Tática americana na Líbia pode ser modelo para uso da força

Ther New York Times
A ação dos EUA no país árabe estabeleceu príncipios de como usar o poder militar para defender interesses diplomáticos.

Seria prematuro chamar a guerra na Líbia de um completo sucesso para os interesses dos Estados Unidos. Mas a chegada dos rebeldes vitoriosos em Trípoli na semana passada deu aos principais assessores do presidente Barack Obama a chance de reivindicar uma vitória fundamental para a doutrina do presidente americano para o Oriente Médio, que havia sido muito criticada nos últimos meses como uma liderança camuflada.

Funcionários do governo dizem que, embora a intervenção da Otan na Líbia, enfatizando ataques aéreos para proteger os civis, não possa ser aplicada uniformemente em outros locais como por exemplo a Síria, o conflito pode, em alguns aspectos importantes, se tornar um modelo de como os Estados Unidos exercem a força em outros países nos quais seus interesses estão ameaçados.

Nós resistimos à ideia de uma doutrina, porque não acho que você possa impor um modelo em países muito diferentes – isso leva você a apuros e pode gerar a intervenção em locais que você não precisa dela”, disse Ben Rhodes, o diretor de comunicações estratégicas do Conselho de Segurança Nacional.

Mesmo assim, segundo Rhodes, a ação na Líbia ajudou a estabelecer dois princípios para os quais os Estados Unidos poderiam aplicar a força militar para promover seus interesses diplomáticos, embora sua segurança nacional não esteja diretamente ameaçada.

Obama estabeleceu esses princípios em 28 de março, quando fez seu único grande discurso sobre o conflito na Líbia, na Universidade George Washington.

Durante aquele discurso, Obama disse que os Estados Unidos tinham a responsabilidade de parar o que ele caracterizou como um genocídio iminente na cidade líbia de Benghazi  (Princípio 1). No entanto, ao mesmo tempo, quando a segurança dos americanos não estiver diretamente ameaçada, mas a ação possa ser justificada – no caso de genocídio, por exemplo – os país vai atuar apenas na condição de que não estão agindo sozinhos (Princípio 2).

E assim, com a Líbia, os Estados Unidos usaram seu poder – fornecendo mísseis de cruzeiro, aviões, bombas, inteligência e até mesmo equipes militares cruciais – mas o fizeram como parte da coalizão da Otan, liderada pelos franceses e britânicos, incluindo nações árabes.

E o fizeram apenas depois de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, autorizando o tipo de abordagem multilateral que era vista com desdém pelo predecessor de Obama, George W. Bush.

Na verdade, de acordo com as autoridades americanas, a estratégia na Líbia funcionou em grande parte por ser percebida como um esforço internacional contra um ditador brutal e “não uma abordagem unicamente dos Estados Unidos”, explica um oficial de alto escalão.

“Uma ação ‘Made in EUA’ teria arriscado que a revolta se tornasse Kadafi contra os Estados Unidos”, acrescentou o oficial.

Mas qualquer especulação de que o modelo da Líbia possa ser transferível para um outro lugar possível, como a Síria, onde os Estados Unidos e seus aliados europeus pediram que o presidente Bashar Assad deixe o poder, pode ser um pouco precipitada.

Pelo menos por enquanto, o governo americano e seus aliados na ação na Líbia não chegaram a ameaçar o uso da força militar na Síria. Ainda assim, os oficiais argumentam que a criação de pressão diplomática mais ampla – o que a secretária de Estado Hillary Clinton chamou na semana passada de um “coro internacional de condenação” – poderia finalmente ter um efeito e, caso Assad continue sua violenta repressão dos dissidentes, estabeleça as bases para uma ação mais agressiva.

“Quanto disso iremos traduzir para a Síria ainda não se sabe”, disse um oficial de alto escalão, citando diferenças entre as muitas nações árabes que enfrentam turbulências. “A oposição síria não quer forças militares estrangeiras, mas quer que mais países cortem o comércio com o regime e rompam com sua política.”

Robert Malley, analista chefe para o Oriente Médio e Norte da África no International Crisis Group, disse que uma intervenção militar na Síria poderia apresentar uma série de desafios que os Estados Unidos e seus aliados não enfrentaram contra a Líbia.

“O que distingue a Síria da Líbia é que não há nem consenso regional nem internacional sobre a Síria”, disse Malley. “Não há nenhuma área específica do país para entrar e defender. A oposição na Síria não tem qualquer território. E a Síria, em muitos aspectos, poderia retaliar e tornar a vida difícil no país.”

