brasil…
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    Existe uma coisa mais fundamental do que o proprio territorio… ´E a REDE de poder estatal… Divisoes na rede (pensamentos e acoes divididos, no popular, milico/paisana) ´e pessimo e ultrapassado…
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    Diplomacia e poder militar devem trabalhar juntos e em harmonia de interesses e com protocolos semelhantes, pois possuem o mesmo objetivo fundamental: Protecao da REDE de poder do Estado Brasileiro…
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    A Defesa ´e impar, como diz o artigo…

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