Estados Unidos: a economia zero

O Serviço Nacional de Estatísticas do Trabalho informa neste domingo (04/09) que não se criou sequer um emprego nos EUA, em agosto. Zero. Nada.

Não é bem assim. A greve na Verizon reduziu a força de trabalho (-45 mil trabalhadores trabalharam). O fim da greve dos funcionários públicos em Minnesota devolveu ao trabalho 22 mil empregados (+22 mil). Na verdade, os EUA têm hoje mais 23 mil empregos ocupados. Quase zero.

Também não é bem assim. De fato, é pior que zero. Os EUA precisam criar 125 mil empregos por mês, apenas para dar conta do crescimento populacional. Os novos números significam, isso sim, que o buraco só faz aumentar.

Desde o início da atual depressão, no final de 2007, a força de trabalho potencial nos EUA – pessoas em idade laboral que querem trabalhar – cresceu para mais de 7 milhões. Mas, desde então, caiu, em mais de 300 mil, o número de norte-americanos empregados.

Se isso não levar o presidente Obama a apresentar um plano consistente de emprego na quinta-feira próxima, não sei o que o convencerá.

O problema está do lado da demanda. Consumidores (cujos gastos respondem por 70% da economia) não podem, sozinhos, reativar a economia. Ainda estão super carregados de dívidas, sobretudo para manter casas que, hoje, valem menos que as hipotecas que têm de ser pagas. Veem os empregos sumir, os salários encolher, a conta a pagar com médicos e remédios, subir.

E nenhuma empresa contratará, sem vendas.

O que quer dizer que entramos num círculo vicioso.

Os Republicanos repetem que as empresas não contratam porque estão inseguras sobre os custos regulatórios. Ou porque não encontram os empregados qualificados de que precisam.

Bobagem. Se essas fossem as razões pelas quais as empresas não contratam – e a demanda estivesse crescendo – seria de esperar que as empresas usassem por mais tempo os atuais empregados. O tempo médio semanal de trabalho estaria aumentando.

Mas ao tempo médio semanal de trabalho só diminui. Em agosto, diminuiu pelo terceiro mês consecutivo: chegou agora a 34,2 horas. Voltou ao ponto onde esteve no início do ano – maior, só, do que o ponto mais baixo ao qual caiu, há dois anos (33,7 horas, em junho de 2009).

É a demanda, estúpido!

Assim sendo, o que faz nação sã, quando consumidores e empresários, sozinhos, não conseguem reativar a economia?

O governo vira comprador de última instância. Contrata diretamente (um novo Work Progress Administration [1] e novo Civilian Conservation Corps, por exemplo). Ajuda estados e regiões, de modo que não tenham de continuar a cortar salários e serviços públicos. (A ajuda pode ser estruturada como empréstimo, a ser pago depois de o desemprego cair, digamos, para 6%.)

E o estado contrata indiretamente – contrata empresas para reconstruir a infraestrutura dos EUA, que está em ruínas, inclusive prédios escolares, só para dar outro exemplo.

Por essa via, o estado não se limita apenas a criar empregos, mas também põe dinheiro na mão das pessoas que voltam a trabalhar, de modo que possam voltar a comprar os bens e serviços de que precisam – o que gera mais empregos.

Entenderam? Não é, de fato, altíssima e complexíssima ciência.

Assim sendo, por que os Republicanos não entendem? Ou são desonestos – querem que a economia continue de mal a pior até as próximas eleições, para que os eleitores despachem Obama. Ou são idiotas – compraram a lorota segundo a qual, reduzindo-se o déficit, criam-se empregos.

Cada vez que você ouvir dizer que estamos “quebrados” ou que “não suportamos gastar mais”, responda que, se não gastarmos mais, ficaremos em pior situação do que estamos. Se a economia continua como tijolo na água, a proporção entre dívida pública e PIB sobe feito balão.

E diga também que o governo federal pode agora tomar empréstimos a juros de resto de incêndio. Os bônus de dez anos do Tesouro pagam juros de 2%.

