As Nações Unidas autorizaram nesta terça-feira a repatriação dos capacetes azuis uruguaios que supostamente abusaram de um jovem de 18 anos em Porto-Salut , cidade costeira do Haiti. Até então, a ONU impedia o regresso dos cinco soldados já que um tribunal local reivindicava julgá-los.
Os uruguaios estão presos, sem comunicação, na base naval da cidade costeira. Ainda não se sabe quando eles retornarão ao Uruguai.
O suposto ataque ocorreu em 20 de julho, mas só foi divulgado esta semana, quando caiu na Internet um vídeo da agressão filmado com um celular. O jovem, com as calças abaixadas, é mantido de bruços, imobilizado por dois soldados que seguram seus braços, enquanto um terceiro, sem camisa, se ajoelha, entre risos quase generalizados.
A ONU e os governos do Uruguai e do Haiti lançaram investigações independentes. Até agora, uma enquete preliminar das Nações Unidas qualificou o episódio de “brincadeira pesada”, mas não encontrou provas de abuso sexual contra os quatro militares. Mas os fuzileiros navais romperam as regras ao levarem um civil a seus dormitórios, e foram enviados de volta para casa. O ministro uruguaio da Defesa, Eleuterio Huidobro, no entanto, qualificou os atos cometidos pelos soldados no vídeo de “aberrantes”. Informado das acusações, o presidente José Mujica ordenou que uma denúncia criminal seja apresentada à Justiça uruguaia.
Por sua vez, o juiz haitiano Paul Tarte, responsável pela investigação do caso, afirmou que “um certificado médico revelou ferimentos inequívocos no adolescente”.
– Dois soldados me seguraram, e dois outros me estupraram. Eles me bateram várias vezes. Depois, os soldados tentaram negociar com minha mãe para esconder o crime, mas ela alertou as autoridades e entrou com um processo – afirmou o adolescente a uma rádio de Les Cayes, no sul do Haiti.
‘Não podemos contaminar toda a missão de paz’, diz Amorim sobre caso de abuso no Haiti
O general brasileiro Luiz Eduardo Ramos Pereira, comandante da Força da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), afirmou nesta segunda-feira que a ONU já estuda uma estratégia de saída dos cerca de nove mil militares de 19 países que hoje garantem a paz no Haiti.
Num primeiro momento, provavelmente a partir de novembro, 1.600 homens retornarão para casa, dos quais 280 brasileiros. Em Buenos Aires, o novo ministro da Defesa brasileiro, Celso Amorim, disse que ainda não existe um cronograma para a retirada total da Minustah e deixou claro que nada será feito de um dia para o outro. Mas, também, enfatizou a necessidade de começar a discutir seriamente o assunto.
Em meio ao escândalo, o futuro da Minustah foi um dos assuntos tratados por Amorim com seu colega de pasta argentino, Arturo Puricelli, e, também, com a presidente Cristina Kirchner.
Brasileiros devem ficar mais tempo, por estarem na capital
– É preciso começar a pensar (na retirada), porque senão cria-se uma sensação de falso conforto.
Segundo o general Ramos, no entanto, as tropas brasileiras devem ainda ficar por algum tempo no país.
– Como o Brasil tem as suas forças militares em Porto Príncipe, onde há níveis menores de segurança, nós manteremos uma presença militar ainda elevada num primeiro momento. Ainda assim, estimo que algo entre 200 e 280 militares devem voltar para casa a partir de novembro – disse o general, por telefone, de Porto Príncipe para O GLOBO. – A retirada acontecerá aos poucos, seguindo as recomendações do relatório em análise na ONU.
Em outubro, a discussão chegará ao Conselho de Segurança da ONU, que deverá aprovar, ou não, a renovação do mandato da Minustah por mais um ano. O Brasil considera que o mandato pode ser renovado, mas deve prever uma redução das tropas no país.
Na próxima quinta-feira, o assunto será discutido numa reunião de ministros e chanceleres da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), em Montevidéu. Antes disso, Amorim conversará com representantes do Paraguai, em visita hoje a Assunção. A Argentina, segundo o ministro, está em plena sintonia com o Brasil. Outros países, como o Chile, não estariam convencidos. O governo de Sebastián Piñera estaria mais alinhado com a posição dos EUA, que ainda não pensam em retirada.
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