Militante do multiculturalismo, Caroline Fourest teme por tempos 'dolorosos e violentos' na Europa

Caroline Fourest

O racismo passou da retórica aos fatos, pôs o dedo no gatilho de uma metralhadora e estraçalhou os corpos de 76 jovens em julho deste ano, na Noruega. Com este ato, provocou urros de aprovação numa direita branca, católica, homofóbica e raivosa, desejosa de ver no massacre cometido por Anders Behring Breivik os pilares da recuperação da Europa “monocultural, forte, íntegra e iluminada da Era Medieval”.

Em uma entrevista exclusiva ao Opera Mundi, concedida por e-mail, de Paris, a escritora francesa e professora de multiculturalismo da Sorbonne, Caroline Fourest, falou da nova onda que prega o apartheid mundial como forma de frear os “efeitos nocivos” da mundialização. Colunista do jornal francês Le Monde e fundadora da revista ProChoix, Caroline emergiu nos últimos dez anos como uma das maiores defensoras do multiculturalismo. Razão suficiente para, segundo as teorias de Breivik, ser vítima de um ataque, assim como sua publicação.

Temas ligados à intolerância são cada vez mais presentes na imprensa – às vezes como debate de uma visão de mundo; outras como motivação para atos violentos. Acredita na existência de uma onda favorável a um ‘apartheid mundial’, onde norte e sul, negro e branco,  cristão e muçulmano serão cada vez mais temerosos de viverem juntos?

Nós estamos presenciando hoje o crescimento de um medo que é mais complexo que um “simples” racismo de tipo neocolonial. Já não se trata mais de preconceitos ligados a sentimentos de superioridade para dominar o outro, seja com finalidade econômica, seja com finalidade comercial. Hoje, vemos um medo mais ligado à crise da mundialização e do multiculturalismo. Do ponto de vista de certos europeus, principalmente dos mais desfavorecidos, a mundialização não faz mais que causar problemas como reduzir a proteção social, aumentar a concorrência por salários e levar a perda da identidade nacional.

Trata-se, portanto, muitas vezes, de uma ansiedade que é ao mesmo tempo social e cultural. Ainda que os preconceitos racistas de tipo clássico se retirem, pelo menos no caso da Europa, o medo do estrangeiro apenas muda de forma.

Já não se trata tanto de rejeitar a imigração porque nós acreditamos que os outros são inferiores, mas porque eles podem nos fazer concorrência com os mesmos salários ou mesmo enquanto trabalhadores do sul (em pleno crescimento).

Isso os leva a crer que poderemos desaparecer enquanto cultura, caso todas as minorias que migram para o Norte nos impuserem sua particularidade cultural ou religiosa. É assim, o extremismo religioso irrompe.

O atentado na Noruega permite dizer que a Europa entrou em uma nova etapa no combate à discriminação e da defesa dos direitos humanos? O que mudou depois deste episódio para os que defendem um mundo livre e tolerante?

O massacre na Noruega é um ato isolado de uma pessoa perversa, sádica e narcisista. Mas é claro que ele levanta questões. Seu manifesto de ódio concentra os novos bordões da direita europeia, como a nostalgia de um mundo monocultural, no qual a identidade europeia deve ser reafirmada para que não desapareça.

Os principais perigos que pairam sobre esta identidade são, aos olhos destas pessoas, destes assassinos, a “feminilização da Europa”, como um conceito que sabota o patriarcado.

Depois, há o medo do marxismo cultural, que é visto como algo que depões contra o brio masculino do homem branco, cristão e heterossexual. Estes assassinos criticam o multiculturalismo, mas eles nunca o fazem de maneira laica, universalista ou igualitária. É, em vez disso, uma visão machista, homofóbica e patriarcal da identidade europeia, frente ao que eles veem como uma ameaça à virilidade e à vitalidade, provocada também pelo que eles chamam de “islamização” em curso, ou seja, uma invasão muçulmana por meio da imigração.

Muitos chamaram o manifesto de Breivik um novo Mein Kampf. O que pensa dessa associação e quais são efetivamente os riscos que um livro como este pode representar, na disseminação de ideias fascistas na Europa de hoje?