Ouviu bem, presidente Obama? Por favor, seja firme, semana que vem. E se, como se espera, os Republicanos não aceitarem, convoque o povo. Mobilize a opinião pública. Use o “bully pulpit”. Ser presidente dos EUA serve para isso.

Só mais uma coisa, presidente Obama. O senhor tem, também, de enfrentar a desigualdade. Enquanto renda e riqueza continuam a fluir só para o topo da pirâmide dos mais ricos, a vasta maioria dos norte-americanos continua a não ter o suficiente para comprar e reaquecer a economia. Acionar a bomba é necessário, mas de nada adiantará, se não houver água no poço.

Robert Reich é professor emérito de Políticas Públicas na Universidade da Califórnia em Berkeley. Foi assessor de três presidentes e secretário do Trabalho do governo Clinton. É autor de vários livros.

*Texto originalmente publciado na Carta Maior

Fonte: Opera Mundi

24 comentários em “Estados Unidos: a economia zero

  1. Êis que Roma foi assim tão grandiosa e caio-se por terra toda sua hegemonia, me parece que ao meu ver os eua tem os problemas internos paracidos com o do Brasil, a classe operaria de lá deve fazer protestos todos os dias perante a essas crises provavelmente criadas a custo de algo e com algum proposito, me admiro ver uma nação como os eua nesta situação caotica em qual se encontra, mas ao mesmo tempo me tranquiliza sabendo que eles irão repensar toda sua maneira de lidar com sua politica externa em não se meter em jogos estratégicos globais em tomar as terras dos outros por que isso quebra financeiramente qualquer país com os gastos astronimicos de uma guerra em que os eua costuma financiar e o contribuinte de lá provavelmente deve não gostar disso.

  2. O Sr. Reich se esqueceu de dizer em sua abordagem econômica de onde virá mais dinheiro para essa injeção de financiamento federal (decisão do Obama) no país.
    Uma fonte abundante e garantida de dinheiro emergencial era a venda de títulos públicos do Tesouro Americano, porém essa fonte parece que já deu o que tinha que dar. E, pelo contrário, os USA estão caminhando sobre ovos com seus credores, pois caso esses títulos (títulos no valor de trilhões de dólares)sejam resgatados volumosamente, mesmo fora do período de contrato, ou seja, com certa perda para o credor, eles terão apenas o calote histórico e vexatório como resultado.
    Daí a fácil solução (muito estranha até para um professor cheio de méritos) proposta por esse senhor não é bem assim.
    O caminho a ser percorrido para recuperação será longo, e passa pelo remanejamento do orçamento o que vai provocar a ira de certos setores públicos, e no horizonte ainda tem a diminuição das exportações bilionárias, já que a cada ano a concorrência internacional está aumentando. Solução fácil é apenas enganação.

  3. A bolha estourou, igual a preservativo velho, agora é esperar o resultado, nada poderá evitar o nascimento de um novo tempo, só espero que o parto não sejam as dores do mundo, eis que o povo dos EUA talvez não aceitem a queda do seu imperio. Deveriam aceitar, e ser humildes como foi a Rússia, que dispensou os aneis (os paises satelites da URSS) e ficou com os dedos, ou seja, a propria existência dos EUA.

  4. Esse Robert Reich é um keynesiano idiota e estúpido! Ele aconselha um governo altamente endividado a se endividar ainda mais para tentar reativar a economia. Os EUA devem mais de 15 trilhões de dólares. É uma dívida igual ao seu PIB. Se endividar ainda mais só vai piorar as coisas. É como se um consultor financeiro aconselhasse uma família que está no vermelho, com dívidas imensas, usando cheque especial, pagando apenas a fatura mínima do cartão de crédito, com risco de perder para o banco a casa hipotecada, que se endividasse ainda mais! Vai te catar Robert Reich!
    Para os que quiserem, neste link http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=669 há um vídeo de rap bem interessante que explica a futilidade de recomendações keynesianas como a de Reich, em comparação com as recomendações de Hayek para a economia

  5. Realmente o que falta pros EUA é um pouco de humildade…e isso é uma enorme virtude e talvez é o que falte para começarem a consertar as coisas por lá!