Damasco tem aliados que a Líbia e Muamar Kadafi não têm. O Irã e os grupos militantes islâmicos Hamas e Hezbollah são aliados da Síria e capazes de infligir danos aos Estados Unidos e seus interesses  – Israel, em particular. Na verdade, a Síria, localizada no coração da tumultuada zona de conflito árabe-israelense, pode causar estragos aos interesses de Israel.

A Síria também compartilha uma fronteira com o Iraque e poderia, se quisesse, procurar maneiras de retaliar contra as tropas e os interesses americanos no país, segundo alguns especialistas em política externa. Além disso, há uma preocupação muito real de que uma Síria sem Assad, cuja família governa o país há mais de 40 anos, não seria funcional, e acabaria envolta no tipo de guerra sectária que caracterizou o Iraque depois que a invasão dos Estados Unido depôs Saddam Hussein.

Até agora, com a possível exceção da Turquia, nenhum outro país tem demonstrado qualquer interesse em uma intervenção militar na Síria, apesar dos relatos da repressão brutal de Assad sobre os que defendem a democracia no país. Mesmo que o governo Obama, ao lado de França, Grã-Bretanha e Alemanha, tenha exigido há uma semana que Assad deixe o poder, não houve nenhuma conversa sobre tentar estabelecer uma zona aérea restrita na Síria, como foi feito na Líbia.

“As pessoas vão ser muito mais cautelosas a respeito da Síria”, disse Nader Mousavizadeh, executivo-chefe da consultoria Oxford Analytica. “Há a ambivalência sobre o que é pior, um governo sangrento de Assad ou as consequências sangrentas da derrubada de Assad.”

Mas o próprio fato do governo ter se unido com os mesmos aliados da luta contra a Líbia para pedir a partida de Assad e para impor sanções contra seu regime pode levar os Estados Unidos a se aproximar da aplicação do modelo líbio na Síria. Embora a intervenção militar na Síria seja altamente improvável, oficiais do governo dizem que a abordagem coordenada exigindo a saída de Assad e impondo sanções financeiras ao programa do governo sírio demonstra que já estão aplicando a doutrina Obama no país.

E as coisas podem sempre aumentar. “Não há apetite para desencadear uma ação militar na Síria”, disse Malley do International Crisis Group. Mas, ele acrescentou: “Se 30 mil pessoas forem mortas lá, a história pode ser diferente.”

Por Helene Cooper e Steven Lee Myers

Fonte: NYT via Último Segundo

15 Comentários

  1. Não dá para ter modelo de intervenção, na Líbia tudo ajudou e a ONU ainda deu seu aval. Porém, nada disso garante pos-guerra, a Líbia atual é algo incompleto e um ponto de interrogação.

  2. Yankes e seus intereses GENOCIDAS

    nao me asusta ver o POVINHO da Disney da Inlusao se matando na defesa deles

    coitados o brainwash e grande NELES

  3. O boneco somos nós, ou a opinião pública leiga…Aquela ( grande maioria) que se informa através de Globo, CNN,BBC e tantas outras empresas, inclusive na internet… empregadas na guerra de desinformação e manipulação.
    .
    Estas guerras são de elites (com muitos sionistas/banqueiros no meio) que não estão nem aí para o “ocidental” comum, exceto quando é para extorquir dinheiro e soldados para lutarem por seus interesses privados, nunca pelos interesse da população do “ocidente”…
    .
    Vide a crise na UE & EUA provocada pela roubalheira generalizada promovida pelo “mercado financeiro” e as despesas de várias guerras, más enquanto o ocidente empobrece eles se tornam mais ricos e poderosos.
    Ao mesmo tempo, promovendo o medo e o terror como justificativa, implantam medidas cada vez maiores e mais abusivas, apoiadas nas novas tecnologias, de controle e monitoramento sobre a população,

    A “ralé” (ou nós…) que se exploda! É só bucha de canhão mesmo…

  4. Wi,
    E quais seriam suas fontes confiáveis para que possamos beber da mesma fonte incorrupta?
    Quem sabe o programa Dossier do Canal 8 da Venezuela?
    Rsrssss…..
    Cara, não se iluda. Não existem santos. O tempo da inocência acabou.
    A desinformação é de mão dupla e existe em todo lugar.
    Vivemos numa “matrix” e o melhor lema pra ser feliz é: não mate nem morra por nenhuma causa porque pode ser a causa injusta.
    Tem aquele outro lema também: Não acredite em nada que ouve e duvide de metade do que vê.
    Fazer a cabeça das pessoas é uma tática usada por todos, desde os famigerados imperialistas até os não menos famigerados comunistas, afinal, errado é o outro.
    Até no dia a dia somos desinformados e não é só pela Globo não.