É um manifesto de ódio, o qual o autor espera claramente que tenha o mesmo destino do Mein Kampf. Ele já teve uma difusão inquietante pela internet, ainda que grande parte das pessoas o tenha lido para melhor combatê-lo. Mas, diferente de Hitler, seu autor passou aos atos antes de transformar-se num modelo. E que modelo ele propunha? De matar a sangue frio pessoas que tinham entre 12 e 17 anos? Quem pode se identificar com isso?

Mesmo os piores extremistas políticos estão obrigados a condenar este ato absolutamente sem sentido, ao contrário do que o assassino queria fazer crer, e que se parece a terrorismo puro. Sim, devemos estar muito vigilantes para que todos os que ousem se solidarizar com um “modelo” como esse sejam sistematicamente condenados.

A imprensa viveu um dilema confrontada com a decisão de publicar ou não o manifesto de Breivik. Há quem pensa ser preciso discutir o conteúdo como uma forma de confrontar intelectualmente a ameaça. Por outro lado, há quem defenda que não se pode dar mais visibilidade a essas teorias, pois é justamente a publicidade que interessa. Qual sua opinião?

É muito complicado, realmente. De um lado, é preciso ler para melhor compreender. De outro, ele contém efetivamente passagens de incitação ao ódio, à morte; um verdadeiro manual de terrorismo, que faz com que sua proibição me pareça justificada e até mesmo necessária.

Mas como proibir isso na Internet? É impossível. Se você prevê uma sanção aos que possuem o documento, não estará fazendo mais que dar a ele um caráter sulfuroso, ainda mais sedutor. Apesar disso, é preciso penalizar os sites que publicam e difundem este documento.

Em seu documento, Breivik diz a seus seguidores que eles devem realizar ações violentas contra todos os que defendem o multiculturalismo na Europa. Sentiu-se pessoalmente confrontada com uma ameaça tão direta?

Eu trabalho numa fundação para o diálogo entre as diferentes culturas, que foi citada como um dos alvos para estes ataques. Ao mesmo tempo, faço parte dos intelectuais que escreveram livros contra a integralidade (no sentido de pureza) e criticam certo tipo de multiculturalismo, que não passa de uma visão anglo-saxã de multiculturalismo.

Ela leva a tolerar a integralidade sob o pretexto de respeitar “as culturas”. Mas a minha crítica é articulada, guiada pelo feminismo e pelo antirracismo. É uma crítica que pede que nós reforcemos a igualdade entre homens e mulheres, que lutemos contra a discriminação e que apliquemos os princípios laicos.

Os assassinos não compartem, absolutamente, desta visão, que eles combatem com todas as suas forças, uma vez que detestam o feminismo e o antirracismo. Este ato atroz (na Noruega) reforça tudo o que eu tenho tentado dizer nos últimos dez anos.

Se não encontrarmos soluções que sejam ao mesmo tempo antirracistas e laicas para a crise da mundialização, estaremos abandonando o terreno em favor dos racistas extremistas e monoculturalistas. Se nós estivermos de acordo sobre estes valores e ao mesmo tempo encontrarmos soluções para mitigar a crise econômica e reduzir as injustiças provocadas pela desregulamentação econômica, a barragem aguentará.

Do contrário, teremos pela frente tempos dolorosos e muito violentos.

Fonte: Opera Mundi

11 Comentários

  1. Quero aqui deixar a minha posição frente aos novos tempos que se colocam como encruzilhadas e desfazer o que se faz com o nosso mundo…
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    “ULTIMATUM”

    Mandato de despejo aos mandarins do mundo
    Fora tu,
    reles
    esnobe
    plebeu
    E fora tu, imperialista das sucatas
    Charlatão da sinceridade
    e tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro
    Ultimatum a todos eles
    E a todos que sejam como eles
    Todos!
    Monte de tijolos com pretensões a casa
    Inútil luxo, megalomania triunfante
    E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
    Que nem te queria descobrir
    Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular
    Que confundis tudo
    Vós, anarquistas deveras sinceros
    Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
    Para quererem deixar de trabalhar
    Sim, todos vós que representais o mundo
    Homens altos
    Passai por baixo do meu desprezo
    Passai aristocratas de tanga de ouro
    Passai Frouxos
    Passai radicais do pouco
    Quem acredita neles?
    Mandem tudo isso para casa
    Descascar batatas simbólicas
    Fechem-me tudo isso a chave
    E deitem a chave fora
    Sufoco de ter só isso a minha volta
    Deixem-me respirar
    Abram todas as janelas
    Abram mais janelas
    Do que todas as janelas que há no mundo
    Nenhuma idéia grande
    Nenhuma corrente política
    Que soe a uma idéia grão
    E o mundo quer a inteligência nova
    A sensibilidade nova
    O mundo tem sede de que se crie
    Porque aí está apodrecer a vida
    Quando muito é estrume para o futuro
    O que aí está não pode durar
    Porque não é nada
    Eu da raça dos navegadores
    Afirmo que não pode durar
    Eu da raça dos descobridores
    Desprezo o que seja menos
    Que descobrir um novo mundo
    Proclamo isso bem alto
    Braços erguidos
    Fitando o Atlântico
    E saudando abstratamente o infinito.