  6. A decadência não começou hoje,vem de longe, desde a Guerra do Vitnã, hoje já é um quadro irreversível. O EUA deixaram de ser a maior economia em 10 anos. Os problema econômicos e sociais vão se agravar.

  7. Impérios vem e vão..Roma, Cartago, Inglaterra, Maia, Inca, Egito, Babilônia…Os EUA não seriam diferente, tiveram seu auge e estão em inevitável decadência. Não há o que fazer, sua época está passando. Serão do meio deste século em diante uma Inglaterra; ou uma França..ex-impérios que ainda permanecem como potências regionais apenas por força das armas nucleares. E irão assistir outro país e povo surgir como o novo Império. O Brasil tem que colar nos BRICs e terminar de desenvolver urgentemente armas nucleares. Quedas de Impérios frequentemente vem acompanhadas de guerras, violência, desgraça e mortes…Como diziam bem os antigos Romanos: “se quer paz prepare-se para a guerra” Acorda meu querido Brasil!!!

  8. “laissez faire, laissez passer”

    Nessa ondinha, os EUA se desindustrializaram.

    Economia real é a baseada na produção e, depois, no consumo.

  9. Pessoal,
    Não contem com o ovo no órgão defecador do galináceo.
    Os EUA já quebrou uma vez e se levantou melhor do que antes.
    Também vimos um monte de outros países quebrarem e saírem do outro lado, exemplos não faltam, um deles é a Rússia.
    Tenham certeza que o bicho morreu antes de ir lá dar um chute no seu traseiro porque podem voltar sem um pé.
    Sem falar que mesmo após as coisas se acalmarem e voltarem ao normal, os EUA ainda será uma das potências dominantes do planeta, se não como no período pós-Guerra Fria até agora, mas ainda assim, respeitável.

  10. O endividamento dos USA está muito diretamente ligado a sua política armamentista de defesa e ataque. O yankees criaram pós segunda guerra mundial um monstro devorador de recursos estratégicos e financeiros com sua política expansionista e colonizadora.
    Querendo bancar o “SHERIFF” mundial se envolveram na sua própria teia e hoje não sabem o que fazer para se soltar.
    A cada dia perdem mais espaço político no novo cenário global, a guerra fria, apenas mudou de temperatura e hoje está morna, o que requer maiores e melhores investimentos contra o narcotráfico, terrorismo, cyberataques, guerra nas estrelas, pirataria etc. Todavia, o cenário econômico atualé contrário a manutenção e a expansão das suas pretensões. A crise econômica deu o pontapé inicial e os congressistas, em conflito interno já começam a repensar os gastos com as Forças Armadas e a cortá-los.
    Eu particularmente acredito que a melhor saída para os USA hoje seja a adoção de racional recuo estratégico na sua política militar no exterior como forma de aliviar a sua caga com gastos públicos em defesa, mas para um país que adota uma cultura belicista tão prepotente e arrogante isso não parece fazer parte dos seu planejamento estratégico. Ocupar e manter, recuar nunca, mesmo que isso custe o sonho americano.
    Se eles estudarem atentamente o que aconteceu com a extinta URSS ao se desapegar de algumas das suas colônias e aceitar uma nova estratégia política administrativa, acredito que tenham boas chances de driblar a cise com menos perdas. A Rússia está aí, forte e crescendo. Até a China mudou a sua visão sobre o capitalismo e deu o seu toque final. Portanto ou muda ou paga prá ver.