  5. Com certeza a estratégia é válida para o futuro, lógico que os terrenos variam vide o Talibã no Afeganistão,mas que os senhores da guerra triunfaram isso não tenha dúvida.O que no futuro tbm pode ocasionar um grande erro como eu já acho que é. Mas eles não estão preocupados, estão apenas cumprindo a Agenda. Os estados agressores são lembrados, mas os que mexem as cordas estão nas “sombras”. A imagem acima dos dedos é muito bem aproveitada nos lembra algo como conspiração, conspiração da Nova Ordem.:)

  6. O problema de ser dominado pela desinformação capitalista, democrática, ocidental, cristã, é que você no fundo sabe que está servindo ao diabo.
    Já ter a mente dominado pela esquerda demonstra uma ingenuidade bem mais gritante tendo em vista que o infeliz acredita piamente nos porcos que tomaram conta da fazenda.

  7. Basta usar a inteligência para se ver fora da “Matrix”.
    #.
    Vejamos, então, o lindo trecho do fabuloso texto acima:“Se 30 mil pessoas forem mortas lá, a história pode ser diferente.”

    #.
    Mas não mataram eles, 50 mil líbios?
    #.
    A hipocrisia dos “ocidentais” não encontra limites.

  8. Hipocritas e falidos, piratas e ladrões, matar, matar e roubar, eis o principio e a doutrina do neocolonialismo.

  9. Os EUA estão certos. Eles não podem agir sozinhos.A ONU faliu … O mundo não deve mais admitir reis, ditadores, regimes teocráticos e populistas (do tipo Lula e Hugo Chavez). Por outro lado, os EUA tem que acabar com o sistema PLUTOCRATA (governo dos ricos), e o Reino Unido, Japão e outros países, têm que dar o exemplo e acabar com suas famílias reais. Suécia e Mônaco têm família real governando. Que mau exemplo estão dando para a humanidade.

  10. “E quais seriam suas fontes confiáveis para que possamos beber da mesma fonte incorrupta?”
    ———————————————–
    Fontes incorruptas? É você que está colocando a coisa nesta perspectiva , não eu…
    Escrevi sobre “desinformação e manipulação”. Não estou em busca da verdade absoluta e impoluta, algo por sinal, inexistente num mundo de relatividades.
    .
    Neste caso, o que importa são os interesses daqueles que dominam um sistema midiático
    de alcance mundial, qual a narrativa que dão aos acontecimentos e com que fim ? Esta narrativa serve a quais interesses?
    .
    Uma mesma história contada por 100 indivíduos distintos, resultará em 100 histórias diferentes, algo normal…
    O problema é quando 100 mega empresas de mídia começam a contar a mesma história, aí surgem as grandes mentiras! Más mentiras não são o problema e sim o fim, os interesses e quem elas beneficiam!
    .
    E as empresas que citei (“Globo, CNN,BBC e tantas outras empresas, inclusive na internet…”) servem com sua narrativa manipuladora aos interesses do “império” e de uma reduzida super elite que o comanda.
    .
    Não servem aos interesses do Brasil , país onde vivo, portanto não servem sequer aos meus interesses capitalistas ou de soberania, segurança e liberdade dentro do Brasil.
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    Exemplo atual, acabado e cínico de narrativa distorcida é pintar como “ajuda humanitária”, proteção ao povo e promoção da liberdade, a tal “Responsibility to Protect” , a operação da OTAN na Líbia que resultou, até agora, em torno de 50.000 mortos, proteger o povo líbio jogando bombas em cima dele…
    .
    “Responsibility to Protect”… é puro humor negro e macabro do oligopólio de informação do “império”!

  11. E os seus “lemas” só servem,
    no contexto em você os coloca ,
    para estimular, a paralisia o conformismo e a passividade, algo muito adequado aos interesses do “norte”…Os quais você tanto defende!
    .
    E repetindo, não se trata de capitalismo versus comunismo,esquerda x direita e blá-blá-blá… más sim de interesses, poder,riquezas e soberania.

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