Declarações sobre Líbia colocam ministro alemão do Exterior em xeque

Westerwelle é criticado por superestimar papel de sanções alemãs na vitória sobre Kadafi

FF/dpa/rtr/afp
Revisão: Roselaine Wandscheer

A mais recente crise em torno do ministro do Exterior da Alemanha, Guido Westerwelle, começou domingo (28/08), quando ele declarou que as sanções da Alemanha desempenharam um papel-chave na vitória da rebelião na Líbia, sem citar as ações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Diante do mal-estar, Westerwelle, que é considerado o ministro alemão do Exterior mais impopular desde a Segunda Guerra Mundial, viu-se forçado a se retratar e reconhecer publicamente que “foram os líbios, com a ajuda da intervenção militar internacional, que derrubaram o regime de Muammar Kadafi”.

Nesta segunda-feira, em uma conferência para 200 embaixadores alemães em Berlim, Westerwelle tentou contornar o imbróglio diplomático. Ele disse estar satisfeito que o regime de Kadafi tenha chegado ao fim. E declarou ainda que, “precisamente porque avaliamos de forma diferente as oportunidades e os riscos, nós respeitamos a França e nossos aliados por aplicarem a Resolução 1973”, disse ele.

O ministro francês do Exterior, Alain Juppe, participou da conferência como convidado e criticou Westerwelle indiretamente. Em Berlim, Juppe disse que “foi apenas graças à intervenção da comunidade internacional que foi evitado um verdadeiro banho de sangue”.

Erro diplomático

Guido Westerwelle desempenhou um papel central na decisão da Alemanha de não se envolver militarmente na campanha da Líbia. No dia 17 de março, por orientação de Westerwelle, o embaixador da Alemanha na ONU se absteve de votar quando o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a Resolução 1973, que autorizou a Otan a impor uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia com o intuito de proteger civis.

A abstenção incomodou os aliados e foi criticada por muitos alemães. A Alemanha, que ocupa um dos assentos rotativos no conselho, foi o único país europeu, e também o único membro da Otan, a se abster de votar. O ex-ministro alemão do Exterior Joschka Fischer, do Partido Verde, chamara a abstenção da Alemanha de “o maior erro diplomático do país em seis décadas”.

As declarações deste fim de semana isolaram Westerwelle politicamente, já que tanto a chanceler federal Angela Merkel quanto o ministro da Economia, Philipp Rösler, elogiam a Otan publicamente. Com a turbulência, Westerwelle, que renunciou em abril ao cargo de líder do partido liberal (FDP, do alemão), enfrenta agora novas dúvidas a respeito de seu futuro.

Na avaliação do Partido Verde, a permanência de Westerwelle no Ministério do Exterior não seria mais viável. “Nós temos um ministro do Exterior que goza de prestígio zero em nível internacional e que agora também perdeu o apoio do próprio partido e do governo federal”, disse a presidente dos verdes, Claudia Roth, que exige a renúncia imediata de Westerwelle.

Mas apesar de assumir uma posição diferente da do seu colega da pasta do Exterior em relação à intervenção militar, o ministro da Economia, Philipp Rösler, que assumiu a liderança do FDP no lugar de Westerwelle, rejeitou os chamados para demitir o ministro. E para evitar mais lenha na fogueira, o partido cancelou uma conferência de imprensa marcada para esta segunda-feira.

O porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, também disse nesta segunda-feira que os relatos de uma possível renúncia de Westerwelle são “fictícios”, acrescentando que Merkel deposita “total confiança nele”.

“O fim está próximo”

Na imprensa alemã, o ministro recebeu críticas de todos os lados. “Um ministro à prova”, dizia a manchete desta segunda-feira do jornal conservador Die Welt.

No diário de esquerda Tageszeitung, a capa trazia a pergunta “Quem vai primeiro?”, com as fotos de Westerwelle e Kadafi lado a lado.

O Leipziger Zeitung escreveu que, ao finalmente reconhecer o papel de liderança da Otan, Westerwelle “provavelmente ganhou mais algum tempo como ministro do Exterior. Mas seu fim político, de acordo com alguns líderes de seu partido, está próximo”.

O jornal Kölner Stadt-Anzeiger publicou que o líder do partido liberal, Philipp Rösler, teria sugerido o secretário de Estado da pasta do Exterior, Werner Hoyer, para o cargo de Westerwelle. Mais tarde, a informação seria negada por Rösler.

Observadores políticos acreditam que o partido estaria preocupado que a demissão de Westerwelle possa levar os liberais a perder votos em duas eleições estaduais, marcadas para o mês que vem.

Fonte: DW World

10 Comentários

  1. Nossa a tão vangloriada Alemanha que, no meu entendimento, não é senão um “estado” consentido pelos americanos e demais países da OTAN, quando alguém fala alguma coisa diferente por lá contra as ações ocidental é um “deus nos acuda” para apagar incêndios políticos interno. Tudo para não deixarem os yankes chateados. Cadê a soberania alemã, quando vem?

  2. O “pecado mortal” deste ministro alemão foi
    colocar as coisas de uma maneira que abre brechas para questionar a encenação oficial sobre uma “revolução feita por líbios”.
    .
    Não se pode permitir que tão importante personagem coloque as coisas de forma à abrir brechas que deem vazão a verdade, de que na Líbia, tudo não passou desde o princípio, de intervenção da OTAN…

  3. A Alemanha não é um país soberano,ela ainda está sob ocupação.
    Desde 1945 a Alemanha não há um governo Alemão.

  4. A temperatura na União Europeia, os desentendimentos, tendem a crescer.
    O ministro francês do Exterior, Alain Juppe tem que lembrar que os franceses e o resto da Europa estão, neste momento de crise, dependentes cada vez mais da forte economia alemã.

  5. Não se surpreendam em vacas magras os Lobos se lambem….França,EUA e principalmente a Inglaterra estão lucrando com envio de armas a Libia,Arabia Saudita e Bahrein…A uma semana vem ocorrendo entrada de armas atravez das fronteiras do Libano e Iraque para a Siria.Apesar dos protestos terem diminuido o governo Sirio vem reprimindo sistematicamente.Lideres tribais Sirios demonstram intenções de sublevação e aguardam dissidentes do Exercito Sirio.Enbreve se intensificaram os disturbios e explodira a guerra civil.Apesar deles não terem petroleo mas teem uma posição estrategica a um cerco ao Irã.O Camelo vai fumar.

  6. haha comentarios nada a ver olha o “Qua Chi, ferreira junior” Quanta bobagem.
    Westerwelle não é amado por ninguém e a propria imprensa já diz isso.
    quem dera o brasil tivesse a soberania de falar “i am not convinced” como Joschka Fischer falou na cara do Rumsfeld e da ONU. ele não estava convencido que era preciso entrar na guerra contra iraque e alemanha não entrou. mesmo naquele clima mais tenso de pressão dos americanos.

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