O Brasil está elaborando o currículo para o novo centro policial de treinamento antidrogas a ser estabelecido na cidade de Cochabamba, como resultado direto do Plano de Ação Brasil-Bolívia, cujo objetivo é combater o narcotráfico.
Desenvolver capacidade policial é prioridade do pacto bilateral assinado em 16 de dezembro de 2010 em Foz do Iguaçu. Os dois vizinhos sul-americanos estão trabalhando estreitamente com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) em La Paz para criar o centro a ser administrado diretamente pela UNASUL (União de Nações Sul-Americanas). A ideia é tornar esse esforço bilateral em uma iniciativa multilateral em todos os países da União.
“Cochabamba foi escolhida pelo seu significado simbólico, já que será a sede do parlamento da UNASUL”, explica Murilo Komniski, funcionário da Embaixada do Brasil em La Paz.
No curto prazo, 110 policiais bolivianos receberão treinamento no Brasil de modo a aprimorarem suas habilidades na proteção das áreas fronteiriças, compartilhamento de inteligência e controle de rotas de trânsito. O novo centro de treinamento, com sede na Bolívia, é uma meta de médio prazo e espera-se que os cursos comecem em 2012.
O Brasil está trabalhando com o vizinho para combater a entrada de drogas em seu território provenientes da Bolívia, que, além de produzir drogas, é também um país de trânsito, com a produção ilícita chegando do Peru a caminho do Brasil. Essa tendência se agravou em função do aumento do consumo no próprio Brasil e na Europa Ocidental.
O comércio de drogas ainda é uma ameaça a toda região, com mais países sul-americanos se tornando pontos de produção e trânsito. Uma década atrás, a violência relacionada às droga era restrita ao México, América Central e alguns países andinos. Hoje, Argentina, Brasil e até mesmo Chile estão sob o cerco dos traficantes de drogas e da violência associada.
O novo centro irá cooperar com o centro policial de treinamento antidrogas existente em Chimoré, Bolívia, conhecido como o Centro Garras de Valor, localizado no coração da área produtora de coca e apoiado pela Embaixada dos Estados Unidos na Bolívia, onde são treinados cerca de 400 policiais sul-americanos por ano em cursos intensivos de três meses.
O oficial brasileiro Dower Morini inspeciona um pé de coca durante uma patrulha antidrogas na região boliviana de Chapare. [David Mercado/Reuters]
“A ideia não é competir ou duplicar os cursos dados em Chimoré, mas sim complementá-los”, explica Komniski, chefe do Setor de Questões Sociais e Transnacionais Ilícitas, do Departamento de Direitos Humanos da Embaixada do Brasil em La Paz.
O diplomata acrescenta que os cursos no Centro Garras são mais curtos e adotam uma abordagem mais prática, com foco situcional, como, por exemplo, no combate ao tráfico em regiões específicas, na reunião de informações sob circunstâncias especiais e na sobrevivência na floresta.
Ainda segundo Komniski, o novo centro em Cochabamba oferecerá treinamentos mais longos, com foco mais abrangente e acadêmico. Enquanto o currículo ainda está em elaboração, a ideia é assegurar que os direitos humanos sejam tratados em todas as palestras sobre ações antidrogas e segurança pública. O curso pode durar até dois anos, com cerca de 500 a 600 formandos anuais. Espera-se a conclusão de sua estrutura e de seu conteúdo curricular para o final de 2011.
Em 28 de setembro, a UNASUL dará início a uma Conferência sobre Segurança Pública e Direitos Humanos de dois dias em Cochabamba, e sua futura academia policial certamente fará parte da agenda.
O Brasil está repetindo o sucesso ao criar uma academia de polícia semelhante à que montou na Guiné-Bissau no ano passado, com a cooperação do UNODC. A instabilidade política crônica, seguida de um período de guerra civil, fez do país da África Ocidental o centro de distribuição de uma nova rota de tráfico de cocaína da América do Sul para suprir a crescente demanda por drogas ilegais na Europa.
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