    *** Álvaro de Campos – 1917 ***
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    Após 100 anos ainda encontramos os “deveras sinceros” a gorgogear nos panteões da dissimulação suas jubas eloquentes, mas que nada agregam aos que necessitam de janelas…

  2. A internet, por atingir culturalmente milhões de pessoas com baixíssima cultura, acaba abrindo espaço para divulgação de muitas inverdades geradas por esses agentes da mediocridade.
    E exemplos é o que não falta… teorias de conspirações sem pé nem cabeça, defesa de meio ambiente por ongs vigaristas travestidas de ambientalistas, novas roupagens de fatos históricos infundadas, dar ibope para asneiras sem fim (ex: vídeo de como amarrar o cadarço em 1s)etc.
    E esse artigo é isso, muita bobagem…
    1º- A Europa sempre foi dolorosa e muito violenta que o digam os ciganos, judeos e pobres, deste século e de todos os outros precedentes.
    2º- A autora se esqueceu (vamos dar uma colher) de mencionar que quem está com enorme receio e medo de violências generalizadas pela Europa… é a elite.
    3º- Que como o norueguês genocida era um típico europeu branquelo ele é citado pela midia européia como, filósofo, pensador, racista, monoculturalista, narcisista e istas e tal, e não simplesmente um brutal assassino.
    4º- Fala de multiculturalismo como se isso fosse uma grande sacada européia e não uma realidade continental americana de dezenas e dezenas de anos, ou seja distorce os fatos da realidade mundial a favor da Europa.
    5º- O europeu é, e continuará sendo, o povo mais racista do mundo, ela mesma prova isso ao não se referir “resumidamente” ao norueguês como um lixo humano da pior espécie e pregar (como uma dondoca deslumbrada) uma tal de mundialização.
    6º- A solução, dentro da Europa, não passa por atitudes laicas, feministas, antirracistas (como ela sugere), mas apenas por menos arrogância e muito mais humildade interpessoal e social. Só isso… europeus sejam humildes. O mundo está se tornando multipolar e o poder está saindo rapidamente de suas mãos. Será que essa ficha vai demorar para cair??

  3. O país menos racista do mundo é o Brasil e em segundo lugar vem os EUA. O mais racista do mundo, acho que é o Japão. O mundo inteiro é racista, até mesmo os países africanos. As tribos africanas não se misturam, e brigam entre si.

  4. ViventtBR, brilhante o seu comentário!
    Algumas frases são uma síntese perfeita da realidade que os europeus não veem.
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    ViventtBr disse:

    Fala de multiculturalismo como se isso fosse uma grande sacada europeia.