  11. Por por volta de 2050 vai chegar o fim da hegemonia dos EUA, um império muito curto, menor que o inglês e infinitamente menor que o romano, é assim caminha a humanidade.
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    As legiões estadunidenses devem volta para casa por volta de 2030. Foram muito Arrogantes em manter 200 base apenas para cerca o Heartland, eles conseguiram dominar o Rimland. Mais isso vai custa o seu império, os custos para manter toda essa maquina de guerra no Rimland e inviável para qual que país

  12. Em minha modesta opiniao, quando se atinge final de ciclos, o proprio paradigma de pensamento que o sustentava ou ´e transformado profundamente ou se disolve e junto, toda estrutura que o sustentava…
    .
    E eu nao estou falando de consumo per si

    ´E o pensamento mais basico que o orienta, ou seja, mais, maior, mais caro, etc… The ¨bigs stcks¨

    Todos baseados em criterios quantitativos ao inves de qualitativos

    ´E a qualidade do consumo, ou seja, qual o nivel de consciencia com aquilo que se consome, a atitude anticiclica mental adequada em situacoes de final de ciclo

    Gera mais empregos nos EUA? Gera maior economia de recursos energeticos? Gera maior economia de materias primas? Gera independencia de regioes problematicas? Gera exportacao em regioes estaveis? Gera MELHOR qualidade de vida? Vale a pena pagar mais caro por melhorias no pais? Enfim, gera valor economico por sofisticacao de consumo (consumo consciente)?

    Como o consumo ´e baseado em relacoes complexas de producao e distribuicao, para que ocorra essa mudanca mental, ha a exigencia de maior sofisticacao no setor de ensino, das relacoes de consumo, suas causas (necessidades) e consequencias internas e externas

    A geracao de conteudo imaterial (valor humano puro) – conhecimento humano – (cultural/industrial/organizacional – aqui esta os empregos), ajuda na geracao de valor suplementar a ser injetado na economia (¨valor criativo¨) e pode servir como espoleta para modificacao mental de consumo

    Ao contrario da maquininha de imprimir dinheiro, esse valor pode ser criado do ¨nada¨…

  13. Sociedade estadunidense = geração gafanhoto (gasta muito e poupa pouco); Política belicista e paranoica com gastos mirabolantes; Ricos são mimados pelo governo; a Elite branca e desequilibrada manda no congresso; os EUA estatizaram as dívidas dos bancos falidos; o governo premia banqueiros que levam os bancos à falência com cargos públicos ligados às finanças da nação; as exportações só caem; emprego: “O que é um emprego? Me esqueci.” (tirei essa do YT); Wall Street faz o que quer; certas empresas locais fugiram/vão fugir para locais mais rentáveis; o governo depende da venda de títulos da dívida estadunidense para conseguir recursos; e o principal: a China é uma ameaça que não pode ser contida.

  14. O alto consumo de recursos energeticos e naturais, levaram os EUA a uma encruzilhada, de que para manter a propria sociedade, haveria a necessidade de aumento continuo de gastos em defesa para a garantia dos mesmos (principalmente o primeiro)…

  15. Os americanos não estão em crise, pois podem emitir dólares para pagar as suas dívidas. Eles estão enganando o mundo, e todos cairam de patinho. O Brasil é que está em crise, com a indústria de ponta sucateada, e seus militares passando fome.

  16. *** A esbórnia feita (por emoção e atropelos de escrita) com a complexidade de nosso idioma tem uma “correção de edição: modify-delete” aqui na postagem dos comentários.
    *** Seria interessante se pudéssemos contar com uma leitura mais fácil caso alguns dos comentaristas se utilizem desse recurso.
    *** Por favor comentaristas apressados… percam um minuto de seu tempo na correção de seu post para que facilite sua leitura.
    *** Além disso ainda que este local do ciberespaço seja para todo tipo de comentaristas, conhecimentos e opiniões vamos procurar manter um ótimo nível não só de idéias mas também de apuro com nosso idioma escrito.
    *** Acredito que é do interesse de todos um local em que todos possam opinar de forma democrática, porém sem esculachos com regras simples de português lá do ensino fundamental, assim vamos procurar manter uma elevada qualidade, em todos os sentidos, aqui no excelente PB.
    *** Pois não adianta ter um ótimo comentário se ele não for compreendido na fase da leitura do mesmo.
    *** Não se trata de purismos, apenas de um pouco de bom senso.

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