    Essa afirmação é chave porque mostra o que aconteceu no século XX. Os intelectuais europeus se consideravam o centro do mundo, e quanta bobagem eles inventavam era repetida pelo resto do mundo.
    GAME OVER!
    Game over para esses parasitas, essa mulher como vc colocou, quase que se apresenta como a inventora do multiculturalismo! minha nossa! Essa mulher é só soberbia e arrogância!
    .
    Ela é europeia, então quando começa falar, tem que reconhecer que seu povo, como vc colocou Vivent, é o mais racista do mundo.
    .
    Ela nem imagina que o resto do mundo acordou e ri das suas bobagens. Tentam ligar o cara com o nazismo, é a única explicação que estão dando, quando o cara era simpatizante sionista(como informaram colegas aqui) e não tinha nada a ver com nazis. Haja paciência.
    ——–
    MUNDO EM CRISE?
    Estes intelectuais europeus e americanos acostumam falar duma crise mundial, rsrs, é claro que não é mundial, a crise é deles!
    EUA
    Os americanos são reféns duma elite parasita da humanidade, que baseia seu progresso no roubo de recursos naturais. O cidadão americano só pode ficar quieto e ser cúmplice dessa elite ou ser acusado de terrorista.
    Europa
    E os europeus simplesmente são um quintal dos americanos, eles tem que aceitar que os americanos usem o território europeu para cárceres clandestinas etc.
    Agora são obrigados pelos americanos a participar dos ataques a países indefesos.
    Europa está pior que os EUA, porque ela não tem recursos naturais e chegou a hora de começar a baixar salários, porque a indústria chinesa copou o mundo.
    .
    Soberbia, arrogância, blábláblá, meu deus, se essa mulher quer saber de multiculturalismo que visite Brasil.

  5. A impotência diante do outro, o medo do outro, o temor de ser superado e de não ser exatamente com se acham, levam os homens a cultivar o preconceito, o racismo, para compensar a frustração do medo e da inferioridade perante o outro, cultivada internamente!Ou seja, essa postura de agressão ao diferente de nós (gays, negros, religião etc)tem explicação na psicologia!Claro que agora que eles estão por baixo vão ter que dar vazão a esse sentimento de fracasso, então, vão correr pra onde, pro velhos valores: racismo, preconceitos etc; é a velha europa de sempre!

  6. .
    .
    Bem e quem não sabia que a direita é isso tudo ai, perseguição, censura, morte, defesa dos interesses da elite, dinheiro acima da vida humana???…
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    Basta ver os casos mais dramáticos das ditaduras militares latinas, ou o coronelismo brasileiro direitista e elitrária, onde morria quem decidisse ganhar a grana independente ou competisse no mercado agrícola da cidade com o “Coronel”…
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    Hoje temos muitos mais coronéis no Brasil, principalmente na bancada ruralista direitista do Congresso Nacional filiados ao DEM, que por puro desrespeito ao povo trabalhador e em defesa do próprio interesse privado não apoia a confisca dos bens de quem ainda utiliza mão de obra escrava no campo brasileiro, faz isso por que ganha com essa pratica também, com escravos moderno obviamente, pois se nada ganhasse ja teriam aprovado esse tipo de punição para os escravista direitistas!!
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    Mas a intolerância politica da direita leva sempre pra esse lado ai, a morte de inocentes por mãos daqueles que acreditam do veneno de que pra fazer politica deve-se ter um inimigo politico… espero que estejam satisfeitos com todo esse sangue derramado!!
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    Ja do outro lado, do lado esquerdo, EXISTE A LUTA pela integração de todos os humanos, sejam negros, latinos, europeus, asiáticos, pois são todos seres humanos e ninguém é superior a ninguém, onde estes tem direito à trabalhar em nossas nações, estudar, morar, prosperar e UNIDOS VENCEREMOS. Acreditando que nacionais e imigrados tem os mesmos direitos e deveres e não que uns sejam superiores aos outros, e que os imigrantes devem somente fazer sub-trabalhos… e isso tudo incomoda muitos da direita que se sentem superiores aos estrangeiros, e os veem como ladrões de emprego e razão de todos os maus da sociedade branca e perfeita!!
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    Valeu!!

  7. Minha senhora sua cultura está sendo exterminada…e pelo jeito o Politicamente Correto não vai deixar vocês fazerem nada, terão apenas que sentar e olhar o fim da sua civilização. Não fazem mais filhos… e defender a cultura Europeia, os povos brancos indígenas e os valores cristãos hoje em dia é “feio”, “preconceito”, não é “politicamente correto”..Bem feito continue lambendo as botas da “Nova Ordem Mundial”; multiculturalismo, liberalismo, ismo pra cá; ismo pra lá; etc. E consumindo o lixo cultural que vem da TV.. Em breve para se ver algum Europeu só indo a algum museu de história natural… Que se danem, só me preocupo com meu país e meu povo.

  8. Aliás srs. o mesmo principío, idéia, q norteou a 2 GM está presente em td a europa, e os buchas desta x serão os mulçumanos, os judeus já foram usados como desculpas p tantos barbarismos…Quem viver verá.

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